sexta-feira, 20 de março de 2020

MAS, PORÉM, CONTUDO, TODAVIA... POR QUE?

As recentes medidas adotadas pela Igreja Católica em relação aos gravíssimos eventos da disseminação do vírus mortal COVID-19 foram pertinentes e recomendáveis sob todos os aspectos do controle da contaminação geral. Mas, porém, contudo, todavia... POR QUE...

Reprimir a comunhão na boca como prevenção de um vírus? 

O que consiste realmente a nossa fé cristã? Em um sentimento vago, em algum apelo meramente sensível? Como Deus vivo na eucaristia poderia permitir que, na comunhão, um vírus mortal pudesse prevalecer sobre a graça sobrenatural? Um leigo acha isso realmente possível? Um sacerdote acredita nisso? Um bispo não apenas duvida mas, em nome da prevenção humana, recomenda explicitamente a comunhão nas mãos e não na boca? Não seria, então, muito mais óbvio, concentrar-se o cálice e a comunhão apenas no sacerdote contra uma eventual disseminação do vírus? Mas, se o sacramento da eucaristia puder ser tratado como um ato limitado aos preceitos meramente humanos, no mesmo nível de outros rituais sociais e religiosos quaisquer, como haveria de se crer possível que ali possa ocorrer o milagre da transubstanciação e os insondáveis mistérios da graça divina?

Proibir as missas e fechar as igrejas?

Mas não é exatamente a ocasião em que o mundo católico deveria intervir decisivamente na história humana, como contrapeso a uma humanidade que perdeu todos os valores espirituais e se refestela no indiferentismo religioso, quando não atolado num ateísmo brutal e militante? Somos ou não somos o povo de Deus, o povo escolhido, a nação santa? Não é exatamente nesta hora tremenda de uma provação mundial que a fé católica deveria florescer plenamente, sem medos e histerias, mergulhada em sacrifícios e orações, particularmente por estarmos no tempo quaresmal? Que oração a Igreja de Deus pode fazer que possa ser maior que a celebração de uma Santa Missa? Se vacilamos na fé pelo temor de igrejas pouco ventiladas, vamos ao ar livre, para as ruas, para as praças e montanhas, vamos para o mar aberto, mas vamos celebrar, oportuna e inoportunamente, o Santo Sacrifício... Ou vamos mesmo enfrentar esse flagelo universal com as armas humanas e abrindo mão da Santa Missa e da Eucaristia? Qual é a chance dessa luta inglória não terminar em uma grande catástrofe para todos nós?

Dar a parecer que a Igreja e o mundo são a mesma coisa?

Quando o mundo tende a perder a sua razão de ser e um simples vírus joga por terra a crença em uma civilização cujo deus é a ciência e o homem, não seria a hora da Igreja de Deus brilhar como um farol, concentrando em si o rebanho dos fieis que são o sal da terra e a luz do mundo, e mostrar-se presente e atuante, quando todos fogem e se refugiam em cidadelas do medo? Vários sacerdotes italianos morreram infectados pelo vírus por atenderem espiritualmente os moribundos da doença mas, certamente com isso, salvaram muitas almas para Deus e se tornaram mártires da Igreja. Precisamos hoje, mais do que nunca, de sacerdotes oficiantes de bênçãos, sacramentos e da extrema unção para as vítimas deste flagelo, ainda que se tornem mártires, do que homens comuns martirizados pelo medo em suas celas confinadas e seguras. Ao cortejar as medidas de prevenção formais e se inserir como uma instituição qualquer na proposição de um cenário de isolamento e hibernação das pessoas, a Igreja Católica pode estar sendo óbvia, coerente e solidária, mas tão somente radicalmente humana. A Igreja pode tudo menos ser igual ao mundo.