segunda-feira, 1 de abril de 2019

SUMA TEOLÓGICA EM FORMA DE CATECISMO (XXVIII)

XXVIII

NATUREZA DA VIRTUDE DE RELIGIÃO

Que entendeis por virtude de religião?
A virtude de religião é assim chamada porque constitui o vínculo que deve ligar o homem com Deus, como princípio de todo bem, e uma perfeição da vontade, mediante a qual se aprecia e estima em seu verdadeiro valor a relação de dependência do homem para com Deus, como primeiro princípio, último fim, ser infinitamente perfeito e causa primeira de toda a perfeição (LXXXI, 1-5)*.

Quais são os seus atos?
Os atos próprios da religião são todos os que, por sua natureza, manifestam e confessam esta dependência. Pode, além disso, a virtude da religião ordenar para este mesmo fim os atos das outras virtudes e, neste caso, podemos dizer, que converte a vida do homem em um ato de culto permanente (LXXXI, 7-8).

Como poderemos chamá-la neste último caso?
Podemos chamá-la de santidade, porque santo é o homem cuja vida se transforma num ato de religião (LXXXI, 8).

É grande e excelente a virtude da religião?
Depois das Virtudes Teologais, é a mais excelsa (LXXXI-6).

Por que?
Porque, entre todas as virtudes morais, cuja finalidade é disciplinar a atividade consciente do homem para lançá-lo na conquista de Deus, conhecido pela fé, prometido pela esperança e amado pela caridade, nenhuma tem objeto mais elevado e próximo do último fim. As outras virtudes regulamentam os atos e deveres do homem para consigo mesmo ou para com as outras criaturas; a religião ensina-lhe as suas obrigações para com Deus, a reconhecer e acatar a sua soberana majestade, a servi-lo e honrá-lo como servido e honrado quer ser Aquele cuja grandeza e perfeição excedem, com diferença infinita, a de todas as criaturas (Ibid).

XXIX

ATOS INTERIORES DA RELIGIÃO: A DEVOÇÃO E A ORAÇÃO: SUA NECESSIDADE E FÓRMULA  O PAI NOSSO OU ORAÇÃO DOMINICAL E SUA EFICÁCIA

Qual é o primeiro ato da religião?
O ato interior chamado devoção.

Que entendeis por devoção?
Um movimento da vontade, em virtude do qual ela (e quanto dela depende) se acha sempre disposta para empregar-se no serviço de Deus. (LXXXII, 1, 2).

Qual é, depois da devoção, o primeiro ato com que o homem se ocupa no serviço de Deus?
A oração.

Que entendeis por oração?
No sentido mais elevado da palavra, é um ato da razão prática, mediante o qual intentamos persuadir a Deus para que cumpra os nossos desejos e, para consegui-lo, empregamos a súplica e a petição (LXXXIII, 1).

É possível e razoável semelhante intento?
Sim, Senhor; e não há coisa no mundo mais razoável, nem mais conforme com a nossa natureza (LXXXIII,2).

Por que?
Posto que sejamos seres racionais e conscientes, temos necessidade de saber quem é Deus e quem somos nós: Ele é fonte e origem de todo o bem e perfeição; nós pura indigência; logo, com quanta maior firmeza nos formos convencendo da nossa pequenez e miséria, tanto em geral como em cada caso particular, e de que só Ele pode remediar-nos, mais nos ajustaremos ao que de nós exige a própria natureza; este é, pois, o objeto da oração: donde se segue que, tanto mais perfeita será quanto melhor nela adquiramos o conceito mais cabal da própria pequenez e da grandeza e generosidade divinas: e por onde viremos ao conhecimento da razão por que Deus, em sua infinita misericórdia, quis que orássemos e decretou não conceder-nos coisa alguma se não com a condição de pedirmos.

Logo, quando tratamos de forçar a Deus para satisfazer os nossos desejos, limitamo-nos a cumprir a sua vontade?
Quando pedimos bens conducentes à nossa salvação, sim, Senhor.

Deus ouve e atende sempre às nossas orações?
Quando, movidos pelo Espírito Santo, pedimos alguma coisa em harmonia com a nossa felicidade, sim, Senhor (LXXXIII, 15).

Existe alguma fórmula de orar com cujo emprego podemos estar seguros de pedir sempre o que convém?
Há uma que podemos chamar fórmula por excelência, conhecida com o nome de Pai Nosso ou Oração Dominical (LXXXIII, 9).

Que entendeis por Oração Dominical?
A que Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou no Evangelho.

Qual é?
Pai nosso que estais no céu, santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai as nossas dividas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Amém.

Contém esta oração tudo o que podemos e devemos pedir a Deus?
Sim, Senhor; e quanto lhe pedimos e se é justo o nosso desejo, ele se acha incluído em alguma das petições do Pai Nosso (LXXXIII, 9).

Tem a Oração Dominical alguma outra qualidade própria e exclusiva dela?
Sim, Senhor; a de por nos lábios, com a mesma ordem que deve ter no coração, o que estamos obrigados a querer e a desejar (Ibid).

Podereis dar a razão da ordem das suas petições?
Sim, Senhor; a primeira coisa que estamos obrigados a desejar é a glória de Deus, fim e objeto da criação; donde se segue que também nós devemos cooperar para ela, e o único meio eficaz de cooperar consiste em sermos admitidos a participar dela no céu. Este é o significado das duas primeiras petições: 'Santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino'. A glória de Deus e a nossa Nele é o término da jornada da vida; mas para obtê-lo, necessitamos conquistá-lo e merecê-lo; a única maneira de merecê-lo é fazer neste mundo, do modo mais perfeito possível, a vontade de Deus. Isto pedimos ao dizer: 'Faça-se a vossa vontade assim na terra, como no céu'. Porém, como não podemos cumprir devidamente a vontade de Deus, se Ele não vem em auxílio de nossa fraqueza, tanto nas necessidades materiais, como nas espirituais, por isso ajuntamos: 'O pão nosso de cada dia nos dai hoje'. Com este auxílio teríamos o suficiente, se além disso não tivéssemos necessidade de afastar certos obstáculos que se opõem, uns à aquisição do reino dos céus, outros ao cumprimento da vontade de Deus, e outros que impedem de nos dedicarmos ao serviço divino, como os padecimentos, as penas e a falta do necessário para viver; por isso dizemos: 'Perdoai as nossas dívidas assim como nós perdoamos aos nossos devedores; e não nos deixeis cair em tentação; mas livrai-nos do mal' (LXXXIII, 9).

Por que iniciamos a oração Dominical com as palavras 'Pai Nosso que estais no céu'?
Para excitar em nós uma confiança ilimitada, pois Aquele a quem invocamos é Pai, e reina no céu como Dono Onipotente do universo (LXXXIII, 9 ad 5).

É conveniente rezar com frequência o Pai Nosso?
Convém, antes de tudo, nutrir-se da sua seiva e espírito, e depois rezá-lo de quando em quando, com a maior frequência que nos permitam as nossas ocupações e gênero de vida (LXXXIII, 14).

Quaisquer que sejam as nossas ocupações, não devemos passar nem um dia sem rezá-lo?
Não, Senhor.

A quem devemos dirigir as nossas orações?
Exclusivamente a Deus, pois só Dele esperamos o que lhe pedimos. Podemos contudo, orar a algumas criaturas, suplicando-lhes que intercedam em nosso favor diante do trono do Senhor (LXXXIII, 4).

Quais são as criaturas a quem podemos orar?
Os Anjos e Santos do céu e os justos da terra (LXXXIII, 11).

É conveniente e louvável encomendar-se aos santos e solicitar as suas orações?
Sim, Senhor.

Existe alguma criatura que tenha títulos especiais para que os homens se acolham ao seu amparo e proteção?
Sim, Senhor; a Santíssima Virgem Maria, Mãe do Verbo Encarnado e Senhor Nosso, Jesus Cristo.

Que nome se deu à Santíssima Virgem, atenta a missão especial que tem de rogar pelos homens?
O de Onipotente pela intercessão.

E isto o que quer dizer?
Que Deus acolhe favoravelmente as súplicas daqueles por quem ela intercede.

Há alguma fórmula consagrada de orar para pedir a mediação e amparo da Santíssima Virgem?
Sim, Senhor: a Ave Maria.

Como a rezamos?
Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte. Amém.

Quando devemos rezá-la?
Com a maior frequência possível e particularmente, nas orações privadas, depois do Pai Nosso.

Existe algum modo de orar em que de maneira singularmente perfeita se juntem e enlacem estas duas orações para assegurar a sua eficácia?
Sim, Senhor; o Santíssimo Rosário.

Que entendeis por Rosário?
Uma maneira de orar que consiste em meditar os quinze principais mistérios da nossa Redenção e rezar durante a Meditação de cada um, um Pai Nosso e dez Ave-Marias, terminando com o 'Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo, assim como era no princípio, agora e sempre, por todos os séculos dos séculos. Amém'.

referências aos artigos da obra original

('A Suma Teológica de São Tomás de Aquino em Forma de Catecismo', de R.P. Tomás Pègues, tradução de um sacerdote secular)