domingo, 13 de agosto de 2017

'VEM!' (JESUS ANDANDO SOBRE AS ÁGUAS)

Páginas do Evangelho - Décimo Nono Domingo do Tempo Comum


Jesus, antes de despedir a multidão às margens do mar de Tiberíades, ordena aos apóstolos que entrem na barca e façam sozinhos a travessia para a outra margem. Aquele que, momentos antes, fizera a multiplicação dos pães e dos peixes, não se comprazia com o ardor da turba admirada pelo extraordinário milagre, mas refém de um messianismo enganoso e deturpado. Esse mesmo brilho enganoso poderia ter perpassado nos olhos de alguns de seus discípulos. Jesus, ciente destes desvios e interpretações ruinosas, liberta-se dos homens e se isola em oração fervorosíssima em lugar isolado, muito provavelmente para pedir e suplicar ao Pai o pleno cumprimento de sua missão salvífica e redentora, muito além das comoções humanas.

Então, já noite alta, os apóstolos sentiram medo e aflição, sozinhos na barca que se agitava perigosamente nas águas revoltas pelos ventos impetuosos. E o medo se transformou em terror quando julgaram ver um fantasma andando sobre as águas, em direção à barca. Jesus se revelou, então, a eles: 'Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!' (Mt 14, 27). Mas a incerteza e a desconfiança ainda imperavam naquela barca à mercê dos ventos, expressas pelo grito de Pedro: 'Senhor, se és tu, manda-me ir ao teu encontro, caminhando sobre a água' (Mt 14, 28). Ao que Jesus respondeu: 'Vem!' (Mt 14, 28).

'Vem!' Eis o chamado de Jesus a Pedro, aos seus discípulos, a cada um de nós. Ir ao encontro de Jesus, e em Jesus colocar toda a nossa confiança e certeza, é o caminho da plenitude da graça. Ir ao encontro de Jesus, quaisquer que sejam os obstáculos, as provações e as tempestades do mundo, mesmo que pareça que estamos despojados de tudo e de todos, ainda que se tenha de andar sobre as águas de um mar tenebroso. Basta-nos a fé. A fé que faltou, então, a Pedro, quando distanciou o seu olhar do Senhor e se fixou nas marolas do mundo, afundando-se no mar. Mas 'Jesus logo estendeu a mão, segurou Pedro, e lhe disse: “Homem fraco na fé, por que duvidaste?” (Mt 14, 3'). E subiram ambos ao barco. 

A frágil embarcação no meio do nada e em completa escuridão é agora o templo de Deus: 'Verdadeiramente, tu és o Filho de Deus!' (Mt 14, 33). Jesus está junto aos seus discípulos, e lhes dá a sua paz. Paz que faz serenar os ventos e as águas, paz que afasta os temores e aflições, paz que inunda os corações da graça divina. Paz que nos foi legada também como desígnio de salvação; tesouro que se encontra quando, na inquietude dos conflitos e incertezas do mundo, somos passageiros da grande Barca (Santa Igreja) que ruma confiante ao encontro do Senhor que Vem.