sábado, 3 de janeiro de 2015

ESTIGMAS


Os estigmas (do grego stigma: ferida na pele) representam os sinais ou a reprodução fiel no corpo de algumas pessoas (pés, mãos ou punhos, cabeça, ombros) das feridas sofridas por Jesus durante a crucificação. A Santa Igreja reconhece a autenticidade dos fenômenos como graça de Deus em alguns casos, mas não como dogma de fé e nem como garantia expressa de santidade, ou seja, a Igreja não canoniza ninguém apenas por ser estigmatizado, uma vez que a santidade não consiste num dom especial de Deus, mas um exercício de uma vida na prática constante e perseverante das virtudes em grau heroico. A santidade é fruto de uma vida inteira e não da posse de certos dons sobrenaturais, por mais extraordinários que estes possam ser.

Os estigmas constituem, portanto, um dom concedido por Deus e não fruto da petição mística de certas pessoas privilegiadas. Os estigmatizados tornam-se, assim, por especial desígnio da Providência, imagens vivas e profetas da graça que recordam, de tempos em tempos, à humanidade pecadora, o sacrifício de Jesus na Cruz, seus sofrimentos indizíveis para a expiação dos nossos pecados e redenção de todo o gênero humano. A nossa fé cristã somente subsiste aos pés da cruz, não apenas pela contemplação passiva da Paixão de Cristo, mas associando as nossas pequenas dores (e, nestes casos, os sofrimentos específicos dos estigmatizados) à dor excruciante do Crucificado, para a salvação das almas.

Entretanto, é possível a existência de estigmas que não possuem origem divina, mas natureza psíquica (por histeria ou por ação de neuroses complexas) e até mesmo diabólicas (não há nenhuma manifestação mística que não possa ser conspurcada pelo macaqueador de Deus). Como a Igreja, então, pode separar o joio do trigo, e estabelecer procedimentos para a caracterização de uma autêntica manifestação estigmática de natureza divina? A premissa básica é bastante simples: a observância estrita de uma vida de santidade, além dos próprios estigmas, livre de desvios ou perturbações de ordem psicológica. Ou seja: se os estigmas são uma prova de santidade, a Igreja busca na pessoa uma vida de santidade como prova da natureza divina dos estigmas.

Como elementos subsidiários (mas todos igualmente essenciais e relevantes), a Igreja utiliza os seguintes critérios para a aferição e comprovação da autenticidade dos estigmas de natureza divina:

1. os estigmas devem estar localizados nos locais exatos das cinco chagas de Cristo*; 
2. os estigmas devem aparecer todos ao mesmo tempo;
3. os estigmas devem aparecer espontaneamente no corpo da pessoa;
4. os estigmas não podem ser explicados por causas naturais;
5. os estigmas não evoluem para necroses;
6. os estigmas não exalam mal odor, mas o contrário;
7. os estigmas não apresentam estágios de supuração e/ou inflamação;
8. os estigmas sangram contínua e profusamente (hemorragias intensas);
9. os estigmas são imunes a quaisquer formas de tratamento médico;
10. os estigmas alteram substancialmente os tecidos da pele;
11. os estigmas não apresentam uma perfeita e instantânea cicatrização;
12. os estigmas produzem dores muito intensas, tanto físicas como morais, particularmente agudas em datas especiais do calendário litúrgico, como a Sexta-Feira Santa.

Neste escopo, não há como negar a origem sobrenatural destes fenômenos místicos em santos e santas da Igreja Católica, à luz de outros casos esporádicos e suspeitos de origens diversas. Neste contexto de absoluta vinculação da santidade à manifestação dos estigmas, eis aqui alguns exemplos de santos e santas estigmatizados (são cerca de 80 no total): Padre Pio de Pietrelcina (1887 - 1968), São Francisco de Assis (1181 - 1226); Santa Rita de Cássia (1381 - 1457), Santa Catarina de Sena (1347 - 1380); Santa Verônica Giuliana (1660 - 1727) e Santa Gemma Galgani (1878 - 1903).

* muitos santos estigmatizados apresentaram estigmas nas mãos e outros nos punhos (como seria razoável na morte por crucificação) mas, nestes casos, a Divina Providência manifestou a glória da Paixão de Cristo na pessoa, não de acordo com a aparente veracidade histórica dos fatos, mas em função da crença particular da própria pessoa em relação ao fato.