sábado, 14 de agosto de 2021

CALENDÁRIO DOS SANTOS

 

14 DE AGOSTO - SÃO MAXIMILIANO MARIA KOLBE

(acessar links dos santos do mês, já abordados em postagens específicas em SENDARIUM, na aba Calendário dos Santos, situada na barra lateral direita do blog)

sexta-feira, 13 de agosto de 2021

O SÍNODO DO CADÁVER

Um dos episódios mais bizarros da história da Igreja consistiu na pantomina de um julgamento realizado sobre o cadáver de um papa. Sim, o ódio diabólico e a vingança brutal podem atingir os limites do imponderável. O papa Formoso I (891 - 896) foi o pontífice da Igreja num período crítico, marcado por desordens políticas de toda ordem no continente europeu e, mais particularmente, por uma disputa acirrada entre Roma e Constantinopla sobre qual deveria ser efetivamente a sede da Igreja Ocidental.


Neste contexto político de polarização absurda, o papa Formoso faleceu em outubro de 896. O seu sucessor - Bonifácio VI - faleceu apenas duas semanas após ocupar a cátedra de Pedro, sendo sucedido por Estêvão VI (896 - 897), que promoveu, então, o chamado 'sínodo do cadáver' (synodus horrenda), amparado por um preciosismo técnico de um farsante:  Formoso I seria um papa inválido porque não poderia ser bispo de Roma (premissa do papado) por ser bispo de outra diocese (diocese do Porto) e, mais ainda, sendo condenado e destituído de todas as suas prerrogativas, os atos do papa Formoso seriam anulados, o que incluiria a consagração do próprio papa Estêvão VI como bispo que havia sido feita por Formoso I, livrando, assim, o sucessor da mesma penalização que estava sendo então atribuída a Formoso (ou seja, Estêvão VI também era papa sem ser bispo de Roma, por impedimento devido ao fato de também ser bispo de outra diocese, indicado e consagrado à época pelo papa Formoso I).

O sínodo foi realizado como um teatro de horror. O cadáver de Formoso I foi exumado e conduzido à Basílica de São João de Latrão, em Roma. O cadáver foi adornado com todos os adereços papais e posicionado sobre um trono para, presencialmente e ainda que morto, Formoso I pudesse ser julgado por ter usurpado ilegalmente o papado por já ser bispo na época em que foi eleito.


O julgamento resultou na condenação formal do papa Formoso I e a consequente anulação de todas as suas medidas, atos e decisões como papa, que foram declaradas inválidas. A pantomina trágica se consumou com medidas adicionais: as vestes papais foram arrancadas do cadáver, três dedos foram cortados de sua mão direita (utilizados nas consagrações que havia feito) e o corpo foi enterrado em um cemitério destinado a indigentes, para ser removido poucos dias depois para ser jogado no rio Tibre.

A revolta pública contra esse espetáculo macabro levou à destituição de Estêvão VI. Seu sucessor, Teodoro II (897) convocou um outro sínodo, em novembro de 897, que anulou o 'sínodo do cadáver', reabilitou a figura do papa Formoso I cujo corpo, que havia sido recuperado das águas do rio Tibre e reenterrado, foi exumado mais uma vez e enterrado definitivamente, agora com os devidos paramentos pontifícios, na Basílica de São Pedro, em Roma.

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

SOBRE A GRANDEZA DO PERDÃO


Cristo nos pede duas coisas: que condenemos os nossos pecados e perdoemos os pecados dos outros, e que façamos a primeira coisa por causa da segunda, que será então mais fácil, pois aquele que pensa nos seus pecados será menos severo para com o seu companheiro de miséria. E perdoar não apenas por palavras mas do fundo do coração, para que não se vire contra nós o ferro com que cremos trespassar os outros.

Que mal te pode fazer o teu inimigo, que se possa comparar com aquele que fazes a ti próprio? Se te deixas levar pela indignação e pela cólera, serás ferido, não pela injúria que ele te fez, mas pelo ressentimento com que ficas.

Não digas: 'ele me ultrajou, me caluniou, causou-me inúmeros males'. Quanto mais disseres que ele te fez mal, mais demonstras que ele te fez bem, pois deu-te oportunidade de te purificares dos teus pecados.

Deste modo, quando mais ele te ofende, mais hipóteses te dá de obteres de Deus o perdão dos teus pecados. Porque, se quisermos, ninguém poderá prejudicar-nos; até os nossos inimigos nos prestam um grande serviço. Reflete, portanto, nas vantagens que obténs de uma injúria suportada com humildade e doçura.

(São João Crisóstomo)

terça-feira, 10 de agosto de 2021

O DOGMA DO PURGATÓRIO (XIII)


Capítulo XIII

Dores do Purgatório - Irmão Antônio Pereyra e a Venerável Ângela Tholomei

Aos dois fatos anteriores, adicionaremos um terceiro, retirado dos Anais da Companhia de Jesus. Falamos de um prodígio realizado na pessoa de Antônio Pereyra, Irmão Coadjutor daquela Companhia, falecido em odor de santidade no Colégio de Évora, em Portugal, a primeiro de agosto de 1645. Quarenta e seis anos antes, em 1599, cinco anos após a sua entrada no noviciado, este irmão foi atacado por uma doença mortal na ilha de São Miguel, do arquipélago dos Açores. Poucos momentos depois de ter recebido os últimos sacramentos, na presença de toda a comunidade que o assistia em sua agonia, pareceu exalar a alma e logo ficou frio como um cadáver. A aparência, embora quase imperceptível, de uma leve batida do coração, por si só os impediu de enterrá-lo imediatamente. Foi mantido, então, por três dias inteiros em seu leito de morte e já começava a demonstrar sinais óbvios de decomposição em seu corpo quando, de repente, no quarto dia, abriu os olhos, respirou e falou.

Foi obrigado, então,  por obediência, a relatar ao seu superior, padre Luís Pinheyro, tudo o que se passara com ele desde os últimos momentos terríveis de sua agonia. Apresentamos aqui um relato resumido, escrito de próprio punho: 'Eu vi primeiro', diz ele, 'do meu leito de morte o meu pai, Santo Inácio, acompanhado de vários de nossos Padres do Céu, que vinham visitar os seus filhos moribundos, em busca daqueles que julgavam dignos de serem oferecidos por ele e seus companheiros a Nosso Senhor. Quando ele se aproximou de mim, acreditei por um momento que me levaria, e meu coração estremeceu de alegria; mas logo ele me indicou aquilo de que devo me corrigir antes de obter tão grande felicidade'.

Então, por uma disposição misteriosa da Providência Divina, a alma do Irmão Pereyra separou-se momentaneamente de seu corpo e, imediatamente, ele viu uma trupe hedionda de demônios correndo em sua direção, enchendo-o de terror. No mesmo instante, o seu anjo da guarda e Santo Antônio de Pádua, seu conterrâneo e patrono, desceram do céu e puseram em fuga os inimigos, convidando-o para acompanhá-los para ver e saborear por um momento as alegrias e sofrimentos da eternidade.

'Levaram-me então por turnos', acrescenta, 'para um lugar de delícias, onde me mostraram uma coroa de glória incomparável, mas que eu ainda não tinha merecido; depois, à beira de um abismo, onde vi as almas réprobas caírem no fogo eterno, esmagadas como os grãos de trigo lançados sobre uma pedra de moinho que gira sem parar. O golfo infernal era como um daqueles fornos de cal onde, às vezes, as chamas são, por assim dizer, sufocadas pela massa de materiais jogados nelas, mas que apenas alimenta o fogo para que possa explodir com violência mais terrível'. Conduzido dali ao tribunal do Juiz Soberano, Antônio Pereyra viu-se condenado ao fogo do Purgatório; e nada, assegura-nos, pode dar uma ideia do que aí se sofre, nem do estado de agonia a que as almas estão reduzidas pelo desejo e pela postergação do deleite de se estar com Deus em sua sagrada presença. 

Quando, por ordem de Deus, sua alma reuniu-se novamente com o seu corpo, nem as torturas renovadas de sua doença impostas por seis meses inteiros à sua carne lacerada (e já incuravelmente contaminada com a corrupção de sua primeira morte), mesmo sob sofrimentos adicionais impostos a ferro e a fogo, e nem mesmo as terríveis penitências às quais se entregou desde então, tanto quanto a obediência assim o permitia, durante os quarenta e seis anos de sua vida restante, não foram capazes de aplacar a sua sede de sofrimento e expiação. 'Tudo isso', dizia, 'não é nada em comparação com o que a justiça e a infinita misericórdia de Deus me fizeram não apenas testemunhar, mas também suportar'.

Enfim, como autêntico selo sobre tantas maravilhas, o Irmão Pereyra desvelou detalhadamente ao seu superior os desígnios secretos da Providência quanto à futura restauração do reino de Portugal, mais de meio século antes disso acontecer. Mas podemos acrescentar, sem receio, que a maior garantia de todos esses prodígios era o surpreendente grau de santidade a que o irmão Pereyra não cessava de se elevar dia após dia.

Vamos relatar um exemplo similar que confirma em cada ponto o que acabamos de ler. Encontramos isso na vida da venerável serva de Deus, Angela Tholomei, uma freira dominicana. Ela foi ressuscitada dos mortos por seu próprio irmão, e deu um testemunho do rigor dos julgamentos de Deus exatamente conforme o precedente.

O Beato João Baptista Tholomei, cujas raras virtudes e o dom de milagres o colocaram nos nossos altares, tinha uma irmã, Ângela Tholomei, cujas virtudes heroicas foram também reconhecidas pela Igreja. Ela caiu gravemente doente, e seu santo irmão, por meio de fervorosa oração, implorou por sua cura. Nosso Senhor respondeu, como fizera anteriormente à irmã de Lázaro, que Ele não apenas curaria Ângela, mas faria mais: Ele a ressuscitaria dos mortos, para a glória de Deus e o bem das almas. Ela morreu, recomendando-se às orações de seu santo irmão. Enquanto estava sendo levada para o túmulo, o bem-aventurado João Baptista, em obediência, sem dúvida, a uma inspiração do Espírito Santo, aproximou-se do caixão e, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, ordenou que sua irmã se levantasse. Imediatamente ela acordou de um sono profundo e voltou à vida.

Aquela alma sagrada parecia tomada de terror e relatou coisas sobre a severidade dos julgamentos de Deus, que nos fazem estremecer. Ela começou, ao mesmo tempo, a levar uma vida que provava a verdade de suas palavras. Sua penitência foi terrível. Não contente com as práticas comuns dos santos, como jejum, vigílias de oração, usos de cilícios e vestimentas de auto-flagelação ou rigorosas penitências, ela se impôs a tortura de se lançar nas chamas e se contorcer nelas até que sua carne estivesse totalmente queimada. Seu corpo macerado tornou-se objeto de piedade e horror. Ela foi censurada e acusada de destruir, por seus excessos, a ideia do que seria a verdadeira penitência cristã. 

Ela, no entanto, continuou estes tormentos e se contentava em responder: 'Se vocês conhecessem os rigores dos julgamentos de Deus, não falariam assim. O que são estas minhas penitências insignificantes em comparação com os tormentos reservados na outra vida para aquelas infidelidades que tão facilmente nos permitimos neste mundo? O que elas são? O que elas são? Quem me dera as pudesse fazer cem vezes mais!' Não se trata aqui, como vimos, do rigor espantoso a que seriam submetidos os grandes pecadores convertidos pouco antes de morrer, mas dos castigos infligidos por Deus a uma religiosa fervorosa pelas suas menores faltas.

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog)

segunda-feira, 9 de agosto de 2021

A RELIGIÃO DO ECUMENISMO UNIVERSAL

O retrato falado do ecumenismo: uma igreja desmembrada e herética. Porque passa a não existir mais A VERDADE, mas existem, ou melhor, SUBSISTEM partes da verdade em muitas igrejas e em muitas outras religiões, ainda que parcialmente. A Igreja não é mais UNA, mas fatiada e compartilhada de formas distintas por doutrinas distintas, uma coleção de meias-verdades conformando um quebra-cabeças tosco e mal acabado. Essa aberração formada por um mosaico de cores e estilhaços, unidos e interligados por um cimento viscoso e invisível chamado ecumenismo é a chamada Igreja Ecumênica Universal ou, mais simplesmente e claramente exposta, a Igreja - Frankstein.

Do Catecismo Católico:

816. «A única Igreja de Cristo [...] é aquela que o nosso Salvador, depois da ressurreição, entregou a Pedro, com o encargo de a apascentar, confiando também a ele e aos outros apóstolos a sua difusão e governo [...]. Esta Igreja, constituída e organizada neste mundo como uma sociedade, subsiste* (subsistit in) na Igreja Católica, governada pelo sucessor de Pedro e pelos bispos em comunhão com ele» (273).

O decreto do II Concílio do Vaticano sobre o Ecumenismo explicita: «Com efeito, só pela Igreja Católica de Cristo, que é "meio geral de salvação", é que se pode obter toda a plenitude dos meios de salvação*. Na verdade, foi apenas ao colégio apostólico, de que Pedro é o chefe, que, segundo a nossa fé, o Senhor confiou todas as riquezas da nova Aliança, a fim de constituir na terra um só Corpo de Cristo, ao qual é necessário que sejam plenamente incorporados todos os que, de certo modo, pertencem já ao povo de Deus» (274).

* subsiste na Igreja Católica como plenitude dos meios de salvação: um jogo de palavras que é a chave do ecumenismo: subsistir e plenitude não constituem postulados de que a Verdade é absoluta e indivisível e nem princípio de que 'fora da Igreja Católica não há salvação', mas que essa verdade e a própria salvação também subsistem parcialmente em outras religiões e/ou doutrinas.

domingo, 8 de agosto de 2021

EVANGELHO DO DOMINGO

   

'Provai e vede quão suave é o Senhor!' (Sl 33)

 08/08/2021 - Décimo Nono Domingo do Tempo Comum

37. 'EU SOU O PÃO VIVO DESCIDO DO CÉU'


'Eu sou o pão vivo descido do céu' (Jo 6, 51). De todas as manifestações e revelações de Jesus aos seus contemporâneos, nenhuma outra causou tanta incredulidade, espanto e incompreensão do que estas palavras de salvação eterna. A divindade exposta em plenitude à humanidade pecadora, a dimensão espiritual assumindo o fluxo de todas as percepções humanas, provocou naquela gente uma reação desmedida de incredulidade: 'Não é este Jesus o filho de José? Não conhecemos seu pai e sua mãe? Como pode então dizer que desceu do céu?' (Jo 6, 42).

'Eu sou o pão vivo descido do céu' (Jo 6, 51). Jesus pronunciou estas palavras na sinagoga de Cafarnaum, pouco depois do extraordinário milagre da multiplicação dos pães e dos peixes e em seguida à prévia revelação da santa eucaristia à multidão que fôra ao seu encontro para se fartar de pão material (evangelho do domingo passado): 'Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim nunca mais terá sede' (Jo 6, 35). E todo o bem vem e volta para Deus, por meio do Pai e o preço do jugo suave do amor é a vida eterna, a ressurreição do último dia: 'Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o atrai. E eu o ressuscitarei no último dia' (Jo 6, 44).

'Eu sou o pão vivo descido do céu' (Jo 6, 51). Pão de vida eterna para a alma e para o corpo, não como o maná dado aos filhos de Israel, mas como alimento espiritual descido do Céu para a salvação do mundo. Não se trata mais de um mero alimento para saciar a fome; é o banquete eucarístico da graça, o próprio Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus, como nossa comida e nossa bebida de vida eterna; 'Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que eu darei é a minha carne dada para a vida do mundo' (Jo 6, 51).

'Eu sou o pão vivo descido do céu' (Jo 6, 51). Pelo mistério da graça, recebemos a Vida de Cristo na Santa Eucaristia e nos revestimos da semente de eternidade que será revelada em plenitude na ressurreição do último dia. Pela união do humano e do divino, já não somos mais reféns do alimento que hoje sacia e depois se consome; somos agora herdeiros da imortalidade junto de Deus, saciados do pão vivo descido dos Céus e que 'permanece até a vida eterna' (Jo 6, 27).