quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

VISÕES E REVELAÇÕES - SOEUR DE LA NATIVITÉ (II)

Soeur de la Nativité ou Irmã da Natividade ou Jeanne Le Royer (1731-1798)
 Religiosa Urbanista (Clarissa) de Fougères (França)

O ÚLTIMO JULGAMENTO

'Um dia, quando eu estava em espírito em um campo vastíssimo, Jesus Cristo apareceu sobre um monte e me mostrou um lindo sol fixado em um ponto no horizonte. Então, me disse com tristeza: 'Eis a figura do mundo que passa e que se aproxima o tempo do meu último advento. Quando o sol está se pondo, diz-se que o dia está passando e a noite está chegando. Todos os séculos são como um dia diante de mim. Julgue, portanto, quanto tempo o mundo ainda deve ter pelo espaço de tempo que o sol ainda tem para se por'.

Considerei cuidadosamente e julguei que esse tempo pudesse ser de não mais do que duas horas para o sol se por. Diante da minha resposta, Jesus respondeu: 'Lembre-se de que não devemos falar de mil anos para o mundo; existem apenas para ele alguns poucos séculos de duração'. Senti que ele reservava para si o conhecimento preciso deste número, e não me vi tentada a lhe perguntar mais sobre este assunto, feliz por saber que a paz da Igreja e do restabelecimento de sua disciplina ainda duraria um tempo considerável.

'O Julgamento do mundo está próximo e meu Grande Dia está chegando. Quanta tristeza! Quantos sofrimentos face à sua chegada! Quantas crianças morrerão antes de nascer! Quantos jovens de ambos os sexos serão engolfados pela morte ao longo do seu curso! Bebês amamentando morrerão junto com as suas mães! Ai dos pecadores que vivem em pecado sem ter feito penitência!' Desgraça, desgraça! Ai do século que há passado!'

Eis o que Deus queria que eu visse sob a sua luz. Comecei a olhar, à luz de Deus, o século que começaria em 1800 e eu vi, por esta luz, que o julgamento não estava lá, e que este não seria o último século. Considerei, sob essa mesma luz, o século a partir de 1900 até o seu final, para ver se seria realmente o derradeiro. Nosso Senhor me deu a conhecer, e ao mesmo tempo me deixou com dúvidas, se tudo isso iria ocorrer no final do século de 1900 ou se no século de 2000. Mas o que vi foi que, se o julgamento viesse no século de 1900, só viria no final do mesmo e, caso avançasse esse século, as duas primeiras décadas do século de 2000* não passariam sem a intervenção do julgamento, como eu o vi na luz de Deus ... 

'Antes da chegada do Anticristo, o mundo será afligido por guerras sangrentas. Povos se levantarão contra povos; as nações, ora unidas, ora divididas, lutarão a favor ou contra o mesmo partido. Os exércitos entrarão em conflitos terríveis e encherão a terra de assassinatos e carnificinas. Essas guerras, internas e externas, causarão enormes sacrilégios, profanações, escândalos e males infinitos. Os direitos da Santa Igreja serão usurpados e ela padecerá de grandes aflições'. 

'Vejo a terra sacudida em diferentes lugares por terríveis tremores, montanhas se desfazendo e levando o terror às vizinhanças. Redemoinhos de chamas, fumaça, enxofre e betume reduzirão cidades inteiras a cinzas. Tudo isso tem que acontecer antes da chegada do homem da perdição. Mas este terror atingirá um número muito reduzido de predestinados, pois o Senhor atrairá muitos deles à sua Presença, para livrá-los das terríveis desgraças que atingirão a Igreja. Isso também 'pelo grande número de mártires; o que diminuirá consideravelmente o número dos filhos de Deus na terra; no entanto, a fé será fortalecida entre aqueles a quem a espada não ceifou'. E ainda pela 'multidão de apóstatas que renunciarão a Jesus Cristo para seguir as causas do inimigo'.

'Será a mais desastrosa das heresias. A fé, no entanto, experimentará uma nova expansão: certas ordens religiosas renascerão em pequeno número; outras serão criadas e seu fervor será muito grande. E muitas dessas ordens durarão até a época do Anticristo, sob cujo reinado todas as comunidades sofrerão o martírio, serão esmagadas e destruídas'.

* Na versão original dos textos proféticos da mística (1817), a versão deste trecho é diferente e não cita especificamente as duas primeiras décadas do século 2000, mas o seguinte: 'mas o que vi é que se o julgamento chegasse no século de 1900, viria apenas no final e que, se este século passar, o de 2000 não passará sem que isso aconteça'.

(Revelações de Jesus à Irmã Jeanne le Royer - Soeur de La Nativité, 1731 - 1798)

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

OPORTET - É PRECISO, É NECESSÁRIO...

OPORTET - É preciso, é necessário...


... Passar por muitas tribulações e carregar muitas cruzes nesta vida: 

1. PORQUE Deus assim o decretou; decretou que nos dirijamos ao Céu pelo caminho do sofrimento. Queiramos ou não, está definido. Levemos, pois, voluntariamente, as cruzes que nos venham, posto que é indispensável que o façamos. Rejeitando-as, aumentaríamos o seu peso e seu número, perderíamos o mérito de as havermos levado, bem como a recompensa.

2. PORQUE é justo que o Reino de Deus, que é tão grande e belo, seja conquistado com obras heroicas e sofrimentos; a Cruz é a porta do Céu.

3. PORQUE porque Jesus Cristo, nosso Chefe, abriu o Céu com a sua Paixão, Sangue e Morte;

4. PORQUE todos os santos empreenderam este caminho para chegar à felicidade suprema e não há outro;

5. PORQUE os pecados devem ser expiados com as cruzes e os movimentos da concupiscência devem ser reprimidos com a dor;

6. PORQUE esta vida está plena de misérias, de tentações e de perseguições, às quais ninguém pode subtrair-se;

7. PORQUE estamos rodeados de inimigos numerosos e implacáveis que juraram nossa ruína; estes inimigos são os demônios, o mundo e a carne;

8. PORQUE aquele que não umedeceu seus lábios no cálice das amarguras, não merece desfrutar das suas delícias;

9. PORQUE somos culpados e, unicamente com a penitência e as cruzes, podemos obter misericórdia;

10. PORQUE precisamos nos desprender do mundo, desprezá-lo e dirigir as nossas preferências às graças do Céu.

(Cornélio a Lapide)

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

VISÕES E REVELAÇÕES - SOEUR DE LA NATIVITÉ (I)

Soeur de la Nativité ou Irmã da Natividade ou Jeanne Le Royer (1731-1798)
 Religiosa Urbanista (Clarissa) de Fougères (França)

A EXISTÊNCIA DAS SEITAS

'Você gostaria, minha filha, que eu abolisse os escândalos, todos os falsos cultos, todas as seitas que obscurecem minha Igreja e insultam a verdade do único culto que estabeleci.

Seria bom se eu acabasse com o pecado, que é a primeira e sempre recorrente fonte de todas as desordens, o único mal do mundo, o único inimigo da humanidade e do próprio Deus.

Saiba que, em questões de religião como em questões de costumes, o homem deve ser livre para escolher entre o bem e o mal; do contrário, Eu não poderia exercer minha bondade ou justiça.

Na verdade, se o homem não fosse livre em suas ações, ele não poderia nem merecer nem desmerecer, não haveria para ele nenhuma consequência, nem recompensa para esperar, nem punições para temer.

Além disso, um instrumento puramente passivo não pode me render uma homenagem que me honre; sua adoração nunca seria digna de mim.

Da mesma forma, se houvesse apenas uma religião em todos, que mérito haveria em segui-la, quando não haveria escolha a fazer e não se poderia agir de outra forma? 

Se os homens não fossem livres para pecar, o que eles mereceriam se não o fizessem? Livres de concupiscências e tentações, seu estado na terra seria o dos santos no céu, um estado de justiça e não de julgamento, e novamente de uma justiça tão pouco meritória quanto inadmissível...

De acordo com a minha lei eterna, um homem absolutamente senhor de si mesmo deve ser tentado e testado por algum tempo.

É somente com essa condição que fico honrado com a homenagem de seu coração e suas ações. Portanto, fiz dele o mestre de escolher e determinar-se livremente em tudo; e é por isso que permiti que, em toda a infração fosse encontrada, por assim dizer, ao lado do preceito, e que houvesse apenas um passo entre a desobediência e a fidelidade. Isso é obra da minha justiça.

Mas é suficiente para a minha bondade ter fornecido ao homem todos os meios para evitar o mal e praticar o bem; e isso é o que tenho feito com respeito a todos. Nenhuma criatura se perderá, exceto por sua própria culpa'.

(Revelações de Jesus à Irmã Jeanne le Royer - Soeur de La Nativité, 1731 - 1798)

segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

PROFISSÃO DE FÉ


Não te preocupes muito se alguém é por ti ou contra ti, mas procede e ocupa-te de modo a que Deus esteja contigo em tudo quanto faças. Consegue uma consciência pura, que Deus te defenderá bem. 

Se souberes calar-te e sofrer, verás sem dúvida o auxílio do Senhor. Ele conhece o tempo e o modo de te libertar, e por isso a Ele te deves submeter. É próprio de Deus ajudar e libertar de toda a confusão.

Muitas vezes, é mais útil para a conservação da nossa humildade que os outros conheçam os nossos defeitos e os censurem. Quando um homem se humilha por causa dos seus defeitos, acalma os outros facilmente e satisfaz sem custo os que com ele se iravam.

Deus protege e liberta o humilde, ama-o e consola-o. Inclina-se para ele e dá-lhe grande graça e, depois do seu abatimento, eleva-o à glória. Revela os seus segredos ao humilde, arrasta-o e convida-o docemente para si. E ele, mesmo na confusão, vive em paz, porque se firma em Deus e não no mundo. Não julgues ter adiantado em qualquer coisa se não te sentires inferior a todos.

(Da Imitação de Cristo)

domingo, 10 de janeiro de 2021

EVANGELHO DE DOMINGO

 

'Que o Senhor abençoe, com a paz, o seu povo!' (Sl 28)

 10/01/2021 - Batismo do Senhor

7. BATISMO DO SENHOR


No Evangelho do Batismo do Senhor, encerra-se na liturgia o tempo do Natal. João Batista, nas águas do Jordão, realizava um batismo de penitência, de ação meramente simbólica, pois não imprimia ao batizado o caráter sobrenatural e a graça santificante imposta pelo Batismo Sacramental, instituído posteriormente por Nosso Senhor Jesus Cristo: 'Depois de mim virá alguém mais forte do que eu. Eu nem sou digno de me abaixar para desamarrar suas sandálias. Eu vos batizei com água, mas ele vos batizará com o Espírito Santo' (Mc 1, 7-8).

O Batismo de Jesus constitui, ao contrário, um ato litúrgico por excelência, pois o Senhor se manifesta publicamente em sua missão salvífica. Chega ao fim o tempo dos Profetas: o Messias tão anunciado torna-se realidade diante o Precursor nas águas do Jordão. E o batismo de Jesus é um ato de extrema humildade e de misericórdia de Deus: assumindo plenamente a condição humana, Jesus quis ser batizado por João não para se purificar pois o Cordeiro sem mácula alguma não necessitava do batismo, mas para purificar a humanidade pecadora sob a herança dos pecados de Adão. Ao santificar as águas do Jordão e nelas submergir os nossos pecados, Jesus santificou todas as águas do Batismo Sacramental de todos os homens assim batizados.

Jesus foi batizado por João no rio Jordão. Ao sair da água, 'viu o céu se abrindo e o Espírito, como pomba, descer sobre ele' (Mc 1, 10). À ação do Espírito Santo, conformada na forma de uma pomba, complementa-se de imediato a manifestação dos sagrados mistérios da Santíssima Trindade, pela voz que vem do Céu: 'Tu és o meu Filho amado, em ti ponho meu bem-querer' (Mc 1, 11). No batismo do Jordão, manifesta-se em plenitude a divindade de Cristo. 

Eis a síntese da nossa fé cristã, legado de Deus a toda a humanidade, sem distinção de pessoas: 'ele aceita quem o teme e pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença' (At 10, 35). No Jordão, o céu se abriu para o Espírito Santo descer sobre a terra. No Jordão, igualmente, manifestou-se por inteiro o perdão e a misericórdia de Deus e a graça da salvação humana por meio do batismo. E, com o batismo de Jesus, tem início a vida pública do Messias preanunciado por gerações. Esta liturgia marca, portanto, o início do Tempo Comum, período em que a Igreja acompanha, a cada domingo e a cada semana, as pregações, ensinamentos e milagres de Jesus sobre a terra, o tempo em que o próprio amor de Deus habitou em nós.

sábado, 9 de janeiro de 2021

DICIONÁRIO DA DOUTRINA CATÓLICA (XIX)

 

SACRAMENTAL

É uma coisa ou uma ação de que a Igreja costuma servir-se para obter efeitos, principalmente espirituais. As coisas são os objetos benzidos: a água benta, os escapulários, medalhas, Agnus Dei, velas ou ramos bentos, etc. As ações são as bênçãos que os Ministros Sagrados fazem sobre as pessoas ou sobre as coisas que consagram ao culto divino. Os Sacramentais foram instituídos pela Igreja; são úteis mas não necessários; podem obter a graça de Deus, mas só por virtude da oração da Igreja e da piedade de quem a reza. Os seus principais efeitos são: o perdão dos pecados veniais, a colação da graça atual, a preservação de males de ordem temporal, a separação de coisas e de pessoas do uso profano, o afastamento do demônio para que não nos moleste. O Apóstolo São Paulo ensina que 'toda a criatura é santificada pela palavra de Deus e pelas orações' (1Tm 4, 4-5) e é precisamente a oração que acompanha as bênçãos da Igreja que atrai sobre os Sacramentais a virtude que têm de produzir os seus efeitos de santificação.

SACRAMENTO

É um sinal sensível que, por instituição divina, tem a virtude de significar e produzir a graça. Quem recebe um Sacramento recebe a graça de Deus, que faz santo aquele que o recebe dignamente e produz nele o efeito próprio de cada sacramento. Foi esse o fim porque Jesus Cristo os instituiu. São sete: Batismo, Confirmação, Eucaristia, Penitência, Extrema-Unção [Unção dos Enfermos], Ordem e Matrimônio. Pelo Batismo, que apaga o pecado original, o homem nasce para a vida espiritual e sobrenatural; pela Confirmação, robustece e cresce na vida sobrenatural; pela Comunhão, alimenta a vida espiritual; pela Penitência, recebe o perdão dos pecados; pela Extrema-Unção, limpa os restos do pecado; pela Ordem, é confiado a alguns fieis o poder de reger e dirigir os outros na sociedade religiosa; o Matrimônio torna legítimos os atos da geração e santifica a propagação do gênero humano. Pelos sete sacramentos, Jesus Cristo providenciou acerca da vida sobrenatural do homem como ser individual e social.

SACRÁRIO

É o tabernáculo ou pequeno armário colocado sobre o altar para nele se conservar a Sagrada Eucaristia. Deve ser de metal ou de madeira dourada e forrado por dentro de seda branca; dispensa-se, porém, o forro de seda, se for dourado interiormente. Dentro do sacrário, está um pequeno vaso chamado cibório ou píxide, sobre um corporal, contendo a Sagrada Eucaristia e não pode estar mais nada. Deve estar sempre coberto com um pavilhão, que pode ser sempre de cor branca ou, mais preferível, da cor dos paramentos litúrgicos do dia. Diante do sacrário não se pode colocar a cruz, nem vasos de flores, nem quaisquer objetos. É também proibido sobrepor-lhe qualquer objeto (com exceção da cruz). Só pode haver um em cada igreja, e há de estar colocado de modo inamovível, no altar-mor ou principal, exceto nas igrejas em que haja colegiada ou nas sés episcopais, onde deve estar em altar lateral. Convém todavia que na igreja haja outro sacrário, que possa receber o Santíssimo em alguma circunstância inesperada. O sacrário deve ser benzido.

SACRIFÍCIO

É a oblação externa de uma coisa sensível com a sua destruição ou mudança, feita exclusivamente a Deus pelo legítimo Ministro, em reconhecimento do seu supremo domínio sobre todas as criaturas. Há também um sacrifício interior, invisível, o qual consiste na oferta que fazemos a Deus de nós mesmos, para vivermos unidos a Ele e fazermos a sua vontade. O único Sacrifício da Religião Cristã é a oblação do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo, debaixo das espécies do pão e do vinho consagrados na Missa, Sacrifício que fica completo com a comunhão do sacerdote que, em nome de Jesus Cristo mesmo, o oferece. Pode entender-se por sacrifício qualquer ato em honra de Deus para o aplacar, assim como todos os obséquios feitos ao próximo enquanto se referem a Deus, e também qualquer mortificação. O homem precisa de fazer sacrifícios por causa da remissão dos pecados, da conservação da graça e da consecução da glória eterna.

SACRILÉGIO

É a profanação das coisas santas ou consagradas a Deus ou a violação ou mau trato de pessoas ou coisas sagradas, enquanto sagradas. É pessoal, real ou local, segundo é praticado em pessoa, em coisa ou em lugar consagrados a Deus. É pecado mortal porque constitui grave irreverência às pessoas, coisas ou lugares consagrados ao culto divino. Porém, para se julgar da gravidade do pecado é preciso atender ao grau de santidade da pessoa, da coisa ou do lugar violados, ao grau de irreverência e à intenção do agente.

SALMOS DE DAVI

São os salmos que compõem um livro da Sagrada Escritura, no Antigo Testamento. São 150, e chamam-se de Davi porque foi este Rei quem compôs a maior parte deles. Os Salmos são a forma antiquíssima de orar publicamente, usada no tempo da sinagoga. Estão cheios da moral mais pura, respiram o espírito de piedade, despertam todos os sentimentos dignos de um coração cristão. Os Salmos formam a oração oficial da Igreja na recitação do Ofício divino e em muitas orações litúrgicas.

SANTA SÉ OU SEDE APOSTÓLICA

Por esta designação, entende-se o Romano Pontífice, as Congregações Romanas, os Tribunais e Ofícios, pelos quais o Romano Pontífice costuma tratar os negócios da Igreja.

SECULARIZAÇÃO

É o indulto concedido pela Santa Sé aos religiosos de direito pontifício ou pelo Bispo aos de direito diocesano, o qual tem por efeito separar perpetuamente o religioso da Ordem ou da Congregação a que pertencia, voltando ao estado secular.

SIGILO SACRAMENTAL

É o absoluto segredo que o confessor guarda de tudo o que conhece por meio da confissão sacramental e de cuja revelação pode resultar gravame ao penitente. Assim determina o Código de Direito Canônico: o sigilo sacramental é inviolável; por isso acautele-se diligentemente o confessor, para que nem por palavra, nem por escrito, nem por sinal ou qualquer outro modo, nem por motivo nenhum denuncie o pecador. A mesma obrigação têm o intérprete e todos aqueles que de qualquer modo tiverem notícia da confissão. É inteiramente proibido ao confessor o uso da ciência adquirida pela confissão, com gravame do penitente, excluído mesmo o perigo de revelação. Nem pode o confessor ser testemunha, em tribunal, dos penitentes que confessa ou do que soube pela confissão sacramental.

SÍLABO

É a coleção de 80 proposições que contêm os principais erros modernos condenados pelo Papa Pio IX e publicado em 1864. São erros em defesa do panteísmo, do socialismo, do naturalismo, do comunismo, das sociedades secretas e erros contra os direitos da Igreja sobre a sociedade civil, sobre o casamento civil e vários outros. Condenados como estão pela suprema Autoridade da Igreja, nenhum católico os pode defender nem admitir.

SIMONIA

É a deliberada vontade de comprar ou vender alguma coisa espiritual (como a graça e os sacramentos,) ou coisa temporal anexa a coisa espiritual (como o cálice consagrado, por causa da consagração, um benefício eclesiástico, etc.). É pecado mortal, por falta de reverência para com as coisas divinas, tais como a consagração do cálice. Mas não há simonia quando se dá alguma coisa espiritual, segundo legítimo costume reconhecido pela Igreja. Como não há simonia comprando, por exemplo, um cálice consagrado pelo preço do cálice, sem aumento por causa da consagração. 

SÍNODO DIOCESANO

É a assembleia, presidida pelo bispo, na qual tomam parte os sacerdotes que a isso têm direito. Deve ser celebrado em cada diocese ao menos de dez em dez anos. No sínodo são tratados assuntos que dizem respeito às necessidades particulares ou à utilidade do clero e do povo dessa diocese. É convocado e presidido pelo bispo, que é o único legislador nos sínodos, tendo somente voto consultivo os sacerdotes convocados.

SINÓTICOS (Evangelhos)

Dá-se este nome à narração evangélica dos três primeiros Evangelistas porque, dispondo em três colunas os textos das partes comuns, obtém-se uma sinopse (vista de conjunto) concordante em muitos 
pontos.

SOBREPELIZ

É uma veste litúrgica de tecido branco que, entrando pela cabeça, desce dos ombros até aos joelhos, com mangas compridas e largas. É conveniente que seja de linho ou de cânhamo.

SUBDIACONATO

É a Ordem que confere o poder de preparar, nos vasos sagrados, a matéria do Sacrifício da Missa, de cantar a Epístola na Missa solene, de purificar os sanguíneos e os corporais e de oferecer o cálice com a patena ao Diácono nas Missas cantadas. O Subdiaconato só pode ser recebido depois do 3.° ano do curso teológico e com a idade de 21 anos completos.

SUFRÁGIO

É toda a obra feita com a intenção de prestar alívio às almas que sofrem no Purgatório. O Segundo Livro dos Macabeus (Mc 12, 43) ensina que é santo e salutar o pensamento de orar pelos defuntos, para que lhes sejam perdoados os pecados, isto é, para que sejam aliviados das penas que sofrem por causa dos seus pecados. As almas que estão no Purgatório permanecem em união de caridade com os que ficaram neste mundo; podemos por isso, e devemos, usar de caridade para com elas, pois lhes são proveitosas as nossas boas obras. As principais, que têm o nome de sufrágios, são: a Missa, a Sagrada Comunhão, a oração, os atos de piedade, os sacrifícios próprios, a esmola e as indulgências. Para que as orações e boas obras dos fiéis aproveitem às almas do Purgatório, é necessário que quem as faz esteja na graça de Deus e tenha intenção de aplicá-las a essas almas.

SUPERSTIÇÃO

Vulgarmente dá-se o nome de superstição a certas crenças ou preconceitos que não têm nenhum fundamento sério, como o número 13 à mesa, o azeite cair no chão e coisas semelhantes. A superstição é uma espécie de culto prestado, direta ou indiretamente, ao demônio, com o fim de obter por meio de certas práticas uma coisa que se deseja. Praticam a superstição os feiticeiros, os adivinhos, os mágicos e os que a eles recorrem. Detestem os fiéis todas e quaisquer práticas supersticiosas. Desprezem as cartas ou escritos em que se propõem certas orações de piedade para serem distribuídas a certo número de pessoas para se conseguir algum bem ou evitar algum mal. Detestem especialmente a consulta de espíritos e as sessões de espiritismo, quer nas mesmas intervenha médium, quer não. Incorrem em excomunhão, ipso facto [pelo próprio ato em si] os que tomarem parte ativa nas sessões de espiritismo ou as promoverem ou apenas assistirem a elas.

(Verbetes da obra 'Dicionário da Doutrina Católica', do Pe. José Lourenço, 1945)

sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

SOBRE O ÓDIO E O DESEJO DE VINGANÇA

O amor que devemos ter aos  nossos inimigos nos força a depor por terra todo ódio de inimizade e todo o desejo de vingança. O ódio por inimizade, também chamado de malevolência, é aquele pelo qual se deseja algum mal a uma certa pessoa por considerá-la má em essência. Como é um sentimento que se opõe ao amor de benevolência e à amizade, constitui a forma mais extrema de ódio a uma pessoa. Impõe-se sempre, em nome da caridade, depor por terra e de imediato esse ódio de inimizade, pelas seguintes razões expostas:

(i) pelas Sagradas Escrituras: 

São João afirma expressamente que 'quem odeia o seu irmão é assassino. E sabeis que a vida eterna não permanece em nenhum assassino' (I Jo 3,15) e ainda 'Se alguém disser: “Amo a Deus”, mas odeia seu irmão, é mentiroso. Porque aquele que não ama seu irmão, a quem vê, é incapaz de amar a Deus, a quem não vê. Temos de Deus este mandamento: o que amar a Deus, ame também ao seu irmão' (I Jo 4, 20-21).

(ii) pelos argumentos teológicos:

O ódio de inimizade se opõe diretamente à caridade e constitui, por si mesmo, uma grave desordem moral. Entretanto, poderia ser um pecado leve seja pela imperfeição do ato (por faltar vontade ou consentimento explícitos) seja por uma eventual falta de materialidade grave (desejo de danos de pequena monta, por exemplo), embora tal proposição possa ser, nestes casos, discutível e muito perigosa.

Como corolário, tem-se que o ódio de inimizade é intrinsecamente mal, por não ser lícito desejar ao próximo nenhum mal enquanto mal, mas é possível desejar a alguém algum mal físico ou temporal (nunca espiritual) para a sua correção (por exemplo, uma enfermidade para uma pessoa se arrepender de sua má vida) ou mesmo a morte de um perseguidor da Igreja, visando o fim do sofrimento de muitos (embora seja melhor rogar pela sua conversão) ou ainda na intenção do bem de alguns em detrimento de um só (por exemplo, desejar um castigo para um pai de família que ameaça e afronta continuamente sua esposa e os seus filhos).

Não  sendo lícito desejar o mal ao inimigo, tampouco se pode amaldiçoá-lo. A maldição é, em si, um pecado mortal contra a caridade, à qual se opõe diretamente. No entanto, na prática, pode também constituir pecado menos grave (venial) por imperfeição do ato, porque fruto de uma raiva momentânea e não constituir uma vontade definitiva. Entretanto, mesmo tais atos devem ser obstados e corrigidos com energia, por razões de se evitar o escândalo e muitos outros inconvenientes que carregam consigo.

Em relação ao desejo de vingança, eis aqui a luminosa doutrina exposta por São Tomás sobre o tema: 'A vingança é exercida por uma má pena imposta ao culpado, a qual deve levar em conta a intenção de quem a exerce. A busca por impor algum mal ao culpado e se regozijar por isso é absolutamente ilícito, porque isso é apenas ódio, que se opõe à caridade que devemos ter para com todos os homens... A razão de tudo isso é que não podemos ir contra alguém que nos infligiu um mal primeiro, pois isso nos é proibido pelas palavras do apóstolo: 'Não te deixes vencer pelo mal, mas triunfa do mal com o bem' (Rm 12,21). Por outro lado, se a intenção da pessoa que executa a vingança é conseguir o bem do culpado por meio da punição, pois estaria conseguindo a sua emenda ou, pelo menos, sua contrição, a tranquilidade dos demais e o exercício da justiça e da honra devida a Deus, então a vingança pode ser lícita, levando-se em conta outras devidas circunstâncias.

(Excertos da obra 'Teologia da Caridade', de Antonio Royo Marin)