terça-feira, 21 de novembro de 2017
segunda-feira, 20 de novembro de 2017
NO LIMIAR DO SOBRENATURAL (IX)
Igreja paroquial de Santo Antônio de Sokolka/ Polônia, 12 de outubro de 2008, domingo. Logo após a beatificação do servo de Deus Pe. Miguel Sopocko, durante a Santa Missa, uma hóstia consagrada caiu das mãos de um dos sacerdotes durante a distribuição da comunhão, junto ao altar. De acordo com as normas litúrgicas, a hóstia foi recolhida e depositada no vasculum, para se dissolver neste pequeno recipiente com água que foi, depois, repassado para um outro recipiente conservado num cofre na sacristia da igreja. Uma semana depois, o recipiente mantinha a água incolor e, no meio da hóstia em dissolução, uma mancha de sangue de vermelho vivo, como um coágulo recente. A hóstia foi, então, transportada para a capela da Misericórdia Divina e colocada no sacrário, onde foi conservada durante três anos até 2 de outubro de 2011.
Neste período, fragmentos do coágulo foram recolhidos e submetidos a análises independentes por renomados especialistas, que chegaram à mesma conclusão: trata-se de parte do tecido do músculo cardíaco de uma pessoa viva e em estado de grande agonia, sendo que as fibras do tecido cardíaco na região do coágulo estavam intimamente associadas às fibras da própria hóstia ainda não dissolvida, num arranjo tão perfeito quanto absolutamente inexplicável (indicadas pela região circulada na foto acima).
Em seu comunicado oficial sobre estes eventos, a Cúria Metropolitana de Bialystok afirmou: 'O acontecimento de Sokolka não se opõe à fé da Igreja, mas a confirma. A Igreja professa que, após as palavras da consagração, pelo poder do Espírito Santo, o pão se transforma no Corpo de Cristo e o vinho no Seu Sangue. Além disso, trata-se de um chamamento para que os ministros da Eucaristia distribuam o Corpo do Senhor com fé e cuidado e que os fiéis O recebam com adoração'.
domingo, 19 de novembro de 2017
A PARÁBOLA DOS TALENTOS
Páginas do Evangelho - Trigésimo Terceiro Domingo do Tempo Comum
Como herdeiros das alegrias eternas, somos administradores e não proprietários dos bens recebidos nesta vida. Tudo vem de Deus e tudo há de voltar para Deus na medida em que cada um de nós deverá prestar as devidas contas da infinitude das graças recebidas por Deus para se cumprir o seu plano de nossa salvação. Como nada nos pertence, nem nosso corpo, nem os nossos pensamentos, viver a santidade consiste em fazer em tudo e por todos a Santa Vontade de Deus, colocando todos os nossos dons e talentos a serviço do Reino.
O 'homem (que) ia viajar para o estrangeiro' (Mt 25, 14) não é outro senão Jesus que subiu ao Céu e que, chamando os seus empregados, 'lhes entregou seus bens' (ainda Mt 25, 14). Bens, portanto, que pertencem a Deus e que são distribuídos aos homens de forma diversa, por meio de um, de dois, de cinco talentos, de acordo com os desígnios da Providência e na medida certa para levar a todos ao cumprimento ideal da sua missão salvífica. Desta forma, a glória de Deus é fruto não da graça de se ter mais ou menos talentos, mas da resposta de cada um de nós, pela própria vocação, de cumprir santamente a Vontade de Deus na administração coerente dos bens recebidos em benefício próprio e dos nossos irmãos.
Mérito que tiveram os empregados que receberam cinco e dois talentos: bens que renderam outros bens, na medida do amor de ambos: 'servo bom e fiel' (Mt 25, 21.23); talentos que se multiplicaram e que se distribuíram fartamente, pela medida expressa por um rendimento em dobro: 'Senhor, tu me entregaste cinco talentos. Aqui estão mais cinco, que lucrei' (Mt 25, 20) e 'Senhor, tu me entregaste dois talentos. Aqui estão mais dois que lucrei' (Mt 25, 22). Quem se mostra fiel na administração dos bens recebidos, será merecedor de bens ainda maiores e herdeiro das alegrias eternas: 'Vem participar da minha alegria!’ (Mt 25, 21.23).
Glória que será tirada dos servos infiéis, dos empregados maus e preguiçosos que, diante os dons e talentos recebidos, os enterram nos buracos de sua insensatez, do egoísmo e da busca desenfreada por posses e bens materiais, aviltando a graça de Deus e se consumindo nos próprios interesses e mesquinhez. Ao prestar contas de sua má administração, o servo infiel busca em vão refúgio na tentativa de culpar o patrão, mediante a concepção desvairada de um Deus injusto e severo, para apenas se condenar pelas próprias palavras e pelos pecados de negligência e omissão. E, condenado, perde até o pouco que porventura tenha feito em favor de outros e ganha a perdição eterna: 'Porque a todo aquele que tem será dado mais, e terá em abundância, mas daquele que não tem, até o que tem lhe será tirado. Quanto a este servo inútil, jogai-o lá fora, na escuridão. Aí haverá choro e ranger de dentes!’ (Mt 25, 29 - 30).
sábado, 18 de novembro de 2017
sexta-feira, 17 de novembro de 2017
DA VIDA ESPIRITUAL (95)

quinta-feira, 16 de novembro de 2017
SUMA TEOLÓGICA EM FORMA DE CATECISMO (I)
PRIMEIRA PARTE
DEUS
Criador e Soberano Senhor de todas as coisas
I
DA EXISTÊNCIA DE DEUS
Há Deus?
Sim, Senhor (II*).
Por que o dizeis?
Porque, se não o houvesse, não poderia existir coisa alguma (II, 3).
Como o demonstrais?
Mediante o seguinte raciocínio: O que necessariamente há de receber de Deus o ser não existiria, se Deus não existisse. Assim é que coisa alguma pode existir, exceto o mesmo Deus, se não recebe Dele a existência. Logo, se não houvesse Deus, não poderia existir coisa alguma.
E como demonstrais que nenhuma coisa pode existir, exceto o mesmo Deus, se não recebe Dele a existência?
Desenvolvendo o mesmo raciocínio: O que existe e pode não existir, depende, em última análise, de alguma coisa que existe necessariamente, e a esta alguma coisa chamamos Deus. Assim é que nada do que existe, exceto Deus, existe por si mesmo, isto é, em virtude de forçosa exigência de sua natureza. Logo, há de, necessariamente, receber de Deus a existência.
Por que dizeis que nada do que existe, exceto Deus, existe por si mesmo ?
Porque nenhum ser que necessita de alguma coisa, existe em virtude de exigências de sua natureza. Assim é que todos os seres, exceto Deus, necessitam de alguma coisa. Logo nenhum pode existir por si mesmo.
Por que os seres que necessitam de alguma coisa não podem existir por si mesmos?
Porque, o que existe por si mesmo, não depende, nem pode depender de coisa alguma, nem de pessoa alguma; e o que forçosamente necessita de alguma coisa ou pessoa, dessa coisa ou pessoa depende.
E por que o ser que existe por si mesmo não depende, nem pode depender de qualquer pessoa ou coisa?
Porque no fato de existir per se já vai incluída a posse atual de todas as perfeições, por virtude de sua natureza e com absoluta independência: Não pode, portanto, receber coisa alguma de fora.
Portanto, a existência dos seres contingentes é prova evidente da existência de Deus?
Assim é.
Que fazem, por consequência, os que o negam?
Sustentam a verdade da seguinte proposição: O ser que tudo necessita, de nada tem necessidade.
Isto, porém, não é contraditório?
Evidentemente: Como é possível negar a existência de Deus sem se contradizer?
É, portanto, uma loucura negar a existência de Deus?
De verdadeira loucura se pode qualificar.
II
NATUREZA E ATRIBUTOS DE DEUS
Quem é Deus?
Um Espírito em três Pessoas; Criador e Soberano Senhor de todas as coisas.
Que quereis dizer quando dizeis que Deus é espírito?
Quero dizer que não tem corpo como nós, que está, absolutamente, isento de matéria e de qualquer elemento estranho ao seu ser (III, 14).
Que consequências se derivam destes princípios?
Resulta que Deus é, no sentido mais absoluto e transcendental, o Ser por essência e as restantes coisas são seres particulares, são tais seres e não o Ser. (III, 4).
Deus é perfeito?
Sim, Senhor; porque nada lhe falta (VII, 1).
É bom?
É a própria bondade, como princípio e fim de todos os amores (VI).
É infinito?
Sim, Senhor; porque coisa alguma pode limitá-lo.
Está em toda a parte?
Sim, porque tudo quanto existe, Nele e por Ele existe (VII).
É imutável?
Sim, porque nada pode adquirir (IX).
É eterno?
Sim, porque Nele não há sucessão (X).
Quantos deuses há?
Um só (XI).
Existem em Deus os referidos atributos?
Sim, Senhor, e se não os possuísse não seria o Ser por essência.
Podeis demonstrá-lo?
Sim, Senhor; Deus não seria o ser por essência, se não fosse o que existe per se, ou como dissemos, por necessidade de sua natureza. O que existe per se concentra em si mesmo todos os modos do ser; é, portanto perfeito e, sendo perfeito, necessariamente há de ser bom. É, além disso, infinito, condição indispensável para que nenhum ser tenha ação sobre Ele e o limite, e se é infinito possui o dom da ubiquidade. É imutável, porque, se mudasse, havia de ser em busca de uma perfeição que lhe faltasse. Sendo imutável, é eterno, porque o tempo é sucessão e toda sucessão revela mudança. Sendo perfeito em grau infinito, não pode haver mais do que um; se houvesse dois seres infinitamente perfeitos, nada teria um que o outro não possuísse, não haveria meios de distingui-los e seriam, portanto um (III-XI).
Podemos ver a Deus enquanto vivemos neste mundo?
Não, Senhor; não o consente o nosso corpo mortal (XI, 11).
Poderemos vê-lo no céu?
Sim, Senhor; com os olhos da alma glorificada (XII, 1-10).
De quantos modos podemos conhecer a Deus neste mundo?
De dois: por meio da fé e da razão (XII-12-13).
Que coisa é conhecer a Deus por meio da razão?
É conhecê-Lo, mediante as criaturas, obras de suas mãos (XII, 12).
E conhecê-Lo pela Fé?
É conhecê-Lo, sabendo o que Ele é, pelo que nos revelou de Si mesmo (XII, 13).
Qual destes dois modos de conhecimento é mais perfeito?
Indubitavelmente, o da fé, dom sobrenatural que nos mostra Deus com uma claridade como jamais o pode conjeturar a razão humana; e ainda que, devido à imperfeição de nosso entendimento percebemos esta claridade, manchada de sombras e obscuridades impenetráveis, é todavia dela, como aurora do dia feliz da visão perfeita, que se constituirá a nossa Bem-aventurança no céu (XII, 15).
As palavras e proposições que usamos para falar de Deus expressam alguma coisa de positivo, determinado e real?
Sim, Senhor; porque, se bem que tenham sido inventadas para designar as perfeições das criaturas, podem empregar-se para manifestar o que em Deus corresponde a essas perfeições (XIII, 1-4).
Têm o mesmo sentido aplicadas a Deus e às criaturas?
Sim, Senhor; porém, com alcance diverso: quer dizer que, aplicadas às criaturas, manifestam plenamente a natureza e as perfeições que expressam; porém, usadas para designar perfeições divinas, se bem que em Deus existe realmente quanto de positivo encerra o seu significado, não alcançam expressá-lo de modo supereminente como está em Deus (XIII, 1-4).
Por conseguinte, Deus é inefável, qualquer que seja a nossa linguagem e a sublimidade das expressões que usemos para falar Dele?
É inefável: apesar disso, não pode ter o homem ocupação mais digna e proveitosa do que a de falar de Deus e dos seus atributos, apesar do confuso e impreciso de nossa linguagem, durante esta vida mortal (XIII, 6, 12).
III
OPERAÇÕES DIVINAS
Qual é a vida íntima de Deus?
A sua vida consiste em conhecer-se e amar-se (XIV - XXVI).
Deus sabe todas as coisas?
Sim, Senhor (XIV, 5).
Sabe tudo o que se passa no mundo?
Sim, Senhor (XIV, 11).
Conhece todos os segredos dos corações?
Sim, Senhor (XIV, 10).
Conhece o futuro?
Sim, Senhor (XIV, 13).
Em que vos fundais para atribuir a Deus tão profunda ciência?
Em que ocupando Deus o grau supremo do imaterial, possui inteligência infinita; é impossível, portanto, que ignore coisa alguma, presente, passada, futura e possível, visto que não há ser que pertença, quer à ordem entitativa quer à operativa, que não dependa da sua ciência, como o efeito da sua causa (XIV, 1-5).
Logo em Deus há também vontade?
Sim, porque a vontade é inseparável do entendimento (XIX, 1).
Logo, todos os seres dependem da vontade divina?
Sim, Senhor; visto que a vontade de Deus é causa primeira e suprema de todas as coisas (XIX, 4-6).
Ama Deus a todas as criaturas?
Sim porque as criaturas são obra do seu amor (XX, 2).
Produz o amor de Deus algum efeito nas criaturas?
Sim, Senhor.
Que efeito produz?
O de dar-lhes todo o bem que possuem (XX, 3, 4).
Deus é justo?
É a mesma justiça (XXI, 1).
Por que dizeis que Deus é a mesma Justiça?
Porque dá a todos o que exige a natureza de cada um (XXI, 1-2).
A Justiça divina reveste alguma modalidade especial a respeito dos homens?
Sim, Senhor.
Em que consiste?
Em que Deus premia os bons e castiga os culpados (XXI, 1 ad 3).
Recebem os homens neste mundo o merecido prêmio ou castigo?
Em parte, sim, mas nunca por inteiro.
Onde recompensa Deus por inteiro os justos e castiga os pecadores?
No céu os primeiros e os segundos no inferno.
Há em Deus misericórdia?
Sim, Senhor (XXI, 3).
Em que consiste a misericórdia divina?
Consiste em que Deus dá a cada coisa mais do que exige a sua natureza e também em que dá aos justos mais do que lhes é devido, e castiga os pecadores com pena inferior à que merecem as suas culpas (XXI, 4).
Governa Deus este mundo?
Sim, Senhor.
Como se chama o governo de Deus no mundo?
Chama-se Providência (XXI, 1).
A Providência Divina estende-se a todas as coisas?
Sim, porque não há nada no mundo que Deus não tenha previsto e predeterminado desde toda a Eternidade (XXII, 2).
Estende-se aos seres inanimados?
Sim, porque fazem parte da obra de Deus (XXII, 2 ad 4).
Atinge também os atos livres do homem?
Sim, Senhor (XXII, 2, ad 4).
Explicai como.
Os atos livres, de tal maneira estão sujeitos às disposições da Providência Divina, que coisa nenhuma pode o homem fazer, se Deus a não ordena ou a permite, pois a liberdade não lhe confere independência a respeito de Deus (Ibid.).
Tem nome especial a Providência Divina em relação aos justos?
Chama-se Predestinação.
Que quer dizer predestinado?
O homem que há de gozar no Céu a bem-aventurança da glória (XXIII, 2).
Que nome recebem os que não hão de gozar da bem-aventurança?
O de réprobos ou não eleitos (XXIII, 3).
Por que uns hão de ser felizes e os outros não?
Porque os predestinados foram eleitos do Senhor, ou amados com amor de preferência, em virtude do qual governa Deus o curso da sua vida de tal modo que chegarão a conseguir a felicidade eterna (XXIII, 3).
E por que não alcançarão os réprobos a mesma felicidade?
Porque não foram amados com o amor dos predestinados (XX, 3).
Não haverá nisso injustiça por parte de Deus?
Não, Senhor; porque Deus a ninguém deve por justiça a bem-aventurança eterna, e os que a conseguem só a alcançarão a título de graça (XXIII, 3 ad 2).
E os que não hão de alcançá-la, serão castigados pelo fato de não a possuir?
Serão castigados por não a possuir, porém, só em razão das culpas em virtude das quais se tornaram indignos de recebê-la (XXIII, 3).
Como podem ser culpados de não a haver recebido?
Podem sê-lo, e, com efeito, o são, porquanto Deus a oferece a todos: porém, os homens que, debaixo do império dos decretos divinos, conservam a liberdade, podem aceitar o oferecimento ou recusá-lo, pondo em seu lugar outro fim (Ibid.).
Ofendem com isso a Deus?
Tão gravemente, que merecem duro castigo, visto que, ao fazê-lo, caem voluntariamente em grave pecado pessoal (Ibid.).
Os que aceitam o oferecimento e conseguem a glória, a quem devem o ter correspondido ao chamamento de Deus?
À virtude causal do decreto predestinante (XXIII, 3 ad 2).
É eterna a predestinação por parte de Deus?
Sim, Senhor, (XXIII, 4).
Que significa a predestinação a respeito dos eleitos?
Significa que Deus assinalou a cada um o seu lugar na glória, e, mediante a graça, o porá em condições de possuí-la (XXIII, 5-7).
Que devem fazer os homens ante o pavoroso mistério da predestinação absoluta por parte de Deus?
Abandonar-se inteiramente à ação da graça e convencer-se, na medida do possível, que os seus nomes estão escritos no livro dos predestinados (XXIII, 8).
Deus é Todo-Poderoso?
Sim, Senhor (XXV, 1-6).
Por que?
Porque, sendo o ser por essência, a Ele há de estar submetido tudo quanto existe ou possa existir (XXV, 3).
Deus é feliz?
É a mesma felicidade porque goza infinitamente do Bem infinito, que é Ele mesmo (XXVI, 1-4).
IV
DAS PESSOAS DIVINAS
Que quereis dizer quando afirmais que Deus é um espírito em três Pessoas?
Que há Nele três Pessoas, cada uma das quais se identifica com Deus, e possui os atributos da divindade (XXX, 2).
Quais são os nomes das três Pessoas divinas?
Pai, Filho e Espírito Santo.
Quem é o Pai?
O que, sem ter tido princípio, gera o Filho e dá origem ao Espírito Santo.
Quem é o Filho?
O gerado pelo Pai, e do qual, conjuntamente com o Pai, procede o Espírito Santo.
Quem é o Espírito Santo?
O que procede do Pai e do Filho.
As Pessoas divinas são distintas de Deus, em si mesmo?
Não Senhor.
São distintas entre si?
Sim, Senhor.
Que quereis dizer, quando afirmais que as Pessoas divinas são distintas entre si?
Que o Pai não é o Filho, nem o Espírito Santo; que o Filho não é o Pai, nem o Espírito Santo e que o Espírito Santo não é o Pai, nem o Filho.
Podem separar-se as Pessoas divinas?
Não, Senhor.
Estão unidas desde a eternidade?
Sim, Senhor.
Possui o Pai, com relação ao Filho, tudo o que temos visto que há em Deus?
Sim, Senhor.
E o Filho com relação ao Pai?
Também.
E o Pai e o Filho com relação ao Espírito Santo?
Também.
E o Espírito Santo com relação ao Pai e ao Filho?
Sim, Senhor.
Logo, são três Deuses com conexões eternas?
Não, Senhor; são três Pessoas que se identificam com Deus, apesar do que, permanecem realmente distintas.
As Pessoas divinas formam sociedade?
Sim, e a mais perfeita de quantas existem (XXXI, 3 ad 1).
Por que?
Porque, sendo três, cada uma delas possui de modo infinito a perfeição, a duração, a ciência, o amor, o poder, a felicidade, e todas e cada uma, constituem a sua própria Bem-aventurança no seio da divindade.
Como sabemos que há três Pessoas em Deus?
Porque Ele mesmo no-lo revelou.
Pode a razão humana, sem o auxílio da fé, perscrutar a existência das Pessoas divinas?
Não, Senhor (XXXII, 1, 2).
Como se chamam as verdades inacessíveis à inteligência e que só pela fé conhecemos?
Chamam-se mistérios.
É, por conseguinte, um mistério, a existência das Pessoas divinas?
É mistério e o mais profundo de todos.
Que nome tem?
Mistério da Santíssima Trindade.
Poderemos chegar a compreendê-lo?
Sim, e com seu conhecimento seremos eternamente felizes.
Poderemos nesta vida entrever alguma coisa dos admiráveis segredos do mistério da Santíssima Trindade, estudando a natureza das operações dos seres espirituais?
Sim, Senhor; dois são os atos imanentes do ser espiritual: entender e amar, e em cada um se estabelecem relações de princípio a termo, e de termo a princípio de operação. Daqui se deduz, conforme o que ensina a fé, que o Pai, no ato de entender, é princípio, porquanto diz e pronuncia um verbo, e o Verbo tem relação de termo, dito ou pronunciado. O mesmo sucede no ato de amor. O Pai e o Filho formam um princípio de amor, com relação ao Espírito Santo, que é o termo.
Em que qualidade divina se funda o mistério da Santíssima Trindade?
Na fecundidade e riqueza infinitas da divina natureza, em virtude da qual se estabelecem em Deus misteriosas processões de origem (XXVIII, 1).
Como se chamam as processões de origem?
Geração e Processão (XXVIII, 1, 3).
Que se deduz da existência da geração e processão?
Que entre os dois termos de cada processão há relação real constituída pelos mesmos termos.
Quantas e quais são as relações em Deus?
São quatro: Paternidade, Filiação, Inspiração Ativa e Processão ou Inspiração Passiva (XXVIII, 4).
Relação é o mesmo que Pessoa Divina?
Sim, Senhor (XL, 1).
Por que sendo quatro as relações, não são mais que três as pessoas?
Porque a relação chamada inspiração ativa, não só não se opõe, relativamente, à Paternidade e à Filiação, mas convém a uma e a outra; portanto, as Pessoas constituídas pela Paternidade e pela Filiação, podem e devem ser sujeito da inspiração ativa, a qual não constitui Pessoa, senão que convém conjuntamente às pessoas do Pai e do Filho (XXX, 2).
Guardam ordem entre si as Pessoas divinas?
Sim, guardam a ordem de origem, em virtude da qual o Pai pode enviar o Filho, e o Filho enviar o Espírito Santo (XLII, XLIII).
As ações divinas (excetuando os atos de noção, de gerar e inspirar) são comuns às três Pessoas?
Sim, Senhor; assim o conhecer e amar de Deus, é um só ato realizado pelas três pessoas, e bem assim todas as ações divinas que produzam algo de extrínseco à divindade (XXXIX, XLI).
Não há, apesar disso, alguns atos que se atribuem especialmente a determinadas Pessoas?
Sim, Senhor; atribuem-se-lhes, em virtude de certa conveniência entre aqueles atos e os caracteres distintivos da Pessoa: assim, por apropriação, se atribui ao Pai a Onipotência, ao Filho a Sabedoria, e a Bondade ao Espírito Santo, ainda que os três são igualmente poderosos, sábios e bons (XXXIX, 7, 8; XLV, 6).
Logo, sempre que falamos de Deus em relação com o mundo, entendemos falar Dele como uno na essência e trino em Pessoas?
Sim, Senhor; exceto quando falamos da Pessoa do Verbo no Mistério da Encarnação (XLV, 6).
* referências aos artigos da obra original
('A Suma Teológica de São Tomás de Aquino em Forma de Catecismo', de R.P. Tomás Pègues, tradução de um sacerdote secular).
quarta-feira, 15 de novembro de 2017
DA MÍSERA AFEIÇÃO ÀS COISAS DO MUNDO
Para atingir o estado sublime de união com Deus, é indispensável à alma atravessar a noite escura da mortificação dos apetites, e da renúncia a todos os prazeres deste mundo. As afeições às criaturas são diante de Deus como profundas trevas, de tal modo que a alma, quando aí fica mergulhada, torna-se incapaz de ser iluminada e revestida da pura e singela claridade divina. A luz é incompatível com as trevas, como no-lo afirma São João ao dizer que as trevas não puderam compreender a luz (Jo 1, 5).
A alma enamorada das grandezas e dignidades ou muito ciosa da liberdade de seus apetites está diante de Deus como escrava e prisioneira e como tal — e não como filha — é tratada por Ele, porque não quis seguir os preceitos de sua doutrina sagrada que nos ensina: 'Quem quer ser o maior deve fazer-se o menor, e o que quiser ser o menor seja o maior'. A alma não poderá, portanto, chegar à verdadeira liberdade de espírito que se alcança na união divina; porque sendo a escravidão incompatível com a liberdade, não pode esta permanecer num coração de escravo, sujeito a seus próprios caprichos; mas somente no que é livre, isto é, num coração de filho. Neste sentido Sara diz a Abraão, seu esposo, que expulse de casa a escrava e seu filho: 'Expulsa esta escrava e seu filho, porque o filho da escrava não será herdeiro com meu filho Isaac' (Gn 21, 10).
Todas as delícias e doçuras que a vontade saboreia nas coisas terrenas, comparadas aos gozos e às delícias da união divina, são suma aflição, tormento e amargura. Assim todo aquele que prende o coração aos prazeres terrenos é digno diante do Senhor de suma pena, tormento e amargura, e jamais poderá gozar os suaves abraços da união de Deus. Toda a glória e todas as riquezas das criaturas, comparadas à infinita riqueza que é Deus, são suma pobreza e miséria. Logo a alma afeiçoada à posse das coisas terrenas é profundamente pobre e miserável aos olhos do Senhor, e por isto jamais alcançará o bem-aventurado estado da glória e riqueza, isto é, a transformação em Deus; porque há infinita distância entre o pobre e indigente, e o sumamente rico e glorioso.
A Sabedoria divina, ao se queixar das almas que caem na vileza, miséria e pobreza, em consequência da afeição que dedicam ao que é elevado, grande e belo segundo a apreciação do mundo, fala assim nos Provérbios: 'A vós, ó homens, é que eu estou continuamente clamando, aos filhos dos homens é que se dirige a minha voz. Aprendei, ó pequeninos, a astúcia e vós, insensatos, prestai-me atenção. Ouvi, porque tenho de vos falar acerca de grandes coisas. Comigo estão as riquezas e a glória, a magnífica opulência, e a justiça. Porque é melhor o meu fruto que o ouro e que a pedra preciosa, e as minhas produções melhores que a prata escolhida. Eu ando nos caminhos da justiça, no meio das veredas do juízo, para enriquecer aos que me amam e para encher os seus tesouros' (Pv 8, 4-6.18-21).
A divina sabedoria se dirige aqui a todos os que põem o coração e a afeição nas criaturas. Chama-os de 'pequeninos' porque se tornam semelhantes ao objeto de seu amor, que é pequeno. Convida-os a ter prudência e a observar que ela trata de grandes coisas e não de pequenas como eles. Com ela e nela se encontram a glória e as verdadeiras riquezas desejadas, e não onde eles supõem. A magnificência e justiça lhe são inerentes; e exorta os homens a refletir sobre a superioridade de seus bens em relação aos do mundo. Ensina-lhes que o fruto nela encontrado é preferível ao ouro e às pedras preciosas; afinal, mostra que sua obra na alma está acima da prata mais pura que eles amam. Nestas palavras se compreende todo gênero de apego existente nesta vida.
(Excertos da obra 'Subida do Monte Castelo', de São João da Cruz)
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