sábado, 20 de dezembro de 2025

ORAÇÃO: QUID CORDE MATRIS VIRGINIS

Quid Corde Matris Virginis é o verso inicial de um hino latino escrito por São João Eudes, incluído nos diversos ofícios litúrgicos dedicados por ele aos Sagrados Corações de Jesus e Maria. São João Eudes publicou uma extensa bibliografia sobre a união inseparável dos Corações de Jesus e Maria em suas Obras Completas, destacando-se aqui a obra chamada 'O Admirável Coração de Maria', que inclui o presente hino litúrgico.

Quid Corde Matris Virginis
Cani Potest sacratius?
Cordi supremi Numinis
Quid Corde tanto gratius?

Amoris est miraculum,
Triumphus almi Spiritus,
Dignum Dei spectaculum,
Iucunda spes mortalibus.

Levamen est lugentibus, 
Zelator ardens mentium,
Cunctis datum fidelibus,
Cor, vita, lux, oraculum.

O qualis heac benignitas!
Nostrum sibi cor abstulit 
Matris Patrisque caritas,
Suumque nobis contulit. 

Vos sacra proles pectoris 
Sic vos amantum, noscite 
Tantae decus propaginis, 
Et corda cordi tradite. 

Res mira! Mortis spurios
Dant Cordis esse filios: 
Tantos favores pendite, 
Vices amoris reddite. 

Cordis Patris mirabilem 
In corde vitam pingite, 
Cordisque Matris nobilem 
In mente formam sculpite. 

O Cor, Dei triclinium, 
o exili solatium, 
Immensa sunt magnalia
Immensa sunt praeconia

O sacrosancta Trinitas, 
Aeterna vita cordium, 
Cordis Mariae sanctitas, 
In corde regnes omnium. 

Jesu, tibi sit gloria
Qui in Virginis Corde regnas, 
cum Patri et Almo Spiritu, 
In sempiterna saecula. Amen.


O que pode existir mais santo
do que o Coração da Virgem Mãe,
mais digno de nosso louvor
e mais agradável ao Coração do Altíssimo?

É o milagre do amor,
o triunfo do Espírito Santo,
a visão agradável a Deus,
a alegre esperança do homem mortal.

O conforto dos aflitos,
o zelo ardente das almas,
dado a todos os fieis cristãos,
como coração e vida, luz e oráculo.

Ó que bênção sem fim é esta!
O amor de Maria, Virgem Mãe,
remove o nosso coração mortal
e nos dá em troca o seu coração.

Ó todos vós, sagrados filhos deste Coração,
reconhecei-vos, assim tão amados,
e na graça de tão desditosa herança
entregai os vossos corações a este Coração.

Coisa admirável! Os filhos da morte
tornam-se os filhos deste Coração
que, acolhidos por tantos favores,
possam retribuir a medida deste amor.

A vida admirável do Coração do Pai
tomai toda em vossos corações
e gravai em suas mentes
a imagem viva do Coração da Mãe.

Ó Coração, repouso de Deus
ó consolo do nosso exílio,
imensas são as vossas maravilhas,  
imenso deve ser o nosso louvor!

Ó três vezes Trindade santa,
vida Eterna dos corações,
concedei que a santidade do Coração de Maria
reine para sempre em todos os corações. 

A Vós, ó Jesus, toda a glória, 
Vós que reinais no Coração da Virgem Maria,
com o Pai e o Espírito Santo, 
agora e por toda a eternidade. Amém.

(Excertos de Ouevres Complètes, São João Eudes, tradução do autor do blog)

ANTÍFONA DO Ó - 20 DE DEZEMBRO

As Antífonas do Ó são sete orações especialmente cantadas durante o tempo do Advento, particularmente ao longo da semana que antecede o Natal. A autoria das antífonas, que remontam aos séculos VII e VIII, tem sido comumente atribuída ao papa Gregório Magno. São sete orações extremamente curtas, sempre iniciadas pela interjeição Ó, correspondendo a sete diferentes súplicas manifestadas a Jesus Cristo, na expectativa do nascimento do Menino - Deus entre os homens, que é invocado sob sete diferentes títulos messiânicos tomados do Antigo Testamento.

20 de dezembro 

O Clavis David
et sceptrum domus Israel:
qui aperis, et nemo claudit;
claudis et nemo aperit:
Veni, et educ vinctum de domo carceris,
sedentem in tenebris et umbra mortis   


Ó Chave de Davi
o cetro da casa de Israel
que abris e ninguém fecha;
fechais e ninguém abre:
Vinde e libertai da prisão o cativo
assentado nas trevas e à sombra da morte. 

sexta-feira, 19 de dezembro de 2025

SOBRE AS ÚLTIMAS QUATRO COISAS (IX)

 

PARTE II - O JUÍZO FINAL

II. Sobre Como Todos os Homens Aguardarão a Vinda de Cristo no Vale de Josafá

Contemplemos agora as multidões reunidas no lugar do julgamento. Toda a humanidade, todos os seres humanos que já viveram na Terra, bem como todos os espíritos rebeldes que foram expulsos do Céu, serão obrigados a comparecer aqui perante o tribunal de Cristo.

Quem pode tentar enumerar essas multidões incontáveis? O número de habitantes da Terra que vivem nesta época da humanidade é de cerca de 1.400.000.000 [atuais 8.230.000.000]. Essa vasta multidão terá desaparecido em menos de meio século, e outra geração, não menos numerosa, terá tomado seu lugar e preenchido a Terra novamente. Assim continuará até o Dia do Juízo Final. Que multidões incontáveis serão levadas perante o tribunal de Cristo!

Os bons estarão todos juntos, regozijando-se na certeza de sua salvação eterna. Eles estão adornados com vestes gloriosas e brilham como as estrelas do céu. Eles se conhecem, se cumprimentam e trocam felicitações mútuas por sua sorte feliz.

Mas não assim com os maus. Os bons estão à direita e os maus à esquerda. Infelizmente, o número dos maus é muito, muito maior do que o dos bons. Tanto antes como depois da vinda de Cristo, o príncipe das trevas dominou um número muito maior de súditos do que o próprio Cristo. Ai de mim, meu Deus, que multidão imensa haverá à esquerda! O luto e a miséria entre eles serão tão incomparáveis que os bons que estão à direita ficariam, se fosse possível, profundamente comovidos com compaixão.

Pois todos esses incontáveis milhões de seres humanos derramarão sua tristeza e angústia excessivas em lamentações piedosas. Aguardando a vinda do Juiz supremo, eles permanecem juntos, separados dos justos, cheios de confusão por sua própria hediondez e, especialmente, por sua pecaminosidade, agora evidente para todos.

No entanto, acima e além de toda essa miséria, está a consternação que prevalece por causa da vinda do Juiz; é algo que está além do poder das palavras expressar. Pois agora essas criaturas infelizes se tornam plenamente conscientes de quão terríveis são os julgamentos de Deus, aos quais deram tão pouca atenção durante a sua vida. Agora, pela primeira vez, reconhecem que vergonha terrível é para eles terem seus pecados manifestados na presença de todos os Anjos e Santos, na presença também dos demônios e dos condenados. Agora, pela primeira vez, estão conscientes da natureza terrível da sentença que lhes será imposta pelo Juiz, a quem muitas vezes desprezaram insolentemente. Essas e muitas outras coisas contribuem para imbui-los de um medo indescritível da vinda do seu Juiz, de modo que tremem de terror e quase desmaiam de apreensão e alarme. 

Dirão uns aos outros em tom lamentoso: 'Ai de nós, o que fizemos! Como nos enganamos terrivelmente! Por causa das poucas e transitórias alegrias da terra, teremos que passar por uma eternidade de angústia. De que nos servem agora todas as riquezas, os prazeres voluptuosos, o orgulho, as honras do mundo? Nós, tolos, desperdiçamos os bens celestiais e eternos pelas coisas pobres e insignificantes da terra. Ai de nós, o que será de nós quando nosso Juiz aparecer! Ó montanhas, caiam sobre nós; ó colinas, cubram-nos, pois verdadeiramente seria menos intolerável para nós sermos esmagados sob o vosso peso do que ficar diante do mundo inteiro cobertos de vergonha e confusão, e contemplar o rosto irado do justo Juiz!

Pecador infeliz, quem quer que seja você que esteja lendo este texto, não se iluda com a vã esperança de que esta descrição da miséria dos perdidos seja exagerada. Eles reclamarão mil vezes mais alto, e sua dor e miséria serão indescritíveis. Aproveite o curto e precioso tempo de sua existência terrena, faça penitência, faça agora tudo o que você desejaria ter feito no Dia do Juízo Final. Peça a Deus a graça de corrigir sua vida pecaminosa, para que o dia da vinda de Cristo não seja um dia de terror indescritível para você.

Meu Deus, reconheço que, por minha vida pecaminosa, mereço ser banido da vossa presença para sempre. No entanto, me arrependo sinceramente dos meus pecados e vos peço a graça de uma verdadeira conversão, para que eu não espere a vossa vinda entre os condenados. Amém.

(Excertos da obra 'The Four Last Things - Death, Judgment, Hell and Heaven', do Pe. Martin Von Cochem, 1899; tradução do autor do blog)

ANTÍFONA DO Ó - 19 DE DEZEMBRO

As Antífonas do Ó são sete orações especialmente cantadas durante o tempo do Advento, particularmente ao longo da semana que antecede o Natal. A autoria das antífonas, que remontam aos séculos VII e VIII, tem sido comumente atribuída ao papa Gregório Magno. São sete orações extremamente curtas, sempre iniciadas pela interjeição Ó, correspondendo a sete diferentes súplicas manifestadas a Jesus Cristo, na expectativa do nascimento do Menino - Deus entre os homens, que é invocado sob sete diferentes títulos messiânicos tomados do Antigo Testamento.

19 de dezembro 

O Radix Jesse
qui stas in signum populorum,
super quem continebunt reges os suum,
quem gentes deprecabuntur:
Veni ad liberandum nos; jam noli tardare  


Ó Raiz de Jessé
erguida como estandarte dos povos,
em cuja presença os reis se calarão
e a quem as nações invocarão,
Vinde libertar-nos; não tardeis jamais. 

quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

FREIOS E CONTRAPESOS (III)

 SÍMBOLO DO ABUSO DO PODER JUDICIÁRIO

Virgínio, um centurião romano, matou a sua própria filha Virgínia, para salvá-la de ser escravizada e desonrada por Ápio Cláudio, que então exercia o cargo de decênviro (magistrado com poder absoluto), mediante decisão de um processo judicial fraudulento, realizado no Fórum Romano, presidido pelo próprio Ápio Cláudio.

 'A Morte de Virgínia', obra do artista francês Guillaume Guillon-Lethière (1828)

Esse evento, ocorrido por volta de 449 a.C., tornou-se um exemplo clássico de abuso e de corrupção judicial, produzindo uma intensa reação do povo romano, o que levou à queda do governo tirânico dos decênviros e ao restabelecimento da República Romana.

ANTÍFONA DO Ó - 18 DE DEZEMBRO

As Antífonas do Ó são sete orações especialmente cantadas durante o tempo do Advento, particularmente ao longo da semana que antecede o Natal. A autoria das antífonas, que remontam aos séculos VII e VIII, tem sido comumente atribuída ao papa Gregório Magno. São sete orações extremamente curtas, sempre iniciadas pela interjeição Ó, correspondendo a sete diferentes súplicas manifestadas a Jesus Cristo, na expectativa do nascimento do Menino - Deus entre os homens, que é invocado sob sete diferentes títulos messiânicos tomados do Antigo Testamento.

18 de dezembro

O Adonai
et Dux domus Israel,
qui Moysi in igne flammæ rubi apparuisti
et ei in Sina legem dedisti:
Veni ad redimendum nos in brachio extento
 

Ó Adonai
guia da casa de Israel,
que aparecestes a Moisés na chama do fogo
no meio da sarça ardente e lhe deste a lei no Sinai
Vinde resgatar-nos pelo poder do Vosso braço.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

FREIOS E CONTRAPESOS (II)

SÍMBOLO DO ABUSO DO PODER EXECUTIVO

Nero foi o imperador romano (54-68 d.C.) que iniciou as primeiras perseguições aos cristãos, sobretudo após o Grande Incêndio de Roma em 64 d.C., culpando-os pelo incêndio e submetendo-os a punições cruéis, incluindo o suplício de serem queimados vivos (como tochas humanas). Entre outras crueldades, foi responsável pelo assassinato da própria mãe e da esposa grávida.

'As Tochas de Nero', obra do artista polonês Henryk Siemiradzki (1876)

Em meio a revoltas militares e declarado como inimigo público, Nero fugiu de Roma e, temendo uma execução pública humilhante, cometeu suicídio, com ajuda do seu secretário, que o apunhalou. Com a sua morte, desapareceu a dinastia júlio-claudiana e o império submergiu-se numa série de guerras civis.