sábado, 6 de janeiro de 2024
sexta-feira, 5 de janeiro de 2024
ALEGRAI-VOS NO SENHOR!
O Apóstolo manda que nos alegremos, mas no Senhor, não no mundo. Pois afirma a Escritura: A amizade com o mundo é inimizade com Deus (Tg 4,4). Assim como um homem não pode servir a dois senhores, da mesma forma ninguém pode alegrar-se ao mesmo tempo no mundo e no Senhor.
Vença, portanto, a alegria no Senhor, até que termine a alegria no mundo. Cresça sempre a alegria no Senhor; a alegria no mundo diminua até acabar totalmente. Não se quer dizer com isso que não devamos alegrar-nos, enquanto estamos neste mundo; mas que, mesmo vivendo nele, já nos alegremos no Senhor.
No entanto, pode alguém observar: 'Eu estou no mundo; então, se me alegro, alegro-me onde estou'. E daí? Por estares no mundo, não estás no Senhor? Escuta o mesmo Apóstolo, que falando aos atenienses, nos Atos dos Apóstolos, dizia a respeito de Deus e do Senhor, nosso Criador: 'Nele vivemos, nos movemos e existimos' (At 17,28). Ora, quem está em toda parte, onde é que não está? Não foi para isto que fomos advertidos? O Senhor está próximo! Não vos inquieteis com coisa alguma (Fl 4,5-6).
Eis uma realidade admirável: aquele que subiu acima de todos os céus, está próximo dos que vivem na terra. Quem está tão longe e perto ao mesmo tempo, senão aquele que por misericórdia se tornou tão próximo de nós? Na verdade, todo o gênero humano está representado naquele homem que jazia semimorto no caminho, abandonado pelos ladrões. Desprezaram-no, ao passar,o sacerdote e o levita; mas o samaritano, que também passava por ali, aproximou-se para tratar dele e prestar-lhe socorro. O Imortal e Justo, embora estivesse longe de nós, mortais e pecadores, desceu até nós. Quem antes estava longe, quis ficar perto de nós.
Ele não nos trata como exigem nossas faltas (Sl 102,10) porque somos filhos. Como podemos provar isto? O Filho único morreu por nós para deixar de ser único. Aquele que morreu só, não quis ficar só. O Unigênito de Deus fez nascer muitos filhos de Deus. Comprou irmãos para si com o seu sangue. Quis ser condenado para nos justificar; vendido, para nos resgatar; injuriado, para nos honrar; morto, para nos dar a vida.
Portanto, irmãos, alegrai-vos no Senhor (Fl 4,4) e não no mundo; isto é, alegrai-vos com a verdade, não com a iniquidade; alegrai-vos na esperança da eternidade, não nas flores da vaidade. Alegrai-vos assim onde quer que estejais e em todo o tempo que viverdes neste mundo. O Senhor está próximo! Não vos inquieteis com coisa alguma.
(Dos Sermões de Santo Agostinho)
quinta-feira, 4 de janeiro de 2024
O DOM DO CONSELHO
O dom da fortaleza que reconhecemos ser necessário para a obra da santificação do cristão não seria suficiente para assegurar esse grande resultado, se o Divino Espírito não tomasse o cuidado de uni-lo a um outro dom que o complementa e nos afasta de todo perigo. Este novo benefício consiste no dom de conselho. A fortaleza não podia ser deixada sozinha: precisava de um elemento que a dirigisse. O dom de ciência não poderia ser este elemento porque, se ele esclarece a alma quanto ao seu fim e as regras gerais de conduta que ela deve seguir, não incorpora, no entanto, a luz suficiente quanto às aplicações especiais da lei de Deus e o governo da vida.
Nas diversas situações em que podemos nos encontrar, nas resoluções que devemos tomar, é necessário que ouçamos a voz do Espírito Santo e é pelo dom do conselho que esta voz divina chega até nós. É ela quem nos diz, se quisermos escutá-la, o que devemos fazer e o que devemos evitar, o que devemos dizer e o que devemos calar, o que podemos conservar e o que devemos renunciar. Pelo dom de conselho, o Espírito Santo age em nossa inteligência, assim como o dom da fortaleza age em nossa vontade.
Este dom precioso aplica-se à vida inteira porque precisamos, sem cessar, nos decidir por uma opção ou por outra, e é um grande motivo de reconhecimento para com o Espírito divino, pensar que Ele nunca nos deixa sozinhos conosco mesmos, desde que estejamos dispostos a seguir a direção que Ele nos imprime. Quantas armadilhas pode nos fazer evitar! Quantas ilusões pode destruir em nós! Quantas realidades nos mostra! Mas, para não perder suas inspirações, precisamos nos guardar do encadeamento natural das coisas, com que tantas vezes nos deixamos determinar; da temeridade que nos arrebata ao gosto da paixão; da precipitação que nos induz a julgar e a agir, mesmo quando só vemos um lado das coisas; da negligência que nos faz decidir ao azar, no temor de nos cansarmos com a procura daquilo que seria melhor.
O Espírito Santo, pelo dom do conselho, arranca o homem de todas essas inconveniências. Reforma a natureza, tantas vezes excessiva quando não apática. Mantém a alma atenta àquilo que é verdadeiro, ao que é bom, ao que é verdadeiramente vantajoso. Insinua a virtude que é o complemento e como se fosse o tempero de todas as outras, ou seja, a discrição, da qual Ele tem o segredo e pela qual as virtudes se conservam, se harmonizam e não degeneram em defeitos. Sob a direção do dom de conselho, o cristão nada tem a temer. O Espírito Santo toma a responsabilidade de tudo para ele.
Que importa que o mundo reclame ou critique, que se espante ou se escandalize? O mundo se crê sábio; mas não tem o dom do conselho. É daí que vêm, muitas vezes, as resoluções tomadas sob uma inspiração e que acabam em um fim diferente do que foi proposto. E tem que ser assim; porque foi ao mundo que o Senhor disse: 'Meus pensamentos não são os vossos pensamentos e meus caminhos não são os vossos caminhos'. Clamemos, então, com todo ardor de nossos desejos, pelo dom divino que nos preservará do perigo de nos governarmos a nós mesmos; mas compreendamos que este dom só habita naqueles que o estimam bastante para renunciarem-se sob a sua presença. Se o Espírito Santo nos encontra desligados das idéias humanas, convencidos de nossa fragilidade, dignar-se-á ser nosso conselho; mas se somos sábios aos nossos próprios olhos, Ele retirará sua luz e nos abandonará a nós mesmos.
Não queremos que isso aconteça conosco, ó Divino Espírito! Estamos fartos de saber que correr atrás da prudência humana não nos traz vantagem e, diante de Vós, abdicamos sinceramente das pretensões de nosso espírito, tão pronto a se deslumbrar e a se iludir. Conservai em nós e dignai-vos desenvolver com toda liberdade esse dom inefável que nos concedestes no batismo: sede para sempre nosso conselho. 'Mostrai-nos vossos caminhos e ensinai-nos vossas veredas. Dirigi-nos na verdade e instruí-nos; porque é de Vós que virá a salvação e é por isso que nos prendemos à vossa direção'. Sabemos que seremos julgados por todas as nossas obras e por todos os nossos desígnios; mas sabemos também que não teremos nada a temer se formos fiéis à vossa direção. Estaremos, pois, atentos 'para ouvir o que nos diz o Senhor nosso Deus', o Espírito de Conselho, seja nos falando diretamente, seja nos enviando ao mediador que quis escolher para nós. Bendito seja Jesus que nos enviou seu Espírito para ser nosso condutor e bendito seja este Divino Espírito que se digna nos assistir sempre e que mesmo as nossas resistências passadas não afastou de nós!
(Excertos da obra 'Os Dons do Espírito Santo', de Dom P. Gueranger)
quarta-feira, 3 de janeiro de 2024
O DOGMA DO PURGATÓRIO (LXXII)
Capítulo LXXII
Alívio às Santas Almas pelo Ato Heroico da Caridade - A Caridade para com os Falecidos pelo Padre Munford - O Ato Heroico da Caridade de Santa Gertrudes
Até agora, falamos dos diferentes tipos de boas obras que podemos oferecer a Deus como sufrágios pelos mortos. Resta-nos dar a conhecer um ato que engloba todas as obras e meios, pelo qual podemos ajudar mais eficazmente as pobres almas; é o voto heroico ou, como outros lhe chamam, o ato heroico de caridade para com as almas do Purgatório.
Este ato consiste em ceder-lhes todas as nossas obras de satisfação, isto é, o valor satisfatório de todas as obras da nossa vida e de todos os sufrágios que nos serão dados depois da nossa morte, sem reservar nada para saldar as nossas próprias dívidas. Depositamo-los nas mãos da Santíssima Virgem, para que ela os distribua, segundo a sua vontade, às almas que deseja livrar do Purgatório.
É uma doação absoluta em favor das almas de tudo o que podemos lhes dar; oferecemos a Deus em seu favor todo o bem que fazemos, de qualquer espécie que seja, seja em pensamentos, palavras ou obras, tudo o que sofremos meritoriamente durante esta vida, sem excetuar nada do que podemos lhes dar razoavelmente e acrescentando mesmo aqueles sufrágios que podemos receber para nós mesmos após a morte. Compreenda-se bem que o objeto desta santa doação é o valor satisfatório das nossas obras e de modo algum o mérito que tem um grau de glória correspondente no Céu; porque o mérito é estritamente pessoal e não pode ser transferido para outro.
Eis a fórmula deste Ato Heroico: 'Ó Santíssima e Adorável Trindade, desejando cooperar na libertação das almas do Purgatório, e para testemunhar a minha devoção à Santíssima Virgem Maria, eu cedo e renuncio em favor dessas santas almas toda a parte satisfatória das minhas obras, e todos os sufrágios que me possam ser dados depois da minha morte, entregando-os inteiramente nas mãos da Santíssima Virgem, para que ela os aplique segundo a sua boa vontade às almas dos fiéis defuntos que ela deseja libertar dos seus sofrimentos. Dignai-vos, ó meu Deus, aceitar e abençoar esta oferenda que Vos faço neste momento. Amém'.
Os Soberanos Pontífices, Bento XIII, Pio VI e Pio IX, aprovaram este ato heroico e enriqueceram-no com indulgências e privilégios, dos quais os principais são os seguintes:
(i) aos sacerdotes que realizarem este ato, o indulto de um altar privilegiado todos os dias do ano;
(ii) os simples fiéis podem obter uma indulgência plenária, aplicável apenas às almas do Purgatório, cada vez que comungarem, desde que em visita a uma igreja ou oratório público e aí rezem por intenção do sumo pontífice;
(iii) podem aplicar às almas santas todas as indulgências que não se apliquem de outro modo em virtude de concessão, e que tenham sido concedidas até ao presente ou que venham a ser concedidas no futuro (Pio IX, 30 de setembro de 1852).
'Aconselho todos os verdadeiros cristãos' - diz o Padre Munford na sua obra 'Caridade para com os Falecidos' - a cederem com santo desinteresse aos fiéis defuntos todo o fruto das suas boas obras que estão a nossa disposição. Não creio que possam fazer melhor uso deles, pois os tornam mais meritórios e mais eficazes, tanto para obter a graça de Deus como para expiar os seus próprios pecados e encurtar o próprio tempo do seu Purgatório, ou mesmo para adquirir uma isenção de passagem pelo mesmo'.
Estas palavras exprimem as preciosas vantagens do Ato Heroico e, para dissipar todo o receio posterior que possa surgir no espírito, acrescentamos três observações:
1. Este ato nos dá a perfeita liberdade para rezar pelas almas pelas quais estamos mais interessados; a aplicação destas orações está sujeita à disposição da adorável vontade de Deus, que é sempre infinitamente perfeita e infinitamente amorosa.
2. Não obriga sob pena de pecado mortal e pode ser revogada em qualquer altura. Pode ser feito sem usar nenhuma fórmula particular; basta ter a intenção e fazê-lo de coração. No entanto, é útil recitar a fórmula de oferecimento de vez em quando, para estimular o nosso zelo pelo alívio das santas almas por meio da oração, da penitência e das boas obras.
3. O Ato Heroico não nos sujeita às terríveis consequências de termos de passar nós próprios por um longo Purgatório; pelo contrário, permite-nos confiar com mais segurança na misericórdia de Deus a nosso respeito, como nos mostra o exemplo de Santa Gertrudes.
O Venerável Denis, o Cartuxo, conta que a Virgem Santa Gertrudes tinha feito uma doação completa de todas as suas obras de satisfação em favor dos fiéis defuntos, sem reservar nada para saldar as dívidas que ela mesma poderia ter contraído diante de Deus. Estando à beira da morte e, como todos os santos, considerando com muita tristeza o grande número dos seus pecados, por um lado e, por outro, lembrando-se de que havia empregado todas as suas obras de satisfação para a expiação dos pecados dos outros, afligiu-se, para que, tendo dado tudo aos outros e não reservado nada para si, sua alma, ao partir deste mundo, não fosse condenada a horríveis sofrimentos.
Em meio aos seus receios, Nosso Senhor apareceu-lhe e a consolou, dizendo: 'Tranquiliza-te, minha filha, a tua caridade para com os defuntos não te prejudicará. Saiba que a generosa doação que fizeste de todas as tuas obras às santas almas me foi singularmente agradável e, para te dar uma prova disso, declaro-te que todas as dores que terias de suportar na outra vida estão agora remidas; além disso, em recompensa da tua generosa caridade, aumentarei de tal forma o valor dos méritos das tuas obras que te darei um grande aumento de glória no Céu'.
Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog.
terça-feira, 2 de janeiro de 2024
UM SANTO DE DEVOÇÃO PARA 2024!
Acesse o link
http://saintsnamegenerator.com/index.php
e faça uma pesquisa de nomes para escolher o seu santo de devoção para o ano de 2024, rezando todos os dias do Novo Ano pela intercessão dele junto a Deus em seu favor e de sua família.
Santo(a) de devoção ... rogai por mim, rogai por nós,
rogai pela minha família. Amém!
segunda-feira, 1 de janeiro de 2024
GLÓRIAS DE MARIA: MÃE DE DEUS E RAINHA DA PAZ
La Pietà (1498-1499) - Michelangelo Buonarroti
No primeiro dia do Ano Novo, a Igreja exalta Maria como Mãe de Deus; o calendário dos santos é aberto com a solenidade da maternidade daquela que Deus escolheu para mãe do Verbo Encarnado. Trata-se da primeira festa mariana proposta pela Igreja Ocidental, moldada sob as palavras eternas de Isabel: 'Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre' (Lc 1,42). Todos os títulos e todas as grandezas de Maria dependem do dogma essencial de sua maternidade divina. Desde a Antiguidade, Maria é chamada 'Mãe de Deus', do grego 'Theotokos', título ratificado pelo Concílio de Éfeso, de 22 de junho de 431. Em 1968, o Papa Paulo VI dedicou o 1° dia do ano como Dia Mundial da Paz. Assim, Maria é louvada também neste dia como Rainha da Paz.
São Cirilo de Alexandria (370-442), na homilia pronunciada no Concílio de Éfeso contra Nestório, que negava ser Maria Mãe de Deus:
'Contemplo esta assembléia de homens santos, alegres e exultantes que, convidados pela santa e sempre Virgem Maria e Mãe de Deus, prontamente acorreram para cá. Embora oprimido por uma grande tristeza, a vista dos santos padres aqui reunidos encheu-me de júbilo. Neste momento vão realizar-se entre nós aquelas doces palavras do salmista Davi: ‘Vede como é bom, como é suave os irmãos viverem juntos bem unidos!’ (Sl 132,1). Salve, ó mística e santa Trindade, que nos reunistes a todos nós nesta igreja de Santa Maria Mãe de Deus. Salve, ó Maria, Mãe de Deus, venerável tesouro do mundo inteiro, lâmpada inextinguível, coroa da virgindade, cetro da verdadeira doutrina, templo indestrutível, morada daquele que lugar algum pode conter, virgem e mãe, por meio de quem é proclamado bendito nos santos evangelhos ‘o que vem em nome do Senhor’ (Mt 21,9).
Salve, ó Maria, tu que trouxeste em teu sagrado seio virginal o Imenso e Incompreensível; por ti; é glorificada e adorada a Santíssima Trindade; por ti, se festeja e é adorada no universo a cruz preciosa; por ti, exultam os céus; por ti, se alegram os anjos e os arcanjos; por ti, são postos em fuga os demônios; por ti, cai do céu o diabo tentador; por ti, é elevada ao céu a criatura decaída; por ti, todo o gênero humano, sujeito à insensatez dos ídolos, chega ao conhecimento da verdade; por ti, o santo batismo purifica os que creem; por ti, recebemos o óleo da alegria; por ti, são fundadas igrejas em toda a terra; por ti, as nações são conduzidas à conversão.
E que mais direi? Por Maria, o Filho Unigênito de Deus veio ‘iluminar os que jazem nas trevas e nas sombras da morte’ (Lc 1,77); por ela, os profetas anunciaram as coisas futuras; por ela, os apóstolos proclamaram aos povos a salvação; por ela os mortos ressuscitam; por ela, reinam os reis em nome da Santíssima Trindade. Quem dentre os homens é capaz de celebrar dignamente a Maria, merecedora de todo louvor? Ela é mãe e virgem. Que coisa admirável! Este milagre me deixa extasiado. Quem jamais ouviu dizer que o construtor fosse impedido de habitar no templo que ele próprio construiu? Quem se humilhou tanto a ponto de escolher uma escrava para ser a sua própria mãe? Eis que tudo exulta de alegria! Reverenciemos e adoremos a divina Unidade, com santo temor veneremos a indivisível Trindade, ao celebrar com louvores a sempre Virgem Maria! Ela é o templo santo de Deus, que é seu Filho e esposo imaculado. A ele a glória pelos séculos dos séculos. Amém.'
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