sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

OS TRÊS ADVENTOS DO SENHOR

 

Conhecemos uma tríplice vinda do Senhor. Entre a primeira e a última há uma vinda intermediária. Aquelas são visíveis, mas esta, não. Na primeira vinda o Senhor apareceu na terra e conviveu com os homens. Foi então, como Ele próprio o declara, que viram-no e não o quiseram receber. Na última, todo homem verá a salvação de Deus (Lc 3,6) e olharão para aquele que transpassaram (Zc 12,10). A vinda intermediária é oculta e nela somente os eleitos o veem em si mesmos e recebem a salvação. Na primeira, o Senhor veio na fraqueza da carne; na intermediária, vem espiritualmente, manifestando o poder de sua graça; na última, virá com todo o esplendor da sua glória.

Esta vinda intermediária é, portanto, como um caminho que conduz da primeira à última; na primeira, Cristo foi nossa redenção; na última, aparecerá como nossa vida; na intermediária, é nosso repouso e consolação.

Mas, para que ninguém pense que é pura invenção o que dissemos sobre esta vinda intermediária, ouvi o próprio Senhor: 'Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos a ele' (Jo 14,23). Lê-se também noutro lugar: 'Quem teme a Deus, faz o bem' (Eclo 15,1). Mas vejo que se diz algo mais sobre o que ama a Deus, porque guardará suas palavras. Onde devem ser guardadas? Sem dúvida alguma no coração, como diz o profeta: 'Conservei no coração vossas palavras, a fim de que eu não peque contra vós' (Sl 118, 11).

Guarda, pois, a palavra de Deus, porque são felizes os que a guardam; guarda-a de tal modo que ela entre no mais íntimo de tua alma e penetre em todos os teus sentimentos e costumes. Alimenta-te deste bem e tua alma se deleitará na fartura. Não esqueças de comer o teu pão para que teu coração não desfaleça, mas que tua alma se sacie com este alimento saboroso.

Se assim guardares a palavra de Deus, certamente ela te guardará. Virá a ti o Filho em companhia do Pai, virá o grande Profeta que renovará Jerusalém e fará novas todas as coisas. Graças a essa vinda, como já refletimos a imagem do homem terrestre, assim também refletiremos a imagem do homem celeste (1Co 15,49). Assim como o primeiro Adão contagiou toda a humanidade e atingiu o homem todo, assim agora é preciso que Cristo seja o senhor do homem todo, porque ele o criou, redimiu e o glorificará.
(Dos Sermões de São Bernardo)

quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

PALAVRAS DA SALVAÇÃO

'Se alguém perguntasse qual a causa porque Deus fez os lírios maiores que as violetas, porque o alecrim não é uma rosa e cravo não é um malmequer, porque motivo o pavão é mais belo que um morcego, ou porque é o figo doce e o limão ácido, escarneceriam de suas perguntas e dir-lhe-iam: 'Pobre homem, já que a beleza do mundo requer variedade, é preciso que haja diferentes e desiguais perfeições nas coisas, e que não seja a outra; eis porque umas são pequenas, outras são grandes; umas acres, outras doces; umas mais e outras menos belas'. Dá-se o mesmo com as coisas sobrenaturais: cada pessoa tem o seu dom; um de um modo e outro de outro, diz o Espírito Santo (1Cor 7,7). É, pois, um disparate querer investigar porque razão São Paulo não teve a graça de São Pedro, nem São Pedro a de São Paulo, porque motivo Santo Antão não foi Santo Atanásio, nem Santo Atanásio não foi São Jerônimo. A Igreja é um jardim matizado de flores, e é preciso que as haja de diversos tamanhos, de diversas cores, de diversos aromas, numa palavra, de diferentes perfeições; todas tem o seu valor, a sua graça, o seu esmalte; e todas, no conjunto de suas variedades, produzem a beleza'.

(São Francisco de Sales)

quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

ORAÇÃO PELO DOM DO ENTENDIMENTO


Iluminai-me, ó bom Jesus, com a claridade da luz interior e dissipai todas as trevas que reinam em meu coração. Refreai as dissipações nocivas e rebatei as tentações, que me fazem violência. Pelejai valorosamente por mim, e afugentai as más feras, essas traiçoeiras concupiscências, para que se faça a paz por vossa virtude, e ressoe perene louvor no templo santo, que é a consciência pura. Mandai aos ventos e às tempestades; dizei ao mar: aplaca-te, e ao tufão: não sopres; e haverá grande bonança.

Enviai vossa luz e vossa verdade, para que resplandeçam sobre a terra; porque sou terra vazia e estéril, enquanto não me iluminais. Derramai sobre mim vossa graça e banhai o meu coração com o orvalho celestial; abri as fontes de devoção, que reguem a face da terra, para que produza frutos bons e perfeitos. Erguei meu espírito abatido pelo peso dos pecados e dirigi meus desejos paras as coisas do céu, para que, antegozando a doçura da suprema felicidade, me aborreça em pensar nas coisas da terra.

Desprendei-me e arrancai-me de toda transitória consolação das criaturas, porque nenhuma coisa criada pode consolar-me plenamente ou satisfazer meus desejos. Uni-me convosco pelo vínculo indissolúvel do amor, porque só vós bastais a quem vos ama, e sem vós tudo o mais é vaidade. Amém.

(Da Imitação de Cristo)

terça-feira, 12 de dezembro de 2023

GLÓRIAS DE MARIA: NOSSA SENHORA DE GUADALUPE

 Solenidade de Nossa Senhora de Guadalupe  

Padroeira da América Latina
                      

(Arcos de Pilares)

 'Canção para Nossa Senhora de Guadalupe' (em inglês), cantada por Molly Chesna, então com 11 anos (com a melodia da música 'Pescadores de Homens'), com muitas imagens da história destas aparições.

1 - You are the fountain of my life; under your shadow, in your protection, I fear no evil… no pain no worry. 

Refrain: O Maria, O most merciful Mother, gentle Virgin with the name Guadalupe. On a mountain we find roses in winter; all the world has been touched by your love. 

2 - Here in the crossing of your arms, could there be anything... else that I need? Nothing discourage nothing depress me. 
3 - You are the star of the ocean; my boat is small and the waves are so high; but with you to guide me I’ll reach my homeland. 
4 - You are the dawn of a new day, for you give birth to the Son of the Father; all of my lifetime I’ll walk beside you.

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1 - Você é a fonte da minha vida; sob a sua sombra, em sua proteção, não temerei mal algum... nenhuma dor, nenhuma preocupação.

Refrão: Ó Maria, Mãe misericordiosa, Virgem gentil, com o nome de Guadalupe. Em uma montanha, nós encontramos rosas no inverno e todo o mundo foi tocado por seu amor.

2 - Aqui no acolhimento dos seus braços, poderia haver alguma coisa, algo mais que possa precisar? Nada a me desencorajar, nada a me deprimir.
3 - Você é a estrela do oceano; meu barco é pequeno e as ondas são tão fortes! Mas, com você para me guiar, eu vou chegar ao meu porto seguro.
4 - Você é como a aurora de um novo dia em que dá a luz ao Filho de Deus; toda a minha vida hei de caminhar ao seu lado.

Nossa Senhora de Guadalupe, rogai por nós!

segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

10 COISAS QUE VOCÊ DEVE SABER SOBRE O ADVENTO

1. A palavra Advento significa vinda ou chegada (do latim 'ad-venio' - 'chegar') e constitui um tempo litúrgico que só existe nas Igrejas do Ocidente, desde o século VI, quando era celebrado como um tempo de seis semanas, que foram então reduzidas para quatro semanas por São Gregório Magno (590-604).

2. O Advento é um tempo de celebração de dois adventos do Senhor: tempo de esperança, conversão, penitência e júbilo pela celebração do aniversário da primeira vinda de Jesus Cristo ao mundo como a encarnação de Deus e de preparação e feliz expectativa pela sua vinda final como juiz, na nossa morte e no fim do mundo.

3. O Advento é o tempo litúrgico que começa no domingo mais próximo à festa de Santo André Apóstolo (30 de novembro) e compreende, portanto, quatro domingos.

4. O primeiro domingo do Advento pode ser adiantado até 27 de novembro (período máximo do Advento com vinte e oito dias) ou ser atrasado até o dia 3 de dezembro (período mínimo do Advento com vinte e dois dias).

5. O tempo do Advento pode ser subdividido em três períodos distintos por ordem de relevância: (i) os quatro domingos do Advento (domingos tão especiais que nenhuma solenidade tem precedência sobre eles); (ii) a semana entre 17 a 24 de dezembro, por corresponder ao período mais imediato de preparação do Natal; (iii) os demais dias do tempo do Advento.

6. O primeiro domingo do Advento nos exorta a praticar a vigilância; o segundo, a conversão; no terceiro celebramos a alegria da vinda do Senhor (o chamado 'Domingo Gaudete') e no quarto domingo, a Anunciação e o Fiat de Nossa Senhora.

7. Com o Advento, tem início um novo Ano Litúrgico nas Igrejas do Ocidente, que são divididos em Anos A, B e C, sendo narrados nestes anos os Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas, respectivamente (2023-2024 é o Ano B, com os Evangelhos de São Marcos).

8. Nas missas do Advento, omite-se o 'Glória', cântico associado diretamente ao nascimento de Jesus e que somente volta a ser entoado na Noite de Natal; canta-se, porém, o 'Aleluia', como referência a um tempo que é também de piedosa e alegre expectativa e não exatamente de penitência quaresmal.

9. No tempo do Advento, os paramentos são roxos para assinalarem o caráter penitencial deste período, com uma breve mudança no terceiro domingo, no qual é utilizada a cor rosa, símbolo da nossa expectativa alegre e confiante como pausa nos tempos penitenciais do Advento.

10. Por ser um tempo de penitência e conversão, a confissão é altamente recomendável neste período e as palavras de ordem são sobriedade e moderação. Não são realmente indicados elementos como luzes coloridas, enfeites natalinos ou decoração festiva, porque estes não são os verdadeiros símbolos do Advento cristão.

domingo, 10 de dezembro de 2023

EVANGELHO DO DOMINGO

  

'Mostrai-nos, ó Senhor, vossa bondade e a vossa salvação nos concedei!' (Sl 84)

Primeira Leitura (Is 40,1-5.9-11) - Segunda Leitura (2Pd 3,8-14)  -  Evangelho (Mc 1,1-8)

 10/12/2023 - Segundo Domingo do Advento 

2. TEMPO DE CONVERSÃO

Neste segundo domingo do Advento, a Igreja, à espera do Senhor Que Vem, celebra, após um primeiro tempo de vigilância, o tempo de conversão, mediante a proclamação na história dos tempos de dois grandes profetas das revelações messiânicas: Isaías e João Batista.

Isaías é o profeta messiânico por excelência, o precursor dos evangelistas. É Isaías quem declara que Jesus será da estirpe de Davi, é Isaías quem profetiza o nascimento de Cristo através de uma virgem, são de Isaías as profecias sobre a Paixão e Morte do Senhor, sobre a Santa Igreja de Deus e sobre a pregação de João Batista. É Isaías que anuncia a libertação dos judeus do exílio na Babilônia: 'Consolai o meu povo, consolai-o, diz o vosso Deus. Falai ao coração de Jerusalém e dizei em alta voz que sua servidão acabou e a expiação de suas culpas foi cumprida' (Is 40, 1-2). Esta manifestação profética, entretanto, extrapola os limites da Antiga Aliança e assume um caráter messiânico: pela conversão, o homem do pecado há de se tornar digno de contemplar a própria glória de Deus.

E eis que surge então outro profeta, o maior de todos, maior que Isaías, Moisés ou Abraão, aquele que foi aclamado pelo próprio Cristo como 'o maior dentre os nascidos de mulher' (Mt 11,11), que vai fazer o anúncio definitivo da chegada do Messias ao mundo: 'Depois de mim virá alguém mais forte do que eu. Eu nem sou digno de me abaixar para desamarrar suas sandálias' (Mc 1, 7). Como precursor imediato e direto do Messias e arauto desta revelação divina ao povo judeu, João vai se autoproclamar como 'a voz que clamava no deserto', símbolo dos terrenos estéreis e calcinados das almas tíbias e vazias dos homens daquele tempo.

E o deserto de hoje não é ainda mais árido, muitíssimo mais árido, do que nos tempos do Profeta João Batista? O deserto tornou-se uma terra de desolação e infortúnio, na qual o pecado é espalhado como adubo e as blasfêmias contra Deus são os arados. A Igreja de Cristo não se pode sustentar sobre as areias frouxas do deserto das almas tíbias, do ateísmo e da indiferença religiosa. Eis, portanto, a imperiosa necessidade de tempos de conversão. E, nesse sentido, João Batista é tão atual quando da época de sua profecia e sua mensagem ressoa pelos séculos para ser ouvida e vivida, agora como arauto do Senhor da Segunda Vinda: 'Eu vos batizei com água, mas Ele vos batizará com o Espírito Santo' (Mc 1, 8).

sábado, 9 de dezembro de 2023

TESOURO DE EXEMPLOS (276/280)

276. MINHA MÃE ERA POBRE

O papa Bento XI, filho de pais pobres, foi elevado ao pontificado em 1303. Estando o papa de passagem em Perussia, sua mãe mandou pedir para falar-lhe. O papa perguntou como ela estava vestida. Responderam-lhe que estava com vestido de seda. 'Então não é minha mãe' - disse o papa - 'minha mãe é pobre mulher do povo'. Levaram-lhe essa resposta do papa; ela então pôs os seus vestidos humildes e apresentou-se de novo. Desta vez o filho recebeu-a e abraçou-a com efusão.

277. GUIAVA-O

O célebre Cornélio Cipião, por gratidão e respeito a seu pai que ficara cego, guiava-o ele mesmo por toda a parte, tendo para com ele as maiores atenções.

278. QUANTO CUSTASTES A TEUS PAIS?

O arcebispo de Salzburgo, Dom Agostinho Gruber, ao visitar uma escola no Tirol, perguntou a uma menina se sabia quanto custara a seus pais. A menina, surpreendida, corou e não soube responder.
➖ Vamos ver - disse - quantos anos tens? Quanto lhes custas por dia, por mês e por ano?
A menina, auxiliada pelo arcebispo, conseguiu fazer as contas pedidas.

O arcebispo acrescentou:
➖ Como poderás pagar os cuidados da tua mãe e os suores do teu pai?
Como? Não com ouro ou prata, mas com amor, respeito e obediência. Esse cálculo impressionou de modo salutar todos os meninos da escola.

279. ESQUECERIA MEUS DEVERES*

O imperador Décio quis coroar imperador ao seu filho, mas este recusou a honra, dizendo: 'Eu creio que, sendo imperador, esqueceria meus deveres de filho. Prefiro não ser imperador, mas filho bom e obediente, a ser imperador e filho revoltoso. Que meu pai mande e a minha glória consistirá em obedecer-lhe com toda fidelidade'.

* no original: 'Esqueceram meus Deveres'

280. O RETRATO DO PAI

Boleslau, rei da Polônia, levava sempre ao pescoço o retrato do seu pai. Quando tinha algo importante, olhava para o retrato, beijava-o e dizia: 'Deus não permita faça eu alguma coisa que desonre a memória de meu querido pai'.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)