domingo, 8 de maio de 2022

EVANGELHO DO DOMINGO

'Sabei que o Senhor, só Ele, é Deus, nós somos seu povo e seu rebanho' (Sl 99)

 08/05/2022 - Quarto Domingo da Páscoa

24. O BOM PASTOR


No Quarto Domingo da Páscoa, ressoa pela cristandade a imagem e a missão do Bom Pastor: 'As minhas ovelhas escutam a minha voz; eu as conheço e elas me seguem. Eu dou-lhes a vida eterna e elas jamais se perderão. E ninguém vai arrancá-las de minha mão' (Jo 10, 27-28). Jesus, o Bom Pastor, conhece e ama, com profunda misericórdia, cada uma de suas ovelhas desde toda a eternidade.

Criadas para o deleite eterno das bem-aventuranças, redimidas pelo sacrifício do calvário e alimentadas pela sagrada eucaristia, Jesus acolhe as suas ovelhas com doçura extrema e infinita misericórdia. E com ânsias de posse calorosa e zelo desmedido: 'Meu Pai, que me deu estas ovelhas, é maior que todos, e ninguém pode arrebatá-las da mão do Pai. Eu e o Pai somos um' (Jo 10, 29-30).

Nada, nem coisa, nem homem, nem demônio algum, poderá nos apartar do amor de Deus. Porque este amor, sendo infinito, extrapola a nossa condição humana e assume dimensões imensuráveis. Ainda que todos os homens perecessem e a humanidade inteira ficasse reduzida a um único homem, Deus não poderia amá-lo mais do que já o ama agora, porque todos nós fomos criados, por um ato sublime e extraordinariamente particular da Sua Santa Vontade, como herdeiros dos céus e para a glória de Deus: 'Dele, por Ele e para Ele são todas as coisas. A Ele a glória por toda a eternidade!' (Rm 11, 36).

Jesus toma sobre os ombros a ovelha de sua predileção, cada um de nós, a humanidade inteira, para a conduzir com segurança às fontes da água da vida (Ap 7, 17), onde Deus enxugará as lágrimas dos nossos olhos. Reconhecer-nos como ovelhas do rebanho do Bom Pastor é manifestar em plenitude a nossa fé e esperança em Jesus Cristo, Deus Único e Verdadeiro, cuja bondade perdura para sempre e cujo amor é fiel eternamente (Sl 99,5). Como ovelhas do Bom Pastor, não nos basta ouvir somente a voz da salvação; é preciso segui-Lo em meio às provações da nossa humanidade corrompida, confiantes e perseverantes na fé, até o dia dos tempos em que estaremos abrigados eternamente na tenda do Pai, lavados e alvejados no sangue do Cordeiro (Ap 7, 14b).

sábado, 7 de maio de 2022

O FUNDAMENTO DA BATALHA ESPIRITUAL

São quatro as armas seguríssimas e muito necessárias para vencer a batalha espiritual que é a continua e duríssima luta contra você mesmo. São as seguintes: a desconfiança de si mesmo, a confiança em Deus, o exercício e a oração... mas há alguns enganos que podem levar à perdição.

O engano mais frequente é o da virtude. Muitos, sem pensar, julgam que ela consiste na austeridade de vida, no castigo da carne, nas longas vigílias, nos jejuns, e em outras penitências e fadigas corporais. Outras pessoas, mulheres especialmente, pensam ter chegado à grande perfeição quando rezam muito, ouvem muitas missas e longos ofícios, frequentam as igrejas e a Sagrada Comunhão. Outros ainda, e entre eles, certamente muitos religiosos de convento, chegaram à conclusão de que a perfeição consiste na frequência ao coro, no silêncio, na solidão e na disciplina. A verdade, porém, é muito outra.

Tais ações são, às vezes, meios de se adquirir o espírito e, às vezes, frutos do espírito. Não se pode, porém dizer que somente nestas coisas consista a perfeição cristã e o verdadeiro espírito. Estas pessoas seguem com grande abnegação, e com sua cruz às costas, o Filho de Deus, frequentam os santos sacramentos, para glória de sua divina Majestade, para mais se unirem com Deus e para adquirirem novas forças contra o inimigo.

Se, porém, põem todo o fundamento de sua virtude nas ações exteriores, estas ações, não por serem defeituosas, pois são santíssimas, mas pelo defeito de quem as usa, serão, às vezes mais do que os próprios pecados, a causa de sua ruína. Pois estas almas que apenas prestam atenção às suas ações, largam o coração às suas inclinações naturais e ao demônio oculto. Este, reparando que já está aquela alma transviada, fora do caminho, deixa que ela continue deleitando-se naquele comportamento enganoso, e até mesmo a estimula, embalando-a com o pensamento das delícias do paraíso. A alma logo se persuade de estar no coro dos anjos e de possuir Deus dentro de si.

Estes estão em grave perigo de cair porque têm o olhar interno obscurecido. É com esse olhar que contemplam a si mesmos e suas obras externas boas, atribuindo-se muitos graus de perfeição. E. com soberba, julgam os outros. A não ser por um auxílio extraordinário de Deus, nada os converterá. É evidente que mais facilmente se converte e se entrega ao bem o pecador declarado e manifesto do que o pecador oculto que, enganado e enganadoramente, se apresenta coberto com o manto das virtudes aparentes.

A vida espiritual não consiste nestas coisas. A virtude outra coisa não é senão o conhecimento da finita bondade e grandeza de Deus, e da nossa inclinação para o erro e para o mal. A virtude está no ódio de nós mesmos e das nossas faltas, tanto quanto no nosso amor a Deus e na nossa confiança em Deus. A virtude está não só na sujeição mas, por seu amor, no amor de todas as criaturas.

O ponto mais alto da virtude consiste no desapropriamento da nossa própria vontade, entregando-lhe o comando de nossa vida e das nossas ações, em acatamento total as suas divinas disposições. Por fim: querer e fazer tudo isto para glória de Deus, para seu agrado, e porque ele quer e merece ser amado e servido. Esta é a lei do amor, impressa pela mão de Deus nos corações de seus servos queridos e fiéis. Esta é a negação de nós mesmos, que ele, como Pai e Criador amantíssimo, nos pede, para o nosso bem. Este é o jugo suave de que falava Jesus, a obediência a que o nosso divino Redentor e Mestre nos chama, com sua voz e seu exemplo.

Este é o combate preliminar de adestramento para a grande batalha. Se você aspira a uma vida em perfeita união com Deus, deverá começar pelo combate generoso contra as suas próprias vontades, grandes e pequenas. Com grande prontidão de ânimo, desde o primeiro instante, é necessário que você se aparelhe para este combate, onde só é coroado o soldado valoroso. Este combate é difícil, mais que nenhum outro, pois combatemos contra nós mesmos. Por maior, porém, que seja a batalha, mais gloriosa e mais cara aos olhos de Deus será a vitória.

(Excertos da obra 'Combate Espiritual', de Dom Lourenzo Scupoli)

sexta-feira, 6 de maio de 2022

O DOGMA DO PURGATÓRIO (XXXI)

Capítulo XXXI

Razões da Expiação no Purgatório - Pecados de Escândalo - Padre Zucchi e a Noviça

Aqueles que tiveram a infelicidade de dar mau exemplo, ferir ou causar a perdição das almas pelo escândalo devem ter todo o cuidado de reparar tudo isso neste mundo, senão serão submetidos às mais terríveis expiações no outro. Não foi em vão que Jesus Cristo proclamou: 'Ai do mundo por causa dos escândalos! Ai daquele homem por quem o escândalo vem!' (Mt 18,7). Ouçamos o que o Padre Rossignoli relata em seu Merveilles du Purgatoire

Um pintor de grande maestria e vida exemplar havia feito uma pintura que não se conformava com as regras estritas da modéstia cristã. Era uma daquelas pinturas que, a pretexto de serem obras de arte, são mantidas sob as melhores famílias, e cuja mera visão causa a perda de tantas almas. A verdadeira arte é uma inspiração do Céu, que eleva a alma a Deus; a arte profana, que apela apenas aos sentidos, que não apresenta aos olhos senão as belezas da carne e do sangue, traduz apenas uma inspiração do espírito maligno; suas obras, por mais brilhantes que sejam, não são obras de arte, e este nome é falsamente atribuído a elas. São apenas as infames produções de uma imaginação corrupta.

O artista que mencionamos deixou-se enganar neste caso por um mau exemplo. Em seguida, porém, renunciando a esse estilo pernicioso, dedicou-se à produção de quadros religiosos ou daqueles que pelo menos eram perfeitamente irrepreensíveis. Uma vez realizando a pintura de um grande afresco para um convento dos carmelitas descalços, abateu-se sobre ele uma doença mortal. Sentindo-se prestes a morrer, solicitou ao prior que pudesse ser sepultado na igreja do mosteiro, legando àquela comunidade os seus ganhos, que ascendiam a uma soma considerável em dinheiro, exortando-lhes que fossem rezadas muitas missas para o repouso de sua alma. 

Morreu sob piedosos sentimentos e, após alguns dias, um religioso que havia permanecido no coro depois das Matinas, o viu aparecer em meio a chamas e suspirando de maneira lastimável: 'Como? - disse o religioso - 'como pode você estar padecendo tantas dores, depois de levar uma vida tão justa e morrer uma morte tão santa?' 'Ai!' - respondeu ele - 'tudo isso é por causa do quadro imodesto que pintei anos atrás. Quando compareci perante o tribunal do Juiz Soberano, uma multidão de acusadores veio depor contra mim. Eles declararam que tinham sido estimulados a pensamentos impróprios e maus desejos pela imagem que foi obra da minha mão. Por causa desses maus pensamentos, alguns estavam no Purgatório e outros no Inferno. Estes clamavam por vingança dizendo que, tendo sido esta a causa de sua perdição eterna, eu merecia, pelo menos, o mesmo castigo. Então a Santíssima Virgem e os santos que eu havia glorificado com meus quadros me defenderam. Eles representaram ao Juiz que aquela pintura infeliz tinha sido obra da minha juventude e da qual havia me arrependido; que eu a havia reparado depois com objetos religiosos que haviam sido fonte de edificação para as almas. Em consideração a essas e outras razões, o Juiz Soberano declarou que, por causa do meu arrependimento e das minhas boas obras, eu deveria estar isento de condenação; mas, ao mesmo tempo, Ele me condenou a essas chamas até que aquele quadro fosse queimado, para que não pudesse mais escandalizar ninguém'.

Então a aparição implorou aos religiosos do convento que tomassem as providências para que aquela pintura fosse destruída. 'Eu imploro' - acrescentou - 'procure em meu nome tal pessoa, proprietária do quadro; diga-lhe em que condições estou por ter cedido às suas insistências em pintá-lo e exorte-o a desfazer-se dele de pronto e ai dele se o recusar! Para provar que isso não é uma fantasia e para puni-lo pela sua própria culpa, diga-lhe que em breve perderá os seus dois filhos e, se ainda recusar a obedecer Àquele que nos criou, ele pagará por isso com uma morte prematura'.

O religioso não tardou em fazer o que a pobre alma havia pedido e foi ter com o dono do quadro. Este, ao ouvir essas coisas, pegou a pintura e a lançou no fogo. No entanto, como designado pelas palavras do falecido, ele perdeu os seus dois filhos em menos de um mês e passou o resto dos seus dias fazendo penitência, por ter encomendado e mantido por tanto tempo aquela pintura escandalosa em sua casa. Se tais são as consequências de um único quadro, qual será, então, o castigo dos escândalos ainda mais desastrosos induzidos por maus livros, notícias falseadas, ensinamentos perversos e conversas vulgares? Vae mundo a scandalis! Vae homini illi per quem scandalum venit! - 'Ai do mundo por causa dos escândalos! Ai daquele homem por quem vem o escândalo!' (Mt 18, 7).

O escândalo faz grandes estragos nas almas pela sedução da inocência. Ah! esses malditos sedutores! Eles prestarão a Deus uma terrível conta pelo sangue de suas vítimas. Lemos o seguinte na Vida do Pe. Nicolau Zucchi, escrita pelo Pe. Daniel Bartoli, da Companhia de Jesus. O santo e zeloso Pe. Zucchi, falecido em Roma, em 21 de maio de 1670, atraiu para uma vida de perfeição três jovens, que se consagraram a Deus no claustro. A mais nova delas, antes de deixar o mundo, recebera uma proposta de casamento de um jovem nobre. Após a sua entrada no noviciado, este homem, em vez de respeitar a sua santa vocação, continuou a dirigir-lhe cartas a quem desejava chamar de sua noiva, insistindo que ela deixasse - como dizia - o tedioso serviço a Deus para voltar a viver as alegrias da vida. O sacerdote,  encontrando-o um dia na rua, exortou-lhe que abandonasse tal conduta: 'Eu lhe asseguro' - disse ele - 'que em breve você irá comparecer perante o tribunal de Deus e, portanto, já é mais que tempo para se preparar para isso com sincera penitência'.

De fato, quinze dias depois, este jovem morreu de uma morte muito rápida, que lhe deixou pouco tempo para colocar em ordem os assuntos de sua consciência, de modo que havia tudo a temer por sua salvação. Uma noite, enquanto as três noviças estavam envolvidas em uma conversa religiosa, a mais jovem foi chamada a se dirigir até a sala de entrada, onde a esperava um homem encoberto por uma pesado casaco e que andava a passos largos pelo ambiente. 'Sim, senhor - ela disse - 'o senhor queria falar comigo?' O estranho, sem nada responder, aproximou-se dela e abriu o misterioso manto que o envolvia. A religiosa reconheceu de imediato e horrorizada de que se tratava do recém-falecido, que estava totalmente tomado por correntes de fogo que o prendiam pelo pescoço, pulsos, joelhos e tornozelos. 'Reze por mim!' - gritou ele, desaparecendo em seguida. Esta manifestação milagrosa mostrou que Deus teve misericórdia dele no último momento e que não foi condenado, mas que pagou caro por sua tentativa de sedução à jovem noviça com um terrível Purgatório.

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog)

quinta-feira, 5 de maio de 2022

SOBRE VIVER E SER FELIZ


'Todos os homens querem ser felizes; não há ninguém que não o queira, e com tanta intensidade que o deseja acima de tudo. Melhor ainda: tudo o que querem para além disso, querem-no para isso. Os homens perseguem paixões diferentes, um esta, outro aquela; também existem muitas maneiras de ganhar a vida neste mundo: cada um escolhe a sua profissão e a exerce. Mas quer adotem este ou aquele gênero de vida, todos os homens agem nesta vida para serem felizes. O que há então nesta vida capaz de nos fazer felizes, que todos desejam mas que nem todos alcançam? Procuremo-lo.

Se eu perguntar a alguém: 'Queres viver?', ninguém se sentiria tentado a responder-me: 'Não quero'. Do mesmo modo, se eu perguntar: 'Queres ser saudável?', ninguém me responderá: 'Não quero'. A saúde é um bem precioso aos olhos do rico e, para o pobre, ela é muitas vezes o único bem que ele possui. Todos concordam no amor pela vida e pela saúde. Ora quando o homem desfruta da vida e é saudável, poderá contentar-se com isso?

Um homem rico perguntou ao Senhor: 'Mestre, que devo fazer para ter a vida eterna?' (Mc 10, 17). Ele temia morrer e era forçado a morrer. Ele sabia que uma vida de dor e de tormentos não é vida, e que se lhe deveria antes dar o nome de morte. Apenas a vida eterna pode nos fazer felizes. A saúde e a vida neste mundo não a garantem, tememos demasiado perdê-las: chamai a isto 'temer sempre' e não 'viver sempre'. Se a nossa vida não é eterna, se não satisfaz eternamente os nossos desejos, não pode ser feliz, nem sequer é vida. Quando entrarmos nessa vida, teremos a certeza de aí ficar para sempre. Teremos a certeza de possuir eternamente a verdadeira vida sem qualquer temor, pois encontrar-nos-emos naquele reino sobre o qual se diz: 'E o seu reino não terá fim' (Lc 1, 33).
(Santo Agostinho)

terça-feira, 3 de maio de 2022

TESOURO DE EXEMPLOS (146/148)

 

146. UM INSTINTO DIVINO

Há coisas que só Deus pode ensinar às crianças. Elas têm às vezes ideias de anjos que espantam os grandes. Para celebrar a primeira comunhão de seus filhinhos, costumam as mães preparar lindos vestidos brancos que simbolizam a alvura da alma e que completam a festa interior do coração. Lindas flores enfeitam o dia da primeira comunhão. A alma, entretanto, tem lá as suas flores que ninguém vê nem suspeita.

Uma menina se preparava com admirável fervor para receber Nosso Senhor, pela primeira vez, em seu coração. Faltavam poucos dias para a solenidade e a mãe, julgando causar alegria à filhinha, disse a ela:
➖ Amélia, venha experimentar o vestido branco.

Sobre a mesa do quarto estava estendido um belíssimo vestido de seda branca. A mãe esperava uma explosão de alegria, mas enganou-se. Vendo o vestido, Amélia parecia cobrir-se de tristeza.
➖ O que é isso, Amélia? Não gostou do vestido?
➖ Ah! mamãe, ele vai me distrair. Naquele dia quisera ver só Jesus, pensar somente nele e falar só com ele. Faça, mamãe, um vestido mais simples e serei feliz, como os pobrezinhos...
➖ Você é um anjo - disse a mãe abraçando-a; só Deus pode ter ensinado a você essas coisas!

147. BEIJAR A MÃO DO PADRE

Um grupo de alegres rapazes combinaram fazer uma excursão. Iam bem dispostos, levando cada um a sua merenda, quando se encontraram com um padre modesto e bondoso. Todos beijaram a mão do ministro de Deus. Todos, não, porque dois, que pareciam ter ideias revolucionárias, logo depois caçoaram dos companheiros e disseram:
➖ Vocês não passam de uns beatos.
➖ De modo nenhum - respondeu um deles; bons cristãos, isso sim. Por que beijam vocês as mãos de suas mães? Porque lhes dão de comer e vestir, ou os curam quando é preciso, não é? Pois bem; nós beijamos a mão do sacerdote porque com ela nos reparte o pão da Eucaristia, nos abençoa, perdoa-nos os pecados e dirige-nos no caminho do céu.
➖ Bobagens! - responderam os mal educados; isso era costume em tempos atrasados; hoje não se beija mais a mão da mãe e menos ainda do padre.
➖ Vocês estão muito enganados. Se não beijam sua mãe, nem são agradecidos ao sacerdote, também não merecem o nome de homens, pois faltam-lhes sentimentos humanos. Temos que respeitar os ministros de Deus, como aos nossos pais, porque realmente são os pais de nossas almas.

148. CASTIGO DO CÉU

Em 18 de fevereiro de 1881, numa sexta-feira, houve em Mônaco um escandaloso baile de máscaras. Muitos dos mascarados ridicularizavam as vestes sacerdotais e os hábitos religiosos, fantasiando-se de frades e freiras, fingindo-se muito gordos com enchimentos de estopa e lã.

Alguém imprudentemente usou fogo para acender o cigarro, fogo esse que pegou num dos trajes usados e as chamas se propagaram como um rastilho de pólvora. Doze daqueles sacrílegos mascarados morreram no meio do pânico, e os outros, sofrendo dores horríveis, foram transportados ao hospital, onde alguns vieram a falecer e outros ficaram com cicatrizes das queimaduras como lembrança do infeliz divertimento.

Em face desta horrível catástrofe, toda a cidade exclamou:
➖ Castigo! Foi um castigo do Céu!

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)

segunda-feira, 2 de maio de 2022

SOBRE O PECADO DA SODOMIA

'… Essa torpeza é corretamente considerada como o pior dos crimes, porque está escrito que o Deus Todo-Poderoso a odiou e sempre da mesma maneira tanto que, para outros vícios, Ele estabeleceu limites por meio de preceitos específicos, mas quis condenar esse vício com uma punição da mais rigorosa vingança. Não pode ser olvidado que, de fato, Ele destruiu as duas famigeradas cidades de Sodoma e Gomorra, e todas as regiões próximas, mandando uma chuva de fogo e enxofre dos céus.

... Este vício não deve de modo algum ser considerado um vício comum, porque supera todos os outros pela gravidade. De fato, mata o corpo, arruína a alma, contamina a carne, extingue a luz do intelecto, expulsa o Espírito Santo do templo da alma, introduz nele o demônio instigador da luxúria, induz ao erro, subtrai a verdade pela raiz da mente enganada, prepara armadilhas para aquele que assim peca, lança-o no abismo e ali o encarcera, abre-lhe o inferno, fecha-lhe a porta do paraíso, transforma-o de cidadão da Jerusalém Celeste em herdeiro da Babilônia infernal, de uma estrela no céu em palha destinada ao fogo eterno, separa-o da comunhão da Igreja e o lança no fogo voraz da geena ardente. Este vício se compraz em destruir as muralhas da pátria celestial e reconstruir os muros da Sodoma queimada e revivida. Com efeito, ele viola a austeridade, extingue a modéstia, escraviza a castidade, mata a virgindade irrecuperável com o punhal de um contágio imundo, conspurca tudo, mancha tudo, contamina tudo e, tanto quanto pode, não permite que nada puro e casto se mantenha...

Essa tirania pestilenta de Sodoma torna os homens vis e movidos pelo ódio e em guerra contínua contra Deus; esmaga-os como escravos sob o peso do espírito de iniquidade, corta o vínculo deles com os anjos, extirpa a nobreza da alma, tornando-a infeliz e submetida ao jugo do seu próprio domínio. Priva os infelizes das armas da virtude e os expõem ao assédio de todos os vícios. Humilha-os diante da Igreja, condena-os pela justiça, contamina-os em privado e os proclamam como hipócritas em público, roendo-lhes a consciência como um verme e queimando a sua carne como fogo... Este flagelo abala os fundamentos da fé, enfraquece a força da esperança, dissipa o vínculo da caridade, elimina a justiça, mina a fortaleza, remove a temperança, amortece a perspicácia da prudência e, uma vez que tenha expulsado do íntimo do coração humano toda gama de virtudes, intromete-se no seu interior a barbárie de todos os vícios...

Portanto, tão logo alguém tenha caído nesse abismo de extrema perdição, torna-se um desterrado da pátria celeste, separa-se do Corpo de Cristo, é refutado pela autoridade de toda a Igreja, condenado pelo juízo dos Santos Padres, desprezado pelos homens e rejeitado pela comunhão dos santos... De um lado, não consegue levantar-se, agravado que está pelo peso do seu crime; de outro, não consegue mais ocultar seu mal no esconderijo da ignorância, não pode ser feliz enquanto vive, nem ter esperança quando morre, porque, agora, é obrigado a sofrer o opróbrio da derrisão dos homens e, depois, o tormento da condenação eterna'.

(Excertos da obra Liber Gomorrhanus, São Pedro Damião, in Patriologia Latina, por J. P. Migne)