sábado, 23 de janeiro de 2021

A GNOSE E SUAS DOUTRINAS FALSAS (II)

Dissemos que a Gnose foi apareceu entre os homens pela primeira vez no Pecado Original. Antes de continuar, porém, é importante observar que ela se manifestou antes mesmo disso, na Queda dos Anjos. Pois, uma vez que a essência de uma coisa é determinada pelo seu fim último, podemos identificar a essência da Gnose como a tentativa da criatura de se divinizar. Isso, porém, já havia ocorrido com a rebelião dos anjos. Lúcifer e os outros anjos quiseram fazer-se como Deus, isto é, sem Deus: por seus próprios esforços naturais e sem ajuda. A consequência foi a queda e a transformação de anjos em demônios.

'Quis ut Deus?' respondeu São Miguel Arcanjo, visto que ninguém de fato é como Deus, mas esta era precisamente a afirmação de Lúcifer: ser como Deus, e é esta mesma afirmação que ele mais tarde propôs a Adão e Eva. A gnose remonta, portanto, em sua essência, aos primeiros momentos do universo, ao primeiro ato livre das criaturas racionais. Daí se desenvolveu ao longo dos séculos, assumindo proporções teológicas e morais cada vez mais amplas, percorrendo caminhos diferentes de acordo com as religiões e nações que visita: seja hinduísmo, budismo ou judaísmo; seja a nação persa, a nação egípcia ou qualquer outra.

Vamos nos concentrar na Religião Judaica, considerando, com Don Julio Meinvielle, que esta é a forma de Gnose mais influente no mundo moderno. A Gnose Judaica é uma perversão da Cabala. A Cabala, antes de sua perversão, constituiu a tradição oral do Antigo Testamento. A autêntica fé judaica, que se tornou fé católica com o advento do Senhor, tinha uma tradição dupla: uma tradição escrita e uma tradição oral, precisamente como a fé católica.

A tradição oral, isto é, a Cabala primordial, ensinava aos homens as verdades fundamentais da natureza e da graça necessárias para a salvação; falava da natureza de Deus e de seus atributos, de espíritos puros e do universo invisível; continha até ensinamentos sobre a Santíssima Trindade e a Encarnação de Nosso Senhor antes do seu Advento a este mundo. Esta sublime e mística Tradição, entretanto, passou por um processo de perversão sob a influência da Gnose egípcia. A Gnose egípcia remonta a três mil anos antes da vinda do Senhor e, portanto, ao início dos tempos. A perversão ocorreu durante o exílio do povo judeu no Egito no século 14 antes de Cristo, e depois na Babilônia no século 6 a.C. de uma forma ainda mais prejudicial.

Parte dessa influência consistia em práticas mágicas e outra parte em falsas doutrinas. As falsas doutrinas eram negações da Revelação Divina conforme contido na Fé Judaica pré-cristã e podem, portanto, ser consideradas heresias sensu lato. Esses erros se insinuaram na tradição oral judaica e representam um desenvolvimento das doutrinas gnósticas centrais. Examinemos duas destas doutrinas falsas: a transformação do homem em Deus e o monismo entre Deus e o homem. Vamos examinar essas duas doutrinas em seus vários desenvolvimentos, primeiro à luz da Fé, depois à luz da razão.

I. A transformação do homem em Deus

A doutrina da transformação do homem em Deus é elaborada como um processo de evolução e inclui os seguintes elementos:

(i) o surgimento de Deus, do mundo e do homem a partir do Nada
(ii) a reencarnação;
(iii) a evolução e a realização graduais de Deus e do homem

O surgimento de Deus, do mundo e do homem a partir do Nada

A fé nos ensina que Deus existe eternamente e não tem começo no tempo. Ensina-nos igualmente que o mundo e o homem não vieram a existir por si próprios, mas que Deus os criou e os fez do nada (ex nihilo), mas não do nada como de uma substância preexistente, mas do nada no sentido de que de fato não havia nada e nenhuma substância preexistente. Por outro lado, a razão humana nos ensina que nada pode surgir do nada, pois nada, por definição, não existe.

Reencarnação

Na Carta aos Hebreus (Hb 9,27), se lê: 'É destinado aos homens morrer uma vez, e depois disso, o julgamento'. Além disso, a fé nos ensina que a alma humana é capaz de um desenvolvimento positivo, mas não por meio de reencarnações repetidas, mas pela obra de aperfeiçoamento moral e santificação. A razão ensina que a reencarnação é impossível, pois cada alma humana é o princípio de seu próprio corpo humano: a alma humana não pode conformar um corpo não humano, e não pode conformar um corpo humano que não seja o seu.

A evolução e a realização graduais de Deus e do homem

A fé ensina que Deus é imutável e não muda. São Tiago escreve (Tg 1, 16-17): 'Não se iludam, portanto, meus queridos irmãos. Toda dádiva boa e todo dom perfeito procedem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança, nem sombra de alteração'. A razão nos diz, além disso, que Deus é transcendente e imutável por definição. Se algo muda no homem, não é Deus. Acrescentamos uma última crítica lógica, válida para todas as três doutrinas evolucionistas, ou seja: o maior não pode derivar do menor: a substância não pode proceder do nada; Deus não pode proceder do homem; a alma não pode purificar-se por si mesma no curso de vidas sucessivas.

II. Monismo

O monismo entre Deus e o homem é elaborado na direção de três formas distintas de monismo: (i) um monismo ontológico entre Deus e o universo, onde o universo é considerado em certo sentido como divino (doutrina do panteísmo); (ii) um monismo moral onde o bem e o mal são considerados partes integrantes de uma realidade maior, que não permite nenhum princípio real de distinção entre eles. Este monismo moral é considerado, em última análise, como o próprio Deus; (iii) um monismo lógico no qual até mesmo a verdade e a falsidade se reconciliam uma com a outra.

Monismo entre Deus e o Universo (Panteísmo)

Nós respondemos a este erro como respondemos ao erro do monismo entre Deus e o homem. A fé ensina que Deus é criador: Credo in unum Deum, creatorem coeli et terrae. Deus é, portanto, totalmente independente do universo, que Ele criou com um ato livre de vontade. Não emanou dEle de acordo com a sua natureza; não veio necessariamente à existência. Além disso, a razão nos ensina que o conceito de Deus é um conceito de um ser essencialmente transcendente.

Monismo Moral

O monismo moral é, com efeito, concebido como a tese de que o bem e o mal são uma só coisa e que o mal existe em Deus. A fé nos ensina, em contraste, que o bem e o mal são princípios distintos, opostos um ao outro; que aderindo o homem ao bem , ele é salvo, e aderindo ao mal, ele é condenado. A fé ensina igualmente que Deus é infinitamente bom, o Pai das Luzes, para citar mais uma vez São Tiago (Tg 1, 13): 'Deus é inacessível ao mal e não tenta a ninguém'.

A razão, de acordo com a doutrina de São Tomás, ensina-nos que o bem e o mal não formam uma só entidade, visto que o bem é o próprio Ser, e o mal é a privação do bem. O mal não está em Deus, visto que Deus é infinita e necessariamente bom. Como já dissemos das outras perfeições de Deus, podemos dizer da sua bondade: se Ele não é bom, então Ele não é Deus.

Monismo Lógico

O monismo lógico afirma que o verdadeiro e o falso também constituem uma única realidade. A Gnose sustenta isso, por exemplo, em seu sincretismo, sustentando que todas as religiões e filosofias são iguais. A fé nos ensina, por contraste, que o verdadeiro e o falso são opostos, e o Senhor diz (Mt. 5,37): 'Mas seja a vossa palavra sim, sim: não, não; e o que está além disso provém do mal' .

A razão afirma que o falso é uma negação do verdadeiro. Como diz Aristóteles, é impossível que a mesma coisa, ao mesmo tempo e da mesma forma, seja verdadeira e falsa. Este é o princípio da não contradição, um dos primeiros princípios do pensamento e da metafísica. Se renunciarmos a esses primeiros princípios, renunciaremos à própria racionalidade e à própria possibilidade de compreender e explicar qualquer coisa.

Don Julio Meinvielle sustenta que o absurdo do monismo lógico - que o verdadeiro e o falso formam uma única realidade - é a consequência da absurda tese gnóstica de que o mundo, o homem e Deus emergem do nada. Diríamos, antes, que corresponde a todos os absurdos ensinados pela Gnose: a emergência do nada, a reencarnação, o desenvolvimento de Deus no mundo, o panteísmo, a chamada reconciliação entre o bem e o mal. Em última análise, o Monismo Lógico é o resultado da tese fundamental da Gnose: que o homem pode se tornar Deus. A irracionalidade desta tese resulta da rebelião da vontade contra a Verdade. A tese nada mais é do que a expressão máxima dessa rebelião.

(Excertos da obra 'The New Religion - Gnosis and the Corruption of the Faith', do Pe. Pietro Leone)

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

A GNOSE E A ANTI-RELIGIÃO (I)

O grande teólogo argentino Don Julio Meinvielle escreveu: 'Ao longo da história da humanidade, houve duas formas fundamentais de pensar e de viver: uma é católica e é a Tradição recebida de Deus, por meio de Adão, Moisés e Jesus Cristo: a outra é gnóstica e cabalística, que alimenta o erro de todos os povos, no paganismo e na apostasia, primeiro no judaísmo e depois no próprio cristianismo'.

O primeiro desses grandes sistemas de pensamento e vida é, então, a Fé Católica (incluindo sua fase pré-cristã), e o segundo é a Gnose. O primeiro é a única fé e religião verdadeiras. O segundo, constituindo também um corpo coerente de doutrinas, é essencialmente ateu e oposto à única religião verdadeira, podendo ser descrito como a Anti-Religião e a Anti- Religião por excelência. 

Como devemos definir a Gnose? A palavra 'gnosis' vem do grego e significa 'conhecimento'. Como veremos mais tarde, esse conhecimento é entendido como uma forma de conhecimento arcano voltado para a autodeificação do homem. A gnose, rival perene da fé católica, foi manifestada pela primeira vez entre os homens no evento conhecido como pecado original. 

Consideremos esse evento primordial, conforme narrado no livro de Gênesis: 'a serpente era mais sutil do que qualquer um dos animais da terra que o Senhor Deus havia feito. Ela disse à mulher: Por que Deus te ordenou que você não comesse de todas as árvores do paraíso? E a mulher respondeu-lhe, dizendo: Dos frutos das árvores que estão no paraíso comemos, mas do fruto das árvores que estão no meio do paraíso, Deus nos ordenou que não comêssemos; e que não devemos tocá-lo, para não morrermos. E a serpente disse à mulher: Não, não morrereis. Porque Deus sabe que, qualquer que seja o dia em que dela comerdes, os vossos olhos se abrirão; e sereis como Deus, conhecendo o bem e o mal. E a mulher viu que o fruto da árvore era bom para comer, muito agradável de se ver; e tomou dele e o comeu, e o deu ao seu marido, que também o comeu (Gn 3, 1-6).

O acontecimento aqui descrito, o do pecado original, sempre foi entendido e ensinado pela Santa Igreja como um acontecimento real da parte do primeiro casal humano, Adão e Eva. Foi um pecado de orgulho e desobediência a Deus, causado pela sedução do diabo em forma de serpente: uma ação que, na medida em que foi realizada por representantes de toda a humanidade, trouxe prejuízo não só para eles, mas igualmente para toda a humanidade. Este evento constitui ao mesmo tempo o paradigma da Gnose.

Em primeiro lugar, observamos que a Gnose se baseia na negação da Revelação Divina, na negação da Palavra de Deus, ou seja, que a morte será a consequência de se comer o fruto proibido. Por esta razão, pode ser descrito como herética, mesmo que não seja herético no sentido típico e formal de negar um dogma da fé. Examinemos o sistema da Gnose à luz da Fé Católica: primeiro em sua teologia, depois no conhecimento que pretende oferecer ao homem e, finalmente, em sua moralidade.

I. Teologia Gnóstica

A principal característica da teologia gnóstica é o monismo. A razão para isso é simples: se o homem pode se tornar Deus por meio de seus próprios esforços, o homem deve participar da natureza de Deus: o homem e Deus devem possuir uma única natureza, diferenciada apenas de acordo com o grau e perfeição dessa natureza.

A teologia gnóstica é monística, a passo que a teologia católica, em contraste, é dualista, ensinando que o homem e Deus possuem duas naturezas diferentes: uma natureza humana e uma natureza divina. Essas duas naturezas não se diferenciam apenas e essencialmente de acordo com o seu grau de perfeição, mas sim em sua diversidade ontológica. Além dessa principal característica - o Monismo - a Gnose inclui outra característica - a chamada imanência, pois se o homem e Deus possuem a mesma natureza, se eles não são distintos em sua natureza, então Deus deve ser imanente ao homem.

Em contraste, a filosofia e a teologia católicas ensinam que Deus é transcendente ao homem e, de fato, a todo o universo: a filosofia ensina que Ele está absolutamente acima e além do universo: absolutamente independente dele; a teologia ensina o mesmo com base no dogma professado no Credo de que Deus é o Criador e Juiz do mundo; Ele, que criou o mundo por um ato perfeitamente livre da sua vontade, é também o seu Mestre e Juiz.

Outra característica da teologia gnóstica é a mutabilidade de Deus. Segundo a Gnose, o homem se torna Deus, de modo que, em certo sentido, há um certo movimento e mutabilidade em Deus. A filosofia e a teologia católicas, por outro lado, ensinam que em Deus não há mutabilidade, nem movimento, nem mudança, pois Deus é o próprio Ser, a plenitude do ser, Puro Ato em quem tudo se atualiza.

Em conclusão, então, vemos três erros na teologia gnóstica: o Monismo em contraste com o Dualismo; imanência absoluta em contraste com transcendência; mutabilidade em contraste com a imutabilidade de Deus, ato puro. Observamos que, em relação ao segundo ponto, que a doutrina da imanência absoluta de Deus é logicamente insustentável. Isso porque o conceito de Deus, aprofundado pela reflexão teológica, é um conceito de um Ser necessariamente transcendente ao mundo. Se negarmos a transcendência de Deus, postulando que Ele é unicamente imanente ao mundo, negamos efetivamente a sua própria existência. O mesmo se aplica aos outros erros teológicos da Gnose: o monismo entre Deus e o homem e a mutabilidade de Deus.

II. Conhecimento Gnóstico

Em relação aos tipos de conhecimento pelo qual a Gnose afirma divinizar o homem, podemos fazer as seguintes observações:

(i) o conhecimento a que se refere a passagem do Gênesis consiste em dois tipos: o primeiro tipo é o conhecimento de como ser deificado, o conhecimento de se servir de um meio para um fim: isto é, o conhecimento de uma prática particular; o segundo tipo de conhecimento é o fim proposto a Adão e Eva: o Conhecimento do Bem e do Mal;

(ii) o conhecimento (em ambos os casos) é puramente natural;

(iii) é  distinto da vontade, pois não é objeto do exercício da vontade ou de qualquer ação;

(iv) é buscado para o prazer, acima de tudo para o prazer sensual: 'o fruto da árvore era agradável aos olhos e bom de se comer';

(v) é misterioso: não é acessível a todos, mas oculto, na verdade intencionalmente oculto por Deus, afirmam eles, por motivos questionáveis do próprio Deus.

Vamos comparar este conhecimento oferecido aos nossos primeiros pais pelo diabo com o conhecimento de Deus oferecido ao homem pela Religião Católica:

(i) o conhecimento de Deus, oferecido ao homem pela Religião Católica, também é de dois tipos: o primeiro tipo é a própria Fé, que é um meio para alcançar o fim último do homem no Céu; o segundo é a visão beatífica, que constitui esse fim último. O conhecimento de Deus, em ambos os casos, é o conhecimento da Santíssima Trindade, um conhecimento que é, portanto, infinitamente superior ao oferecido a Adão e Eva;

(ii) este conhecimento é sobrenatural: uma iluminação do intelecto por meio da Graça e da Glória respectivamente; ao passo que, como já dissemos, o conhecimento oferecido a Adão e Eva é de ordem puramente natural;

(iii) o conhecimento de Deus é direcionado para o exercício da vontade na caridade: para realizar cada ação de cada um e para conduzir toda a sua vida pelo amor de Deus durante este exílio terreno, e no seu final para descansar e se deleitar em Deus no paraíso;

(iv) o prazer não é a razão para se buscar o conhecimento, mas é a consequência de ter agido de acordo com esse conhecimento levando-se uma vida virtuosa;

(v) finalmente, o conhecimento de Deus nesta vida, ou seja, a Fé, não é misterioso, nem escondido por Deus, mas revelado ao homem, com o mandato de anunciá-lo a todo o mundo.

Concluindo, então, vemos que o conhecimento gnóstico nada mais é do que uma sombra pálida e um substituto enganoso do verdadeiro conhecimento de Deus: seu objeto não é a Santíssima Trindade, seu modo não é sobrenatural; é divorciado das boas obras, buscado pelo prazer e falsamente apresentado como o verdadeiro bem.

III. Moralidade Gnóstica

Vamos finalmente examinar a moralidade gnóstica como ela se manifesta na passagem do Gênesis, comparando-a com a teologia moral católica:

(i) definimos Gnose como um sistema de autodeificação e, como tal, está em oposição ao Cristianismo, que ensina que a deificação do homem procede somente de Deus;

(ii) o primeiro tipo de deificação consiste na transformação do homem em Deus pela perda de sua identidade; o segundo tipo implica a sua participação em Deus, ainda que mantendo a sua identidade;

(iii) no primeiro caso, o homem se faz Deus: sem Deus, no lugar de Deus e apesar de Deus (São Máximo, o Confessor); no segundo caso, o homem é deificado ao se humilhar diante de Deus;

(iv) o primeiro surge por meio de esforços naturais; o segundo, pela graça sobrenatural de Deus;

(v) o primeiro é uma forma de autodeterminação; o segundo é uma determinação efetuada por Deus;

vi) o primeiro tem origem no conhecimento natural e, como é o caso de todo conhecimento natural, é dominado pelo sujeito e nele absorvido; o segundo tem origem no conhecimento sobrenatural ao qual o objeto deve se sujeitar, sacrificando seu intelecto à Verdade absoluta;

(vii) o conhecimento gnóstico está divorciado das boas obras; o conhecimento católico é essencialmente governado por elas;

(viii) o primeiro é motivado pelo prazer; o segundo, pelo amor;

(ix) o primeiro é acessível apenas a uma elite; o segundo, a todos os homens.

Em síntese, o primeiro é caracterizado pelo orgulho e egoísmo e o segundo, pela humildade e sacrifício. Em suma, pode-se dizer que a Gnose é o egoísmo elevado ao status de religião. A gnose capacita o homem a ser como Deus em um sentido, ou seja, no exercício de seu livre arbítrio para fazer o que deseja, mas ao custo da bem-aventurança eterna. A fé católica, por outro lado, permite ao homem tornar-se semelhante a Deus no exercício de seu livre arbítrio, em harmonia com a ordem estabelecida por Deus: a ordem do objetivo verdadeiro e bom, com o propósito de conhecer e amar a Deus aqui na terra. e depois no paraíso.

No Jardim do Éden existem duas árvores: a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal e a Árvore da Vida. Para comer dos frutos da primeira árvore, o orgulho é necessário; para comer dos frutos da segunda árvore, basta o sacrifício. A primeira representa a Gnose, a rival perene da fé católica; a segunda representa a fé: pois a segunda é a árvore da cruz, cujos frutos são todas as graças e bênçãos de Deus aqui na terra e as alegrias eternas do céu. Para possuí-los, porém, é necessário passar por sofrimentos e sacrifícios, tomando a nossa cruz e levando-a nos passos de Nosso Senhor, a quem seja dada toda honra e toda glória para todo o sempre. Amém.

(Excertos da obra 'The New Religion - Gnosis and the Corruption of the Faith', do Pe. Pietro Leone)

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

20 DE JANEIRO - SÃO SEBASTIÃO

São Sebastião foi um oficial romano, do alto escalão da Guarda Pretoriana do imperador Diocleciano (imperador de Roma entre 284 e 305 de nossa era e responsável pela décima e última grande perseguição do Império Romano contra o Cristianismo), que pagou com a vida sua devoção à fé cristã. Denunciado ao imperador por ser cristão e acusado de traição, foi condenado a morrer de forma especial: seu corpo foi amarrado a um tronco servindo de alvo a flechas disparadas por diferentes arqueiros africanos.

Primeiro Martírio: São Sebastião flechado

Abandonado pelos algozes que o julgavam morto, foi socorrido e curado e, de forma incisiva, reafirmou a sua convicção cristã numa reaparição ao próprio imperador. Sob o assombro de vê-lo ainda vivo, São Sebastião foi condenado uma vez mais sendo, nesta sua segunda flagelação, brutalmente açoitado e espancado até a morte. O seu corpo foi atirado num canal de esgotos, de onde foi depois retirado e levado até as catacumbas romanas. Suas relíquias estão preservadas na Basílica de São Sebastião, na Via Apia, em Roma. É venerado por toda a cristandade como modelo de vida cristã, mártir da Igreja e defensor da fé e como padroeiro de diversas cidades brasileiras, incluindo-se o Rio de Janeiro. Sua festa é comemorada a 20 de janeiro, data de sua morte no ano 304.

Segundo Martírio: São Sebastião espancado até a morte

SOBRE A IMPUREZA

São Tomás diz que, devido a todos os vícios, mais especialmente pelo vício da impureza, os homens são lançados para longe de Deus. Além disso, os pecados da impureza em virtude do seu grande número são um mal imenso. 

Um blasfemador nem sempre blasfema, mas só quando está bêbado ou quando é provocado pela ira. O assassino cujo trabalho é matar os outros, em geral não comete mais que oito ou dez homicídios, mas os impuros são culpados de uma torrente incessante de pecados, por pensamentos, por palavras, por olhares, por complacências, e por toques, de modo que, quando vão a confissão eles acham impossível dizer o número de pecados que cometeram contra a pureza.

De acordo com São Gregório, a partir da impureza surgem a cegueira do entendimento, a destruição, o ódio a Deus e o desespero quanto à vida eterna. Santo Agostinho diz que, embora os impuros possam envelhecer, o vício da impureza não envelhece neles. Por isso Santo Tomás diz que não há pecado em que o diabo se deleite tanto como neste pecado, porque não há outro pecado a que a natureza se apegue com tanta tenacidade. Ela adere ao vício da impureza tão firmemente que o apetite por prazeres carnais se torna insaciável. Vá agora, e diga que o pecado da impureza não é mais que um pequeno mal. Na hora da morte, você não dirá isso, todos os pecados dessa espécie lhe aparecerão como um monstro do inferno.

São Remígio escreve que, exceto as crianças, o número de adultos que são salvos é pequeno, por causa dos pecados da carne. Em conformidade com essa doutrina, foi revelado a uma santa alma que como o orgulho encheu o inferno de demônios, da mesma forma a impureza o enche de homens.

Caríssimos irmãos, continuemos a orar a Deus para nos livrar desse vício, senão perderemos nossas almas. O pecado da impureza traz com ela a cegueira e obstinação. Todos os vícios produzem sombras no entendimento, mas a impureza produz em maior grau do que todos os outros pecados'

(Santo Afonso Maria de Ligório)

terça-feira, 19 de janeiro de 2021

VISÕES E REVELAÇÕES - SOEUR DE LA NATIVITÉ (III)

 

Soeur de la Nativité ou Irmã da Natividade ou Jeanne Le Royer (1731-1798)
 Religiosa Urbanista (Clarissa) de Fougères (França)

A Igreja Antes do Anticristo

(O espírito de Satanás se levantará contra a Igreja por meio de ligas, assembleias e sociedades secretas...)

'Os asseclas de Satanás, habitantes das sombras, irão elaborar e publicar muitas obras cheias de malícias e críticas contra a santa religião, todas imbuídas de espírito satânico [muitos destes livros serão de conhecimento inicial apenas dos adeptos de uma dada seita ou sociedade secreta]. Ó quanto mal causarão estes livros malditos para os que o leiam, mal mais contagioso que a peste! Mas tudo vai levar muito tempo e acontecerá na penumbra, envolto em segredo inviolável. Será como um fogo que queima por baixo, silenciosamente; se espalhará aos poucos e que será tanto mais perigoso para a Santa Igreja, pois não será notado de imediato. Alguns sacerdotes, no entanto, perceberão a fumaça deste maldito incêndio. 

É este o estratagema de Satanás, pelo qual os infelizes adeptos dessa doutrina instruirão uns e outros, dizendo: 'Sejamos cuidadosos, para não sermos descobertos... não vamos revelar o nosso segredo a ninguém... vamos fingir que acreditamos e sermos submissos como crianças indefesas... vamos sempre agir com paz e mansidão... fingirmos que somos obedientes à Igreja e a Deus e, assim, eles nos verão com bons olhos e sem aversão'. E, assim, permanecerão escondidos em lugares subterrâneos e ermos, para irromperem depois como legisladores de Satanás.

Quando estes escarnecedores tomarem conta que conquistaram um grande número de discípulos, um número tão grande quanto o de um grande reino, então esses lobos vorazes sairão de suas cavernas, vestidos com peles de ovelha. Mas serão lobos de verdade, famintos e raivosos, prontos para devorar as almas! Ó como tenho pena da Igreja, e como a Santa Igreja terá que sofrer! Ela será atacada por todos os lados, por estranhos e também pelos seus próprios filhos que, como víboras, rasgarão suas entranhas e ficarão ao lado de seus inimigos.

Eles então farão valer a sua lei maldita, que será escrita, assinada e aprovada por todos os seus cúmplices, mas que será mantida escondida e de leitura revelada apenas nos lugares onde eles se reúnem escondidos. Ela somente será divulgada a todos alguns anos antes da chegada do Anticristo. Vejo em Deus que muitos sacerdotes serão surpreendidos com tais mudanças e que muitos ficarão dominados pelo medo na incerteza de como isso tudo irá acabar... 

Vejo em Deus que um grande Concílio será realizado pela Igreja, sob a luz do Espírito Santo, que mostrará, então, a maldade destes traidores e escarnecedores, colocados a descoberto! Com que dor e agitação vejo a Santa Igreja de repente perceber os avanços dessa gente ímpia (e descobrir que o inimigo não veio plantar o joio no campo fértil da Igreja durante a noite!), a sua extensão e o número de almas que atraíram para as suas ciladas! [A Irmã da Natividade assinala que muito tempo passará, cerca de meio século mais ou menos, desde o momento em que essa heresia começará a ser imposta até o momento da Igreja perceber a sua magnitude. No início, essa heresia parecerá magnífica. Ela se imporá por sua aparência de bondade e até de religião. Será uma armadilha sedutora para muitos]. 

Por curiosidade, as maiores vítimas destes ímpios e das maquinações do diabo serão aquelas pessoas vacilantes na fé e que se entregam facilmente a quaisquer inovações religiosas. Nunca se terá visto tanto engano disfarçado de boas intenções religiosas... Esses orgulhosos hipócritas farão belos discursos para atrair almas vaidosas e curiosas e estas vão embarcar em todas essas novidades e serão apanhadas com mais facilidade do que peixes na rede.

Para evitar tantos infortúnios, será necessário, com a ajuda da graça, apegar-se incondicionalmente à fé. Sempre será necessário lembrar as primeiras crenças, para que a santa lei de Jesus Cristo permaneça, até o último suspiro, como amparo e regra de nossa conduta... Por amor de Deus, devemos colocar sempre o nosso amor e nossa esperança em Deus e em nossa mãe, a Santa Igreja, e rejeitar essas inovações extraordinárias'.

(Revelações de Jesus à Irmã Jeanne le Royer - Soeur de La Nativité, 1731 - 1798)

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

PALAVRAS ETERNAS (IX)

'Omnes qui pie volunt viver in Christo Jesu persecutionem patientur'
(2Tm 3, 12)


'Todos os que quiserem viver piedosamente em Jesus Cristo terão de sofrer perseguições'