quarta-feira, 14 de agosto de 2019

14 DE AGOSTO - SÃO MAXIMILIANO MARIA KOLBE

 

São Maximiliano Maria Kolbe (08/01/1894 - 14/08/1941)

Quando tinha apenas 10 anos, Raimundo Kolbe recebeu uma dura repreensão de sua mãe: 'Se aos dez anos você é tão mau menino, briguento e malcriado, como será mais tarde?' Estas palavras doeram fundo na alma da criança e, muito perturbado por tal admoestação, prostrou-se aflito diante da imagem de Nossa Senhora: 'Que vai acontecer comigo?' A Mãe de Deus apresentou-se, então, diante dele, trazendo nas mãos duas coroas, uma branca e outra vermelha e lhe perguntou, sorrindo, qual delas ele escolhia para a sua vida. O pequeno escolheu as duas. A coroa branca lhe assegurou a castidade; a coroa vermelha lhe outorgou a glória do martírio. Assim nascem os santos, assim se forjam os mártires.

Assumindo a sua vocação religiosa, decidiu ser capuchinho franciscano com o nome de Maximiliano e fez os solenes votos do sacerdócio em 01 de novembro de 1914, acrescentando o nome de Maria aos seu nome religioso. Quase 40 anos após a visão da Santa Virgem, ele receberia a coroa do martírio. Em fevereiro de 1941, o padre Kolbe foi levado à prisão de Pawiak, em Varsóvia para interrogatório, tornando-se em seguida o prisioneiro de número 16670 do campo de concentração de Auschwitz durante a II Grande Guerra Mundial. Mais do que nunca, exerceu ali o seu apostolado de oração e pela conversão daqueles condenados. No final de julho de 1941, foi transferido para o Bloco 14 do campo, cujos prisioneiros faziam trabalhos agrícolas. Numa dada oportunidade, ocorreu a fuga de um deles e, como castigo, dez outros foram sorteados para morrer de fome e de sede num abrigo subterrâneo. 

O sargento Franciszek Gajowniczek do exército polonês foi um dos dez escolhidos e suplicou pela sua vida, por ser pai de uma família ainda de pequenos. Padre Kolbe se ofereceu para substitui-lo no 'bunker da morte' e assim foi feito. Desnudos, os dez homens padeceram o suplício da fome e da sede no subterrâneo confinado. Pe. Kolbe lhes deu toda a assistência espiritual possível neste período de martírio. Ao final de três semanas, 4 ainda estavam vivos e receberam, então, injeções letais de ácido muriático. Era o dia 14 de agosto de 1941, véspera da Festa da Assunção de Nossa Senhora. Pe. Kolbe foi o último a morrer. Sua festa religiosa é celebrada em 14 de agosto. Foi canonizado pelo papa João Paulo II em 10 de outubro de 1982.



'Não tenham medo de amar demasiado a Imaculada; jamais poderemos igualar o amor que teve por Ela o próprio Jesus: e imitar Jesus é nossa santificação. Quanto mais pertençamos à Imaculada, tanto melhor compreenderemos e amaremos o Coração de Jesus, Deus Pai, a Santíssima Trindade'.


(o 'bunker da morte')

Mas o que aconteceu com Gajowniczek - o homem que Padre Kolbe salvou? Depois da guerra, retornou à sua cidade natal, reencontrando a sua esposa. Seus dois filhos tinham sido mortos durante a guerra. Todos os anos, no dia 14 de agosto, ele retornou à Auschwitz e divulgou durante toda a vida o ato heroico do Pe. Kolbe. Morreu aos 95 anos, em 13 de março de 1995, em Brzeg, na Polônia, quase 54 anos depois de ter sido salvo da morte por São Maximiliano Kolbe. 


(Franciszek Gajowniczek)

terça-feira, 13 de agosto de 2019

DA PRÁTICA DA CARIDADE PELOS SENTIMENTOS

1. Tende cuidado de lançar fora todo juízo, suspeita ou dúvida temerária a respeito do próximo. É uma falta duvidar sem razão da inocência do próximo; mais falta ainda conceber uma suspeita positiva; e uma falta ainda maior julgar alguém certamente culpado, sem um fundamento certo. Aquele que julga desta maneira, será julgado por sua vez, pois disse o Senhor no Evangelho: 'Não julgueis e não sereis julgados, porque vos julgarão do mesmo modo que julgardes os outros' (Mt 7,12).

Disse, sem um fundamento certo, porque, se houvesse motivos certos para suspeitar e mesmo para crer mal do próximo, então não haveria falta. De resto, é sempre mais seguro e mais conforme à caridade pensar bem de todos e evitar os juízos e as suspeitas pois, diz o Apóstolo, que 'a caridade não pensa mal de ninguém'(1Cor 13,5). Todavia é preciso é preciso advertir que esta regra não serve para as religiosas que exercem os ofícios de superiora ou de mestra [ou pessoas que exercem cargos de direção espiritual], as quais, como dissemos em outro lugar, fazem bem ou antes devem suspeitar para prevenir o mal que pode suceder, com as diligências oportunas. Se, pois, não estais encarregadas de velar pela conduta das outras, tomai a resolução de sempre pensar bem de todas as vossas irmãs. 

Santa Joana de Chantal dizia: 'No próximo não devemos olhar o mal, mas somente o bem'. E se, falando do próximo, vos acontecer enganar-vos em seu favor e tomar por bem o que é mal, não fiqueis tristes por isso; porque, diz Santo Agostinho: 'a caridade não lamenta o seu erro quando pensa bem ainda de um mau' (conf. Sl 147). Santa Catarina de Bolonha dizia um dia: 'Há muitos anos que estou na religião, e nunca pensei mal de minhas irmãs, sabendo que aquela que parece imperfeita é talvez mais agradável a Deus do que a outra que parece muito exemplar'.

Guardai-vos, pois, de estar a espreitar os defeitos e ações dos outros, como fazem algumas, especialmente as que andam a perguntar o que se diz de sua pessoa e que, em seguida, se enchem de suspeitas, incômodos e aversões. Muitas vezes as coisas se referem adulteradas, ou como se diz, com franjas. Por isso, quando ouvirdes dizer qualquer coisa sobre os vossos defeitos, não deveis dar atenção, nem procureis saber quem assim falou. Fazei tudo de modo que ninguém possa dizer mal de vós, e depois deixai que todos digam o que quiserem. E, quando ouvirdes censurar alguma falta vossa, respondei: 'É muito pouco o que sabem de mim! Ó quantas coisas poderiam dizer, se soubessem tudo!' Ou então podereis dizer: 'Deus é que me há de julgar!' 

2. Quando suceder ao nosso próximo alguma desgraça, uma doença, um prejuízo ou outro qualquer pesar, a caridade manda que nos entristeçamos, ao menos na parte superior de nós mesmos. Digo na parte superior de nós mesmos, porque, quando ouvimos falar de um dano sofrido por pessoas que nos são contrárias, nossa natureza rebelde parece que sempre sente certo prazer; mas nisso não há falta, quando a má complacência é repelida pela vontade. Assim, pois, quando arrastadas pela parte inferior a vos regozijardes do mal acontecido ao próximo, deixai-a gritar, como se deixa gritar uma cachorrinha, que ladra como animal sem razão; e acudi com a parte superior a ter compaixão dos males alheios.

É verdade que algumas vezes, é lícito alegrar-se com a enfermidade de um pecador público e escandaloso porque, talvez assim, ele entre em si e se converta, ou, ao menos, porque assim cessará o escândalo dos outros. Entretanto, se a pessoa que sofre nos deu algum desgosto, tal alegria pode ser suspeita. 

3. A caridade nos obriga a nos alegrarmos com a felicidade do próximo, expulsando a inveja que consiste em ver com desprazer o bem do próximo, porque o seu bem impede o nosso. Segundo o doutor angélico, o bem alheio pode nos desagradar de quatro modos, a saber: 

1.º - Quando tememos que esse bem possa causar dano a nós ou a outros. Este temor, quando o dano é injusto, não é inveja e pode ser isento de toda a culpa, segundo aquilo que escreve São Gregório: pode muitas vezes acontecer que, sem faltar a caridade, a desgraça do nosso inimigo nos alegra, como quando a sua queda serve para livrar muitos das misérias que padecem; e também pode suceder que, sem inveja, nos aflija a prosperidade do inimigo, quando tememos que lhe sirva para oprimir injustamente os outros;

2.º - Quando vendo, o bem alheio, ficamos tristes, não porque dele goza o próximo, mas porque não gozamos também. Este desprazer não é inveja, é antes um sentimento virtuoso, tratando-se de bens espirituais;

3.º Quando vemos com pena o bem do próximo, porque o julgamos indigno dele. Tal desprazer não é ainda ilícito, quando pensamos que essa vantagem, essa dignidade, ou essa fortuna será prejudicial à sua alma;

4.º Quando, enfim, nos afligimos com o bem do próximo, porque impede o nosso. E este desprazer é propriamente a inveja de que nos devemos guardar. O sábio diz que os invejosos imitam o demônio que induziu Adão ao pecado, porque sentia desprazer em vê-lo destinado ao céu, donde tinha sido expulso. É pela inveja do demônio que a morte entrou no mundo e o imitam os que são do seu partido. Pelo contrário, caridade nos faz alegrar com o bem do nosso próximo como se fosse nosso, e nos faz olhar as suas perdas como nossas.

(Excertos da obra 'A Verdadeira Esposa de Jesus Cristo', de Santo Afonso Maria de Ligório)

segunda-feira, 12 de agosto de 2019

SUMA TEOLÓGICA EM FORMA DE CATECISMO (XXXVI)

LVII

DO DOM CORRESPONDENTE À VIRTUDE DA TEMPERANÇA

Existe algum dom do Espírito Santo correspondente à virtude da temperança?
Sim, Senhor; o dom do temor (CLI, 1 ad 3)*.

Porém, não dissestes que o dom de temor corresponde à virtude teologal da esperança?
Corresponde às duas, porém, sob distintos aspectos (Ibid).

Quando pertence a uma e quando à outra?
Corresponde à virtude teologal da Esperança, quando o homem reverencia a Deus e evita as suas ofensas em consideração à sua grandeza infinita; e pertence à virtude cardeal da temperança quando, por consequência do grande respeito devido à Majestade divina que o dom inspira, procura não incorrer nos pecados com que se ofende a Deus com maior frequência, como é o abuso dos prazeres sensuais (Ibid).

Não basta a virtude da temperança para evitá-los?
Sim, Senhor; porém, em muito menor eficiência, porque não dispõe de outros meios além dos próprios do homem guiado pela luz da razão e da fé; enquanto que o dom do temor o auxilia com a moção pessoal e onipotente do Espírito Santo, permitindo-lhe, em virtude do respeito e reverência devidos à majestade divina, manter refreados os prazeres dos sentidos e os incentivos de pecar.

LVIII

DOS PRECEITOS RELATIVOS À TEMPERANÇA

Existe na lei divina algum preceito relativo à temperança?
Sim, Senhor; há dois (CLXX).

Quais são?
O sexto e nono preceitos do Decálogo: 'Não cometerás adultério' e 'Não desejarás a mulher do teu próximo'.

Por que os preceitos falam só do adultério e por que há no Decálogo dois preceitos nesta matéria?
O primeiro porque, entre os pecados contra a temperança, é o que mais profundamente perturba as boas relações entre os homens em matéria de justiça, objeto principal do Decálogo e o segundo, para dar-nos a entender a grande necessidade de combater o funesto pecado do adultério (CLXXI).

Existem no Decálogo mandamentos relativos às virtudes agregadas à temperança?
Não, Senhor; porque, consideradas em si mesmas, não moderam diretamente as relações com Deus, nem com o próximo; porém, tendo em consideração os seus efeitos, abrangem preceitos da primeira e da segunda tábua; como, por exemplo, o de honrar a Deus e aos pais, dever que o homem esquece por consequência do pecado de soberba; o que proíbe o homicídio, extremo a que o homem chega pela ira (CLXX, 2).

Deviam ter-se dado no Decálogo mandamentos e normas positivas para exercitar a virtude da temperança e suas agregadas?
Não, Senhor; porque os mandamentos do Decálogo devem ser aplicáveis a todos os homens em todas as épocas, e o exercício positivo destas virtudes, tais como a maneira de apresentar-se, vestir, falar, etc, varia com os tempos, lugares e costumes (CLXX, 1 ad 3).

Quem tem autoridade para regulamentar estas ações?
A Igreja.

Há na Sagrada Escritura alguma passagem em que somos convidados a pedir a Deus o dom de temor correspondente à virtude da temperança?
Sim, Senhor; aquele belo texto do Salmo 118, 120: Confige timore tuo carnes meas - 'O vosso temor extermine as rebeliões da minha carne'.

LIX

DE COMO SÃO SUFICIENTES AS VIRTUDES ENUMERADAS PARA CONSEGUIR A VIDA ETERNA — DA VIDA ATIVA, DA VIDA CONTEMPLATIVA E DO ESTADO DE PERFEIÇÃO — DA VIDA RELIGIOSA: AS CONGREGAÇÕES RELIGIOSAS NA IGREJA

Já temos conhecimento suficiente de todas as virtudes que o homem deve praticar para alcançar a glória, e dos vícios de que se deve precaver para se não expor a perdê-la?
Sim, Senhor; porque aprendemos a conhecer e a amar o fim sobrenatural e a tomá-lo por norte da vida, nas grandes virtudes da fé, esperança e caridade; estudamos as quatro virtudes morais cardeais: prudência, justiça, fortaleza e temperança, consideradas não só na ordem natural e como hábitos adquiridos, mas também como virtudes infusas em proporção com as teologais; e, conjuntamente com elas, as normas práticas para governar a nossa vida em harmonia com o fim sobrenatural; por conseguinte, basta praticar o estudado e de resto corresponder à inspiração dos dons do Espírito Santo, para alcançarmos um dia a bem aventurança eterna da glória. E, se, por desgraça, cairmos em algum pecado, dispomos de meios para satisfazer por ele e para aplicar em nós o valor satisfatório da paixão de Cristo, mediante outra virtude, a da penitência, que estudaremos na Terceira Parte desta obra.

Quantos métodos de vida existem para praticar o conjunto das virtudes enunciadas, objeto principal, ou para melhor dizer, único de nossa passagem pela vida?
Dois, chamados, vida ativa e vida contemplativa (CLXXLX - CLXXXII).

Que entendeis por vida contemplativa?
Aquela em que o homem, vencidas e sossegadas as paixões, isento e livre de cuidados e negócios temporais, passa a vida, na medida que lhe permite a pobre condição humana, sem outros afãs nem ocupações e nem deleites, do que os de meditar e contemplar a beleza e perfeições de Deus e as da natureza, obra de suas mãos; em conhecer estas verdades encontra a sua perfeição, e em amar o que contempla encontra tão delicado deleite que foge de tudo mais, parecendo-lhe vão tudo o que não seja Deus (CLXXX, 1 - 8).

Logo, a vida contemplativa supõe todas as virtudes?
Supõe-nas todas, como disposições, e, além disso, aperfeiçoa-as, porque consiste numa atuação em que intervém todas, as intelectuais e as morais, dispostas para que nelas se exerça a ação pessoal do Espírito Santo, mediante os seus dons (CLXXX, 2).

Em que consiste a vida ativa?
No exercício das virtudes morais, especialmente da prudência, porque o seu objeto não é a contemplação, mas a ação neste mundo e, para regular as ações, se necessitam as virtudes morais (CLXXXI, 1-4).

Qual destes dois gêneros de vida é mais perfeito?
Indubitavelmente, a contemplativa, porque é na terra uma imagem da do céu (CLXXXI, 1-4).

A prática das virtudes, em que se constitui a vida ativa e contemplativa, é compatível com todos os estados e condições, ou está ligada a algum em especial?
Pode encontrar-se em todos os estados ordinários ou desenvolver-se no estado de perfeição.

Que entendeis por estado de perfeição?
Um gênero de vida fixo e permanente em que o homem, livre dos laços com que o escravizam às necessidades da vida, pode, sem prisões nem estorvos, dedicar-se ao serviço de Deus (CLXXXIII, 1,4).

Perfeição é o mesmo que estado de perfeição?
Não, Senhor; porque a perfeição é interior, e no estado de perfeição se considera principalmente um conjunto de atos exteriores (CLXXXIV, 1).

Podemos ser perfeitos sem viver em estado de perfeição ou viver em estado de perfeição e não ser perfeitos?
Sim, Senhor (CLXXXIV, 4).

Logo, para que ingressar no estado de perfeição?
Porque facilita a sua aquisição, e é ali que ordinariamente se encontra.

Logo, que é que constitui o estado de perfeição?
A obrigação perpétua e adquirida em forma solene de levar uma vida interior em conformidade com o que a perfeição exige (Ibid).

Quem vive em estado de perfeição?
Os bispos e os religiosos (CLXXXIV, 5).

Por que se acham os bispos no estado de perfeição?
Porque no momento de receberem a consagração e tomarem o ofício e cargo pastorais, se obrigam solenemente a dar a vida por suas ovelhas (CLXXXIV, 6).

Por que o estão os religiosos?
Porque se obrigam, com votos perpétuos, feitos com a solenidade que a profissão ou a benção requerem, a por de parte os bens deste mundo que licitamente poderiam usufruir, para mais livremente se consagrarem ao serviço de Deus (CLXXXIV, 5).

Qual destes dois estados é o mais perfeito?
É o dos bispos (CLXXXIV, 7).

Por que?
Porque, tendo em devida conta o aforismo, é mais nobre quem dá do que quem recebe, os bispos têm obrigação de ser perfeitos, e os religiosos a obrigação de aspirar à perfeição (Ibid).

Por que dizeis que os religiosos, pelo seu estado, propendem para a perfeição?
Porque, em virtude, dos três votos de pobreza, castidade e obediência, encontram-se felizmente impossibilitados de pecar e obrigados a fazer bem todas as coisas (CLXXXVI, 1 - 10).

São essenciais os três votos no estado religioso?
São tão essenciais que, sem eles, não poderia existir (CLXXXVIII).

Em que se distinguem?
Nos diferentes ministérios em que o homem pode consagrar-se totalmente ao serviço de Deus e nas diversas práticas e exercícios com que se dispõe para exercê-los (CLXXXVIII, 1).

Como se classificam as Ordens religiosas?
Em dois grupos ou famílias. segundo o gênero de vida que observem (CLXXXVIII, 2-6).

Logo, há Congregações de vida ativa e Congregações de vida contemplativa?
Sim, Senhor.

Que entendeis por congregações de vida ativa?
Aquelas em que a maior parte das ocupações de seus membros se ordenam a servir ao próximo pelo amor de Deus (CLXXXVIII.2 ad 2).

E por congregações de vida contemplativa?
Aquelas cujos religiosos se dedicam exclusivamente ao culto e serviço de Deus (Ibid).

Quais são as mais perfeitas?
As da vida contemplativa; apesar disso, ainda as excedem aquelas que têm por objeto principal os estudos sagrados e o culto divino, para comunicar aos povos o fruto de suas meditações e estudos, e atraí-los, por este meio, ao serviço de Deus (CLXXXVIII, 6).

É conveniente que haja Congregações religiosas em contato com a sociedade? 
É muito conveniente e sumamente útil porque, além de serem asilo de todas as virtudes e constituírem santuários onde elas se praticam com maior perfeição, contribuem para o bem estar do próximo com obras de caridade, de apostolado e de sacrifício.

Por que é própria e característica das congregações religiosas a prática de todas as virtudes em grau excelente?
Porque os seus membros se consagram, por dever e vocação, a marchar pelo único caminho que devem percorrer os homens, a fim de praticarem as virtudes e alcançarem a bem aventurança.

Qual é este caminho fora do qual não é possível ir ao encontro de Deus ou praticar as virtudes?
É Nosso Senhor Jesus Cristo ou o Mistério do Verbo feito carne; dele vamos tratar e o seu estudo será objeto da Terceira Parte desta obra.

referências aos artigos da obra original

('A Suma Teológica de São Tomás de Aquino em Forma de Catecismo', de R.P. Tomás Pègues, tradução de um sacerdote secular)

sábado, 10 de agosto de 2019

PALAVRAS DE SALVAÇÃO




'A doutrina católica nos ensina que o primeiro dever da caridade não está na tolerância das convicções errôneas, por sinceras que sejam, nem na indiferença teórica e prática pelo erro ou o vício, em que vemos mergulhados nossos irmãos, mas no zelo pela sua restauração intelectual e moral, não menos que por seu bem-estar material'.

(São Pio X)

sexta-feira, 9 de agosto de 2019

DA PRÁTICA DA CARIDADE PELA MANSIDÃO

1. Antes de tudo, procurai nas ocasiões refrear a ira, quanto puderdes. Guardai-vos, depois, de dizer palavras desabridas, e ainda mais de usar de maneiras altivas e grosseiras, porque, às vezes, mais desagradam os modos ásperos do que as próprias palavras injuriosas. Se vossas irmãs [o texto foi dirigido originalmente à orientação espiritual de religiosas] dirigirem algumas palavras de desprezo, um pouco de coragem! sofrei-o; sofrei tudo por amor de Jesus Cristo, que suportou muitos outros desprezos maiores por amor de vós. 

Meu Deus! que miséria ver certas religiosas, que vão todos os dias à oração e tantas vezes à comunhão, mostrarem-se tão sensíveis e delicadas a toda palavra de pouco respeito e a todo ato pouco atencioso que se lhes fazem! Sóror Maria da Ascensão, quando recebia alguma afronta, corria logo ao altar do Santíssimo Sacramento e dizia: 'Meu divino Esposo, eu vos ofereço este mimo. Dignai-vos aceitá-lo e perdoar a quem me ofendeu'. Por que não havereis de fazer assim? É necessário sofrer tudo para conservar a caridade. 

2. Quando alguma pessoa vos falar com cólera, vos injuriar ou censurar de alguma coisa, respondei-lhe com doçura, e a vereis logo aplacada, porque está escrito: 'Uma resposta branda detém e acalma a ira' (Pv 15,1). 'Assim como o fogo não pode ser extinto pelo fogo', nota São João Crisóstomo, 'assim também a ira não pode ser apaziguada pela ira'. Aquela pessoa vos fala com ira e vós lhe respondeis com cólera, como quereis que se acalme? Ainda que acendereis nela o furor, e ofendereis ainda mais a caridade. 

Eis o que Sofronio refere a este propósito: 'Dois monges em viagem tendo errado o caminho, entraram, por acaso, em um campo semeado. O camponês, guarda do território, ao vê-los andando naquele sítio, os cobriu de injúrias. Eles, a princípio, calaram-se, mas vendo que o guarda se enfurecia cada vez mais e engrossava as afrontas, disseram-lhe: Irmão, nós erramos, nós fizemos mal. Por amor de Deus, perdoai-nos. Essa resposta tão humilde o fez entrar em si, de modo que, por sua vez, se pôs a pedir perdão das injúrias irrogadas; e se compungiu tanto, que deixou o mundo e se fez monge com eles'. 

3. Algumas vezes, talvez vos pareça razoável, ou mesmo necessário rebater a insolência de qualquer irmã, respondendo-lhe com vivacidade, sobretudo se sois superiora e ela vos tenha faltado como respeito. Mas, cuidado com a ilusão! Sabei que nesse caso é antes a paixão, do que a razão, que vos leva a falar. Não nego que, especulativamente falando, às vezes, seja lícito irar-se, com tanto que faça sem defeito, como disse o rei profeta (Sl 4,5). Mas a dificuldade está em pôr-se isto em prática. Entregar-se à ira é como montar em um cavalo fogoso que não obedece ao freio, sem saber onde nos levará. 

Por isso escreve sabiamente São Francisco de Sales na sua Filoteia: 'Os movimentos da cólera devem ser reprimidos, por maior que seja a causa que os justifique'. E acrescenta o santo: 'É melhor que se diga de vós que nunca vos irais, do que se afirme que vos encolerizais com razão'. E Santo Agostinho nota que é difícil lançar fora da alma a cólera que uma vez se deixou ali entrar; e por isso exortava a fechar-se a porta todas as vezes que tentasse lá entrar. Um certo filósofo, chamado Agripino, tendo perdido todos os seus bens, dizia tranquilo: 'Se perdi tudo, não quero perder também a paz'. 

Assim dizei também vós, quando receberdes algum desprezo. Se já sofrestes a afronta, quereis perder também a paz, entregando-vos à cólera? Irritar-vos seria causar-vos a vós mesmas um dano muito maior do que a perda da estima ocasionada pela injúria. Santo Agostinho diz ainda que encolerizar-se com o insulto é castigar-se a si mesmo. É sempre nocivo perturbar-se, ainda que fosse por ter cometido alguma falta, porque, como diria São Luiz Gonzaga, 'na água turva, isto é, na alma inquieta, o demônio sempre acha que pescar'. 

4. Eu vos disse que, quando vos irrogarem alguma injúria ou vos falarem com ira, vós devereis responder com mansidão; entretanto, se, na ocasião, vos sentirdes perturbadas, será melhor guardar silêncio. Então a paixão vos fará parecer justo e razoável tudo o que disserdes. Observa São Bernardo: 'Os olhos ofuscados pela indignação não vêem mais o que é justo e o que é injusto'. Figurai-vos que a paixão é como um véu preto posto diante dos olhos, que vos não deixa discernir o torto do direito. 

5. Se acontecer que uma irmã, depois de vos ter ofendido, se arrependa e venha vos pedir perdão, guardai-vos de recebê-la de semblante carregado ou lhe responder com meias palavras, ou de fitar os olhos no chão ou pôr-nos a olhar as estrelas. Fazendo assim, ofendereis muito a caridade e dareis ensejo a essa irmã de mais vos odiar, e além disso dareis um grande escândalo a todo o mosteiro. Ao contrário, testemunhai-lhe uma sincera estima e se, por humildade, ela se ajoelhar diante de vós, dobrai também os joelhos; e quando começar a pedir-vos perdão, cortai-lhe a palavra na boca, dizendo: 'Ó minha irmã, para que fazer isto? Sabeis quanto vos amo e estimo. Pedis perdão a mim? Eu é que vos devo pedir perdão de vos ter inquietado, pela minha ignorância e descuido, não usando da atenção que vos devia. Desculpai-me, pois, e perdoai-me'. 

6. Se, porém, vos suceder ofender alguma de vossas irmãs, empregai logo todos os esforços para apaziguá-la e tirar-lhe do coração todo o rancor. Diz São Bernardo, que não há meio mais próprio para reparar a caridade ofendida, do que humilhar-se. E fazei isto o mais cedo possível. Esforçai-vos por vencer a repugnância que experimentais; porque quanto mais demorardes, mais crescerá a vossa repugnância e depois nada fareis. Sabeis o que disse Jesus Cristo: 'Se estiverdes já diante do altar para ofender a vossa oblação, isto é para comungar ou para ouvir Missa, e vos lembrardes que vosso próximo está desgostoso convosco, deixai o altar e ide primeiro reconciliar-vos com ele (1Jo 3, 18). Advirta-se porém que, às vezes, não convém usar deste ato de humilhação, quando se julga que isso ocasione novo dissabor à pessoa ofendida. Neste caso, espere-se uma ocasião mais oportuna ou empregue-se a intervenção de outra irmã, e tenha-se cuidado de demonstrar-lhe uma atenção e respeito particular.

(Excertos da obra 'A Verdadeira Esposa de Jesus Cristo', de Santo Afonso Maria de Ligório)

quinta-feira, 8 de agosto de 2019

FOTO DA SEMANA

'O Senhor, teu Deus, vai conduzir-te a uma terra excelente, cheia de torrentes, de fontes ... que brotam nos vales e nos montes' (Dt 8, 7)