domingo, 2 de dezembro de 2018

ANO LITÚRGICO 2018 - 2019

O Ano Litúrgico 2018-2019, de acordo com o rito católico romano, vai desde o primeiro domingo do Advento (02/12/2018) até a última semana do Tempo Comum, durante o qual a Igreja celebra todo o mistério de Cristo, desde o nascimento até a sua segunda vinda. 

O ano litúrgico compreende dois tempos distintos: os chamados tempos fortes que incluem Advento, Natal, Quaresma e Páscoa, durante os quais certos mistérios particulares da obra redentora e salvífica de Cristo são celebrados e o chamado Tempo Comum, no qual celebramos o Mistério de Cristo em sua totalidade, ou seja, encarnação, vida, morte, ressurreição e ascensão do Senhor. 

O Tempo Comum é subdividido em duas partes. A primeira parte começa no dia seguinte à festa do Batismo de Jesus e vai até a terça-feira antes da Quarta-feira de Cinzas, quando tem início a Quaresma. A segunda parte do Tempo Comum recomeça na segunda-feira depois de Pentecostes e se estende até o sábado que antecede o primeiro domingo do Advento, quando tem início um novo Ano Litúrgico, compreendendo sempre um período de 33 ou 34 semanas.

sábado, 1 de dezembro de 2018

COROA DO ADVENTO


É uma coroa feita de ramos verdes e de flores, normalmente montada sobre um suporte arredondado, em aro de arame ou madeira, sobre a qual são inseridas quatro velas (uma tradição nomeia estas quatro velas como sendo a vela da Profecia, a vela de Belém, a vela dos Pastores e a vela dos Anjos), que significam as quatro semanas de preparação para o Natal, ou seja, o Advento.  As velas são acesas à medida que avançam os quatro domingos de Advento. Assim, no início da primeira semana de Advento, acende-se a primeira vela. No segundo domingo, a segunda e assim sucessivamente até que, nas vésperas do Natal e no quarto domingo, todas as velas estão acesas  [pode-se colocar uma quinta vela, branca e montada no centro do arranjo, na Noite de Natal: para expressar que a chegada do Natal é ainda mais importante que o próprio Advento; outra alternativa é depositar uma imagem do Menino Jesus dentro da própria coroa de Advento].

É o símbolo cristão por excelência que nos lembra, em meio a tantas manifestações fantasiosas e comerciais, que o Natal  é Luz - a Luz do Cristo que vem para tornar novas todas as coisas e dissipar as trevas de um mundo de pecado. A coroa simboliza a dignidade e a realeza de Cristo. A sua forma circular indica a perfeição, plenitude a que devemos aspirar em nossas vidas de cristãos. O círculo não tem princípio, nem fim, sendo sinal do amor de Deus que é eterno, sem princípio e nem fim e também símbolo da aliança do nosso amor a Deus e ao nosso próximo que também não pode ter fim. Os ramos verdes significam o poder de Cristo sobre a vida e a natureza, dons de Deus. Deus nos oferece a sua graça, o seu perdão misericordioso e a glória da vida eterna no final de nossa vida. Verde é a cor da vida e da esperança, simbolismo da aproximação gradual que o Advento nos convida à preparação da vinda de Cristo Jesus, Luz e Vida para todos. 

A coroa de Advento pode ser acesa durante as celebrações litúrgicas, durante o canto de entrada, logo no início da celebração após breve introdução, antes do ato penitencial, antes das leituras ou mesmo após a homilia. Em família ou num grupo de catequese, a prática da Coroa do Advento deve ser acompanhada por um simples e piedoso momento de oração. Pode começar por uma estrofe de um canto de Advento, seguida de uma leitura de uma passagem bíblica própria do tempo do Advento, antes ou mesmo depois de se acender a vela. A oração pode ser concluída por alguma meditação complementar, pela oração de um Pai Nosso, Ave-Maria e Glória ou por uma outra estrofe do canto de Advento.

PRIMEIRO SÁBADO DE DEZEMBRO


Mensagem de Nossa Senhora à Irmã Lúcia, vidente de Fátima: 
                                                                                                                           (Pontevedra / Espanha)

‘Olha, Minha filha, o Meu Coração cercado de espinhos que os homens ingratos a todo o momento Me cravam, com blasfêmias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de Me consolar e diz que a todos aqueles que durante cinco meses seguidos, no primeiro sábado, se confessarem*, recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um Terço e Me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 Mistérios do Rosário com o fim de Me desagravar, Eu prometo assistir-lhes à hora da morte com todas as graças necessárias para a salvação.’
* Com base em aparições posteriores, esclareceu-se que a confissão poderia não se realizar no sábado propriamente dito, mas antes, desde que feita com a intenção explícita (interiormente) de se fazê-la para fins de reparação às blasfêmias cometidas contra o Imaculado Coração de Maria no primeiro sábado seguinte.

sexta-feira, 30 de novembro de 2018

OS 12 ÚNICOS BENS DO HOMEM


1. Nosso único fim é a glória de Deus e a salvação da alma.

2. O nosso passo único é a morte.

3. O único mal é o pecado.

4. O medo único é o do juízo.

5. O único tormento é o inferno.

6. O único bem é o Paraíso.

7. O único conforto é a divina misericórdia e o patrocínio de Nossa Senhora.

8. O único exemplo é o da vida de Jesus Cristo.

9. A única contemplação é a Paixão de Jesus Cristo.

10. O único tesouro é o Sacramento.

11. O único amor é Deus.

12. único propósito de nova vida seja ajudar o nosso próximo nas suas necessidades espirituais e temporais, pois este é o meio mais seguro para alcançarmos a misericórdia divina.

(São Vicente Pallotti)

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

SUMA TEOLÓGICA EM FORMA DE CATECISMO (XX)

VII 

DOS PRECEITOS RELATIVOS À ESPERANÇA 

Existe na lei divina algum preceito relativo à virtude da Esperança ou ao dom de temor? 
Sim, ainda que, como os relativos à fé, têm em seus princípios um caráter especial que os distingue dos propriamente chamados mandamentos da lei de Deus (XXII, 1,2)*. 

Que caráter ou forma têm os preceitos da fé e esperança considerados como preâmbulo da lei? 
Que não se deram com caráter de preceitos; os da fé deram-se em forma de enunciados, e os de esperança e temor em forma de promessas e ameaças (Ibid).

Por que se deram desse modo? 
Porque eram destinados a preparar convenientemente os homens para receber com fruto os mandamentos (Ibid). 

Por que razão? 
Porque, antes de promulgar a lei, era necessário, primeiramente, que o homem reconhecesse e acatasse o seu Autor, e que, depois, se lhe propusesse o quadro de recompensas e castigos como incentivo para observá-la; o primeiro se conseguiu mediante os preceitos relativos à fé, o segundo mediante os relativos à esperança e ao temor (Ibid). 

Quais são os que propriamente constituem a substância da lei? 
Suposta a preparação de que falamos, os que dão regras para ordenar e governar a vida, especialmente no que se refere à virtude da Justiça. 

Logo, são os mesmos que formam o Decálogo? 
Sim, Senhor. 

Fazem parte do Decálogo os preceitos relativos à fé e à esperança? 
Propriamente não, Senhor; pois o seu objeto primitivo foi o de preparar os homens para o advento e promulgação do Decálogo, se bem que, mais tarde, quando Jesus Cristo e os Apóstolos explicaram e ampliaram a lei, tomaram, às vezes, a forma de conselho e, não raro, de preceitos formais complementares (XXII, 1 ad 2). 

Existe, portanto, coisa mais necessária, ou rigorosamente preceituada, do que a submissão absoluta do espírito a Deus por meio da fé, e o ato de esperança, baseado nos auxílios divinos? 
Não, Senhor. 

Há alguma virtude especial cuja missão seja converter a vida da alma em vida sobrenatural, e merecedora do mesmo Deus, como prêmio? 
Sim, Senhor, a virtude da Caridade. 

VIII 

NATUREZA DA CARIDADE — ATO PRINCIPAL DA CARIDADE E SUA FÓRMULA 

Que coisa é a Caridade? 
Uma virtude que nos proporciona comunicação e amizade íntima com Deus, fundada na participação do mesmo Deus como objeto que é da sua bem-aventurança e da nossa (XXIII, 1). 

Que pressupõe a amizade íntima com Deus? 
Primeiramente, requer em nós uma participação da natureza de Deus, capaz de deificar a nossa, de elevar-nos acima de tudo o que é criado, seja homem ou anjo, até equiparar-nos em nobreza com Deus, de fazer-nos seus filhos, verdadeiros Deuses; em segundo lugar, requer faculdades operativas proporcionadas à dignidade de Deuses e filhos de Deus, para conhecê-Lo como Ele se conhece, amá-Lo como Ele se ama, e, como Ele, gozar da sua própria bem-aventurança (XXIII, 2).

Acompanham a caridade, necessariamente, estes dois grupos de bens? 
Sim, Senhor; já que a caridade não é mais que seu complemento. 

Logo, todo aquele que possui a caridade, necessariamente tem graça santificante, virtudes e dons? Sim, Senhor (XXIII, 7). 

É a caridade a rainha das virtudes? 
Sim, Senhor (XXIII, 6). 

Por que? 
Porque, só sob seu império, executam as virtudes atos meritórios de vida eterna (Ibid). 

De que maneira nos une a Caridade com Deus? 
Por meio do amor (XXVII). 

Em que consiste o ato de amor, mediante o qual a Caridade nos une com Deus? 
Consiste em amá-Lo por ser quem é, Bem Infinito, e em querer unir-se a Ele para participar da sua eterna felicidade (XXV, XXVII). 

Em que se diferenciam estes dois amores? 
Em que o primeiro é um amor de complacência em Deus por ser o que é em si mesmo, e o segundo se compraz em que o acúmulo de perfeições divinas esteja destinado a fazer o homem feliz. 

Podem separar-se estes dois amores na virtude da caridade? 
Não, Senhor. 

Por que? 
Porque, se Deus não fosse o objeto da nossa bem-aventurança, não haveria motivo suficiente para amá-Lo, e se não estivessem Nele a fonte e primeira origem de toda felicidade com que nos brinda, não O amaríamos como O amamos (XXV, 4). 

É cada um destes amores um ato de amor puro e perfeito? 
Sim, Senhor. 

É cada um ato de caridade? 
Sim, Senhor. 

Há alguma subordinação entre eles, e em caso afirmativo, qual obtém a preferência? 
Guardam subordinação entre si, e ocupa o primeiro lugar o ato de complacência em Deus, por ser Bem Infinito. 

Por que ocupa o primeiro lugar? 
Porque Deus é maior e mais excelso em si mesmo, do que enquanto se comunica à alma no céu. Não quer isto dizer que Deus, objeto da bem-aventurança, seja distinto de Deus em si mesmo, mas que as suas perfeições estão Nele de modo infinito e à alma se comunicam de modo finito e limitado. 

Estende-se este amor a algum outro ser, fora de Deus?
Sim, Senhor; a todos os que O gozam, ou se acham em estado de O gozar algum dia (XXV, 6,10).

Quem são os que já gozam de Deus? 
Os anjos e os justos que estão no céu. 

Quem são os que se acham em estado de possuí-Lo? 
As almas do Purgatório e quantos homens vivem na terra. 

Logo, devemos amar a todos os homens com amor de caridade? 
Sim, Senhor. 

Estamos obrigados a guardar alguma ordem e preferência no amor de caridade que devemos a Deus, ao próximo e a nós mesmos? 
Sim, Senhor. Depois de Deus, primeiramente devemos amar-nos a nós mesmos; depois aos outros e entre eles, com preferência, aos que estão mais próximos de Deus na ordem sobrenatural, e aos que estão mais ligados a nós ou com laços de sangue ou com os da amizade, comunidade de vida, etc. (XXVI). 

Qual é o sentido das palavras: 'depois de Deus, primeira e principalmente devemos amar-nos a nós mesmos?' 
Quer dizer que, depois de Deus, a quem amamos como fonte do bem para onde se encaminha a caridade, devemos querer possuí-Lo, com preferência a todos os homens. 

Logo, em virtude da caridade, somente devemos querer a posse de Deus, o mesmo para nós que para os nossos próximos? 
Podemos e devemos querer também tudo o que se ordene para consegui-la. 

Há alguma coisa expressamente destinada para alcançá-la? 
Sim, Senhor; os atos das virtudes sobrenaturais (XXV, 2). 

Logo, depois da posse de Deus, e como meio para consegui-la, devemos querer a prática das virtudes sobrenaturais? 
Sim, Senhor. 

Podemos, em virtude da caridade, querer bens temporais para nós e para o nosso próximo? 
Podemos, e, em determinadas ocasiões, devemos querê-los. 

Quando devemos querê-los? 
Quando sejam indispensáveis para viver e para praticar a virtude. 

Quando podemos? 
Quando, sem serem indispensáveis, são úteis e convenientes. 

Se fossem obstáculo para o exercício das virtudes, poderíamos desejá-los sem faltar à caridade? 
Não, Senhor. 

Poderíeis ensinar-me uma fórmula breve e exata para exercitar-me na virtude da caridade? 
Eis aqui uma: 'Deus e Senhor meu; amo-vos sobre todas as coisas; não quero outra recompensa mais do que a Vós mesmo, e amo-a, primeiramente, porque vós com ela sois ditoso, e depois por ser a bem-aventurança de todos os que vos possuem e dos chamados a possuir-vos algum dia'.

referências aos artigos da obra original

('A Suma Teológica de São Tomás de Aquino em Forma de Catecismo', de R.P. Tomás Pègues, tradução de um sacerdote secular)

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

A ALEGRIA INTERIOR

Cada um de nós é que dá cambiantes sombrios ou luminosos ao que nos rodeia. Podemos, por um esforço criador, inundar a nossa alma de tal luz que torne esplendentes os acontecimentos que se cruzarem com o nosso caminho. Por outro lado, podemos cair num estado de depressão íntima tão profunda e tão cheia de melancolia que só os mais intensos impulsos externos dos sentidos serão capazes de nos despertar da apatia.

Dizem-nos os filósofos que o prazer é uma necessidade para o homem. Aquele que integrou a sua personalidade conforme a natureza desta e orientou a sua ida para Deus, conhece o intenso e indestrutível prazer, a que os santos chamam alegria. Nenhum acontecimento exterior pode ameaçá-lo ou perturbar a sua felicidade. Muitos, porém, procuram o prazer exteriormente, e esperam que as ocorrências da vida lhes deem a felicidade. Como ninguém pode fazer do universo escravo seu, procurar o prazer no exterior é ficar sujeito à decepção. O excesso de divertimentos fatiga-nos; uma ambição realizada torna-se em tédio; um amor, que prometeu um pleno contentamento, perde o encanto e a emoção. Jamais poderá vir do mundo a felicidade permanente. A alegria não deriva das coisas que possuímos ou das pessoas com quem privamos; ela destila da própria alma à medida que esta se entrega ao trabalho abnegado.

O segredo duma vida feliz está na moderação dos prazeres, em troca de um aumento de alegria. Mas vários usos do nosso tempo tornam isto difícil. Um deles é o sistema comercial que tenta aumentar os nossos desejos, a fim de comprarmos mais coisas. Acresce a isto que a psicologia de criança amimada, de que enferma o homem de hoje, lhe diz que tem o direito de conseguir tudo o que lhe apetece, e que o mundo deve a cada um satisfazer-lhe os caprichos. 

Uma vez que o eu se torna o centro, ao derredor do qual tudo o mais gira, somos vulneráveis. A nossa paz pode ser destruída por uma corrente de ar que vem duma janela aberta, pela nossa incapacidade para comprar um casaco de certa pele exótica — tão rara que apenas vinte mulheres, em todo o mundo, o podem usar — pelo nosso fracasso em conseguirmos ser convidados para um almoço ou pela nossa incapacidade de pagar mais altos impostos sobre rendimentos que qualquer outro de toda a nação. Se estiver no comando, o eu é sempre insaciável; não há favores nem honras que mitiguem a sua ânsia quer da 'música mais tola, quer de vinho mais capitoso', quer dos prazeres espirituosos de jantares de homenagem e de ditirambos quixotescos em tipo 72.

Os homens egocentristas consideram como desgraça a não satisfação de qualquer um dos seus desejos: o mundo desses desejos querem dominá-lo, querem puxar os seus cordelinhos e forçá-los a obedecer à sua vontade. Se tais desejos forem contrariados e reprimidos por outro eu, o seu senhor fica desesperado. Multiplicam-se, assim, as ocasiões de desânimo e de tristeza, porque todos nós estamos condenados a não conseguir algumas das coisas que desejamos; a nós cabe escolher se este malogro há de ser aceito de bom grado ou considerado como ultraje e afronta.

Hoje em dia, milhões de homens e mulheres pensam que a sua felicidade é destruída, se tiverem de viver sem umas tantas coisas, com as quais seus avós nem sequer sonharam. O luxo tornou-se uma necessidade para eles; e de quantas mais coisas precisar o homem para ser feliz, maiores serão as probabilidades de desilusão e desespero. O capricho tornou-se o seu senhor, a trivialidade o seu tirano; ele já não é senhor de si mesmo, mas tornou-se escravo de ouropéis.

Platão, na 'República', refere-se ao homem, cuja vida é regida por caprichos e veleidades; as suas palavras foram escritas há 2.300 anos, mas ainda hoje são exatas: 'Muitas vezes imaginará gostar de política, põe-se à obra, e diz ou faz o que lhe vem à cabeça; outras vezes, concebe admiração por um general e concentra o seu interesse na guerra; ou por um homem de negócios e, imediatamente, é esta agora a sua vocação. Não conhece qualquer ordem ou exigência na vida; não atenderá a ninguém que lhe diga que certos prazeres vêm da satisfação de desejos bons e nobres, e outros de desejos maus, e que aqueles devem ser acarinhados e estimados e estes disciplinados e encadeados. A tal discurso abana a cabeça e diz que todos os desejos são semelhantes e dignos de igual atenção'.

Se quisermos fruir a vida no máximo grau, devemos ordenar hierarquicamente os prazeres. As alegrias mais intensas e duradouras são desfrutadas apenas por aqueles que refreiam os seus apetites e se sujeitam a uma penosa disciplina preliminar. É do cimo dum monte que se contemplam os panoramas mais belos, mas pode ser árduo chegar lá. Nunca ninguém sentiu prazer lendo Horácio, sem primeiro se exercitar nas declinações da gramática. 

Apenas compreendem a felicidade plena aqueles que a si mesmos negaram alguns prazeres legítimos, a fim de mais tarde terem outras alegrias. Os homens que vivem ao sabor dos impulsos, ou se esgotam de cansaço ou tornam-se ineptos. O Salvador do mundo disse-nos que as melhores alegrias só se conquistam pela oração e pelo jejum; devemos dar, primeiro, as nossas moedas de cobre por seu Amor, e Ele, depois, nos retribuirá em moedas de ouro, de alegria e êxtase.

(Excertos da obra 'Way to Happiness' de Fulton Sheen, tradução de A.J.Alves das Neves, Porto, 1956)

terça-feira, 27 de novembro de 2018

O SANTÍSSIMO SACRAMENTO NÃO É AMADO!

Ai de nós! É uma grande verdade, Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento não é amado! Primeiro, por esses milhões de pagãos, por esses milhões de infiéis, por esses milhões de cismáticos e de heréticos que não conhecem ou conhecem mal a Eucaristia. Oh! entre tantos milhares de criaturas em quem Deus colocou um coração capaz de amar, quantas amariam o Santíssimo Sacramento se o conhecessem como eu!

Não devo, ao menos, esforçar-me em amá-lo por elas em seu lugar? Entre os católicos, são poucos, muito poucos, os que amam a Jesus no Santíssimo Sacramento: quantos pensam nEle frequentemente, nele falam, vão adorá-l'o ou recebê-l'O? Por que esse esquecimento, essa frieza? Oh! é que jamais provaram a Eucaristia, a sua suavidade, as delícias do seu amor!

É que jamais conheceram Jesus em sua bondade. É que não suspeitam a extensão de seu amor no Santíssimo Sacramento. Alguns têm a fé em Jesus Cristo, mas uma fé inativa, uma fé tão superficial que não chega ao coração, limitando-se ao que exigem rigorosamente a consciência, a salvação. E mesmo esses últimos são relativamente pouco numerosos entre tantos outros católicos que vivem como verdadeiros pagãos, como se jamais houvessem ouvido falar da Eucaristia.

Por que é Nosso Senhor tão pouco amado na Eucaristia? Porque não se fala bastante, porque se recomenda apenas a fé na presença de Jesus Cristo, em vez de falar em sua vida, em seu amor no Santíssimo Sacramento, em vez de ressaltar os sacrifícios que lhe impõe o seu amor, em uma palavra, em vez de mostrar Jesus-Eucaristia amando a cada um de nós pessoalmente e particularmente.

Outra causa é o nosso proceder que em nós denota pouco amor: quando se nos vê orar, adorar, frequentar a igreja, não se compreende a presença de Jesus Cristo. Quantos entre os melhores não fazem jamais uma visita de devoção ao Santíssimo Sacramento, para falar-lhe de coração, para dizer-lhe de seu amor! Não amam, pois, a Nosso Senhor na Eucaristia, porque não o conhecem bastante.

Mas se o conhecem no seu amor, nos sacrifícios, nos desejos de seu Coração, e, apesar disso, não o amam, que injúria! Sim, uma injúria! Pois é dizer a Jesus Cristo que Ele não é bastante belo, bastante bom, bastante amável para ser preferido ao que lhes agrada. Que ingratidão! Após tantas graças recebidas desse bom Salvador, após tantas promessas de amá-lo, tantas ofertas de si mesmo ao seu serviço, é zombar de seu amor tratá-lo assim. Que covardia!

Pois se não se quer conhecê-lo demais, vê-lo de perto, recebê-lo, falar-lhe intimamente, é por medo de ser conquistado por seu amor! Tem-se medo de se ver obrigado a render-se e a sacrificar-lhe sem reserva o coração, sem condição o espírito e a vida! Tem-se medo do amor de Jesus Cristo no Santíssimo Sacramento, e dele se foge! Sente-se a perturbação diante dEle, tem-se o receio de ceder! A exemplo de Pilatos e Herodes, foge-se de sua presença!

Não se ama Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento porque se ignoram ou não se examinam suficientemente os sacrifícios que o seu amor aí faz por nós. Sacrifícios tão surpreendentes que, só ao pensar neles, sinto o coração oprimido e os olhos rasos de lágrimas! A instituição da Eucaristia custava o preço de toda a Paixão do Salvador. Como assim? Eis a razão: A Eucaristia é o sacrifício da nova Lei; ora, não há sacrifício sem vítima; a imolação exige a morte da vítima e, para participar dos méritos do sacrifício, é preciso participar da vítima pela manducação [ato de comer]. Ora, tudo isso se encontra na Eucaristia.

Ela é o sacrifício incruento porque a vítima morreu uma só vez e, por esta única morte, reparou e mereceu toda justificação; mas perpetua-se em seu estado de vítima, para aplicar-se os méritos do sacrifício cruento da Cruz, que deve durar e ser representado a Deus até o fim do mundo. Devemos comer a nossa parte da vítima; mas se ela não possuísse esse estado de morte, teríamos excessiva repugnância em comê-la: não se come senão o que está morto para a sua vida própria.

De modo que a Eucaristia custava o preço da agonia no Jardim das Oliveiras, das humilhações sofridas diante dos tribunais de Caifás e de Pilatos, da morte no Calvário! A vítima teria de passar por todas essas imolações para chegar até o estado sacramental e até nós. Instituindo o Seu Sacramento, Jesus perpetuava os sacrifícios de sua Paixão: condenava-se a sofrer:

- um abandono tão doloroso quanto o que padeceu no Jardim das Oliveiras;
- a traição de seus amigos, de seus discípulos, tornando-se cismáticos, heréticos, renegados, que venderiam a santa hóstia aos judeus, aos mágicos;
- perpetuava as enganações que o afligiriam em casa de Anás;
- os furores sacrílegos de Caifás;
- os desprezos de Herodes;
- a covardia de Pilatos;
- a vergonha de se ver preterido por uma paixão, um ídolo de carne, como preterido por Barrabás;
- a crucificação sacramental no corpo e na alma do comungante sacrílego.

Pois bem, Nosso Senhor sabia tudo isso antecipadamente, conhecia todos os novos Judas, contava-os entre os seus, entre os seus filhos bem-amados; tudo isso não o deteve, Ele quis que o seu amor ultrapassasse a ingratidão e a malícia do homem; quis sobreviver à sua malícia sacrílega. Conhecia antecipadamente a tibieza dos seus, a minha; o pouco fruto que se haveria de tirar da Comunhão. Quis amar assim mesmo, amar mais do que era amado, mais do que o homem poderia reconhecer.

Mais o quê? Esse estado de morte, enquanto Ele possui a plenitude da vida e de uma vida sobrenatural e gloriosa; ser tratado como um morto, considerado um morto, não é nada? Esse estado de morte diz que Jesus está sem beleza, sem movimento, sem defesa, envolto nas santas espécies como num sudário, e no Tabernáculo como num túmulo; entretanto Ele ali está, vendo tudo, tudo ouvindo. Tudo sofre como se fora morto. Seu amor lhe velou o poder, a glória, as mãos, os pés, o belo semblante, a sagrada boca, tudo enfim. Não lhe deixou senão o coração para amar e o estado de vítima para interceder em nosso favor.

À vista de tanto amor de Jesus Cristo pelo homem, tão pouco reconhecido, parece que o demônio triunfa e insulta a Jesus. Eu, diz ele, não dou ao homem nada de verdadeiro, de belo, de bom; não sofri por ele, e sou mais amado, mais obedecido, mais bem servido que Vós. Ai de nós! é por demais uma verdade, e a nossa frieza, a nossa ingratidão, são o triunfo de satanás contra Deus.

Oh! como podemos esquecer o amor de Nosso Senhor, um amor que tanto lhe custou e ao qual Ele nada recusou? É verdade também que o mundo faz todos os seus esforços para impedir que se ame a Jesus no Santíssimo Sacramento com um amor verdadeiro e prático, para impedir que se o visite, para paralisar os efeitos desse amor. Absorve, liga, aprisiona as almas nas ocupações, nas boas obras exteriores, para afastá-las de aplicar por muito tempo os pensamentos no amor de Jesus.

Combate até diretamente esse amor prático e o apresenta como não necessário, como possível, quanto muito, em um claustro. E o demônio trava uma guerra de todos os instantes ao nosso amor para com Jesus no Santíssimo Sacramento. Sabe que Jesus ali está vivo, substancial, atraindo e possuindo diretamente as almas por si mesmo: apaga em nós o pensamento, a boa impressão da Eucaristia. Para ele, é decisivo. 

E, no entanto, Deus é todo amor. E esse doce Salvador nos clama da sua hóstia: 'Amai-Me como Eu vos amei; permanecei no Meu amor! Vim trazer à terra o fogo do amor, e o meu mais ardente desejo é que abrase os vossos corações'. Oh! na hora da morte, após a morte, que se deverá pensar da Eucaristia, ao vê-la, ao conhecer-lhe toda a bondade, todo o amor, todas as riquezas!

(São Pedro Julião Eymard)