quarta-feira, 13 de junho de 2018
terça-feira, 12 de junho de 2018
ORAÇÃO PARA VIVER COM ALEGRIA
Senhor, dai-me uma boa digestão e também algo para digerir.
Dai-me a saúde do corpo e o bom humor necessário para mantê-la.
Dai-me Senhor, uma alma simples que saiba aproveitar tudo o que é bom e que nunca se assuste diante do mal, mas, pelo contrário, encontre sempre a maneira de por cada coisa no seu lugar.
Dai-me uma alma que não conheça o tédio, as murmurações, as mágoas e as lamentações; e não permitais que me preocupe excessivamente com a coisa complicada demais que se chama 'eu'.
Dai-me Senhor, o senso do bom humor.
Concedei-me a graça de apreciar tudo o que é divertido para descobrir na vida um pouco de alegria e também para partilhá-la com os outros.
Amém.
(São Thomas More)
segunda-feira, 11 de junho de 2018
CATECISMO MAIOR DE PIO X (VII)
Os hebreus sob os juízes
56. Tendo os hebreus liderados por Josué apoderado da Palestina, não mais a abandonaram; sendo regidos segundo a lei de Moisés, ou pelos anciãos do povo, ou por juízes e, mais tarde, por reis. Os juízes eram pessoas (entre elas duas mulheres: Débora e Jael) suscitadas e escolhidas por Deus de tempos em tempos para livrar os hebreus, sempre que caíam sob a dominação de seus inimigos como punição por seus pecados.
57. Os dois juízes mais famosos foram Sansão e Samuel. Sansão, dotado de uma força extraordinária e maravilhosa, durante muitos anos molestou e causou mil estragos aos filisteus, inimigos de Deus muito poderosos. Traído depois e perdidas suas prodigiosas forças, reuniu as que lhe restavam para sacudir e derrubar um templo de seus inimigos, sob cujos escombros foi sepultado com muitos deles. Samuel, o último dos juízes, venceu os filisteus e, por ordem de Deus, reuniu o povo que se revoltou e exigiu um rei que, em sua presença, escolheu e consagrou Saul, da tribo de Benjamim, primeiro rei de todo o povo hebreu.
Os hebreus sob os reis
58. Saul reinou muitos anos mas, após os dois primeiros anos, foi rejeitado por Deus por causa de uma gravíssima desobediência, e um jovem chamado Davi, da tribo de Judá, foi ungido e consagrado rei e, mais tarde, tornou-se célebre matando em um único combate um gigante filisteu chamado Golias, que insultou o povo de Deus posto em ordem de batalha.
59. Saul, derrotado pelos filisteus, foi dado a morte. Então, subiu ao trono Davi, que reinou sobre o povo de Deus por quarenta anos. Acabou por conquistar toda a Palestina, subjugando os infiéis que ali estavam, e, especialmente, assenhorou-se da cidade de Jerusalém, que ele escolheu para cadeira de sua corte e capital de todo o reino.
60. A Davi sucedeu Salomão, que foi o homem mais sábio que já existiu. Edificou o templo de Jerusalém e gozou de longo e glorioso reinado. Mas, nos últimos anos de sua vida, em razão das artes insidiosas de mulheres estrangeiras, caiu em idolatria, e alguns temem por sua salvação eterna.
Divisão do reino
61. Sucedeu ao Rei Salomão seu filho Roboão. Por não querer este aliviar a carga duríssima dos impostos cobrados por seu pai, dez tribos se lhe rebelaram, que tomaram por rei a Jeroboão, chefe dos rebeldes e somente duas tribos permaneceram fiéis a Roboão, as de Judá e Benjamim. O povo hebreu viu-se deste modo dividido em dois reinos, o reino de Israel e o reino de Judá. Estes dois reinos não se uniram mais, mas cada um teve a sua própria história.
Reino de Israel e sua destruição
62. Os reis de Israel, em número de 19, todos perversos e impregnados de idolatria, que arrastaram a maior parte do povo das tribos, governaram durante duzentos e cinquenta e quatro anos. Finalmente, em punição por suas enormes iniquidades, parte do povo foi disperso, parte levado cativo para a Assíria por Salmaneser, rei da Síria, e o reino de Israel caiu para não mais se levantar. (a.C 722). Para repovoar o país, foram enviadas colônias de gentios, que foram associados em tempos posteriores a alguns israelitas que retornaram do exílio e a alguns maus judeus, e juntos formaram depois um povo, que se chamou samaritano, inimigo acérrimo da nação judaica. Entre os israelitas levados cativos a Nínive, capital da Assíria, havia Tobias, varão santíssimo de quem se encontra nos Livros Sagrados uma história particular, própria para fazer-nos cobrar a alta estima do santo temor de Deus e das disposições de sua providência.
Reino de Judá e cativeiro na Babilônia
63. Os reis de Judá, em número de 20, dos quais alguns foram piedosos e bons e outros ímpios, reinaram durante trezentos e oitenta e oito anos.
64. No tempo de Manassés, um dos últimos reis de Judá, aconteceu o que está escrito no livro que se intitula de Judite, a qual, matando Holofernes, capitão general do rei dos assírios daquele tempo, livrou a cidade de Betúlia e toda a Judeia. Mais tarde, outro rei dos assírios, Nabucodonosor, pôs fim
ao reino de Judá; apoderou-se de Jerusalém e a destruiu totalmente, junto com o templo de Salomão; fez prisioneiro e arrancou os olhos de seu último rei, Zedequias, levando o povo cativo para a Babilônia.
Daniel
65. Durante o cativeiro babilônico viveu o profeta Daniel. Escolhido com outros jovens hebreus para ser educado e depois destinado ao serviço pessoal do rei, com sua virtude conquistou a estima e o afeto de Nabucodonosor, principalmente depois de ter interpretado um sonho que este tivera e que depois esquecera. Ele também foi muito amado pelo rei Dario, mas seus adversários acusaram-no de adorar o seu Deus, desobedecendo ao edito real que o proibia, e lograram que fosse arrojado ao fosso dos leões, dos quais Deus o livrou milagrosamente.
(Do Catecismo Maior de Pio X)
domingo, 10 de junho de 2018
'QUEM FAZ A VONTADE DE DEUS: ESSE É MEU IRMÃO'
Páginas do Evangelho - Décimo Domingo do Tempo Comum
Jesus estava em Cafarnaum, pouco depois de ter descido das montanhas onde fizera a escolha dos seus doze apóstolos (Mc 3, 13 - 19) e diante dele, como outras tantas vezes durante a vida pública do Senhor, uma enorme multidão se aglomerava, ansiosa por ouvir os seus ensinamentos, as explicações sobre textos das Sagradas Escrituras, para serem testemunhas oculares de prodígios e milagres ou por mera curiosidade de conhecer aquele profeta extraordinário.
Nesta ocasião em especial, os próprios parentes de Jesus estavam presentes e, assoberbados pelos anelos e compromissos humanos, foram incapazes de perceber a dimensão sobrenatural da vida pública daquele homem que lhes era tão próximo e, por isso, foram capazes de imputar a Jesus como que um estado de pura confusão mental. Como sempre, os mestres da lei foram muito mais longe nos ilimitados domínios da blasfêmia: 'diziam que ele (Jesus) estava possuído por Belzebu, e que pelo príncipe dos demônios, ele expulsava os demônios' (Mc 3, 22).
Jesus evidencia o caráter absurdo e contraditório de tais alegações, desmascarando-lhes o desvario da razão e a dureza dos seus corações, totalmente impermeáveis à ação dos dons e carismas do Espírito Santo. Neste propósito de impenitência tácita e obstinada, aqueles homens rejeitaram todas as investidas divinas de acolhida e de perdão, tornando-se réus de condenação eterna, porque 'quem blasfemar contra o Espírito Santo, nunca será perdoado, mas será culpado de um pecado eterno' (Mc 3, 28). Ainda que pecadores ao extremo, todos somos passíveis do perdão e da misericórdia de Deus, desde que estejamos comprometidos pelo firme propósito do reconhecimento humilde e da dor sincera pelos pecados cometidos. A nossa salvação não pode prescindir destes princípios da fé cristã.
Durante esta explanação, Jesus é informado então da chegada da sua mãe e dos seus parentes, que estavam à sua procura. Esta mãe de amor e de doçura também se afligia diante da tormentosa multidão que envolvia Jesus, diante das acusações dos mestres da lei e das insanidades feitas pelos seus próprios parentes. Mas Jesus vai lhes responder: 'Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?' (Mc 3, 33). E Ele mesmo vai lhes revelar a supremacia absoluta das relações familiares de ordem espiritual sobre estas mesmas relações de caráter natural: 'Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe' (Mc 3, 35). Nossa Senhora é a mãe de Jesus e a mãe de Deus, não apenas porque O gerou e foi para Ele mãe cuidosa e extremada mas, principalmente, porque cumpriu à perfeição, nessa missão materna, a santa vontade de Deus.
sábado, 9 de junho de 2018
PÁGINAS CATÓLICAS ESQUECIDAS (I)
Dizem os protestantes que são cristãos, que querem o cristianismo puro. E eu lhes digo que o protestantismo não é cristianismo puro, nem cristianismo de espécie alguma; é pseudo-cristianismo, um cristianismo falso. Nem sequer tem os protestantes direito de se chamarem cristãos.
Há, não o nego, protestantes de boa fé, os quais, equivocados, serão cristãos, e crerão em Jesus Cristo e na sua doutrina, e não refletirão sobre as origens do protestantismo. Não falo desta classe de protestantes que, como se vê, são protestantes por equívoco, por engano e por ignorância. Falo do protestantismo em si e, afirmo sem receio, que o protestantismo não é cristianismo, nem puro, como eles imaginam, nem impuro, nem de espécie alguma.
A Igreja Romana antes de 1521 – Reflita alguns instantes, meu caro amigo, e se é realmente amante da verdade, preste atenção ao que lhe vou dizer. Antes de 1521, a Igreja Romana era igreja verdadeira cristã, e desta verdade ninguém duvidava em todo o mundo. Ela apresentava sua sucessão clara e sem interrupção desde São Pedro, São Lino, Santo Anacleto, e assim toda a série dos papas e sucessores de São Pedro até Leão X. Ninguém se lembrava de protestar, a ninguém ocorria sequer a ideia de duvidar. Todos aqueles que queriam ser cristãos sabiam perfeitamente que a Igreja Romana era a verdadeira Igreja, a religião cristã.
O Grande Argumento – O grande argumento de Santo Agostinho contra os hereges donatistas era este, belíssimo: 'Contai os sacerdotes desde a mesma Sé de Pedro, examinai como se foram sucedendo sem interrupção: esta é a pedra que não vencem as soberbas portas (os soberbos poderes) do inferno, isto é, esta é a Igreja de Cristo, da qual disso o mesmo Jesus Cristo que não a venceriam os poderes do inferno'. E acrescentava: 'O fato que me prende e retém na Igreja Católica é a sucessão de sacerdotes, que nunca foi interrompida desde a mesma Sé de Pedro Apóstolo até o presente episcopado' (queria dizer, desde São Pedro até o Pontífice que, no seu tempo, regia a Igreja). E como Santo Agostinho tem pensado e pensam sempre todos os cristãos, a saber, que a Igreja verdadeira vem dos Apóstolos. Claro está que assim é; de outra maneira não será a Igreja de Cristo, mas outra qualquer. Como porém não pode haver duas Igrejas de Cristo, aquela outra será forçosamente falsa.
Onde estavam os protestantes antes do século XVI? – Onde estava Lutero? Onde Zwinglio? Onde estava Calvino? Onde estava Henrique VIII e todos os demais reformadores?.Eles mesmos, até o dia da sua rebelião, eram católicos, estavam na Igreja Católica e, por isso mesmo, eram cristãos. E de repente, a alturas tantas, que havia de dar na veneta a esses homens escandalosos? Por motivo de melindres, de enfados e de soberbas, emproa-se Lutero e diz com altivez: 'Eu não obedeço à Igreja Católica, separo-me dela! Eu, Martinho Lutero, digo que esse cristianismo não é o verdadeiro! Eu, Martinho Lutero, descobri que essa Igreja Católica, à qual pertence todo o mundo cristão, não é cristã!'
E sem mais, o frade apóstata se separa da Igreja Católica e da videira verdadeira, que trazia sua origem desde os Apóstolos até então havia existido. Atrás de Lutero, se foram precipitando Zwinglio, que era um homem perdido e fora escorraçado de sua paróquia pela sua libertinagem; um Calvino, tipo orgulhoso, marcado com o ferrete de ignomínia e por certo delito nefando; um Henrique VIII, homem de sete mulheres, adúltero e uxoricida; e Carlostadio [Andreas Karlstadt (1480-1541)], de quem, dizia Melanchton [Philipp Mellanchton (1497-1560)], que era homem brutal, ignorante, mais amigo das tabernas que dos livros; e Ecolampadio [Johannes Ecolampadio (1482-1531)], e Osiandro [Andreas Osiander (1498-1552)], e Bucero [Martín Bucero (1491 -1551)], e Farel [Guilherme Farel (1489 -1565)] e Beza [Theódore de Bèze (1519 -1605)], todos eles conhecidos pela sua vida desregrada e péssimos costumes.
Considere sinceramente este apostolado – Porque se o amigo chega a perceber a força deste argumento, verá como basta para pulverizar o protestantismo. O protestantismo não é religião cristã. Se o fosse, proviria dos Apóstolos, e por meio deles havia de mostrar-nos que está unido a Jesus Cristo. O protestantismo porém tem a data do seu nascimento, que é o ano de 1521. O protestantismo vem de Lutero, e Lutero não é Jesus Cristo; vem de Zwinglio, e Zwinglio não é Jesus Cristo; vem de Henrique VIII, e Henrique VIII não é Jesus Cristo! Meu Deus, que diferentes de Jesus Cristo são todos estes monstros infames, e quão contrários a Ele! Os protestantes são Luteranos, Calvinistas, Anglicanos, Zwinglianos, Metodistas, Batistas, tudo o que quiserem, Cristãos porém de modo nenhum! Apostólicos? De maneira nenhuma!
(Excertos da obra 'Raios de Sol', com correções, do Pe. Armando Lochu, São Paulo, 1933)
quinta-feira, 7 de junho de 2018
VERSUS: CRUZ X CRUCIFIXO
Esse problema da dor tem um símbolo e o símbolo é a cruz. Mas por que seria a cruz o símbolo perfeito do sofrimento? Porque ela é feita de duas barras: uma horizontal e outra vertical. A barra horizontal é a barra da morte; é como a linha da morte nos eletro-encefalogramas: reta, prostrada. A barra vertical é a barra da vida: ereta, de pé, firmada para o alto. O cruzamento de uma barra sobre a outra significa a contradição entre a vida e a morte, entre a alegria e o sofrimento, sorriso e lágrimas, prazer e dor, nossa vontade e a vontade de Deus.
O único modo de se fazer uma cruz é sobrepor a barra da alegria sobre a barra do sofrimento. Em outras palavras: nossa vontade é a barra horizontal, enquanto a vontade de Deus é a barra vertical, na medida em que nós sobrepomos nossos desejos e nossas vontades contra a vontade de Deus, formamos assim uma cruz. Desse modo, a cruz se torna o símbolo da dor e do sofrimento. Todavia, se a cruz é o símbolo perfeito do problema da dor, o crucifixo então é a sua solução. A diferença entre a cruz e o crucifixo é Cristo.
Uma vez que Nosso Senhor, que é por si só o Amor, sobe na cruz, Ele nos revela como o amor pode ser transformado pelo amor num alegre sacrifício, como aqueles que semeiam em lágrimas podem colher com alegria, como aqueles que choram podem ser confortados, como aqueles que sofrem com Ele podem também reinar com Ele e como aqueles que carregam suas cruzes, por uma breve Sexta Feira da Paixão, possuirão a felicidade por um eterno Domingo de Ressurreição. O Amor é o ponto de interseção onde a barra horizontal da morte e a barra vertical da vida reconciliam-se na doutrina de que toda a vida vem através da morte.
É aqui que a solução de Nosso Senhor se diferencia de todas as outras soluções para o problema da dor, até mesmo daquelas pseudo-soluções que se mascaram sob o nome de 'cristãs'. O mundo tenta resolver o problema da dor de duas maneiras: ou negando-o ou tentando torná-lo insolúvel. O problema da dor é negado por um peculiar processo de auto-hipnotismo que costuma inculcar nas pessoas a ideia de que a dor é imaginária. Tenta-se torná-lo insolúvel através de uma tentativa de fuga e, por essa razão, o homem moderno sente que é melhor pecar do que sofrer. Nosso Senhor, ao contrário, não nega a dor e nem tenta escapar dela. Ele a encara e ao agir assim Ele nos prova que o sofrimento não é alheio nem mesmo ao Deus que se fez homem.
Vemos assim que a dor desempenha um papel definitivo na vida. É sem dúvida um fato marcante que nossas sensibilidades são mais desenvolvidas para a dor do que para o prazer e nossa capacidade de sofrer excede nossa capacidade de alegrarmo-nos. O prazer cresce até chegar a um ponto de saciedade e nós sentimos que, se passasse daquele ponto, tornar-se-ia uma verdadeira tortura. A dor, ao contrário, continua crescendo e crescendo mesmo quando já choramos 'o bastante'. Ela atinge um ponto em que nós sentimos que não poderíamos mais suportar e ela vai se descarregando até matar.
Eu penso que o motivo pelo qual nós possuímos mais capacidade para a dor do que para o prazer é porque talvez Deus pretendia que aqueles que levam uma vida moral correta deveriam beber até a última gota do cálice da amargura aqui nesse mundo, porque no Céu não existe mais amargor. Por outro lado, aqueles que são moralmente bons nunca gozam o máximo do prazer aqui embaixo porque sabem que uma felicidade muito maior os aguarda no Céu. Mas deixando de lado as conjecturas, seja lá qual for a razão, a verdade que permanece é que, na cruz, Nosso Senhor demonstra um tipo de Amor que não pode tomar outra forma quando é contraposto ao mal, senão a forma de dor.
Para vencer o mal com o bem, uma pessoa deve sofrer injustamente. A lição do crucifixo então é que a dor nunca pode ser separada ou isolada do amor. O crucifixo não significa dor; significa sacrifício. Em outras palavras, ele nos diz em primeiro lugar que dor é sacrifício sem amor e em segundo, que sacrifício é dor com amor. Primeiro, dor é sacrifício sem amor. A crucifixão não é a glorificação da dor pela dor. A atitude cristã da mortificação algumas vezes é mal interpretada como sendo uma idealização da dor, como se nos tornássemos mais agradáveis a Deus quando sofremos do que quando nos alegramos.
Não! A dor em si mesma não possui nenhuma influência santificante! O efeito natural da dor é nos individualizar, centralizar nossos pensamentos em nós mesmos e fazer de nossa enfermidade o pretexto pra tudo quanto é conforto e atenção. Todas as aflições do corpo, tais como penitências e mortificações em si mesmo não tendem a tornar o homem melhor. Aliás, frequentemente tornam o homem pior. Quando a dor é divorciada do amor ela leva o homem a desejar que os outros estejam como ele está, ela o torna cruel, cheio de ódio, amargura. Quando a dor não é santificada, ela deixa cicatrizes, queima todas as mais finas sensibilidades da alma deixando-a brutalmente desfigurada. Dor como simples dor então não é um ideal: torna-se uma maldição quando é separada do amor pois, ao invés de tornar uma alma melhor, a torna pior.
Agora contemplemos o outro lado da figura. A dor não é para ser negada e nem para fugirmos dela. É para ser encarada com amor e vivida como sacrifício. Analise sua própria experiência e verá que muitas vezes seu coração e mente lhe dizem que o amor é capaz de superar de algum modo seus sentimentos naturais acerca da dor, que algumas coisas que poderiam parecer dolorosas tornam-se alegria quando você percebe que podem beneficiar o próximo.
Em outras palavras, o amor pode transformar a dor em sacrifício agradável, o que é sempre uma alegria. Se você perde por exemplo, uma certa quantidade de dinheiro, tal perda não poderia ser aliviada pela compreensão de que talvez aquele dinheiro foi encontrado por uma pobre alma que tinha mais necessidade do que você? Se sua cabeça está latejando de dor e seu corpo extenuado por uma noite de vigília ao lado da cama de seu filho doente, não seria essa dor aliviada pelo pensamento de que foi através desse amor e devoção que aquela criança conseguiu superar a enfermidade? Você jamais poderia ter sentido aquela alegria e nem ter tido a mínima ideia do tamanho do seu amor se você tivesse se negado a fazer aquele sacrifício. E se o seu amor não estivesse presente, então aquele sacrifício teria sido apenas dor, incômodo e aborrecimento.
A verdade gradualmente emerge quando percebemos que a nossa profunda felicidade consiste no sentimento de que o bem ou o benefício do próximo foi conquistado através do nosso sacrifício. O motivo por que a dor é amarga é porque não temos ninguém para amar e por quem nós deveríamos sofrer. O amor é a única força do mundo que pode tornar a dor suportável e a faz mais do que suportável ao transformá-la na alegria do sacrifício.
Agora, se a escória da dor pode ser transformada no ouro do sacrifício pela alquimia do amor, então daí se segue que nosso amor se torna mais profundo, a sensação de dor diminui e cresce nossa alegria no sacrifício. Mas não podemos esquecer que não existe amor maior do que o amor dAquele que entregou a sua própria vida por seus amigos. Portanto, quanto mais intensamente nós amarmos os seus santos propósitos, quanto mais zelosos formos por seu Reino, quanto mais devotados formos pela maior glória de Nosso Senhor e Salvador, mais nos alegraremos em qualquer sacrifício que possa trazer uma só alma para seu Sacratíssimo Coração. Tal é o motivo pelo qual São Paulo se gloriava em suas enfermidades e alegrias e que os Apóstolos se alegravam quando podiam sofrer por Jesus, por quem eles tanto amavam.
Não é de se admirar que os maiores santos sempre disseram que a melhor e maior das graças que Deus havia concedido-lhes era o mesmo privilégio concedido ao seu Divino Filho: ser usado e sacrificado por uma causa mais elevada. Nada poderia dar-lhes maior satisfação do que renovar a vida de Cristo em suas próprias vidas, cobrir seus corpos com os mesmos sofrimentos sofridos por Cristo em sua dolorosa Paixão. O mundo tenta eliminar a dor. O crucifixo a transforma através do amor recordando-nos que a dor vem do pecado enquanto o sacrifício vem do amor e que não há nada mais nobre do que o sacrifício.
O mundo não pode dispensar o Cristo em sua cruz. Eis o motivo porque o mundo é triste: por que se esqueceram de Cristo e da sua Paixão. E quanto desperdício de dor há neste mundo! Quantas cabeças que padecem dos mais diversos tipos de dor sem jamais terem se unido à Cabeça coroada de espinhos pela redenção do mundo; quantos pés latejam de dor sem jamais terem se aliviado pelo amor dAquele cujos pés subiram descalços a colina do calvário; quantos corpos feridos existem que não conhecem o amor de Cristo por eles. Esses não conhecem o amor que pode aliviar suas dores.
Quantos corações que sofrem e padecem porque não possuem aquele amor do Sacratíssimo Coração; quantas almas que só conseguem enxergar a cruz ao invés do crucifixo! Almas que possuem dor sem sacrifício, almas que nunca aprendem que é pela falta de amor que a dor cresce, almas que perdem a alegria do sacrifício porque não sabem o que é amar. Ó quão doce é o sacrifício daqueles que sofrem porque amam o Amor que sacrificou-se por eles numa cruz. Apenas para essas almas é possível compreender os santos propósitos de Deus, apenas aqueles que caminham pela noite escura são capazes de contemplar as estrelas.
(Venerável Fulton Sheen)
quarta-feira, 6 de junho de 2018
SUMA TEOLÓGICA EM FORMA DE CATECISMO (XIII)
IX
DOS DONS, COMPLEMENTOS DAS VIRTUDES
É suficiente que o homem possua as virtudes de que temos falado, para que possa alcançar a eterna Bem-aventurança?
Não, Senhor; necessita além disso dos dons do Espírito Santo (LXVIII)*.
Que se entende por dons do Espírito Santo?
Certas disposições habituais e infusas que fazem o homem dócil e submisso às inspirações e movimentos interiores com que o Espírito de Deus o guia e encaminha para a felicidade eterna (LXVIII, 1, 2, 3).
Por que, além das virtudes, necessita o homem dos dons do Espírito Santo?
Porque está elevado, como dissemos, à vida da graça, e para que as suas ações alcancem nesta ordem a perfeição precisa, é necessário um auxílio direto e especial de Deus, com que se leve a bom termo o que, com o exercício das virtudes, só se pode iniciar; pois os dons do Espírito Santo preparam e dispõem para receber esta ação de Deus (LXVIII, 2).
Quantos são os dons do Espírito Santo?
São sete (LXVIII, 4).
Quais são?
Sabedoria, entendimento, ciência, conselho, piedade, fortaleza e temor de Deus (Ibid).
X
DAS BEM-AVENTURANÇAS E FRUTOS DO ESPÍRITO SANTO, RESULTANTES DOS DONS E VIRTUDES
Possui o homem, adornado com as virtudes e dons do Espírito Santo, tudo o que de sua parte necessita para levar uma vida perfeita na ordem sobrenatural?
Sim, Senhor.
Podemos dizer que a sua vida, neste caso, é na terra já o começo da que depois há de levar no céu?
Sim, Senhor; e em atenção a isso falamos, neste mundo das bem-aventuranças e dos frutos do Espírito Santo.
Que entendeis por bem-aventuranças?
Os atos das virtudes e dos dons, conforme as enumerou Jesus Cristo, como consta do Evangelho, que, por sua presença na alma, ou pelos merecimentos que em sua virtude entesoura, são como uma antecipação e um penhor da vida eterna (LXIX, 1).
Que entendeis por frutos do Espírito Santo?
As boas ações de ordem sobrenatural que, realizadas sob a inspiração do Espírito Santo, têm a virtude de produzir prazer e alegria quando se praticam (LXX, 2).
São distintas das bem-aventuranças?
Distingamos: enquanto significam o bem supremo do homem, não, Senhor, porque neste sentido se confundem com o fruto por excelência, que é a bem-aventurança celestial. Pela mesma razão, podem identificar-se com as bem-aventuranças aqui na terra. Porém, distinguem-se em que as bem-aventuranças são obras excelentes e perfeitas, e ao fruto lhe basta a razão de obra boa, sem ser perfeita (LXX, 2).
Quais são as bem-aventuranças e qual a sua recompensa?
São as seguintes: Bem-aventurados os pobres de Espírito, porque deles é o reino do céu; bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra; bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados; bem-aventurados os que têm fome e sede de Justiça, porque serão fartos; bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia; bem-aventurados os limpos do coração, porque verão a Deus. bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus (LXIX, 2-4).
Quais são os frutos do Espírito Santo?
Caridade, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, longanimidade, mansidão, fidelidade, modéstia, continência e castidade (LXX, 3).
Donde consta a sua existência?
Da Epístola de São Paulo aos Gálatas (V, 22, 23).
Onde se enumeram as bem-aventuranças?
A enumeração completa lê-se em São Mateus (Mt 5, 3-13). Encontra-se outra, se bem que incompleta, em São Lucas (LC 6, 20-22).
Consigna São Mateus e reproduz São Lucas outra bem-aventurança, que seria a oitava?
Sim, Senhor; e é a bem-aventurança dos que sofrem perseguição por amor à Justiça, porém, se põe a modo de resumo e conclusão das sete anteriores, nas quais está incluída (LXXXIX, 3 ad 5).
Há, neste mundo, alguma coisa mais proveitosa para o homem do que o exercício assíduo dos dons e virtudes conducentes às bem-aventuranças e frutos do Espírito Santo?
Não, Senhor.
XI
DOS VÍCIOS, FONTE E ORIGEM DOS ATOS PECAMINOSOS
Há. neste mundo, algum método de vida oposto ao que acabamos de descrever?
Sim, Senhor; a vida do vício e do pecado (LXXI-LXXIX).
Que entendeis por vício?
O estado do homem que vive em pecado (LXXI, 1-6).
Que entendeis por pecado?
Um ato ou omissão voluntária em matéria ilícita (Ibid).
Quando devemos dizer que um ato ou omissão voluntária é pecaminoso?
Quando é contrário ao bem de Deus, ao bem próprio ou ao do nosso próximo (LXXII, 4).
Como é possível que possa o homem querer coisas opostas ao bem de Deus, ao seu próprio bem e ao do seu próximo?
Porque pode querer um bem incompatível com aqueles bens (LXXI, 2).
Que bens podem ser estes incompatíveis com o de Deus, o próprio e o do próximo?
Os que deleitam os sentidos ou lisonjeiam a ambição e o orgulho (LXXII, 2, 3; LXXVII, 5).
Por que pode o homem querer semelhantes bens?
Porque os sentidos têm a faculdade de inclinar-se para o que proporciona prazeres, antecipando-se ao exercício da inteligência e da vontade, ou arrastando estas duas faculdades para o seu partido, se elas não se opõem, podendo e devendo fazê-lo (LXXIII, 2 ad 3).
Qual é, por conseguinte, a raiz, a origem, e, em certo modo, a razão de todos os pecados humanos?
A prossecução desatenta dos bens sensíveis e temporais.
Como se chama o estado que inclina o homem a procurar sem razão, nem medida, os bens sensíveis?
Chama-se cobiça ou concupiscência (LXXVII, 1-5).
* referências aos artigos da obra original
('A Suma Teológica de São Tomás de Aquino em Forma de Catecismo', de R.P. Tomás Pègues, tradução de um sacerdote secular).
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