quarta-feira, 31 de agosto de 2016

FOTO DA SEMANA

'Irmãos, vivei com alegria. Tendei à perfeição, animai-vos, tende um só coração, vivei em paz, e o Deus de amor e paz estará convosco' 
(II Cor 13, 11)

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

AS MEDIDAS DA FÉ CRISTÃ

A fé pode aumentar, a fé pode diminuir e se perder. A fé, consistindo essencialmente na adesão de nosso espírito à verdade revelada, aumenta ou diminui segundo seja a adesão mais ou menos firme. Ora, sendo a alma humana ativa por natureza, é indispensável que a sua fé aumente ou diminua. Ela aumenta se a alma avança no conhecimento do Pai e do Filho e do Espírito Santo, se a alma penetra melhor nas verdades do Credo, em uma palavra, se a alma progride no caminho da verdade.

Mas como a fé requer, juntamente com assentimento do espírito, o movimento de piedade da vontade que quer crer, evidentemente a fé também pode e deve crescer pelo caminho da vontade que se submete cada vez mais docilmente, cada vez mais amorosamente à verdade divina. Assim, duas coisas ajudarão singularmente a fé em seu progresso, a saber: a instrução e a piedade. A instrução, o cristão a encontrará na pregação, no catecismo, nas leituras santas; a piedade consistirá sobretudo na fidelidade às promessas do batismo; o cristão, ajudado pela oração e pelos sacramentos, crescerá na fé.

Todo cristão que quer crescer na fé deve vigiar com redobrada atenção contra tudo que for capaz de enfraquecer a fé. Ele deve tomar cuidado para não se deixar levar pelas máximas deste mundo, pois o mundo, enquanto mundo, só se ocupa das coisas sensíveis; a fé, ao contrário, nos mostra o preço inestimável das coisas invisíveis. O mundo só vê o presente; a fé, que nos esclarece tanto sobre o passado quanto sobre o presente, nos faz velar principalmente sobre o futuro. O mundo está todo voltado para os gozos da terra; a fé nos ensina que este é o tempo das privações e das penitências e nos mostra que Deus é o único bem verdadeiro em que podemos repousar nossas almas e esperar os verdadeiros gozos.

É preciso pois velar para permanecer fiel, quer dizer, crente. E, quem assim velar, verá infalivelmente crescer em sua alma as luzes tão doces, tão serenas da verdade eterna; e quanto mais entrar nesta luz, mais ele provará o quanto o Senhor é doce, o quanto é precioso e inestimável o dom da fé. Ao contrário, toda alma que não velar, que se deixar embalar pelas promessas insignificantes de um mundo que nada tem, que nada sabe, que nada pode, toda alma que não velar, verá a sua fé diminuir para em seguida se perder completamente.

Se tivéssemos olhos para ver o lamentável espetáculo das almas que perdem a fé, não teríamos lágrimas que chegassem para chorar tão grande infelicidade. Alguns perdem a fé logo depois do batismo; esses não receberam a instrução cristã necessária, e suas almas nunca fizeram o ato de fé. Privado de seu ato, o hábito posto em suas almas no dia do batismo foi facilmente reduzido a nada. É muito raro que as almas que perderam a fé nestas condições a tornem a encontrar. Elas tornam-se estranhas a Deus e a Nosso Senhor Jesus Cristo e vivem apenas uma vida terrestre, triste prelúdio de uma morte eterna.

Outros perdem a fé pouco depois da primeira comunhão. Esses entram em um mundo descrente do qual não desconfiam, e imaginam que eles é que foram ingênuos por terem acreditado um pouco. Se chega o pecado mortal, coisa fácil de acontecer, será fácil também perder a fé e fechar os olhos à pura luz que os havia tornado tão felizes no dia de sua primeira comunhão.

Ainda outros perdem a fé nas escolas. Tanto escolas primárias como escolas superiores fazem frequentemente os batizados perderem a fé. Aí não se ensina a conhecer o único e verdadeiro Deus, a saber o Pai e o Filho e o Espírito Santo; as escolas primárias têm como principal objetivo a formação do plural e do sistema métrico; às superiores só interessa o diploma de bacharel e de doutor. Sem falar daquelas onde se ensina consciente e propositadamente a impiedade, o indiferentismo ou mesmo o ateísmo.

Finalmente, há os que perdem a fé pelos interesses materiais. Preocupados demais com os negócios, entregues inteiramente às especulações financeiras, esquecem seu batismo, negligenciam o cuidado com sua alma, não vivem mais da fé, não velam mais para que sua fé seja alimentada e perdem-na, talvez mesmo sem sentir. 

Ó Deus, Deus meu, vós que por vossa graça nos haveis dado a fé, por esta mesma graça conservai-nos sempre na fé!

(Excertos da obra 'Cartas sobre a Fé' do Pe. Emmanuel Andre)

domingo, 28 de agosto de 2016

'QUEM SE HUMILHA SERÁ ELEVADO'

Páginas do Evangelho - Vigésimo Segundo Domingo do Tempo Comum 


Humildade e mansidão são os frutos da fé para deleite de abundantes graças de Deus para aquele que vive a generosidade despojada dos que seguem a Jesus: 'Aprendei de Mim que sou manso e humilde de coração' (Mt 11, 29). Na parábola do Evangelho deste domingo, estas virtudes essenciais da graça são manifestas na transposição dos primeiros e dos últimos lugares de um grande banquete. 

Diante do Filho de Deus vivo, os escribas e fariseus se preocuparam primeiro em ocupar lugares de honra à mesa. Eles observavam Jesus, eles tinham curiosidade, interesse e empenho em questionar Jesus por qualquer uma de suas palavras ou ações, mas não percebiam a própria insensatez e vaidade de suas ações primeiras: a busca desenfreada por ocupar os primeiros lugares, a vanglória de usufruir com pompas uma posição destacada na mesa de jantar, a jactância de se apropriar sem rodeios das melhores posições para exercerem, com maior júbilo e sem reservas, o desmedido orgulho de suas escolhas humanas.

Eis que Jesus os conclama a viver a humildade da vida em Deus, sem buscar os privilégios e os prestígios efêmeros do mundo: 'Quando tu fores convidado para uma festa de casamento, não ocupes o primeiro lugar... Mas, quando tu fores convidado, vai sentar-te no último lugar' (Lc 14, 8, 10). Como convivas do banquete, seremos provedores de honra ou da vergonha, dependendo da medida de nossa humildade ou da desdita de nosso orgulho: 'Porque quem se eleva, será humilhado e quem se humilha, será elevado' (Lc 14, 11).

E a humildade não pode prescindir do despojamento, da generosidade desinteressada, da mansidão. A mão que estende a dádiva não se curva à retribuição; a ação de oferta não se compraz da gratidão; a semente que gerou fruto não impõe recompensa alguma. Oferece o 'banquete' de seus dons e talentos aos pobres, e aleijados, e coxos, e cegos...'porque eles não te podem retribuir' (Lc 14, 14). Assim, sem a gratidão e os louvores humanos, o homem sábio ajunta tesouros e a recompensa eterna na ressurreição dos justos.

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

O PAI NOSSO DE SÃO CIRILO DE JERUSALÉM

Pai nosso, que estás nos céus. Ó incomensurável benignidade de Deus! Aos que o tinham abandonado e jaziam em extremos males, é concedido o perdão dos males e a participação da graça, a ponto de ser invocado como Pai. Pai nosso que estás nos céus. Os céus poderiam bem ser os que portam a imagem do celestial, nos quais Deus habita e vive.

Santificado seja teu nome. Santo é por natureza o nome de Deus, quer o digamos ou não. Mas uma vez que naqueles que pecam por vezes é profanado, segundo o que se diz: Por vós meu nome é continuamente blasfemado entre as nações, oramos que em nós o nome de Deus seja santificado. Não que por não ser santo chegue a sê-lo, mas porque em nós ele se torna santo quando nos santificamos e praticamos obras dignas de santificação.

Venha o teu reino. É próprio de uma alma pura dizer com confiança: Venha o teu reino. Quem ouviu Paulo dizer: 'Que o pecado não reine em vosso corpo mortal' (Rm 6,12) e se purificar em obra, pensamento e  palavra, dirá a Deus: Venha o teu reino.

Seja feita a tua vontade, assim no céu como na terra. Os divinos e bem-aventurados anjos de Deus fazem a vontade de Deus, como Davi dizia no salmo: 'Bendizei ao Senhor, todos os seus anjos, heróis poderosos, que executais sua palavra' (Sl 103,20). Rezando, pois, com vigor, dize isto: como nos anjos se faz a tua vontade, Senhor, assim na terra se faça em mim.

Nosso pão substancial dá-nos hoje. O pão comum não é substancial. Mas este pão é substancial, pois se ordena à substância da alma. Este pão não vai ao ventre nem é lançado em lugar escuso mas se distribui sobre todo o organismo, em proveito da alma e do corpo. O 'hoje' equivale a dizer de 'cada dia', como também dizia Paulo: 'Enquanto perdura o hoje'.

E perdoa-nos as nossas dívidas assim como nós perdoamos aos nossos devedores. Temos muitos pecados. Caímos, pois, em palavra e em pensamento e fazemos muitas coisas dignas de condenação. E se dissermos que não temos pecado, mentimos (1Jo 1,8), como diz João. Fazemos com Deus um pacto pedindo-lhe nos perdoe nossos pecados como também nós perdoamos ao próximo suas dívidas. Tendo presente, portanto, o que recebemos em troca do que damos, não sejamos negligentes, nem deixemos de perdoar uns aos outros. As ofensas que se nos fazem são pequenas, simples, fáceis de reconciliar. As que nós fazemos a Deus são enormes e temos necessidade só de sua benignidade. Cuida, então, que por faltas pequenas e simples contra ti não te excluas do perdão, por parte de Deus, dos pecados gravíssimos.

E não nos induzas em tentação, Senhor. Porventura com isto o Senhor nos ensina a pedir que de modo algum sejamos tentados? Como se encontra em outro lugar: 'Aquele que foi tentado não tem experiência' (Ecl 34,10) e ainda: 'Tende por suma alegria, meus irmãos, se cairdes em diversas provações' (Tg 1,2)? Mas jamais entrar em tentação é o mesmo que ser submerso por ela. A tentação, pois, se assemelha a uma torrente difícil de atravessar. Os que, então, não são submersos nas tentações, atravessam, como bons nadadores, sem serem arrastados pela corrente. Os que não são assim, uma vez que entram, são submersos. Assim, por exemplo, Judas, entrando na tentação da avareza, não passou a nado, mas, submergindo, afogou-se corporal e espiritualmente. Pedro entrou na tentação de negação, mas, tendo entrado, não submergiu; antes, nadando com vigor, se salvou da tentação. 

Escuta novamente, em outro lugar, o coro dos santos todos rendendo graças por terem sido subtraídos à tentação: 'Tu nos provaste, ó Deus, acrisolaste-nos como se faz com a prata. Deixaste-nos cair no laço; carga pesada puseste em nossas costas; submeteste-nos ao jugo dos tiranos. Passamos pelo fogo e pela água, mas tu nos conduziste ao refrigério' (Pv 17,10). Tu os vês falar abertamente de sua travessia sem serem vencidos? 'Tu nos conduziste ao refrigério' (Sl 19, 7). Chegar ao refrigério é ser livrado da tentação.

Mas livra-nos do mal. Se a expressão 'não nos induzas em tentação' significasse não sermos de modo algum tentados, não se diria: 'mas livra-nos do mal'. O mal é o demônio, nosso adversário, do qual pedimos ser libertos. Depois, terminada a prece, dizes: 'amém', selando com este amém, que significa 'faça-se', o que se contém na oração ensinada por Deus.

(Excertos da 'Quinta Catequese Mistagógica aos Recém-iluminados', de São Cirilo de Jerusalém )

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

O PÃO DOS HEREGES

São João Crisóstomo, Bispo e Confessor da Igreja, era um orador exímio cuja eloquência fazia cair por terra as heresias mais persistentes, em função do vigor e tenacidade de sua argumentação em defesa da fé católica. Por esta razão, ficou conhecido como o 'martelo dos hereges'. Conseguiu, com sua pregação, converter inúmeros hereges macedônios. 

Menos uma mulher. Esta, de tal forma obstinada no paroxismo de suas heresias, não aceitava nenhuma reconsideração de suas crenças erradas e não se inclinava de forma alguma aos ensinamentos do bispo e de suas pregações. Atraída de tal forma pelo mal, afastou-se da Igreja e passou a frequentar decididamente as práticas e rituais de seitas absolutamente heréticas.

Tal fato desagradou profundamente o seu marido, que tentou persuadi-la destas práticas. Por maiores que fossem os seus esforços e conselhos, porém, tudo foi em vão. A mulher perdera por completo a fé cristã e mergulhou no submundo das piores heresias. Nada a sensibilizava e, a cada tentativa, parecia recrudescer sobre ela o domínio da iniquidade. Em meio a um esgotamento e infelicidade crescentes, o marido tomou a decisão de se separar em definitivo da mulher. 

Tal imperativo moveu a mulher a repensar certos conceitos e certos valores, que estavam sutilmente esquecidos. A relação entre ambos era de um amor verdadeiro e sincero; as demandas de um eram muito bem complementadas pela renúncia do outro. A separação criava dor, desconforto, e perdas muito sentidas para um e para o outro. Haveria possibilidade de uma solução amigável?

No coração feminino, há lugar para todas as incontáveis nuances dos sentimentos humanos. Se era preciso ceder de um lado, era igualmente possível manter o jogo do outro. Na tela das aparências, era possível ter duas realidades. Assim pensou a mulher e assim adotou o propósito de acompanhar o marido às missas do bispo e, ao mesmo tempo, comungar o pão dos hereges de cada dia. Frequentando de forma dissimulada o ritual profano, recolhia o pão herético e depois o passava para ser guardado por uma criada de estimação. Na missa de domingo, ao lado do marido, fingia receber a Sagrada Hóstia mas, de forma dissimulada, o repassava à criada que também a acompanhava e se alimentava, então, com o pão profano.

Nesta prática, se acomodou à vertigem das aparências que se mostraram bastante fáceis e seguras. A criada era de absoluta confiança e o marido se comprazia de tal conversão, e manifestava esse fato com grande regozijo ao bispo. Numa destas missas, porém, eis que ocorreu um fato muito singular: ao levar à boca o pedaço macio do pão profano, este imediatamente se transformou em pedra atritando rigidamente contra os seus dentes. Atônita, a mulher cuspiu o pão dos hereges, feito pedra, no chão da igreja. Diante do espanto geral, a mulher narrou ao marido e ao bispo os fatos acontecidos, suplicando a confissão e sua conversão. São João Crisóstomo publicou o milagre e mandou que aquela pedra em que o pão dos hereges havia se convertido fosse conservada em Constantinopla, para perpétua memória dos fieis cristãos.

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

POEMAS PARA REZAR (XXI)


DEUS NUNCA TE ESQUECE

Deus te quer, Deus cuida de ti, Ele te chama pelo teu nome.
Te vê e te compreende tal como tu és.
Sabe o que se passa contigo,
Todos os teus sentimentos e pensamentos,
tuas preferências e vontades,
tua fortaleza e fragilidade.

Está contigo em tuas horas de alegria
e também nas horas de angústia.

Conhece as tuas aspirações
e se compadece de tuas faltas.

Se interessa por todas as tuas ansiedades e aflições;
e em todos os momentos de tua vida
te  envolve e te sustenta em Seus braços.

Não te esquece nunca;
quando estás rindo ou quando choras,
cuida de ti com infinito amor.

Escuta a tua voz, a tua respiração,
as batidas do teu coração;
e te quer mais do que tu serias capaz de querer a ti mesmo.

(Beato John Henry Newman, tradução do autor do blog)

terça-feira, 23 de agosto de 2016

NO LIMIAR DO SOBRENATURAL (VI)

16 de abril de 2016. Um terremoto de 7,8 graus arrasa o Equador, causando a morte de aproximadamente 350 pessoas e enormes prejuízos materiais. Em Manta, uma das zonas costeiras mais afetadas pelo sismo, só restou escombros da escola mantida no local pela Comunidade das Oblatas de São Francisco de Sales. Na limpeza dos escombros, uma surpresa completa: a urna de vidro envolvendo a imagem de Nossa Senhora da Luz, padroeira das oblatas, permaneceu intacta por inteiro em meio à destruição geral. Além desta imagem que ficava à entrada da escola, outra imagem da Virgem e outra de Jesus Sacramentado, além dos paramentos litúrgicos usados para a celebração eucarística, ficaram inteiramente preservados.