terça-feira, 10 de novembro de 2015

COMO REZAR

1. Os preceitos evangélicos não são outra coisa, irmãos caríssimos, senão os ensinamentos divinos, fundamentos para edificar a esperança, provações para robustecer a fé, alimento para nutrir a alma, leme para dirigir a navegação, presídio para a salvação. Ao mesmo tempo que iluminam os crentes dóceis sobre a terra, guiam-nos até aos reinos celestes. 

Deus quis que muitos ensinamentos nos fossem dados por meio dos profetas, seus servos. Mas quão superiores são as palavras do seu Filho, aquelas palavras que o Verbo de Deus, já ressonante nos profetas, atesta com a sua viva voz. Já não é alguém que vem aplanar os caminhos d'Aquele que há de vir, mas Aquele que veio e nos abre e mostra o caminho. Deste modo os que, antes, incautos e cegos cambaleavam nas trevas da morte, iluminados agora pela luz da graça, podem seguir na vida sob a guia e o governo de Cristo. 

2. Entre outros conselhos salutares e ensinamentos divinos com os quais provê à salvação do seu povo, Cristo deu-nos também a norma da oração, e Ele mesmo nos mostrou e ensinou como devemos rezar. Aquele que nos deu a vida, ensinou-nos a pedir, com a mesma benevolência com que se dignou dar-nos os outros bens. Assim rezando ao Pai com a oração do Filho, somos mais facilmente ouvidos. 

Já antes tinha anunciado o dia em que os verdadeiros adoradores aprenderiam a adorar o Pai em espírito e em verdade (Jo 4, 23), mas agora cumpre a promessa e faz de nós, santificados pelo espírito de verdade, verdadeiros e espirituais adoradores, conformes ao seu ensinamento. Que oração haverá mais espiritual do que aquela que nos ensinou Cristo, o qual enviou sobre nós o Espírito de Verdade? Que oração será mais verdadeira do que aquela que saiu dos lábios de quem é a verdade? Portanto, rezar de outra maneira diferente da que Cristo nos ensinou, não só é um ato de ignorância, mas uma culpa, pois Ele mesmo disse: 'Vós rejeitastes o mandamento de Deus para acreditar na vossa doutrina' (Mc 7,8). 

3. Seja a nossa oração aquela que o nosso Mestre nos ensinou. É cara e familiar a Deus a oração composta pelo s próprio Filho. Assim, quando rezamos, o Pai reconhece as palavras do Filho. Aquele que é hóspede do nosso coração esteja também nos nossos lábios. Se Cristo está junto do Pai como advogado para os nossos pecados, nós pecadores devemos rogar o perdão dos pecados com as mesmas palavras do Advogado. De fato, se Ele nos prometeu obter tudo o que pedirmos ao Pai em seu nome (Jo 16, 23), quanto mais eficazmente obteremos o que pedimos em nome de Cristo se o pedimos com a sua mesma oração? 

4. Os que rezam, tenham devoção à doçura das palavras. Pensemos estar na presença de Deus e por isso devemos ser aceites aos seus olhos pela atitude do corpo e pela maneira como rezamos. Como é imprudente quem pede sem piedade, assim a oração convém que seja em tom respeitoso e submisso. O Senhor ensinou-nos a rezar no silêncio e nos lugares escondidos das nossas casas. Esta atitude é mais adequada à nossa fé para que saibamos e jamais olvidemos que Deus está em toda a parte, vê tudo e atende a todos, enche com a plenitude da Sua majestade os lugares mais recônditos. 

Está escrito: 'Não sou Eu o Deus do alto e o Deus que está a teu lado? Se o homem se esconde, deixo acaso de o ver? Não sou Eu que encho o céu e a terra?' (Jr 23, 23-24). 'Em todo o lugar os olhos de Deus observam os bons e os maus' (Prov 15,3). E quando nos juntamos aos outros irmãos para celebrar com o sacerdote o sacrifício divino, devemos recordar-nos de ser devotos e disciplinados na oração e não espalhá-la ao vento numa sequência de palavras, nem dirigi-la a Deus precipitadamente, mas sim com propósitos. Deus não escuta a voz, mas o coração. Deus, que perscruta os pensamentos humanos, não quer ser rogado com gritos. Diz assim o Mestre: 'Que andais vós a ruminar nos vossos corações' (Lc 5, 22) e ainda: 'Todas as igrejas saibam que Eu perscruto os rins e os corações' (Ap 2, 23). 

5. Já nos mostra isto o primeiro Livro dos Reis com o exemplo de Ana, figura da igreja. Ana rezava ao Senhor não com palavras clamorosas mas na humildade e no silêncio com o seu coração. A sua oração era oculta, mas era manifesta a sua fé. Falava com o coração e não com a boca, porque só assim era ouvida por Deus. Por isso obteve o que pediu, porque rezou com fé, como atesta a Sagrada Escritura: 'Falava no seu coração. Os seus lábios moviam-se, mas não se percebia a sua voz. E Deus escutou-a' (1 Re 1, 13). 

O mesmo se lê nos Salmos (5, 5): 'Pensai no silêncio dos vossos quartos'. Jeremias põe na boca de Deus estas palavras: 'Encontrar-Me-eis se Me procurardes com todo o coração' (Jr 24, 13). 6. Quando rezarmos não esqueçamos o publicano no templo, que não ousava levantar os olhos ao céu nem se atrevia a elevar as mãos, mas batia no peito em sinal de detestação dos seus pecados, e assim pedia a ajuda da misericórdia divina. Enquanto o fariseu se comprazia a si mesmo, o publicano, com a sua oração, mereceu ser santificado mais, visto que colocou a esperança da sua salvação não na sua inocência - pois ninguém é inocente - mas na humilde confissão dos seus pecados.

E, Aquele que do Céu perdoa os humildes, ouviu a sua oração, como se lê na parábola evangélica que se segue: 'Dois homens subiram ao templo para rezar; um era fariseu, o outro era publicano. O fariseu, de pé, rezava assim: 'Eu Te dou graças, ó Deus, porque não sou como os outros homens, ladrões, injustos, adúlteros; nem tão pouco sou como aquele publicano. Eu jejuo duas vezes na semana e pago o dízimo de todos os meus bens'. O publicano, ao contrário, lá longe, nem se atrevia a erguer os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: 'Ó Deus, tem piedade de mim, que sou pecador'. Pois Eu vos digo que este voltou justificado para sua casa. Não aconteceu o mesmo com o outro, pois quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado' (Lc 18, 10-14). 

Também os Apóstolos, com todos os discípulos, rezavam assim depois da Ascensão do Senhor: 'Perseveravam todos unanimemente na oração, com as mulheres e com Maria, Mãe de Jesus, e com os seus irmãos' (At 1, 14). Perseveravam concordemente na oração e assim demonstravam, com a assiduidade e unanimidade da sua oração, que Deus 'faz habitar sob o mesmo teto todos os que estão de acordo' (Sl 57, 7) e não admite à sua divina e eterna habitação senão aqueles cuja oração é comum e unânime.

(São Cipriano de Cartago)

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

PALAVRAS DE SALVAÇÃO

'O homem criado por amor não pode viver sem amor: ou ama a Deus ou ama o mundo. Aquele que não ama a Deus apega o seu coração a coisas que passam como a fumaça. Quanto mais conhecemos os homens, tanto menos os amamos. É o contrário relativamente a Deus: quanto mais o conhecemos, tanto mais o amamos. Esse conhecimento abrasa a alma de tão grande amor, que ela não pode mais amar nem desejar senão a Deus.

O amor de Deus é um antegozo do céu: se soubéssemos frui-lo, ó como seríamos felizes! O que faz que sejamos infelizes é não amarmos a Deus. Há pessoas que não amam o bom Deus, que não lhe rezam e que prosperam; é mau sinal! Têm feito um pouco de bem através de muito mal. O bom Deus recompensa-os nesta vida. Cumpre fazer com os pastores nos campos durante o inverno: acendem fogo: mas de quando em quando correm a apanhar lenha de todos os lados para alimentá-lo. Se soubéssemos, como os pastores, alimentar sempre o fogo do amor de Deus no nosso coração mediante orações e boas obras, ele não se apagaria nunca'.


(São João Maria Vianney, o Cura D'Ars)

domingo, 8 de novembro de 2015

A VIDA ETERNA POR DUAS PEQUENAS MOEDAS

Páginas do Evangelho - Trigésimo Segundo Domingo do Tempo Comum


A grandeza da alma se consome em virtudes e, dentre elas, a humildade e o despojamento constituem as gemas mais preciosas. Entregar tudo o que se tem - e o tudo em nós é nada - no amor à Verdade que é Cristo é o caminho de ouro para a eternidade com Deus. Jesus nos ensina a buscar este caminho de despojamento interior: livrar-nos dos apegos materiais e das amarras humanas para galgamos e possuirmos valores e bens que têm o selo das heranças eternas.

'Jesus estava sentado no Templo, diante do cofre das esmolas, e observava como a multidão depositava suas moedas no cofre' (Mc 12, 41). Numa rara passagem dos Evangelhos, encontramos Jesus em silêncio, na quietude do templo, livre das multidões e dos assédios mundanos, observando o entre-sai dos visitadores para o cumprimento formal das ofertas da lei mosaica. No templo em silêncio, o eco das moedas vibrando nos recipientes metálicos da coleta reverberava em profusão, dando ciência a todos da magnitude da oferta. A multidão espreitava e se regozijava na percepção das ofertas mais ricas, no propagar do eco mais longo e mais retumbante.

Jesus ouvia, entretanto, os ecos da alma. Quando a pobre viúva fez a sua oferta, 'duas pequenas moedas, que não valiam quase nada' (Mc 12, 42), ela entregou tudo o que possuía. O mísero tilintar das pequenas moedas não chegou nem aos ouvidos de muitos, mas tocou profundamente o coração de Jesus, como ele revelou, então, aos seus discípulos: 'Em verdade vos digo, esta pobre viúva deu mais do que todos os outros que ofereceram esmolas.Todos deram do que tinham de sobra, enquanto ela, na sua pobreza, ofereceu tudo aquilo que possuía para viver' (Mc 12, 43 - 44). Dar tudo o que possuía para viver significa entregar, no nada que somos, todo o amor humano que podemos colocar no coração de Deus.

Em contraste aos valores do orgulho e da hipocrisia dos ricos e dos doutores da lei, mais preocupados com o jogo frívolo das aparências e dos privilégios da ostentação, a oferta da pobre viúva era a sua própria sobrevivência, não era uma esmola. As suas pequenas moedas eram como o punhado de farinha numa vasilha e um pouco de azeite na jarra da viúva de Sarepta (1 Rs 17, 12). No anonimato do seu pequeno gesto, mereceu do próprio Deus a mensuração de tão grande graça, predestinação de sua herança eterna. E, no escondimento da sua oferta, nos ensinou que a verdadeira dádiva é aquela que nasce da entrega total do coração, no exemplo do próprio Jesus, filho Unigênito de Deus feito homem, que se doou e se entregou por inteiro para a salvação de todos nós.

sábado, 7 de novembro de 2015

QUANDO O INFERNO É AQUI...

Uma barragem de mais de 80m de altura (chamada Fundão) para contenção de rejeitos (resíduos oriundos dos processos de beneficiamento industrial) de minério de ferro se rompe em Mariana, Minas Gerais. Cerca de 55 milhões de mdescem o vale estreito e impacta uma barragem menor (chamada Santarém) mais a jusante (contendo outros 7 milhões de m3, quase que em volume total de água). A massa viscosa vai arrebentando todo o vale a jusante, pegando em cheio o distrito de Bento Rodrigues, com 250 famílias e contendo um pequeno mas valioso registro histórico das Minas Gerais. Lama, lama e mais lama levando destruição, morte, medo e desespero a distâncias de dezenas de km das duas barragens. As obras humanas desconhecem sonhos e histórias, mas destroem uns e outras. A cicatriz da lama varrendo o chão é mais uma prova de que, às vezes, o inferno é aqui...




PRIMEIRO SÁBADO DE NOVEMBRO


Mensagem de Nossa Senhora à Irmã Lúcia, vidente de Fátima: 
                                                                                                                           (Pontevedra / Espanha)

‘Olha, Minha filha, o Meu Coração cercado de espinhos que os homens ingratos a todo o momento Me cravam, com blasfêmias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de Me consolar e diz que a todos aqueles que durante cinco meses seguidos, no primeiro sábado, se confessarem*, recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um Terço e Me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 Mistérios do Rosário com o fim de Me desagravar, Eu prometo assistir-lhes à hora da morte com todas as graças necessárias para a salvação.’
* Com base em aparições posteriores, esclareceu-se que a confissão poderia não se realizar no sábado propriamente dito, mas antes, desde que feita com a intenção explícita (interiormente) de se fazê-la para fins de reparação às blasfêmias cometidas contra o Imaculado Coração de Maria no primeiro sábado seguinte.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

PORQUE HOJE É A PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS


A Grande Revelação do Sagrado Coração de Jesus foi feita a Santa Margarida Maria Alacoque durante a oitava da festa de Corpus Christi  de 1675...

         “Eis o Coração que tanto amou os homens, que nada poupou, até se esgotar e se consumir para lhes testemunhar seu amor. Como reconhecimento, não recebo da maior parte deles senão ingratidões, pelas suas irreverências, sacrilégios, e pela tibieza e desprezo que têm para comigo na Eucaristia. Entretanto, o que Me é mais sensível é que há corações consagrados que agem assim. Por isto te peço que a primeira sexta-feira após a oitava do Santíssimo Sacramento seja dedicada a uma festa particular para  honrar Meu Coração, comungando neste dia, e O reparando pelos insultos que recebeu durante o tempo em que foi exposto sobre os altares ... Prometo-te que Meu Coração se dilatará para derramar os influxos de Seu amor divino sobre aqueles que Lhe prestarem esta honra”.


... e as doze Promessas:
  1. A minha bênção permanecerá sobre as casas em que se achar exposta e venerada a imagem de meu Sagrado Coração.
  2. Eu darei aos devotos do meu Coração todas as graças necessárias a seu estado.
  3. Estabelecerei e conservarei a paz em suas famílias.
  4. Eu os consolarei em todas as suas aflições.
  5. Serei seu refúgio seguro na vida, e principalmente na hora da morte.
  6. Lançarei bênçãos abundantes sobre todos os seus trabalhos e empreendimentos.
  7. Os pecadores encontrarão em meu Coração fonte inesgotável de misericórdias.
  8. As almas tíbias se tornarão fervorosas pela prática dessa devoção.
  9. As almas fervorosas subirão em pouco tempo a uma alta perfeição.
  10. Darei aos sacerdotes que praticarem especialmente essa devoção o poder de tocar os corações mais empedernidos.
  11. As pessoas que propagarem esta devoção terão os seus nomes inscritos para sempre no meu Coração.
  12. A todos os que comungarem nas primeiras sextas-feiras de nove meses consecutivos, darei a graça da perseverança final e da salvação eterna.

    ATO DE DESAGRAVO AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS 
    (rezai-o sempre, particularmente nas primeiras sextas-feiras de cada mês)

Dulcíssimo Jesus, cuja infinita caridade para com os homens é deles tão ingratamente correspondida com esquecimentos, friezas e desprezos, eis-nos aqui prostrados, diante do vosso altar, para vos desagravarmos, com especiais homenagens, da insensibilidade tão insensata e das nefandas injúrias com que é de toda parte alvejado o vosso dulcíssimo Coração.

Reconhecendo, porém, com a mais profunda dor, que também nós, mais de uma vez, cometemos as mesmas indignidades, para nós, em primeiro lugar, imploramos a vossa misericórdia, prontos a expiar não só as nossas próprias culpas, senão também as daqueles que, errando longe do caminho da salvação, ou se obstinam na sua infidelidade, não vos querendo como pastor e guia, ou, conspurcando as promessas do batismo, renegam o jugo suave da vossa santa Lei.

De todos estes tão deploráveis crimes, Senhor, queremos nós hoje desagravar-vos, mas particularmente das licenças dos costumes e imodéstias do vestido, de tantos laços de corrupção armados à inocência, da violação dos dias santificados, das execrandas blasfêmias contra vós e vossos santos, dos insultos ao vosso vigário e a todo o vosso clero, do desprezo e das horrendas e sacrílegas profanações do Sacramento do divino Amor, e enfim, dos atentados e rebeldias oficiais das nações contra os direitos e o magistério da vossa Igreja.

Oh, se pudéssemos lavar com o próprio sangue tantas iniquidades! Entretanto, para reparar a honra divina ultrajada, vos oferecemos, juntamente com os merecimentos da Virgem Mãe, de todos os santos e almas piedosas, aquela infinita satisfação que vós oferecestes ao Eterno Pai sobre a cruz, e que não cessais de renovar todos os dias sobre os nossos altares.

Ajudai-nos, Senhor, com o auxílio da vossa graça, para que possamos, como é nosso firme propósito, com a viveza da fé, com a pureza dos costumes, com a fiel observância da lei e caridade evangélicas, reparar todos os pecados cometidos por nós e por nossos próximos, impedir, por todos os meios, novas injúrias à vossa divina Majestade e atrair ao vosso serviço o maior número possível de almas.

Recebei, ó Jesus de Infinito Amor, pelas mãos de Maria Santíssima Reparadora, a espontânea homenagem deste nosso desagravo, e concedei-nos a grande graça de perseverarmos constantes até a morte no fiel cumprimento dos nossos deveres e no vosso santo serviço, para que possamos chegar todos à Pátria bem-aventurada, onde vós, com o Pai e o Espírito Santo, viveis e reinais, Deus, por todos os séculos dos séculos. Amém.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

ORÁCULO DAS ALMAS DO PURGATÓRIO (VII)

Monsenhor Louvet, na sua obra 'Le purgatoire d’ápres les revélations des Saints', narra um fato prodigioso da proteção das almas aos que a elas socor­rem com sufrágios.

Um padre italiano, Luiz Monaci, religioso dos Clérigos Menores, era um fervoroso devoto das al­mas. Em toda parte e em todas as ocasiões procura­va meios de ajudar as benditas almas sofredoras. Em uma noite teve de viajar e atravessar sozinho uma planície deserta e perigosa, porque infestada de bandidos e salteadores, os quais já haviam tirado a vida a muita gente para roubar. 

Pelo caminho, o bom pa­dre não perdia tempo: ia recitando piedosamente o rosário de Maria pelas almas do purgatório. Ao avis­tar de longe o pobre sacerdote sozinho e desprovido de armas, um grupo de bandidos preparou-se para o assaltar e puseram-se de emboscada. Qual não foi o espanto de todos quando ouviram o soar de trombetas e um grupo de soldados que marchava armado aos lados do padre. Aterrorizados, esconderam-se os bandidos; pensando que os soldados tinham vindo para prendê-los. 

Viam, entretanto o padre muito tranquilo a caminhar, recitando o rosário. Saindo dessa região, o padre entrou em uma hospedaria para cear. Enquanto ceava, dois dos bandidos se aproximaram dele e perguntaram curiosos: 'Que padre é este que anda acompanha­do pelas estradas de soldados que o protegem?' — 'Aqui não chegou soldado algum e este padre aqui nunca andou assim em viagem'.

Os bandidos, furiosos, procuraram entrar em pa­lestra com o sacerdote e perguntaram-lhe do bata­lhão que o escoltava — 'Meus filhos, eu ando sozinho pelos caminhos. Só tenho um companheiro, o meu rosário, que recito sempre pelas santas almas do purgatório para que elas me protejam. — 'Pois bem, meu padr'e, confessa um bandido, 'estas almas vos salvaram. Somos bandidos e estávamos na estrada prontos para vos despojar e matar. E só não o fizemos porque um batalhão vos seguia pela estrada, e, aterrorizados, fugimos e viemos aqui curiosos saber do que se tratava. Cremos que as almas das quais sois tão devoto vos salvaram da morte. Tocados pela graça, ali mesmo os bandidos de joelhos pediram perdão dos pecados e confessaram-se humildemente.

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Um príncipe polonês, incrédulo e muito conhe­cido pelo seu materialismo, havia escrito um livro contra a imortalidade da alma. Estava já pronto o livro e prestes a entrar no prelo, quando ao passear pelo jardim veio-lhe ao encontro uma pobre mulher e banhada em lágrimas lançou-se aos seus pés, dizen­do: 'Meu caro senhor, meu marido morreu. A sua alma deve estar no purgatório e há de sofrer muito. Eu sou muito pobre, não tenho dinheiro para a es­pórtula de uma Missa por sua alma. Tenha a carida­de de me dar uma esmola para mandar celebrar uma Santa Missa pela alma de meu marido'.

O incrédulo príncipe teve pena da pobre mulher, e embora não acreditasse na imortalidade da alma e combatesse toda crença, levou a mão ao bolso e en­controu uma moeda de ouro. Deu-a logo à mulher. A pobrezinha, radiante de alegria, foi logo à primeira igreja e encomendou diversas missas pela alma do sau­doso esposo. 

Cinco dias depois, o príncipe relia os manuscritos do seu livro já em vésperas de ser pu­blicado — o terrível livro contra a imortalidade da alma. De repente, levantando a cabeça, deu com os olhos num homem misterioso que lhe parou em frente à mesa de trabalho do escritório. Era um camponês. 'Príncipe', disse o desconhecido, 'venho agra­decer-lhe. Sou o marido daquela pobre senhora que há poucos dias pediu a Vossa Alteza uma esmola para mandar celebrar missas pela alma do esposo falecido, pela minha alma. A caridade de Vossa Alteza foi tão bem aceita de Deus, que me foi permitido vir até vós para agra­decer tão grande benefício'.

Diante disto o príncipe, comovido, logo se converteu, rasgou os originais do livro ímpio que havia escrito, lançando-o ao fogo e tornou-se um bom cristão até a morte.

(Excertos da obra 'Tenhamos Compaixão das Pobres Almas!' de Monsenhor Ascânio Brandão, 1948)