sexta-feira, 14 de novembro de 2014

HORA SANTA DE NOVEMBRO


'Eis o Homem'. Tenho aqui o Homem de todas as dores, o Salvador Jesus, diante dessa Hóstia. Dobremos o joelho e O adoremos na suave e vencedora majestade desse mistério. Oh vem seguramente em nossa procura, já que no Paraíso tem legiões de anjos. Olhai-O, acercai-O como Lhe viu um dia Sua serva Margarita Maria. Vem sem fulgores de sol, sem diadema, de mãos atadas, perseguido... Traz a alma abrumada de angústias. Carregados de lágrimas os olhos. Procura um horto de paz onde orar em Sua agonia, e veio aqui, trazendo-nos uma confidência de caridade infinita, e de infinita tristeza. 

Calai, irmãos, e no silêncio da alma, esquecidos do mundo, separados por um momento dos mesquinhos interesses da terra. Ouvi ao Senhor Jesus nesta Hora Santa. Contemplai-O sob a figura dolorida, ensanguentada do Homem, tal como se apareceu em Paray-le-Monial (França) a seu primeiro apóstolo e confidente, para reclamar de Seus amigos um amoroso desagravo. 'Oh, bom Jesus: ao começar esta Hora Santa, deixa-nos beijar com delíquios de amor, com paixão da alma, com embriaguez do céu, a ferida encantadora de Vosso lado, e permiti-nos chegar, por meio desse ósculo ditoso, até o mais recôndito de Vosso divino e agonizante Coração!'

(Apresentai-Lhe o pedido íntimo que quereis fazer-Lhe nesta Hora Santa) 

Voz do Mestre 

Filhinhos Meus, quereis presentear um asilo de amor, um casaco de fidelidade a vosso Deus, perseguido pelo furacão maldito da culpa? É verdadeiro que não vês hoje em dia Meu corpo feito pedaços. Mas crede que não cessaram os crudelíssimos açoites. Não vês também que o pranto inunda Minha face. Com que furor penetram em Minha fronte os espinhos! Não está à vista o pesar mortal e a agonia do Getsêmani; Mas, ai, suas indizíveis amarguras enchem até as bordas o cálice de Meu abandonado Coração.
O pecado não dá trégua às Minhas dores. Como uma torrente de inquietude, Me persegue faz vinte séculos seguindo Meus passos, iracundo... Quer devorar a Obra de Meu sangue; Quer condenar as almas. Que pude fazer por Meu rebanho que não o tenha feito? O sacrifício do Meu corpo, da Minha alma, do Meu Coração; o holocausto do Calvário e da Eucaristia, tudo está consumado. E, contudo, a culpa avança, como hálito do inferno, penetra nas consciências, mata nelas Meu amor. E a glória de Meu nome... 

Abri-me cedo, vocês Meus amigos, abri-me o refúgio carinhoso de vossos corações. Ponde-Me ao aconchego da noite fria, escura, do pecado que envolve ao mundo. Volvei a Mim, filhinhos Meus, envolvei-Me com caridade filial os braços. Não é a recordação do Calvário o que Me fere. É o pecado de hoje que atravessa sem piedade Meu desolado Coração! Vede, estou chorando agora Minhas tristezas; estou desafogando entre vocês a tempestade das Minhas dores. E no mesmo instante, milhares de flechas se fincam na chaga sangrenta de Meu peito! Oh! dai albergue de caridade e de ternura, em vossas almas compassivas, a este Jesus, o eterno ultrajado e perseguido da culpa. 

(Pausa) 
A alma 

Jesus, Rei dos altares e Soberano das almas: vem e assenta Vossos domínios nestes corações. Não serás entre nós o hóspede, senão o Pai e o Monarca. Não o peregrino, senão o Redentor desagravado e o Senhor mil vezes abençoado. Vem... E se é constante a ofensa da culpa, mais constante ainda tem de ser a homenagem de nosso humilde desagravo. Abre Vossa prisão, Senhor Sacramentado, e que os anjos que rodeiam Vosso pobre tabernáculo se unam aos amigos leais de Vossa Eucaristia, para dizer-Vos:

(Todos em voz alta) 

Coração Santo, Vós reinarás! 
Não obstante os esforços desesperados do inferno, que almeja o infortúnio eterno das almas. 
Coração Santo, Vós reinarás! 
Apesar da fragilidade humana, que impele a tantos pela beira do abismo. 
Coração Santo, Vós reinarás!
Não obstante a fúria de tantos inimigos de Vossa moral intransigente e de Vossos dogmas invariáveis. 
Coração Santo, Vós reinarás! 
Apesar dos ataques com que a razão e as sabedorias vãs da terra se alçam para derrubar- Vos do altar. 
Coração Santo, Vós reinarás! 
Não obstante a licença vergonhosa, que muitos pretendem erigir em lei natural da consciência. 
Coração Santo, Vós reinarás! 
Apesar do artificio com que se trama noite e dia na contramão da Igreja, do lar e da infância. 
Coração Santo, Vós reinarás! 
Não obstante a sacrílega legalidade de tantos atentados de lesa majestade divina. 
Coração Santo, Vós reinarás! 
Apesar do ódio dos governantes, excitados pelo poder de Vossa humildade e de Vosso silêncio. 
Coração Santo, Vós reinarás! 
Não obstante os ataques irados da imprensa, das leis e das seitas, poderes conjurados em ruínas de Vossa glória e de Vosso reinado entre os homens. 
Coração Santo, Vós reinarás! 

(Pedi com todo fervor o reinado do Coração de Jesus) 

Voz do Mestre 

Por que, dizei-Me, confidentes muito amados, por que os filhos das trevas são com frequência mais prudentes e esforçados do que vocês, os filhos de Minha dor e da luz? Vede-os a Meus inimigos, perpetuamente afanados em isolar-Me no Sacrário, e depois, em derrubar Meu altar. Não se dão descanso no propósito de anular Minha lei, de dispersar Meu sacerdócio e de aniquilar-Me nas consciências dos homens... 

E vocês... E tantos dos Meus, que fizestes? Como não pudestes velar uma hora comigo? E por cansaço, por preocupações terrenas. Por debilidade de caráter. Por falta de amor a vosso Deus e Mestre, descansastes, enquanto Eu agonizava. Dormíeis calmos, diante o vosso Salvador agonizante e a multidão inimiga que vinha prender-Me. Não teríeis feito assim, seguramente, a vossos pais, a vossos irmãos, aos amigos íntimos de vosso coração. 

E para Mim, só para Mim, por que não tivestes fineza nem resolução no amor? Prometestes-Me generosidade. Abençoei e aceitei vossa boa vontade. E, há pouco, desfalecestes e fui esquecido. Perdoei-vos tantos desvios, esqueci tantos esquecimentos. E vocês, os de Minha casa, viveis com frequência num sopro de calma indiferença que Me magoa cruelmente. Um sonho de apatia, de egoísmo, de desamor por Minha pessoa vos prende. Levantai-vos já; acordai desta indiferença; acerca-se o inimigo que traz o ultraje para o vosso Deus, e para vocês, as correntes e a morte. Chegou a hora milagrosa de uma sincera conversão. Oh! vinde e acompanhai-Me, se preciso fora, até o Calvário! Não queirais abandonar-Me, ovelhinhas Minhas, quando ferido estais o vosso Pastor... 

(Pausa) 

A alma 

Que tenho eu, oh, Deus escarnecido, que Vós não me tenhais dado? Alentai-me, Jesus, e faz que Vos sigais, sem vacilações, nas doces exigências de Vossa graça e de Vosso amor. Que valho eu, se não estou ao Vosso lado? E porque reconheço meu nada e minha impotência, rogo-Vos não queirais deixar-me longe da Vossa mão, não consintais que me afaste por um dia do Sacrário. Perdoai-me os erros que contra Vós cometi. São tantas as fraquezas de meu coração... Perdoai-as e esquecei-as. Pois, o muito sangue que derramaste, e a acerba morte que padeceste, não foi pelos anjos que Vos aclamam, senão por mim e por tantos mornos e indolentes no exercício de Vosso amor, que Vos desolam e Vos ofendem... 

Por isso, nesta Hora Santa, ao renovar os propósitos de fervor em Vosso serviço, consenti que Vos diga com dor da alma: 'Se Vos neguei, deixai-me reconhecer-Vos; se Vos injuriei, deixai-me aclamar-Vos; se Vos ofendi, deixai-me servir-Vos, porque é mais morte do que vida a que não está empregada no santo serviço de Vossa glória e para consolo e triunfo do Vosso Divino Coração. 

(Confessai-Lhe vossa indiferença e pedi fervor perseverante em Seu serviço) 

Voz do Mestre 

Quantos sois os que velais comigo nesta Hora Santa? É verdadeiro que é grande vosso amor. Ah, sim, mas imenso, insondável é o amargo oceano de delitos e de orgias, que, nesta mesma hora, está saturando de tristeza mortal Meu Coração. Que frenesi de pecado; que desenfreio no redemoinho humano que vai passando agora mesmo ante Meus olhos! Oh, que cenas de morte, que espetáculos de inferno. Que vertigem de paixão sensual no teatro! O grande mundo aplaude e ri ante um palco onde a Mim se Me flagela... 

Se soubésseis como Me despedaça a alma dolorida a grande mentira que chamam civilização moderna. Ah, quantas festas de Meus filhos são o escárnio e o Calvário de seu Pai e Salvador! Só vocês, Meus amigos, podeis adivinhar o pesar deste agonizar perpétuo num patíbulo, levantado pelos Meus. Corno se apresentam, à  Minha vista, as grandes capitais... orgulhosas como Nínive... desavergonhadas como a Babilônia. Nelas, meu Evangelho é um exagero intolerável. 

Vocês, Meus consoladores, que penetrastes tão adentro em Minhas tristezas, ponde um bálsamo em Minha ferida. Consertai, vocês, essa embriaguez culpada e aplacai, com uma prece fervorosa, o clamor que, nesta mesma noite, em centenas de salas, de banquetes, de festas, de bailes e teatros, se levanta como um cobertor de lodo, achincalhando a santidade do Meu Evangelho e a tez imaculada da Hóstia. 

A alma 

Oh, sim, Mestre, baixeis de uma vez fogo do céu, que purifique, que perdoe e salve a milhares de infiéis, que vivem sem amor, amando loucamente a matéria e o abominável. Para tantos, que esbanjam dinheiro e juventude na dissipação de prazeres mundanos que Vos ofendem... 

(Todos, em voz alta) 

Misericórdia, e os salve Vosso doce Coração! 
Para aqueles que labutam na tolerância aos pecados públicos e na profanação da consciência e dos sentidos... 
Misericórdia, e os salve Vosso doce Coração! 
Para os pervertedores de almas, que na imprensa e nos livros se enriquecem, condenando os seus irmãos... 
Misericórdia, e os salve Vosso doce Coração! 
Para aqueles que têm o tristíssimo negócio de excitar paixões na cena teatral, onde tudo é permitido, a pretexto de arte... 
Misericórdia, e os salve Vosso doce Coração! 
Para tantos débeis que, ignorando sua consciência, cooperam sem arrependimento no escândalo social de modas e teatros... 
Misericórdia, e os salve Vosso doce Coração! 
Para tantos que, relaxado o seu critério de cristãos, não veem mal nenhum no atropelo aos Vossos santos mandamentos... 
Misericórdia, e os salve Vosso doce Coração! 
Para aqueles que, no trabalho, deveriam evitar ao Senhor gravíssimas ofensas e não o fazem, por timidez ou por afetação mundana...
Misericórdia, e os salve Vosso doce Coração! 

(Façamos um ato de desagravo pelos pecados públicos e sociais com que se ofende a Jesus Cristo no mundo inteiro) 

Voz do Mestre 

Povo meu, herança preciosa de Meu Coração, que te fiz? Ou em que te tenho contristado? Respondei-Me! Desde aqui na Hóstia, contemplo, noite e dia, o lar dos Meus carinhos, o acampamento de Israel de Minhas ternuras, Meus pequenos servos que Me juraram amor eterno. Desde aqui ponho os olhos no coração de Meus amigos, dos que eu quis com predileção. Desde aqui sigo os passos dos que tenho predestinados ao banquete de Meu amor e de Minha glória... 

Ai, quantos deles arrancam de Meus Olhos as lágrimas que chorei sobre Jerusalém, Minha pátria.  Quantos que foram íntimos de Minha alma são ingratos! Quantos gozam longe de Meu lado, muito longe. Os bens de talento, estimação e de fortuna com que os cumulei para fazê-los santos. Seus tronos estão colocados entre os príncipes do reino dos céus! Oh, quantos desses tronos, perdidos por ingratidão, os darei a pecadores arrependidos, que ouviram Meu chamado na agonia!

Para esquecer principalmente esse pecado, o mais amargo, para adoçar o cálice da ingratidão humana, pedi a Meu servo esta companhia deliciosa da Hora Santa; aqui se convertem em lágrimas de bênção, de amor, as que chorei no desamparo dos que eram Meus, na fuga de Meus filhos. Entre o vestíbulo e o altar, gemei, consoladores Meus. Tenho sede dos consolos que Me negam os ingratos de Minha própria casa... 

A alma 

Divino Salvador Jesus, dignai-Vos olhar com Olhos de misericórdia a Vossos filhos que, unidos por um mesmo pensamento de fé, esperança e amor, vêm deplorar ante Vosso Sacratíssimo Coração suas infidelidades e as de seus irmãos culpados. Oxalá possamos, com nossas solenes e unânimes promessas, comover esse Divino Coração e obter dele misericórdia para nós, para o mundo infeliz e criminoso e para todos aqueles que não têm a dita de Vos conhecer e amar! Sim, de hoje em adiante o prometemos todos: 

(Todos, em voz alta) 

Pelo esquecimento e ingratidão dos homens... 
Consolar-Vos-emos, Senhor. 
Por Vosso desamparo no sagrado Tabernáculo... 
Consolar-Vos-emos, Senhor. 
Pelos crimes dos pecadores... 
Consolar-Vos-emos, Senhor. 
Pelo ódio dos ímpios... 
Consolar-Vos-emos, Senhor. 
Pelas blasfêmias que se proferem contra Vós... 
Consolar-Vos-emos, Senhor. 
Pelas injúrias feitas à Vossa Divindade... 
Consolar-Vos-emos, Senhor. 
Pelas imodéstias e irreverências cometidas em Vossa adorável presença... 
Consolar-Vos-emos, Senhor. 
Pelas traições de que és vítima adorável... 
Consolar-Vos-emos, Senhor. 
Pela frialdade da maior parte de Vossos filhos... 
Consolar-Vos-emos, Senhor. 
Pelo abuso de Vossas graças... 
Consolar-Vos-emos, Senhor. 
Por nossas próprias infidelidades.. 
Consolar-Vos-emos, Senhor. 
Pela incompreensível dureza de nossos corações... 
Consolar-Vos-emos, Senhor. 
Por nossa tardança em amar-Vos... 
Consolar-Vos-emos, Senhor. 
Por nossa indiferença em Vosso santo serviço... 
Consolar-Vos-emos, Senhor. 
Pela amarga tristeza que Vos causa a perdição das almas... 
Consolar-Vos-emos, Senhor. 
Pelas longas esperas muito próximas de nossos corações... 
Consolar-Vos-emos, Senhor. 
Pelos amargos desprezos com que és recusado... 
Consolar-Vos-emos, Senhor. 
Por Vossas queixas de amor... 
Consolar-Vos-emos, Senhor. 
Por Vossas lágrimas de amor...
Consolar-Vos-emos, Senhor. 
Por Vosso cativeiro de amor... 
Consolar-Vos-emos, Senhor. 
Por Vosso martírio de amor... 
Consolar-Vos-emos, Senhor. 

Oh, Jesus! Divino Salvador nosso, de cujo Coração se desprendeu esta dolorosa queixa: 'Consoladores procurei e não os achei'. Dignai-Vos aceitar o modesto tributo de nossos consolos, e assisti-nos tão eficazmente com o auxílio de Vossa divina graça, que, fugindo cada vez mais, no vindouro, de tudo o que pudesse desagradar-Vos, mostremo-nos, em toda circunstância, tempo e lugar, sermos Vossos filhos mais fiéis e obedientes. Pedimos-Vos, que, sendo Deus, viveis e reinais pelos séculos dos séculos. 

(Pedi-Lhe perdão pelos ingratos, que são tantos...) 

Voz do Mestre   

Não Me pergunteis, almas reparadoras, por que vivo perpetuamente crucificado pelas mãos de Meus escolhidos. O mundo chegou a convencer-se que mereço realmente a vergonha e a morte do patíbulo. Ai! são, em realidade, tantos os sábios, os honrados e os poderosos que repetem com cruel tranquilidade estas palavras de Meus acusadores a Pilatos: 'Se este Nazareno não for um malfeitor, não o teríamos trazido acorrentado! 

Ah, sim! E porque sou um malfeitor para a multidão, desenfreada em moral e em pensamento, condena-Me a autoridade. Porque sou um malfeitor, condena-Me os Tribunais. Porque sou um malfeitor, sou flagelado pela imprensa; tratam-Me como vilão e como louco, por decreto de Meus juízes. Entregam-Me à população, em resguardo aos interesses nacionais. Eles, dirigentes e legisladores, lavam as mãos por razões de liberdade, de civilização e de justiça; condenam-Me ao desterro e à Cruz por vias da mais estrita 'legalidade'... 

Este é o grande delito de hoje, filhos Meus: achincalhar-Me em nome da razão e do direito, proscrever-Me em nome da dignidade e por lei das nações. Sigo sendo verme e não Homem, o verme pisoteado da terra. Oh, vocês os fidelíssimos, aclamai-Me, para aplacar o grito dessa multidão que, desde as alturas, assalta o Meu trono e quer sortear, zombadora, o manto de Minha realeza, abençoai-Me com amor. 

A alma 

Acercai-Vos, dulcíssimo Mestre. E aqui, no meio dos Vossos, estreitando-Vos os Vossos filhos, recebei o diadema que quiseram arrebatar-Vos os que, sendo pó da terra, chamam-se poderosos, porque, em Vossa humildade, creem injuriar-Vos do alto... Adiantai-Vos triunfante nesta calorosa congregação de irmãos. Não apagueis as feridas de Vossos pés nem de Vossas mãos, deixai ensanguentada a Vossa cabeça. Ah, e não fechais, sobretudo, a profunda e celestial ferida de Vosso peito. Assim, Rei de sangue, assim... Jesus, o mesmo da noite horrível da Quinta-feira Santa, apresentai-Vos, descei e recolhei o hosana desta guarda de honra que vela pela glória do Coração de Cristo Jesus, seu Rei! 

(Todos, em voz alta) 


Viva Vosso Sagrado Coração! 
Os reis e dirigentes poderão conspurcar tabelas da Lei mas, ao cair do trono do comando na tumba do esquecimento, Vossos súditos seguiremos exclamando: 
Viva Vosso Sagrado Coração! 

Os legisladores dirão que Vosso Evangelho é uma ruína, e que é dever eliminá-lo em beneficio do progresso, mas, ao cair despencados na tumba do esquecimento, Vossos adoradores seguiremos exclamando: 
Viva Vosso Sagrado Coração! 

Os ricos, os altivos, os mundanos, dirão que Vossa moral é de outro tempo, que Vossas intransigências matam a liberdade da consciência, mas, ao confundir-se com as sombras da tumba do esquecimento, Vossos filhos seguiremos exclamando: 
Viva Vosso Sagrado Coração! 

Os interessados em ganhar alturas e dinheiro, vendendo falsa liberdade e grandeza às nações, chocarão com a pedra do Calvário e da Vossa Igreja. E ao se penderem aniquilados à tumba do esquecimento, Vossos apóstolos seguiremos exclamando: 
Viva Vosso Sagrado Coração! 

Os herdeiros de uma civilização materialista, longe de Deus e em oposição ao Evangelho, morrerão um dia envenenado por suas maléficas doutrinas e ao caírem na tumba do esquecimento, amaldiçoados por seus próprios filhos, Vossos consoladores seguiremos exclamando: 
Viva Vosso Sagrado Coração! 

Os fariseus, os soberbos e os impuros terão envelhecido estudando a ruína, mil vezes decretada como falsa pela Vossa Igreja. E ao se perderem, derrotados, na tumba de um eterno esquecimento, Vossos escolhidos seguiremos exclamando: 
Viva Vosso Sagrado Coração! 

Oh, sim, que viva! E ao fazer fugir dos lares, das escolas, dos povos o anjo de trevas, afundado e acorrentado eternamente nos abismos, Vossos amigos seguiremos exclamando: 
Viva Vosso Sagrado Coração! 

Voz do Mestre 

Amei-vos até o excesso de um Calvário. Chegado ao seu cume, obedeci em silêncio e Me estendi no patíbulo afrontoso. E, desde então, aí estou à mercê de todos os meus verdugos, os sacrílegos. Se tantos dizem que não estou aqui na Hóstia, por que a achincalham e Me ferem? E se creem, por que Me ultrajam neste mistério em que amo com loucura, em que perdoo com inesgotável caridade?

Oh sabei-o: Minhas lágrimas deixaram impressão de dor nos caminhos, onde fui arrastado em milhares de profanações, desde a Quinta-feira Santa. Fui pisoteado com furor; Me arrojaram, entre blasfêmias, às chamas; sepultaram-me no lodo; fui atravessado com punhais em antros onde se trama, com sigilo, na Minha objeção. Ai! paga-se vil dinheiro e não faltam Judas que comunguem, para entregar-Me, com o beijo dessa comunhão, em mãos de Meus mortais inimigos.
O incêndio criminoso abrasou Meu Sacrário. Isto, em troca de ter deixado Meu Coração entre vocês, para abrasar o mundo no incêndio da salvadora caridade. Ah, e quantas vezes os infelizes, que cobiçam o metal dourado em que Me guardo, têm salteado a prisão de Meus amores. E fui arrojado sobre o chão, sem ter uma pedra consagrada em que reclinar Minha cabeça ensanguentada! Foi esta visão de horror a que feriu Meu Coração nas angústias de Getsêmani. Vós que passais, considerai e vede se há dor semelhante a Minha dor!

A alma 

Hosana, glória a Deus nas alturas. Glória, bênção e amor só a Vós, Senhor Sacramentado, só a Vós no incompreensível aniquilamento de Vossa Santa Eucaristia! Que Vos cantem os céus, porque Vós, o Deus do Tabernáculo, és a bem-aventurança do mesmo Paraíso! Que Vos cantem, Jesus-Hóstia, os campos, os mares, as neves e as flores, panorama de beleza criado para recrear Vossos Olhos, cansados de chorar solidão e ingratidões! Que Vos cantem, doce Prisioneiro, as aves e as brisas; que Vos cantem as tempestades; que Vos engrandeçam os soluços do coração humano e suas palpitações de alegria, a Vós, o Cativo do altar. Glória a Deus nas alturas; Glória, bênção e amor a Vós, Jesus Sacramentado, só a Vós, no incompreensível aniquilamento de Vossa adorável Eucaristia! 


(Rendei-Lhe uma completa reparação de amor pelo horrendo crime do sacrilégio com 
que se Lhe fere no altar; se possível, cante-se o 'Magnificat' com a Imaculada, em 
homenagem à Divina Eucaristia) 

Voz do Mestre 

Não vos afasteis, filhos de Meu Coração, sem recolher nesta Hora Santa um desafogo de dor, que só vocês, meus fidelíssimos, sabeis compreender em toda a sua amargura. Não é a profanação deste Tabernáculo o atentado mais cruel na objeção à minha soberania conspurcada; há outro sacrário mais valioso e do que é consciente na rejeição de seu Salvador: é o coração humano. E dizer que o amo tanto... 

Como o profanam milhares de cristãos com o veneno de um amor pagão. Esse coração deveria ser o cálice de todos meus consolos; o altar redentor de um mundo, que é infeliz porque não Me amou com amor de espírito, com o casto amor de Meu Evangelho. Nesse Coração, depositei Minhas lágrimas para purificá-lo. E depois, derramando chamas de Meu inflamado Coração, ofereci-lhe meu amor para acolher as suas ânsias de amar e ser amado... 

E não lhe basta esta infinita dignação de caridade. Procura as criaturas. E a Mim Me esquecem nesse delírio de prazer, que não é nem amor, nem paz e nem vida. A Mim me deixam. E por isso, pobrezinhos, tantos sofrem, rasgada a alma, a fome insaciável das paixões vergonhosas. Os que tendes sede de amar vinde, vinde a Mim: Eu sou o amor que guarda os espinhos para si, e vos dá as suas flores. Os que sentis ânsias, necessidade de serem amados, vinde... E bebei até saciar-vos da fonte do Meu peito. Filhos Meus, dai-Me os vossos corações...
A alma 

Jesus Sacramentado, exercita em nós Vossos direitos, pois somos Vossos reparadores. Vem! Não peças, não mendigues. Vem! Toma com amabilíssima violência o que é Vosso. Toma nossos corações. Sim, são pobres. Vós sabereis enriquecê-los; damos-Vos por mãos de Vossa doce Mãe e de Vossa serva Margarita Maria. Rogamo-Vos que os aceites em demanda urgente do reinado de Vosso Coração Divino. Não queirais eliminá-los porque um dia se mancharam, quando Vós perdoais, esqueceis para sempre... 

A Igreja perseguida, nosso lar tão necessitado, os pecadores, Vosso Vigário, o Purgatório de tortura purificadora, as almas dos justos, todos, todos esperamos Vossa onipotência torrentes de graça. Ah! E em especial lembrai-Vos dos que, como São Gabriel Arcanjo, viemos dar-Vos amável refrigério em Vossa agonia. Aceita seus interesses, suas penas, suas esperanças, sua vida; depositam-no tudo na chaga-paraíso que nos descobriu o soldado. Recolhe agora, Senhor, nossa oração de despedida: 

Coração agonizante de Jesus, estas almas Vos confiam seus espinhos... 
Coração amável de Jesus, estas mães Vos confiam seus esposos e o tesouro de seus filhos... 
Coração amante de Jesus, estes peregrinos Vos confiam seu porvir e todas as suas incertezas... 
Coração dulcíssimo de Jesus, estes pródigos Vos confiam sua debilidade e seu arrependimento.. 
Coração benigno de Jesus, estes Vossos amigos Vos confiam a paz e a redenção de suas famílias... 
Coração compassivo de Jesus, estes enfermos Vos confiam as doenças secretas e íntimas da consciência... 
Coração humilde de Jesus, estes adoradores Vos confiam seus anseios veementes pelo triunfo de Vosso amor na Santa Eucaristia... 

Coração Sacramentado de Jesus, em Vós confia o mundo, que corre desolado a refugiar- se da morte aí onde uma lança abriu as fontes da vida. Vem Jesus!. Seja nosso Rei nas tentações e ciladas que açoitam as sociedades e às almas: domina o furacão desde o Sacrário. Serena o céu ameaçador, com os fulgores de paz e as ternuras de Vosso onipotente Coração. 

Pai Nosso e Ave Maria pelas intenções particulares dos presentes. 
Pai Nosso e Ave Maria pelos agonizantes e pecadores. 
Pai Nosso e Ave Maria pedindo o Reinado do Sagrado Coração mediante a Comunhão frequente e diária, a Hora Santa e a Cruzada da Entronização do Rei Divino nos lares, sociedades e nações. 

(Cinco vezes) 

Coração Divino de Jesus, venha a nós o Vosso Reino! 

Súplica final ao Sagrado Coração de Jesus 

Esconde-nos, ó doce Salvador, no Sacrário de Vosso lado, chaga acendida de puro amor, e aí estaremos seguros. Elegemos o Vosso Coração por morada, na firme confiança que ele será nossa força no combate, o amparo de nossa fraqueza, nosso guia e luz nas trevas, o reparador de todas as nossas faltas e o santificador de nossas intenções e obras. Unindo-as todas às Vossas, nós as Vos oferecemos a fim de que nos sirvam de preparação contínua para receber-Vos no Sacramento de Vosso amor. 

Para honrar Vossa condição de Vítima neste mistério da fé, vimos também oferecer-nos em qualidade de hóstias, suplicando-vos que sejais Vós mesmos o sacrificador e que nos imoles no altar de Vosso Sagrado Coração. Ah! mas como somos tão culpados, rogamos-Vos, Senhor Jesus, que possais purificar-nos e consumir-nos com as chamas do Vosso Sagrado Coração, como um holocausto perfeito de caridade e de graça, para obter uma vida nova e poder então dizer em verdade: 'Nós nada temos que seja nosso; vivos ou mortos, Jesus é nosso tudo; nossa propriedade é ser inteira e eternamente de seu Divino Coração. Que venha a nós o Vosso Reino!" 

Fórmula de consagração individual ao Sagrado Coração de Jesus, composta por Santa Margarida Maria 

Eu (nome) Vos dou e consagro, ó Sagrado Coração de Jesus Cristo, minha pessoa e minha vida, minhas ações, penas e sofrimentos, para não querer mais servir-me de nenhuma parte de meu ser senão para Vos honrar, amar e glorificar. É esta minha vontade irrevogável: ser todo Vosso e tudo fazer por Vosso amor, renunciando de todo o meu coração a tudo quanto Vos possa desagradar. Tomo-Vos, pois, ó Sagrado Coração, por único objeto do meu amor, protetor de minha vida, segurança de minha salvação, remédio de minha fragilidade e de minha inconstância, reparador de todas as imperfeições de minha vida e meu asilo seguro na hora da morte. 

Sede, ó coração de bondade, minha justificação diante de Deus, Vosso Pai, para que desvie de mim Sua justa cólera. Ó coração de amor! Deposito toda a minha confiança em Vós, pois tudo temo de minha malícia e de minha fraqueza, mas tudo espero de Vossa bondade! Extingui em mim tudo o que possa desagradar-Vos, ou se oponha à Vossa vontade. Seja o Vosso puro amor tão profundamente impresso em meu coração, que jamais possa eu esquecer-Vos, nem separar-me de Vós. Suplico, por Vosso infinito amor, que meu nome seja escrito em Vosso coração, pois quero fazer consistir toda a minha felicidade e toda a minha glória em viver e morrer como Vosso escravo. Amém. 


(Hora Santa de Novembro, pelo Pe. Mateo Crawley - Boevey)

BREVIÁRIO DIGITAL - ORAÇÕES E MEDITAÇÕES (IV)

(O Pequeno Missionário, P. Guilherme Vaessen, Ed. Vozes, 1953, p.70)

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

SOBRE A IMPUREZA SACERDOTAL

'Volto a falar novamente dos clérigos e ministros da Igreja. Quero lamentar-me contigo sobre outros defeitos, dos quais ainda não falei. São aqueles vícios, que uma vez te mostrei na figura de colunas: a impureza, o orgulho e a ganância. Com eles, vendem até a graça do Espírito Santo! São vícios interdependentes e têm uma base comum, o egoísmo. Tais colunas, enquanto permanecem de pé, sem serem derrubadas pelas virtudes, tornam a pessoa obstinada nos demais pecados. Como disse antes, todos os pecados nascem do egoísmo; o mais grave é o orgulho, que destrói a caridade. O orgulho conduz ainda a pessoa à impureza e à ganância. São esses os três laços que ligam os ministros maus ao demônio'.

...

'Filha querida! Já tratei um pouco sobre a maneira como os clérigos mancham o corpo e o espírito na impureza. Para que conheças melhor a minha Misericórdia e sintas maior compaixão por esses infelizes, quero acrescentar quanto segue. Há ministros tão endemoniados que, além de não respeitarem a eucaristia e desprezarem a dignidade que lhes dei, fora de si se apaixonam por determinada pessoa, e, não conseguindo realizar seus desejos, recorrem à magia.

Usam então o alimento da eucaristia como instrumento para concretizar seus pensamentos desonestos e más intenções. Relativamente aos fiéis, que deveriam pastorear e alimentar quanto ao corpo e quanto à alma, apenas os atormentam de diversos modos. Mas não vou me ocupar disso; não quero que sofras em demasia. Como te mostrarei numa visão, os fiéis são abandonados a caminhar sem rumo, desorientados, fazendo o que não querem. Se tentam resistir, sofrem terrivelmente na própria carne. 

Pois bem, qual a causa de tudo isso e de outros males que conheces e que não é preciso recordar, senão a vida desonesta dos clérigos? Ó filha querida! atiram lama à minha carne que foi elevada acima dos anjos pela união em Cristo da natureza humana com a divina! Ó homem abominável e infeliz! Não homem, mas animal, que entregas às meretrizes teu corpo, por mim ungido e consagrado, e que fazes coisas ainda piores! 

No madeiro da cruz, meu Filho, sofrendo, curou a ferida de Adão herdada por ti e por todos os homens. Com seu sangue, Ele medicou pecados impuros e desonestos! O bom Pastor lavou as ovelhas no seu sangue e tu manchas as ovelhas que são tão puras, tudo fazes para atirá-las à lama. Deverias ser um espelho de honestidade e és um espelho de impureza. Fazes justamente o contrário daquilo que realizou o meu Filho, pois orienta para o mal os seus membros. Permiti que os olhos de Cristo fossem vendados para iluminar os teus, e tu, com olhares impuros, atiras fechas envenenadas contra a tua própria alma e contra o coração das pessoas a quem olhas. 

Deixei que Ele bebesse fel e vinagre e tu, qual animal desnorteado, saboreias alimentos delicados, tratando o estômago como a um 'deus'. Sobre tua língua passam palavras desonestas e vazias, quando- por meio dela- devias alertar o próximo, anunciar minha palavra e recitar o Ofício Divino com os lábios e o coração; vejo-te a jurar e imprecar como um desequilibrado, até blasfemando contra mim; permiti que as mãos do meu Filho fossem algemadas para libertar-te, a ti e a todos os homens, dos laços do pecado; e tu usas as mãos ungidas e consagradas em vista da distribuição da Eucaristia, para toques indecorosos; todas as ações, nas quais usas as mãos, estão corrompidas e orientadas para o mal! Ó infeliz! 

E dizer que eu te pusera em tão alta dignidade para servir a mim e à humanidade! Foram os pés de Cristo transpassados pelos cravos, deles fazendo eu um degrau para que chegasses a contemplar os segredos do seu Coração. Transformei seu Coração numa dispensa, onde todos podeis experimentar o amor inefável que vos dedico; ali encontras o sangue, por ti derramado como purificação dos pecados, mas tu fazes do teu coração um templo para o diabo. Tua afetividade, simbolizada nos pés, só me oferece maldade, uma vez que te conduz unicamente a lugares de pecado. Assim, ofendes-me com todo o corpo. 

Fazes exatamente o contrário do que fez Jesus, bem naquele ponto em que tu e os demais homens deveriam imitá-lo. À semelhança de instrumentos musicais, teus sentidos emitem sons desafinados, uma vez que as três faculdades da alma se reuniram em torno do demônio, em vez de o fazerem no meu ser. Tua memória deveria estar cheia com a lembrança dos meus favores; no entanto só contém desonestidades e muitos outros males; quanto à inteligência, era teu dever fixá-la mediante a fé em Cristo crucificado, de quem és, ministro, mas vaidosamente lhe deste por objeto os prazeres, a procura de altas posições sociais, a riqueza mundana; tua vontade haveria de repousar diretamente em mim, mas tu a fizeste amar as criaturas e teu próprio corpo. 

Tens mais amor aos animais do que por mim. Prova disso é a tua impaciência quando te privo de algo, e teu desagrado ante o próximo ao julgares que te prejudicou em alguma coisa. Quando o acusas, revelas que já perdeste o amor por mim e por ele. Ó infeliz ministro, és sacerdote do meu grande amor! A ti foi confiado o fogo sagrado que é minha caridade divina, o abandonas por afeições desordenadas! Nem mesmo podes suportar, em nome dela, um pequeno prejuízo que te cause alguém'.

...

'Filha querida, disse tais coisas para que melhor compreendas a dignidade dos meus ministros e chores com mais amargor os seus pecados. Se os ministros meditassem sobre a própria dignidade, não viveriam em pecado mortal, não manchariam sua alma. Se eles não me ofendessem, se não pecassem contra a própria dignidade, se não entregassem até o corpo para ser queimado, mesmo assim não me agradeceriam suficientemente pelo dom que receberam. Neste mundo é impossível uma dignidade maior. São ungidos meus, meus cristos, postos por mim na função de ministros, flores perfumadas na hierarquia da santa Igreja. Nem os anjos possuem dignidade igual a esta concedida aos homens, na pessoa dos sacerdotes.

Coloquei-os como anjos na terra, e como tais devem viver. De todos os homens exijo pureza e amor; todos devem amar-me e amar o próximo; todos devem socorrer o irmão naquilo que lhes for possível com orações e obras de caridade, assim como já disse em outro lugar, ao tratar desse assunto. Mas dos meus ministros peço pureza maior, maior amor por mim e pelos homens. Que distribuam o corpo e sangue do meu Filho com grande desejo da salvação da humanidade, para glória do meu nome. Da mesma forma como eles querem limpo o cálice usado no sacrifício eucarístico, também eu quero que sejam puros os seus corações, suas almas, seus pensamentos. 

Igualmente seus corpos - instrumentos da alma - hão de ser possuídos em perfeita pureza. Não quero que se envolvam na lama da luxúria, nem que se mostrem inflados de orgulho na procura de cargos prelatícios ou cheios de rancor por si mesmos e pelos outros. A insatisfação pessoal costuma manifestar-se sobre os outros; quando impacientes, os ministros terminarão dando maus exemplos, não se preocuparão em livrar os homens das mãos do demônio, não se dedicarão com esforço ao ministério do corpo e sangue do meu Filho, não distribuirão a luz da eucaristia na forma explicada.

Filha querida, compreendes quanto o pecado contra a natureza me desagrada em qualquer pessoa; mas entenderás também que muito mais me desgosta quando é praticado por aqueles que escolhi para a vida de continência. Uns abandonaram o mundo e se fizeram religiosos; outros são diocesanos. Entre eles acham-se os ministros. Jamais entenderás como tal vício, cometido por eles, ofende-me muito mais do que quando feito pelos leigos em geral e pelos leigos consagrados. Os ministros são lâmpadas colocadas sobre o candelabro e devem iluminar pelo ministério eucarístico, pela virtude, pelo bom exemplo. Mas de fato espalham a escuridão. Vivem na escuridão'. 

(Revelações de Deus Pai à Santa Catarina de Sena)

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

TIPOS DE CRUZES (II)

16. CRUZ ALÇADA OU EGÍPCIA


De interpretação variada, esta cruz seria um símbolo da imortalidade e da vida eterna. O laço superior seria o símbolo da divindade governando a humanidade e tudo que é terreno, simbolizado pelo T inferior. O laço, o braço horizontal e o braço vertical inferior são interpretados também como símbolos do sol, do céu e da terra, respectivamente, ou ainda, da razão, da vontade e da ação, respectivamente.

17. CRUZ DE SANTO ANTÔNIO


Variante da anterior, na forma de uma cruz latina e a mesma simbologia da vida eterna (laço superior), comumente adotada pelos cristãos primitivos.




18. CRUZ DA EVANGELIZAÇÃO




Representada por uma cruz latina encimando um círculo preenchido que simboliza o globo terrestre (o mundo).







19. CRUZ TRIUNFANTE




Constitui uma variante do símbolo da evangelização mundial, representando o reinado trinfante de Jesus Cristo sobre o mundo. 



20. CRUZ DOS APÓSTOLOS



Representada por uma cruz latina com 12 círculos menores (os doze apóstolos) ladeando um círculo maior (Jesus Cristo) situado na junção dos dois braços da cruz.




21. CRUZ DOS EVANGELISTAS



Representada por uma cruz latina encimando uma plataforma constituída por quatro bases, simbolizando os quatro evangelistas.


22. CRUZ DO CALVÁRIO


Representada por três cruzes latinas (três escalas diferentes da subida do Senhor ao Calvário) apoiadas sobre o símbolo do Gólgota.




23. CRUZ PATRIARCAL


É uma cruz eclesiástica, adotada por cardeais e arcebispos como símbolo de distinção hierárquica. Apresenta como feição particular um segundo braço superior, menor, que representa a inscrição que Pilatos ordenou colocar na cruz de Jesus. 


24. CRUZ DOS ARCANJOS




Representada por uma cruz latina encimando uma plataforma constituída por três bases, simbolizando os três arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael.



25. CRUZ TRIPLA OU PAPAL




É uma cruz encimada por três braços horizontais de diferentes dimensões, simbolizando a divindade, a Igreja e a humanidade, constituindo o emblema do papado.



26. CRUZ ORTODOXA

O braço superior representa a inscrição que Pilatos ordenou colocar na cruz de Jesus. Os braços intermediário e inferior representam os travessões da crucificação das mãos e para apoio dos pés de Jesus, respectivamente. 



27. CRUZ ORTODOXA ESLAVA

O braço superior representa a inscrição que Pilatos ordenou colocar na cruz de Jesus. O braço inclinado inferior está provavelmente associado à cruz de Santo André (em forma de X), uma vez que foi, por meio deste apóstolo, que o cristianismo foi introduzido nos países eslavos.


28. CRUZ DAS CATACUMBAS

Constituída por duas cruzes latinas, simétricas em relação ao travessão horizontal maior. Representa a cruz de Cristo (superior) se impondo à cruz do mal (invertida e inferior). Nesta simbologia de opostos, representa o bem e o mal, o céu e a terra ou ainda o céu e o inferno.


29. CRUZ NATALINA

Cruz em forma de estrela que simboliza o nascimento de Jesus.





30. CRUZ ESTRELA DO ORIENTE


Variante da cruz natalina, possui também forma de estrela que simboliza o nascimento de Jesus.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

NOSSA SENHORA DE TODOS OS NOMES (2)

2. NOSSA SENHORA DA ESCADA


Este estranho título outorgado a Nossa Senhora nasceu da devoção dos marinheiros portugueses, particularmente durante a época das grandes navegações e descobrimentos realizados por Portugal durante os séculos XV e XVI. Para a proteção dos navegantes em face dos perigos do mar, uma imagem de Nossa Senhora da Conceição, provavelmente do século XII, foi encerrada em uma antiga ermida de Nossa Senhora da Corredoura, situada em Lisboa, junto ao Convento de São Domingos de Lisboa, às margens do Rio Tejo. Como a capela estava localizada a uma certa elevação em relação à margem do rio, o acesso a ela era feito por meio de uma pequena escada com 31 degraus.

Com o tempo, a capela passou a ficar conhecida como sendo de Nossa Senhora da Conceição da Escada, para distingui-la de muitas outras igrejas e capelas existentes de mesmo nome, por se tratar de devoção muito difundida em Portugal. Mais tarde, a expressão de fé daquela gente resumiu a devoção à Nossa Senhora da Escada. A capela tornou-se se rapidamente um grande centro de devoção mariana, com festas anuais e procissões náuticas de diferentes naturezas.

Em 1531, um terremoto destruiu a capela, preservando o altar e a imagem da Virgem. A capela foi reedificada e retomado o culto mariano local, que se perdeu muito, no entanto, no século seguinte, com o declínio dos grandes eventos das navegações portuguesas. Em 1755, um novo terremoto ocorreu em Lisboa, muito mais terrível que o anterior, destruindo completamente o pequeno templo sem, contudo, mais uma vez, destruir a imagem da Virgem. Nunca mais a capela foi reconstruída e a imagem preservada foi transferida primeiro para o Convento dos Cardais e depois, a partir de 1835, para o Convento de Jesus, sede da Paróquia de Nossa Senhora das Mercês, onde se encontra até hoje. 

O culto de Nossa Senhora da Escada foi trazido de Portugal para o Brasil e difundiu-se principalmente em São Paulo (há igrejas com esse culto à Nossa Senhora em Barueri e Guararema), Bahia e Pernambuco. Uma variante da devoção muito difundida refere-se ao culto à Nossa Senhora como 'escada' para se alcançar a santidade e o Céu. Em termos iconográficos, Nossa Senhora da Escada é representada segurando uma escada com a mão ou a tendo sob as mãos juntadas ou ainda pela imagem da Virgem encimando um altar em forma de escada com degraus, ladeados por anjos, conhecido como Scala Coeli (Escada do Céu) ou como Ara Coeli (Altar no Céu).

(igreja de Nossa Senhora das Mercês em Lisboa)

(imagem de Nossa Senhora da Escada, Escada/PE)

(imagem de Nossa Senhora da Escada, Guararema/SP)

domingo, 9 de novembro de 2014

TEMPLOS VIVOS DO ESPÍRITO SANTO

Páginas do Evangelho - Festa da Dedicação da Basílica de Latrão


Neste domingo, a Igreja celebra a  a festa da Dedicação da Basílica de São João de Latrão, primeira basílica da cristandade (proclamada pelo papa São Silvestre em 324), a catedral do papa até o exílio dos papas em Avignon, no século XIV. Ao dedicar uma festa solene ao primeiro santuário da cristandade, a Igreja nos confirma a sua unidade eclesial e nos lembra que todos nós, que somos a Igreja, em Cristo e por meio de Cristo, também somos santuários de Deus e templos vivos do Espírito Santo.

As leituras do Evangelho deste domingo são profundamente simbólicas da harmonia da construção da graça divina entre estes templos físicos e espirituais. A primeira leitura, tirada da profecia de Ezequiel (Ez 47, 1-2.8-9.12), mostra a sua visão diante o Templo de Jerusalém, de onde vê emanar um rio de águas puras que, derramadas sobre o mundo, fecunda as suas margens e produz fartura em abundância. Eis aí a imagem da fundação da Igreja Católica e da ação do Espírito Santo sobre o mundo: um rio de graças e mais graças capazes de santificar a humanidade inteira e produzir frutos de salvação eterna porque, em suas margens, 'crescerá toda espécie de árvores frutíferas; suas folhas não murcharão e seus frutos jamais se acabarão' (Ez 47, 12).

Na primeira carta aos coríntios (I Cor 3,9c-11.16-17), São Paulo ratifica que nós somos as pedras vivas da construção do templo espiritual do Santuário de Deus, que tem por pedra angular e por alicerce o próprio Cristo. Ai daqueles que, usurpando da graça do livre arbítrio, negam a sua realidade espiritual e convertem as suas vidas em construir templos de barro e produzir frutos sazonais, ditados apenas pelos interesses humanos. Serão réus e depositários da santa ira de Deus, porque 'se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá, pois o santuário de Deus é santo e vós sois esse santuário' (1 Cor 3, 17).

Esta santa ira de Deus foi concretamente manifestada por Jesus em relação ao episódio dos vendilhões do templo (Jo 2, 13 - 22). Tomado de santo furor, diante a balbúrdia e o tumulto dos homens que profanavam o santuário de Deus, Jesus faz um chicote de cordas e os expulsa com peremptória indignação: 'Tirai isto daqui! Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio!' (Jo 2, 16). Paralisados e tomados de pavor, aqueles homens que se atropelam para fugir diante de Jesus e da profanação revelada, ainda ousam pedir um sinal ao Senhor por tais ações. E Jesus lhes dá a resposta pela revelação do mistério da ressurreição do seu corpo, templo perfeitíssimo de Deus: 'Destruí este Templo, e em três dias o levantarei (Jo 2, 19). Jesus não falava do templo físico, mas do templo espiritual que habita em nós, e que contém em plenitude o Corpo, Sangue, Alma e Divindade do Senhor. O primeiro será destruído, porque não era santo. O segundo, por méritos e graças do Salvador, nos abriu as portas da redenção e da eternidade com Deus.