domingo, 13 de julho de 2014

13 DE JULHO - SANTA TERESA DOS ANDES


Joana Fernandes Solar nasceu em Santiago do Chile, em l3 de julho de l900, no seio de uma família tradicional e teve a infância marcada por uma intensa vida mariana, que proporcionou a ela uma sólida base para uma vida cristã autêntica. Desde tenra idade, experimentou uma extraordinária relação sobrenatural com Jesus: 'desde que fiz minha Primeira Comunhão, Nosso Senhor me falava sempre, depois de eu comungar' e com Nossa Senhora: 'minha devoção especial era à Virgem; contava-lhe tudo'.

Aos dezenove anos de idade, em maio de 1919, entrou para o mosteiro das carmelitas dos Andes, tomando o nome de Teresa de Jesus. Sua santidade era óbvia para todos que conviviam com ela, particularmente nos tempos do Carmelo. Viveu no mosteiro dos Andes por apenas onze meses, pois contraiu febre tifoide, vindo a falecer em 12 de abril de 1920, na sua cidade natal. Os seus restos mortais estão depositados na cripta do Santuário de Auco - Rinconada, em Los Andes, no Chile. Foi beatificada pelo Papa João Paulo II, no dia 13 de abril de 1987, em Santiago do Chile e canonizada, pelo mesmo papa, na Basílica de São Pedro, no dia 21 de março de 1993, tornando-se a primeira santa do Chile e do Carmelo da América Latina.
(cela no Carmelo e jazigo no Santuário de Auco - Rinconada)

A PARÁBOLA DO SEMEADOR

Páginas do Evangelho - Décimo Quinto Domingo do Tempo Comum


No Evangelho deste domingo, Jesus nos ensina a força e a eficácia da Palavra de Deus, lançada aos homens pelo semeador, imagem do apóstolo. Palavra que fecunda e irriga de graças a terra inteira, e que produz muitos frutos de salvação, pois assim diz o Senhor: 'Assim como a chuva e a neve descem do céu e para lá não voltam mais, mas vêm irrigar e fecundar a terra, e fazê-la germinar e dar semente, para o plantio e para a alimentação, assim a palavra que sair de minha boca: não voltará para mim vazia; antes, realizará tudo que for de minha vontade e produzirá os efeitos que pretendi, ao enviá-la' (Is 55, 10 - 11).

Jesus se coloca em uma barca, às margens do mar da Galileia e fala à multidão, reunida na praia, por meio de uma parábola: 'Ouvi, portanto, a parábola do semeador' (Mt 13, 8). A Palavra de Deus é um tesouro de bênçãos e graças, que somente se revela na luz do Cristo, na pureza de uma consciência devotada às coisas do Alto, no despojamento do eu e na entrega ao discernimento espiritual de ver, ouvir e entender as coisas de Deus com o coração (profecia de Isaías). Os mistérios do Reino dos Céus são revelados apenas aos pequeninos, aos puros de coração, aos Filhos da Luz.

Jesus é o Semeador; a Palavra de Deus feita Carne, Sangue e Revelação. As sementes da graça devem ser acolhidas, endossadas, vividas, transmitidas, compartilhadas. Almas de apóstolo, eis a síntese da nossa fé cristã, pois também somos semeadores da Palavra de Deus: 'A verdade sai de minha boca, minha palavra jamais será revogada: todo joelho deve dobrar-se diante de mim, toda língua deve jurar por mim' (Is 45,23). 

A Palavra de Deus é semente lançada ao mundo para se tornar fruto de salvação. No coração enrijecido dos que renegam o Cristo, a semente é vã pois foi lançada em terra estéril, à beira do caminho. Há sementes que morrem sem germinar entre pedras ou entre espinhos, sem encontrar raízes ou luz, sufocadas pelas paixões do mundo, estancadas por qualquer revés, entregues à própria sorte de suas enormes fragilidades. As sementes que dão fruto são aquelas acolhidas na terra fértil do coração humilde e da alma temente a Deus, regadas e cuidadas com zelo e perseverança, firmadas em raízes profundas e alimentadas pela luz do Cristo. Sementes da graça que vão produzir frutos em abundância: 'Um dá cem, outro sessenta e outro trinta' (Mt 13, 23).

sábado, 12 de julho de 2014

DE JOELHOS DIANTE DE DEUS



Volvei-vos para mim e sereis salvos, todos os confins da terra, porque eu sou Deus e sou o único, juro-o por mim mesmo! A verdade sai de minha boca, minha palavra jamais será revogada: todo joelho deve dobrar-se diante de mim, toda língua deve jurar por mim (Is 45,22 - 23). 

Assim, fez Pedro: Pedro então, tendo feito todos sair, pôs-se de joelhos e orou (At 10, 40). E assim fez Paulo: A essas palavras, ele [Paulo] se pôs de joelhos a orar (At 20, 36). E assim fizeram todos os santos e santas de Deus. E assim fazem até mesmo os demônios: Para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho no céu, na terra e nos infernos. E toda língua confesse, para a glória de Deus Pai, que Jesus Cristo é Senhor (Fl 2, 10-11). 

O próprio Jesus se ajoelhou para orar ao Pai amado. Vemos isso de forma mais dramática no Jardim do Getsêmani, onde, após recomendar a oração contínua aos apóstolos para que não caíssem em tentação, afasta-se deles e põe-se a rezar de joelhos ao Pai: 'Depois se afastou deles à distância de um tiro de pedra e, ajoelhando-se, orava: Pai, se é de teu agrado, afasta de mim este cálice! Não se faça, todavia, a minha vontade, mas sim a tua' (Lc 22, 41 - 42). E o Anjo do Senhor O confortou.

Nos demônios, a genuflexão é um ato de submissão do orgulho desmedido à Glória de Deus. Por isso, Abba Apollo, um pai do deserto que viveu cerca de 1.700 anos atrás, dizia que o demônio não podia ter joelhos porque não podia orar e nem adorar. Nós temos joelhos para tornar a genuflexão a expressão máxima da fé e confiança de um coração que ama a Cristo, o ato por excelência de adoração a Deus. De joelhos, abre-se para nós todo o manancial das graças e das misericórdias de Deus.

Existem muitas posturas diferentes para se estar diante dos sacramentos, existem diferentes modos de se fazer uma oração. Existem graças e graças alcançadas; existem formas diversas de fazer mais ou menos a Santa Vontade de Deus. Diante de Deus, imersos no sopro da Santidade de Deus, sejamos homens de corações recolhidos em humilde e santa adoração. E homens de joelhos dobrados, como nos ensina o salmista: 'Vinde, inclinemo-nos em adoração, de joelhos diante do Senhor que nos criou' (Sl 94, 6).









A ENTRADA DA ALMA NO CÉU

I. Oh Deus! Que dirá a alma ao entrar no reino bem-aventurado do Céu? Imaginemos ver morrer essa virgem, esse jovem, que, tendo-se consagrado ao amor de Jesus Cristo, e, chegada a hora da morte, vai deixar esta terra. Sua alma apresenta-se para ser julgada; o Juiz acolhe-a com bondade e lhe declara que está salva. O seu Anjo da guarda vem ao seu encontro e mostra-se todo contente; ela lhe agradece toda a assistência recebida, e o anjo responde-lhe: Alegra-te, alma formosa; já estás salva; vem contemplar a face do teu Senhor.

Eis que a alma se eleva acima das nuvens, acima do firmamento e de todas as estrelas: entra no Céu. Que dirá ao penetrar pela primeira vez nessa pátria bem-aventurada, ao lançar o primeiro olhar sobre essa cidade de delícias? Os Anjos e os Santos saem-lhe ao encontro e lhe dão, jubilosos, as boas vindas. Que consolação experimentará ao encontrar ali os parentes e amigos que a precederam, e os seus gloriosos protetores! A alma quererá prostrar-se diante deles; mas os Santos lhe dirão: Guarda-te de o fazer; porque somos servos como tu: Vide ne feceris; conservus tuus sum.

Ela irá depois beijar os pés de Maria, a Rainha do Paraíso. Que ternura não experimentará ao ver pela primeira vez essa divina Mãe, que tanto a ajudou a salvar-se! Então a alma verá todas as graças que Maria lhe alcançou. A Rainha celestial abraça-a amorosamente e a conduz a Jesus que a acolhe como esposa e lhe diz: Veni de Libano, sponsa mea; veni, coronaberis - 'Vem do Líbano, esposa minha; vem, serás coroada'. Regozija-te, esposa querida, passaram já as lágrimas, as penas, os temores: recebe a coroa eterna que te alcancei a preço de meu sangue. Ah, meu Jesus! Quando chegará o dia em que eu também ouvirei de tua boca estas doces palavras?

II. Jesus mesmo acompanhará a alma bem-aventurada a fim de receber a bênção de seu Pai divino, que a abraçará carinhosamente e a abençoará, dizendo: Intra in gaudium Domini tui - 'Entra no gozo do teu Senhor', e então fá-la-á participar da sua própria gloriosa beatitude.

Meu Deus, aqui tendes a vossos pés um ingrato, que foi criado por Vós para o Céu, mas que muitas vezes, na vossa presença, O renunciou por indignos prazeres, consentindo em ser condenado ao inferno. Espero que já me haveis perdoado todas as injúrias que Vos fiz e de que de novo me arrependo e quero arrepender-me até à morte. Quero também que Vós sempre as torneis a perdoar-me. Mas, ó Jesus, embora já me tenhais perdoado, sempre ficará sendo verdade que tive a audácia de amargurar-Vos, meu Redentor, que, para me conduzir ao vosso reino, sacrificastes a própria vida. Para sempre seja louvada e abençoada a vossa misericórdia, ó meu Jesus, que me haveis aturado com tamanha paciência, e que, em vez de me punir, multiplicastes para comigo as graças, as luzes e os convites.

Vejo, meu amantíssimo Salvador, que quereis deveras a minha salvação; quereis ver-me em vosso reino para eu Vos amar eternamente; mas quereis que primeiramente Vos ame nesta terra. Sim, quero Vos amar. Ainda que não houvesse paraíso, quisera amar-Vos por toda a vida, com toda a minha alma, com todas as minhas forças. Basta-me saber que Vós, meu Deus, desejais ser amado por mim. Assisti-me, meu Jesus, com a vossa graça; não me abandoneis. Minha alma é eterna; estou, pois, na alternativa de Vos amar ou de Vos odiar eternamente! 

O que eu quero é amar-Vos eternamente; quero amar-Vos muito nesta vida para Vos amar muito na outra. Disponde de mim como Vos aprouver; castigai-me como quiserdes; não me priveis do vosso amor, e depois fazei de mim segundo a vossa vontade. Meu Jesus, os vossos méritos são a minha esperança. Ó Maria, ponho toda a minha confiança na vossa intercessão. Livrastes-me do inferno, quando estava em pecado; agora, que desejo só a Deus, deveis salvar-me e tornar-me santo.

(Excertos da obra 'Meditações para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III, de Santo Afonso Maria de Ligório)

sexta-feira, 11 de julho de 2014

ORAÇÃO PELA SALVAÇÃO DE UMA ALMA AGONIZANTE


Jesus de Infinita Misericórdia, prostrado aos vossos pés, suplico-vos pela alma de (...); interceda, Senhor, pela sua salvação eterna; que nesta alma se manifeste a glória da vossa infinita misericórdia! Ao Vosso Sagrado Coração venho pedir, como manancial inesgotável de todas as graças e dons... Ao Vosso Sagrado Coração, venho recorrer, como tesouro imponderável de todas as riquezas da clemência e generosidade divinas... Ao Vosso Sagrado Coração venho suplicar, pois Vós sois a Porta, o Caminho, a Verdade e a Vida em abundância...

Aceita, Jesus, a minha oração pela salvação da alma de (...) que agoniza e que, em breve, vai estar diante de Vós no Juízo Particular. Fazei a vossa misericórdia penetrar a couraça do pecado, rasgar a carne dolorosa, fazer acontecer o milagre da conversão nestes momentos derradeiros, e conceder a graça extraordinária desta alma voltar a Vós, aceitar e cumprir fielmente, nos seus últimos dias sobre a terra, a Santa Vontade de Deus. 

Na mesma confiança em que pediu o centurião romano em favor de seu criado; na mesma esperança que inflamou os corações das irmãs de Lázaro, na mesma certeza da reconciliação que animou o leproso que voltou para Vos agradecer o milagre da cura, aceita, Senhor, a minha súplica pela salvação eterna da alma de (...) e, pela intercessão de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa, conceda a este vosso (a) servo (a) renascer para a graça e merecer, pela glória da vossa Infinita Misericórdia, a herança das moradas eternas no Céu. Amém.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

SERMÕES DO CURA D'ARS (II)

SOBRE O PURGATÓRIO

Por que será que eu me encontro de pé hoje nesse púlpito, meus caros irmãos? O que será que eu venho dizer para vocês? Ah! Eu venho em nome do próprio Deus. Eu venho em nome de seus pobres pais, para despertar em vocês aquele amor e gratidão que vocês lhes devem. Eu venho pra refrescar nas suas memórias novamente, toda a ternura e todo o amor que eles deram a vocês enquanto eles ainda estavam sobre essa terra. 

Eu venho pra dizer a vocês que eles sofrem no Purgatório, que eles choram e reclamam com urgentes gritos o auxílio de suas orações e boas-obras. Eu os tenho visto gritando das profundezas daquelas chamas que os devoram: 'Digam aos nossos amigos, aos nossos filhos, aos nossos parentes, como é grande o mal que eles estão nos fazendo sofrer. Nós nos atiramos aos seus pés para implorar o auxílio de suas orações! Ah! Diga-lhes que, desde que nós fomos separados deles, nós temos estado queimando em chamas! Oh! Quem poderia permanecer tão indiferente diante dos sofrimentos que estamos enfrentando!'

Você vê, meu caro irmão, você escuta aquela terna mãe, aquele pai devotado e todos aqueles parentes que lhe ajudaram e fizeram parte de sua vida? Meus amigos, eles gritam: 'Livrai-nos dessa dor, você pode!' Considerem então meus caros amigos: (i) a magnitude desses sofrimentos pelos quais passam as almas do purgatório; (ii) os meios dos quais dispomos para mitigar esses sofrimentos: nossas boas obras, nossas orações e acima de tudo, o santo sacrifício da Missa. 

Eu não quero parar neste estágio para provar a existência do Purgatório, pois isso seria uma perda de tempo. Espero que nenhum de vocês tenha a menor dúvida a este respeito. A Igreja, à qual Jesus Cristo prometeu a guia do Espírito Santo e a qual, consequentemente, não pode se enganar nem nos enganar, ensina-nos sobre o Purgatório de um modo bem claro e positivo. Isto é uma certeza mais que certa, de que lá é um lugar onde as almas dos justos completam a expiação por seus pecados, antes de serem finalmente admitidas na glória do Paraíso, o qual, diga-se de passagem, já está assegurado a elas. 

Sim meus caros irmãos, isto é um artigo de fé: se nós não tivermos feito penitência proporcional à gravidade de nossos pecados, ainda que tenhamos sido absolvidos no Sagrado Tribunal da Confissão, nós seremos obrigados a expiar por eles. Nas Sagradas Escrituras há muitos textos que mostram claramente que, embora nossos pecados possam ser perdoados, Deus ainda impõe-nos a obrigação de sofrer neste mundo duros trabalhos temporais ou no próximo através das chamas do Purgatório. 

Veja o que aconteceu com Adão. Porque ele se arrependeu logo depois de ter cometido o pecado original, Deus garantiu a ele que o havia perdoado, mas ainda assim Ele o condenou a passar nove séculos sobre esta terra fazendo penitência. Penitências que ultrapassam qualquer coisa que possamos imaginar:...'maldita seja a terra por tua causa. Tirarás dela com trabalhos penosos o teu sustento todos os dias de sua vida. Ela te produzirá espinhos e tu comerás a erva da terra. Comerás o teu pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra de que fostes tirado; porque és pó, e em pó te hás de tornar...' (Gênesis 3, 17). 

Veja novamente: Davi ordenou, contrariando a vontade de Deus, que se fizesse o recenseamento de Israel. Atingido pelo remorso de consciência, ele reconheceu o seu pecado, atirou-se ao chão suplicando ao Senhor que o perdoasse. Consequentemente, Deus tocado pelo seu arrependimento, o perdoou. Mas apesar disso, ele enviou Gad para dizer a Davi que ele teria que escolher entre três tipos de punições que Ele havia preparado para Davi reparar pelo seu pecado: a peste,a fome ou a guerra. Davi então respondeu: 'Ah! Caia eu nas mãos do Senhor, porque imensa é a sua misericórdia; mas que eu não caia nas mãos do homem...' (I Crônicas 21). 

Ele escolheu a peste e esta durou apenas 3 dias, mas matou 7 mil pessoas de seu povo. Se o Senhor não tivesse detido a mão do Anjo que estava estendida sobre Israel, Jerusalém inteira teria ficado despovoada! Davi ao ver todo o mal causado pelo seu pecado, implorou a graça de Deus pedindo que Deus punisse apenas ele mesmo, mas que poupasse o seu povo que era inocente. Vejam também as penitências de Santa Maria Madalena! Quem sabe não sirvam para amolecer um pouco seus corações? 

Meus caros irmãos, o que serão então, o número de anos que nós teremos que sofrer no Purgatório, nós que cometemos tantos pecados e que, sob o pretexto de já o termos confessado, não fazemos penitências e nem choramos por eles? Quantos anos de sofrimento nos esperam na próxima vida? Como poderia eu pintar um quadro dos sofrimentos que essas pobres almas suportam, quando os santos padres da Igreja dizem-nos que os tormentos que elas sofrem são comparáveis ao que passou Nosso Senhor Jesus Cristo durante sua dolorosa paixão? Uma coisa é certa, se o menor sofrimento que Nosso Senhor suportou tivesse sido compartilhado por toda a humanidade, todos estariam mortos devido à violência de seus sofrimentos. 

O fogo do Purgatório é o mesmo que o fogo do Inferno. A diferença entre eles é que o fogo do Purgatório não é eterno. Oh! Se Deus permitisse que uma daquelas pobres almas que está mergulhada nas chamas, aparecesse agora neste lugar, toda envolvida pelas chamas que a consome e desse ela mesma um recital dos sofrimentos que ela está suportando! Toda essa Igreja, meus caros irmãos, seria sacudida pelo eco de seus gritos e soluços e talvez quem sabe isso amoleceria os seus corações? Esta pobre alma nos diria: 'Como nós sofremos! Ó irmãos, livrai-nos desses tormentos! Ah, se vocês pudessem experimentar o que é viver separado de Deus!... Cruel separação! Queimar no fogo aceso pela justiça de Deus!. Sofrer dores incompreensíveis para a mente humana!.Ser devorado pelo remorso, sabendo que poderíamos facilmente ter evitado esses tormentos!' 

'Oh! Meus filhos!'- gritam os pais e as mães - 'como podem vocês nos abandonar nessas horas, nós que tanto os amamos quando estávamos sobre essa terra! Como vocês podem ir dormir tranquilamente em suas camas, enquanto nós queimamos em uma cama de fogo? Como vocês têm coragem de se entregar aos prazeres e alegrias, enquanto nós sofremos e choramos dia e noite? Vocês herdaram nossos bens, nossas propriedades, vocês se divertem com o fruto de nossos trabalhos, enquanto nós sofremos males tão indescritíveis e por tantos anos!... E não são capazes de oferecer uma pequena oração em nossa intenção, nem uma simples missa que tanto ajudaria para nos livrar dessas chamas!... Vocês podem aliviar nosso sofrimento, vocês podem abrir nossas prisões e vocês simplesmente nos abandonam. Oh! Quão cruel são estes sofrimentos!...' 

Sim meus irmãos, as pessoas julgam de um modo muito diferente, o que é estar nas chamas do Purgatório por todas essas culpas leves. Se é que é possível chamar de 'leve' algo que nos faz suportar punição tão rigorosa! 'Que espanto seria para o homem', grita o profeta real, 'se mesmo o mais justo dos homens fosse julgado por Deus sem nenhuma misericórdia!' Se Deus achou manchas até no sol e malícia nos anjos, o que será então do homem pecador? E para nós que cometemos tantos pecados mortais e praticamente não fazemos nada para satisfazer a justiça de Deus. Quantos anos de Purgatório! 

'Meu Deus!' – disse Santa Tereza de Ávila – 'que alma seria suficientemente pura para entrar diretamente no Céu sem ter que passar pelas chamas da justiça?' Em sua última doença, ela de repente gritou: 'Oh Justiça e Poder do meu Deus, quão terrível sois!' Durante a sua agonia, Deus permitiu que ela contemplasse por alguns segundos a Sua Santidade, assim como os anjos e os santos do Céu O contemplam. E isso causou nela um pavor tão grande, que ela se pôs a tremer e ficou agitada de um modo tão extraordinário que as irmãs perguntaram-lhe chorando: 'Ah! Madre, o que está se passando? Certamente que a senhora não teme a morte depois de tantos anos de penitência e lágrimas amargas!' - 'Não, minhas filhas, eu não temo a morte, muito pelo contrário, eu a desejo porque só assim estarei unida eternamente a Deus'. - 'Oh! Madre, seriam os teus pecados então, que ainda te aterrorizam depois de tantas mortificações?' - 'Sim minhas filhas' - respondeu Tereza - 'eu temo pelos meus pecados, mas temo por algo ainda maior!' 

- 'Seria então, o julgamento?' - 'Sim, eu o temo pela formidável conta que terei que prestar diante de Deus. Principalmente porque nesse momento seremos julgados pela justiça e não pela misericórdia. Mas tem algo que ainda me faz morrer de terror'. As pobres irmãs já estavam profundamente angustiadas. - 'Madre, seria por acaso o Inferno?' - 'Não' - respondeu ela - 'o inferno, graças a Deus, não é pra mim. Oh! Minhas filhas, é a Santidade de Deus. Meus Deus, tende misericórdia de mim! Minha vida será confrontada face a face com o próprio Cristo! Ai de mim se eu tiver a menor mancha ou falha! Ai de mim, se eu tiver a menor sombra de pecado!' - 'Ai de nós!' - gritaram as pobres irmãs - 'o que será então no dia das nossas mortes?'

O que será então de nós, meus caros irmãos? Nós que talvez em todas as nossas penitências e boas obras, talvez nunca tenhamos conseguido satisfazer por um único pecado perdoado no tribunal da Confissão? Ah! Quantos anos e séculos de tormento para nos punir ... Vamos pagar muito caro por todas essas 'pequenas falhas' que nós vemos como algo que não tem a menor importância, como aquelas 'pequenas mentirinhas' que nós falamos para evitar problemas para nós mesmos, aqueles pequenos escândalos, o desprezo pelas graças que Deus nos concede a cada momento, aquelas pequenas murmurações nas dificuldades que Ele nos envia! 

Não, meus caros irmãos, nós não teríamos nunca a coragem de cometer o menor pecado, se pudéssemos entender o quanto isto ultraja a Deus e o quão merecemos ser rigorosamente punidos, já ainda nesse mundo. Meus irmãos, Deus é justo em tudo que Ele faz. Quando Ele recompensa-nos até pela menor boa ação que fazemos, Ele nos dá muito mais do que qualquer um de nós merecemos. Um bom pensamento, uma boa ação, um bom desejo, ou seja, o desejo de fazer uma boa obra, mesmo quando não somos capazes de fazê-la, Ele nunca nos deixa sem uma recompensa. Mas também, quando se trata de uma matéria de punição, isto é feito com o maior rigor e ainda que tenhamos a menor falta seremos enviados para o Purgatório. Isto é verdade absoluta e nós comprovamos isto pela vida dos santos. Muitos deles não chegaram ao Céu, sem antes terem passado pelas chamas do Purgatório. 

São Pedro Damião conta-nos que sua irmã permaneceu vários anos no Purgatório porque ela ouviu com prazer certos tipos de músicas. Conta-se também que dois religiosos fizeram um pacto um com o outro, acertando que quem morresse primeiro viria contar ao sobrevivente em que estado ele se encontrava. Deus permitiu que isso acontecesse e, quando um deles morreu, apareceu ao seu amigo. Ele contou ao seu amigo que tinha permanecido 15 anos no Purgatório por seu orgulho de sempre querer fazer as coisas a seu modo. Então seu amigo o cumprimentou por ter permanecido lá por tão pouco tempo! O morto então respondeu: - 'Eu teria preferido ser queimado vivo por 10 mil anos ininterruptos nessa terra, pois esse sofrimento nem poderia ser comparado com o que eu sofri 15 anos naquelas chamas!' 

Um sacerdote contou a um de seus amigos que Deus o havia condenado a permanecer no Purgatório por vários meses, por ter segurado a execução de uma boa-obra que era Vontade de Deus que fosse feita. Coitados de nós, meus irmãos! Quantos de nós não temos faltas semelhantes? Quantos de nós recebemos a tarefa de nossos parentes e amigos de mandarmos celebrar Missas e dar esmolas e simplesmente fazemo-nos de esquecidos! Quantos de nós evitamos fazer boas-obras apenas por respeito humano? E todas essas almas presas nas chamas, porque não temos coragem de satisfazer seus desejos! 

Pobres pais e pobres mães, vocês agora estão sendo sacrificados pela felicidade de seus filhos e parentes! Vocês talvez tenham negligenciado sua própria salvação para construírem suas fortunas. E agora vocês estão sendo traídos pelas boas-obras que vocês deixaram de fazer enquanto ainda estavam vivos! Pobres pais! Quanta cegueira é esquecer de nossa própria salvação! Você talvez me dirá: 'Nossos pais eram pessoas boas e honestas. Eles não fizeram nada de tão grave para merecerem essas chamas!' Ah! Se vocês soubessem que eles precisavam de muito menos do que eles fizeram para cair nessas chamas! Vejam o que disse a esse respeito, Alberto, o Grande, um homem cujas virtudes brilharam de modo extraordinário! Ele revelou a um de seus amigos, que Deus o havia levado ao Purgatório por ter se orgulhado de um pensamento sobre seu próprio conhecimento.

A coisa mais surpreendente foi que ali haviam verdadeiros santos, muitos que inclusive já tinham sido canonizados pela Igreja e que estavam passando pelas chamas do Purgatório. São Severino, Arcebispo de Colônia, apareceu a um de seus amigos muito tempo depois de sua morte e disse-lhe que ele havia passado um longo tempo no Purgatório por ter adiado para a noite, as orações do breviário que ele devia ter recitado pela manhã. 

Oh! Quantos anos de Purgatório não passarão aqueles cristãos que não tem o menor escrúpulo em adiar suas orações para uma outra hora, apenas pela desculpa de terem algo mais importante a fazer! Se nós realmente desejássemos a felicidade de possuir a visão beatífica de Deus, nós evitaríamos tanto os pecados mortais como os veniais, uma vez que a separação de Deus constitui-se um tormento terrível para as nossas almas!

quarta-feira, 9 de julho de 2014

DA VIDA ESPIRITUAL (72)


Oração, seja um homem de oração! Nada, coisa alguma, substitui a oração! É na oração dos lábios, do pensamento, da ação ou do trabalho cotidiano, que se concretiza a tua relação de intimidade com Deus. A oração contínua e verdadeira não nos leva simplesmente à presença do Pai para que Ele possa ouvir nossas súplicas diárias; a oração perfeita faz muito mais do que isso: ela traz o próprio Deus ao nosso coração para nos guiar e nos ensinar a viver o que Ele nos pede.