quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

GLÓRIAS DE MARIA: MÃE DE DEUS E RAINHA DA PAZ

La Pietà (1498-1499) - Michelangelo Buonarroti


No primeiro dia do Ano Novo, a Igreja exalta Maria como Mãe de Deus; o calendário dos santos é aberto com a solenidade da maternidade daquela que Deus escolheu para mãe do Verbo Encarnado. Trata-se da primeira festa mariana proposta pela Igreja Ocidental, moldada sob as palavras eternas de Isabel: 'Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre' (Lc 1,42). Todos os títulos e todas as grandezas de Maria dependem do dogma essencial de sua maternidade divina. Desde a Antiguidade, Maria é chamada 'Mãe de Deus', do grego 'Theotokos', título ratificado pelo Concílio de Éfeso, de 22 de junho de 431. Em 1968, o Papa Paulo VI dedicou o 1° dia do ano como Dia Mundial da Paz. Assim, Maria é louvada também neste dia como Rainha da Paz. 


São Cirilo de Alexandria (370-442), na homilia pronunciada no Concílio de Éfeso contra Nestório, que negava ser Maria Mãe de Deus:

'Contemplo esta assembléia de homens santos, alegres e exultantes que, convidados pela santa e sempre Virgem Maria e Mãe de Deus, prontamente acorreram para cá. Embora oprimido por uma grande tristeza, a vista dos santos padres aqui reunidos encheu-me de júbilo. Neste momento vão realizar-se entre nós aquelas doces palavras do salmista Davi: ‘Vede como é bom, como é suave os irmãos viverem juntos bem unidos!’ (Sl 132,1). Salve, ó mística e santa Trindade, que nos reunistes a todos nós nesta igreja de Santa Maria Mãe de Deus. Salve, ó Maria, Mãe de Deus, venerável tesouro do mundo inteiro, lâmpada inextinguível, coroa da virgindade, cetro da verdadeira doutrina, templo indestrutível, morada daquele que lugar algum pode conter, virgem e mãe, por meio de quem é proclamado bendito nos santos evangelhos ‘o que vem em nome do Senhor’ (Mt 21,9).

Salve, ó Maria, tu que trouxeste em teu sagrado seio virginal o Imenso e Incompreensível; por ti; é glorificada e adorada a Santíssima Trindade; por ti, se festeja e é adorada no universo a cruz preciosa; por ti, exultam os céus; por ti, se alegram os anjos e os arcanjos; por ti, são postos em fuga os demônios; por ti, cai do céu o diabo tentador; por ti, é elevada ao céu a criatura decaída; por ti, todo o gênero humano, sujeito à insensatez dos ídolos, chega ao conhecimento da verdade; por ti, o santo batismo purifica os que creem; por ti, recebemos o óleo da alegria; por ti, são fundadas igrejas em toda a terra; por ti, as nações são conduzidas à conversão. 

E que mais direi? Por Maria, o Filho Unigênito de Deus veio ‘iluminar os que jazem nas trevas e nas sombras da morte’ (Lc 1,77); por ela, os profetas anunciaram as coisas futuras; por ela, os apóstolos proclamaram aos povos a salvação; por ela os mortos ressuscitam; por ela, reinam os reis em nome da Santíssima Trindade. Quem dentre os homens é capaz de celebrar dignamente a Maria, merecedora de todo louvor? Ela é mãe e virgem. Que coisa admirável! Este milagre me deixa extasiado. Quem jamais ouviu dizer que o construtor fosse impedido de habitar no templo que ele próprio construiu? Quem se humilhou tanto a ponto de escolher uma escrava para ser a sua própria mãe? Eis que tudo exulta de alegria! Reverenciemos e adoremos a divina Unidade, com santo temor veneremos a indivisível Trindade, ao celebrar com louvores a sempre Virgem Maria! Ela é o templo santo de Deus, que é seu Filho e esposo imaculado. A ele a glória pelos séculos dos séculos. Amém.'

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

ORAÇÃO PARA O ÚLTIMO DIA DO ANO

Obrigado, Senhor,
pelo ano que termina,
porque estou aqui, junto Convosco e com minha família (com meus amigos),
vivendo a alegria de ter vivido um ano mais
em Vossa Santa Presença.

Obrigado, Senhor,
por mais um ano de vida,
por ter tido ainda este tempo para viver 
as santas alegrias do Natal e deste Ano Novo.
Por estar com pessoas que amo
e que compartilham comigo
a mesma fé e o sincero propósito
de viver o Evangelho a cada dia.

Obrigado, Senhor,
por tantas graças recebidas neste ano que passa;
eu Vos ofereço hoje o meu nada
e, dentro do meu nada, todo o meu amor humano possível,
como herança de Vossa Ressurreição.
No meio das luzes do mundo nesse dia de festa,
eu me recolho à sombra da Vossa Misericórdia;
e Vos honro e Vos dou glória nesse tempo
pelos tempos que estarei Convosco para sempre.

Obrigado, Senhor,
por estar aqui na Vossa Presença,
no tempo que conta mais um ano que se vai,
na gratidão da alma confiante
que aprendeu o caminho do Pai.
Das coisas boas que fiz, dou-Vos tudo,
porque as recebi de Vosso Santo Espírito.
E Vos suplico curar com Vosso Corpo e Sangue
as cicatrizes dos meus pecados.

Obrigado, Senhor,
pela caminhada diária com Maria, 
que nos ensina no cotidiano de nossa vidas
a ir ao Vosso encontro todos os dias.
Pelo meu Santo Anjo da Guarda,
pelos meus santos de devoção, 
pelo papa, e pela Vossa Igreja,
eu Vos agradeço, Senhor, e Vos louvo, 
neste último dia do ano.

Obrigado, Senhor,
pelo ano que termina.
Que eu não me lembre nesse tempo
das dores e sofrimentos que passei,
das tristezas e angústias que vivi:
que todo mal seja olvidado agora
na alegria de eu estar aqui Convosco,
e pela resignação à Santa Vontade de Deus.

E que nesta última hora do tempo que se vai,
do ano que chega ao fim:
mais uma vez, não seja eu que viva,
mas o Cristo em vive em mim.
Amém.
(Arcos de Pilares)

PALAVRAS DE SALVAÇÃO



'Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus.

Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não pregamos nós em vosso nome, e não foi em vosso nome que expulsamos os demônios e fizemos muitos milagres?

E, no entanto, eu lhes direi: Nunca vos conheci. Retirai-vos de mim, operários maus!'
(Mt 12, 21-23)

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

DISCURSO SOBRE O SANTO NOME DE JESUS

Vocatum est nomen ejus Jesus - Deram-lhe o nome de Jesus

O grande nome de Jesus não é de invenção humana; foi o Pai Eterno que o deu a seu divino Filho, diz São Bernardino de Sena. É um nome novo e saído dos lábios do Senhor, segundo o profeta, um nome que só Deus podia dar Àquele que destinara para Salvador do mundo. É um nome a um tempo novo e eterno porque, como a redenção foi decretada desde a eternidade, assim o nome do Redentor lhe foi assinalado desde a eternidade. 

Entretanto, na terra, o nome de Jesus só foi imposto a Nosso Senhor no dia da circuncisão: depois que se completaram os oito dias para ser circuncidado o Menino, foi-lhe dado o nome de JESUS, diz Lucas. Deus quis então recompensar a humildade de seu Filho, dando-lhe esse nome glorioso. Sim, enquanto Jesus se humilha sujeitando-se com a circuncisão a receber a marca dos pecadores, é justo que seu Pai o glorifique dando-lhe um nome que, como se exprime São Paulo, sobrepuja em dignidade e grandeza todos os outros nomes. E manda que esse nome seja adorado pelos anjos, pelos homens e pelos demônios ou, para nos servirmos das expressões do mesmo Apóstolo, Deus quer que ao nome de Jesus se curve todo o joelho no céu, na terra e no inferno.

Se todas as criaturas adoram esse grande nome, nós, pecadores, muito mais do que os outros, somos obrigados a adorá-lo, porque por nosso amor é que o Filho de Deus leva esse nome de Jesus, que significa Salvador; é para salvar os pecadores, como canta a Igreja, que Ele desceu do céu e se fez homem. Devemos adorá-lo, e ao mesmo tempo render graças a Deus por haver dado a Nosso Senhor, para o nosso bem, esse nome que nos consola, nos defende, e nos inflama; três pontos que vamos tratar neste discurso, depois de pedir a Jesus e Maria as luzes de que temos necessidade.

I

Em primeiro lugar, o nome de Jesus nos consola; em todas as penas basta-nos dizer: Jesus! para nos sentirmos aliviados. Quando recorremos a Jesus, Ele não pode deixar de consolar-nos; Ele quer consolar-nos porque nos ama, e Ele o pode, porque não é só homem mas também Deus todo-poderoso; do contrário, esse grande nome de SALVADOR não lhe convidaria em toda verdade. O nome de Jesus supõe um poder infinito e ao mesmo tempo uma sabedoria e um amor infinitos; se essas perfeições não se achassem reunidos em Jesus Cristo, Ele não poderia salvar-nos, como o disse São Bernardo. Esse Santo diz ainda, falando da circuncisão: 'Ele foi circuncidado como filho de Abraão; foi chamado Jesus como Filho de Deus'. Nosso Senhor está marcado, como homem, com o sinal dos pecadores, porque Ele se encarregou de satisfazer pelos pecadores, e desde o seu nascimento quer começar a expiar os pecados deles por seus sofrimentos e pela efusão de seu sangue; mas Ele é chamado Jesus, é chamado Salvador, como Filho de Deus, porque só a Deus compete salvar.

O nome de Jesus é chamado pelo Espírito Santo óleo derramado. E não sem razão, observa São Bernardo: o óleo aclara, nutre e cura; assim o nome de Jesus. Em primeiro lugar é luz: aclara quando anunciado. Com efeito, pergunta o Santo, donde veio essa luz que a fé difundiu com tanta rapidez sobre a terra ao ponto de levar em pouco tempo grande número de gentios ao conhecimento e ao serviço do verdadeiro Deus? Foi da pregação do nome de Jesus. É a esse nome que devemos a felicidade de sermos feitos filhos da verdadeira luz, isto é, filhos da Santa Igreja, tendo nascido no grêmio da Igreja Romana, em países cristãos e católicos: graça e sorte não concedidas à maior parte dos homens, que nascem entre os idólatras, maometanos ou hereges. 

Além disso, o nome de Jesus é um nutrimento que fortifica nossas almas, cada vez que nele pensamos. Enche de paz e consolação os fiéis, mesmo no meio das misérias e das perseguições que têm de sofrer sobre a terra. Sustentados pela virtude do nome de Jesus, os apóstolos exultavam de alegria no meio dos maus tratos e dos opróbrios: Eles saiam da presença do conselho, contentes por terem sido achados dignos de sofrer afrontas pelo nome de Jesus. É, pois, uma luz e um nutrimento, e é também um remédio para os que o invocam. Damos a palavra a São Bernardo: 'Se uma alma está aflita ou atribulada, pronuncie o nome de Jesus; e logo a tempestade fugirá e voltará a paz'. Se alguém tem a desgraça de cair no pecado e desespera do perdão, invoque esse nome de vida que logo sentirá a confiança do perdão; esse nome de Jesus, o Pai eterno lho deu como Salvador precisamente para obter o perdão aos pecadores.

Se Judas, tentado de desespero, tivesse invocado o nome de Jesus, não teria sucumbido, afirma Eutímio. Ele acrescenta que um pecador, seja ele qual for, não cairá jamais no abismo do desespero, contanto que invoque esse santo nome que é nome de esperança e salvação. Infelizmente os pecadores deixam de recorrer a esse remédio salutar, porque não querem sarar de suas enfermidades. Jesus Cristo está pronto a curar todas as nossas chagas; mas se alguém gosta de suas chagas e não deseja a cura, como poderá Jesus curá-lo? A venerável Irmã Maria Crucifixa viu um dia Nosso Senhor como num hospital; as mãos cheias de remédios, ia dum doente a outro; mas, em vez de lhe testemunharem reconhecimento e de chamarem-no, esses infelizes o repeliam. Assim fazem muitos pecadores: depois de se envenenarem voluntariamente pelo pecado, recusam a saúde, isto é, a graça que Jesus lhe oferece; ficam pois na sua miséria e se perdem.

Ao contrário, que temor pode ter um pecador que recorre a Jesus, pois que Jesus mesmo se oferece para obter de seu Pai o perdão aos culpados havendo já com a sua morte pago a pena que eles mereceram? 'O ofendido fez-se nosso intercessor, diz São Lourenço Justiniano; e Ele mesmo pagou o que lhe devíamos'. Alhures ele acrescenta: 'Quando pois vos sentirdes acabrunhados pela enfermidade, atormentados pela dor, agitados pelo temor, chamai Jesus em vosso auxílio, e Ele vos consolará'. Aliás basta que peçamos a seu Pai em seu nome, para obtermos tudo quanto lhe pedirmos: essa promessa, repetida muitas vezes pelo próprio Jesus Cristo, não pode deixar de ser cumprida: Tudo o que pedirdes a meu Pai em meu nome, Ele vo-lo dará. Tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome, eu o farei.

II

Dissemos, em segundo lugar, que o nome de Jesus nos defende. Sim, nos protege contra as emboscadas e ataques de nossos inimigos. O Messias foi por Isaías chamado o Forte: Fortis; e o Sábio disse que o seu nome é uma torre fortíssima. Com isso nos dá a entender que quem se põe sob a proteção desse nome poderoso nada tem a temer dos assaltos do inferno.

Jesus Cristo, diz São Paulo, humilhou-se por obediência a seu Pai, ao ponto de morrer na cruz; eis por que Deus o exaltou. 'Com outras palavras, observa Santo Anselmo, Nosso Senhor humilhou-se de tal forma, que não podia humilhar-se mais; e por isso o seu divino Pai, pelo mérito dessa humildade e obediência do Filho, o exaltou o mais que pôde'. E de fato, diz o apóstolo, o Padre eterno deu a seu Filho divino um nome acima de todo outro nome, um nome tão glorioso e poderoso, que é venerado pelo céu, porque nos pode obter todas as graças; nome poderoso na terra, porque pode salvar a todos os que o invocam devotamente; nome poderoso no inferno, porque espanta todos os demônios. 

Esse nome sagrado faz tremer os anjos rebeldes, porque, ao ouvi-lo, se lembram do Forte por excelência, que destruiu o império que exerciam violentamente sobre os homens. 'Eles tremem, diz São Pedro Crisólogo, porque são forçados a adorar nesse nome toda a majestade de Deus'. Aliás nosso Salvador declarou que seus discípulos expulsariam os demônios em virtude de seu nome. E de fato, a Santa Igreja, em seus exorcismos, sempre se serve desse nome para expelir esses espíritos infernais dos possessos. E os sacerdotes que assistem aos moribundos, se servem do nome de Jesus para libertar os enfermos dos mais terríveis assaltos que o inferno faz naqueles momentos da morte.

Leia-se a vida de São Bernardino de Sena, e lá se verá quantos pecadores ele converteu, quantos abusos fez desaparecer, quantas cidades santificou, pregando aos povos a devoção ao nome de Jesus. Segundo a palavra de São Pedro, o santo nome de Jesus é o único pelo qual, pela vontade divina, podemos esperar a salvação. Jesus Cristo não nos salvou apenas uma vez; Ele nos salva continuamente por seus méritos, livrando-nos do perigo de pecar todas as vezes que o invocamos com confiança; assim cumpre a promessa: 'Tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome, eu o farei'. Daí a animadora palavra de São Paulo que quem invocar o nome do Senhor, será salvo.

Repito, pois, com São Lourenço Justiniano: 'Em todas as vossas tentações, venham elas dos demônios ou dos homens que vos excitam ao pecado, chamai a Jesus em vosso auxílio, e triunfareis; e se as tentações continuarem a perseguir-vos, continuai a invocar Jesus, e não sucumbireis jamais'. É um fato de experiência: as almas fiéis a essa santa prática permanecem firmes no combate e conquistam infalivelmente a vitória. Ao nome de Jesus usamos sempre o de MARIA, que é igualmente terrível no inferno, e nada teremos a temer. 'Jesus! Maria!' haverá oração mais curta, mais fácil de reter? Ela não é menos poderosa para repelir todos os ataques dos inimigos da nossa salvação. Assim nos fala Tomás de Kempis.

III

O nome de Jesus não apenas nos consola, mas nos preserva de todo o mal; além disso, inflama de santo amor a todos os que O pronunciam com devoção. O nome de Jesus, ou de Salvador, é um nome que por si mesmo exprime o amor, por-que nos lembra, observa São Bernardino de Sena, tudo o que o Filho de Deus fez e sofreu para operar a nossa salvação. Daí a tocante exclamação dum piedoso autor: 'Ó meu Jesus, quanto vos custou o serdes Jesus, isto é, meu Salvador!'

São Mateus narra, falando da crucifixão de Nosso Senhor, que lhe puseram sobre a cabeça a inscrição: 'Aqui está Jesus, o Rei dos Judeus'. O Padre eterno, pois, quis que na cruz em que morreu nosso Redentor, se lesse o nome de Jesus, isto é, do Salvador do mundo. Por essa inscrição, Pilatos não pretendia declarar Jesus Cristo culpado por se arrogar o título de rei, como o acusavam os judeus, pois não se incomodou com a acusação, reconhecendo a inocência dele e protestando por não querer ter parte na sua morte: 'Eu sou inocente do sangue deste justo'. Por que então lhe dar o título de rei? Porque essa foi a vontade de Deus que nos quis com isso dizer: 'Ó homens, sabeis porque morre este inocente que é o meu Filho? Morre porque é o vosso Salvador; morre, esse divino Pastor, e morre no madeiro infame para salvar a vós suas ovelhas'.

Eis uma razão a mais por que nos Cânticos o nome do Senhor é chamado óleo derramado; esse nome, diz São Bernardo, significa 'a efusão da divindade'. Na obra da nossa redenção, Deus levou o seu amor por nós até dar-se e comunicar-se a nós sem reservas: Ele nos amou e entregou-se por nós. Para poder comunicar-se a nós, tomou sobre si, diz Isaías, as penas que tínhamos de sofrer. Pela inscrição afixada à cruz quis Ele, diz São Cirilo de Alexandria, apagar a sentença de morte lavrada contra nós pecadores. É precisamente isso que nos ensina o apóstolo com as palavras: Cancelou o decreto que nos era desfavorável, que era contra nós, e o aboliu inteiramente, encravando o seu nome na cruz. Enfim, nosso amoroso Redentor quis subtrair-nos à maldição que merecêramos e, por isso, atirou sobre sua cabeça as maldições divinas, carregando-se de todos os nossos pecados: Cristo remiu-nos da maldição da lei, feito ele mesmo maldição por nós.

Assim, quando uma alma fiel pronuncia o nome de Jesus e se recorda do que o Senhor fez para salvá-la, é impossível que não sinta o seu coração inflamar-se por Aquele que a amou tanto. 'Quando dizemos ‘Jesus’, afirma São Bernardo, devemos figurar-nos um homem manso, afável, compassivo, cheio de todas as virtudes; devemos ainda pensar que Ele é o nosso Deus e que, para curar-nos de nossas chagas, quis ser desprezado e maltratado até morrer de pura dor na cruz'. 'Seja-nos caro, ó cristão', exorta Santo Anselmo, 'o belo nome de Jesus; Jesus esteja sempre em vosso coração; seja o único alimento de vossa alma e a vossa única consolação'. Ah! replica São Bernardo, só quem experimentou pode compreender a doçura, as celestes delícias que se sentem, mesmo neste vale de lágrimas, quando se ama ternamente a Jesus.

Expertus potest credere
Quid sit Jesum diligere

Isso souberam por experiência tantas almas piedosas: Santa Rosa de Lima ao comungar tinha o coração de tal forma abrasado do amor divino, que seu hálito queimava a mão que lhe dava água a beber, segundo o costume, após a comunhão; Santa Maria Madalena de Pazzi, empunhando o crucifixo, andava toda inflamada gritando: 'Ó Deus de amor! ó Deus de amor! direi mesmo, louco de amor!'; São Filipe Néri, cujo peito teve de ser alargado para dar espaço às palpitações de seu coração abrasado; Santo Estanislau Kostka, ao qual às vezes era preciso banhar o peito em água fria para temperar o ardor de que se consumia por Jesus; São Francisco Xavier que, pelo mesmo motivo, se descobria o peito dizendo: 'Basta, Senhor, basta'; declarando com isso que já não podia suportar a chama que ardia em seu coração.

Procuremos, pois, também nós ter, quanto possível, o amor de Jesus em nosso coração e o seu santo nome nos nossos lábios. O Apóstolo ensina que não podemos pronunciar com devoção o nome de Jesus a não ser pela graça do Espírito Santo. Assim o Espírito Santo comunica-se a todos os que pronunciam devotamente o nome de Jesus.

Para alguns, o nome de Jesus é um nome estranho; por que? porque não amam a Jesus Cristo. Os santos tiveram sempre nos lábios esse nome de salvação e de amor. Nas epístolas de São Paulo quase não se encontra uma página em que não se leia mais vezes o nome de Jesus. São João também o repete frequentemente. Um dia, o bem-aventurado Henrique Suso, querendo imprimir-se mais fortemente no coração o amor de seu divino Mestre, tomou um ferro afiado e gravou-se no peito o nome de Jesus; depois exclamou banhado em sangue: 'Senhor, quisera gravar-vos no fundo do meu coração, mas não posso; vós que tudo podeis, gravai vosso nome adorável no meu coração, de maneira que dele não possa desaparecer nem o vosso nome nem o vosso amor'. Santa Joana de Chantal chegou a imprimir o nome de Jesus em seu coração por meio dum ferro em brasa.

De nós Jesus não pede tanto; contenta-se que o conservemos em nosso coração com um afeto sincero e que o invoquemos muitas vezes com amor. E já que tudo quanto Ele fez e disse durante sua vida, Ele fez e disse por nosso amor, é justo que façamos todas as nossas ações em nome e por amor de Jesus Cristo; São Paulo a isso nos exorta: 'Tudo o que fizerdes, em palavras ou por obra, fazei tudo em nome do Senhor Jesus Cristo'. E já que Jesus Cristo morreu por nós, devemos estar prontos a morrer pelo nome de Jesus, como o apóstolo que dizia: 'Estou pronto a sofrer não só as cadeias, mas também a morte pelo nome do Senhor Jesus'.

Concluamos este discurso. Se, pois, estivermos aflitos, invoquemos a Jesus, e Ele nos dará a força de resistir a todos os nossos inimigos; se enfim estamos áridos e frios no amor divino, invoquemos a Jesus, e Ele nos inflamará. Felizes as almas que tiverem sempre nos lábios esse nome tão santo e amável, nome de paz, nome de esperança, nome de salvação, nome de amor! Mas que felicidade, sobretudo a de morrer, pronunciando o nome de Jesus! Se desejamos exalar o derradeiro suspiro com esse doce nome nos lábios, devemos habituar-nos a repeti-lo muitas vezes durante a vida, e sempre com amor e confiança.

Ao nome de Jesus unamos sempre o belo nome de Maria, que é também um nome vindo do céu, um nome poderoso, que faz tremer o inferno e, ao mesmo tempo, um nome cheio de doçura, pois que nos recorda essa augusta Rainha que é a um tempo a Mãe de Deus e a nossa, Mãe de misericórdia, Mãe de amor.

Afetos e Súplicas

Ó Jesus, já que sois o meu Salvador, que destes o vosso sangue e a vossa vida para resgatar-me, gravai, peço-vos, o vosso nome adorável em meu pobre coração, a fim de que, tendo-o sempre impresso no coração pelo amor, eu o tenha também sempre nos lábios invocando-o em todas as minhas necessidades. Se o demônio me tentar, o vosso nome me dará força de resistir-lhe. Se a confiança me abandonar, o vosso nome me reanimará a esperança. Se estiver aflito, o vosso nome me fortalecerá, recordando-me o muito que sofrestes por mim. Se estiver frio no vosso amor, o vosso nome me inflamará, recordando-me o muito que sofrestes por mim. Se estiver frio no vosso amor, o vosso nome me inflamará, recordando-me o amor que me testemunhastes. No passado, caí muitas vezes no pecado, porque vos não invoquei; para o futuro, o vosso nome será a minha defesa, o meu refúgio, a minha esperança, o meu único consolo e o meu único amor. Assim espero viver, assim espero morrer, tendo sempre nos lábios o vosso santo nome.

Virgem Santíssima, obtende-me a graça de invocar sempre em minhas necessidades o nome de vosso divino Filho, Jesus, e o vosso, minha Mãe Maria; mas fazei que os invoque sempre com confiança e amor, dizendo-vos como o devoto Afonso Rodrigues: 'Ó meu dileto Jesus, ó minha querida Rainha, Maria, concedei-me a graça de sofrer e de morrer por vosso amor: já não quero ser meu, mas vosso e todo vosso, vosso na vida e vosso na morte, em que, com o vosso socorro, espero entregar a minha alma repetindo: Jesus e Maria, ajudai-me; Jesus e Maria, recomendo-me a vós; Jesus e Maria, eu vos amo, confio em vós, e eu vos dou toda a minha alma'.

(Excertos da obra 'Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo', de Santo Afonso Maria de Ligório)

domingo, 29 de dezembro de 2013

DA VIDA ESPIRITUAL (64)

Diante de uma velha fotografia de seus pais, quando jovens:





No coração, Deus também um dia olhou com profundo amor tua fotografia, muitos milênios antes de você nascer, e te escolheu como filho...

SAGRADA FAMÍLIA

Páginas do Evangelho - Festa da Sagrada Família 


Este é o Domingo da Sagrada Família. Deus veio ao mundo por meio da família; eis porque a família é a fonte primária da sociedade, síntese da vida cristã autêntica e a primeira igreja. E que modelo de família cristã Deus legou ao mundo: Jesus, Maria e José: Jesus é a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade; Maria, a Virgem Mãe de Deus, e São José, esposo da Virgem Maria e pai adotivo de Jesus. Família sagrada que viveu em plenitude a submissão à perfeição do amor; submissão que se expressa pelos sentimentos de entrega e renúncia em tudo e não pelo servilismo complacente.

Na humilde casa de Nazaré, três pessoas eram pai, mãe e filho, em natureza sobrenatural exatamente inversa à ordem natural: São José, patriarca e pai de família devotado, com direitos naturais legítimos sobre a esposa e o filho, era o menor em perfeição; Nossa Senhora, esposa e mãe, era Mãe de Deus e de todos os homens; Jesus, a criança indefesa e submissa aos pais, é o Deus feito homem para a salvação do mundo. Portentoso mistério que revela a singular santidade da família humana, moldada sobre clara hierarquia divina, moldada por Deus para ser escola de santificação, amor, renúncia e salvação. 

Eis o legado da Sagrada Família às famílias cristãs: a oração cotidiana santifica os pais e os filhos numa obra incomensurável do amor de Deus e a fortalece contra todos as tribulações. Sim, a Sagrada Família também viveu dias de extrema angústia, perseguição, contrariedades, sacrifícios, exílio: 'Levanta-te, pega o menino e sua mãe e foge para o Egito...porque Herodes vai procurar o menino para matá-lo' (Mt 2, 14). Quantas não são as tribulações e ataques que as forças do mal promovem contra a família cristã nos dias de hoje. Mais do que nunca, é preciso o heroísmo cristão, a perseverança, a fidelidade a Cristo no ambiente familiar. Isso só é possível na oração em família. Que pais e filhos vivam juntos a plenitude do amor em família! Que construam juntos, tijolo por tijolo, a felicidade que tem Deus por plenitude! Vida de família é, antes de tudo, vida de oração em comum, em perfeita comunhão com Cristo, em perfeita comunhão com a Sagrada Família! E viver em oração não significa rezar simplesmente o tempo todo, mas transformar cada ato, trabalho e pensamento em oração. 

Amar em plenitude é cumprir à risca a santa vontade de Deus. Que bela obra de santificação se constrói a cada dia, no seio de uma família cristã, os pais e os filhos que vivem, na pequenez de suas lidas e esforços humanos, a enorme glória de servir a Deus em todos e em tudo. Em Nazaré, Deus tornou a família modelo e instrumento de santificação; que em nossas casas e em nossas famílias, a Sagrada Família seja o modelo e instrumento para a nossa vida e para nossa santificação de todos os dias!  

sábado, 28 de dezembro de 2013

FILHOS DA IGREJA E FILHOS DE LUTERO

Que os protestantes retalham e conspurcam as Santas Escrituras para atacarem e difamarem a Santa Igreja Católica, é fato conhecido e universal. Que tal se eles usassem estes mesmos critérios para interpretarem as blasfêmias que satanás grunhiu pela boca do pai deles, Martinho Lutero? Tomemos uma delas, uma única delas, como tristíssimo exemplo desse farsante demoníaco:

'Cristo cometeu adultério pela primeira vez com a mulher da fonte [do poço de Jacó] de que nos fala São João. Não se murmurava em torno dele: "Que fez, então, com ela?" Depois, com Madalena, depois, com a mulher adúltera, que ele absolveu tão levianamente. Assim, Cristo, tão piedoso, também teve que fornicar, antes de morrer' (Lutero, Tischredden, Table Talk, Weimar, Vol. II, p. 107, apud Franz Funck Brentano, Martinho Lutero, Ed Vecchi Rio de Janeiro 1956, p. 15).

Que alma, senão dominada por satanás até os vórtices mais inacessíveis, seria capaz de semelhante blasfêmia, de pecado tão mortal? Que cristãos seriam capazes de seguir o exemplo e o modelo de tal aberração? 

Infelizmente, milhares de almas, confundidas e confusas em dezenas de seitas protestantes, que se opõem e difamam a santa Igreja Católica como escarnecedores da verdade. Os errados, os condenados, os heréticos são os pobres católicos 'adoradores de imagens' que substituíram o Senhor por uma Senhora, que construíram a farsa da Tradição, quando a única verdade está contida integralmente na bíblia (evidentemente, a 'bíblia protestante', interpretada, organizada e divulgada por pastores e pastoras, pessoas certamente tão preparadas e extraordinárias quanto Lutero).

Assim, numa penada só, desaparece todo o extraordinário acervo da historiografia cristã pelos séculos antes da Reforma Protestante, tornam-se inúteis, ou pior, heréticos, os escritos de santos como Tomás de Aquino, Agostinho ou Luís Grignion de Montfort. As igrejas, as Cruzadas, as Missões, os mártires cristãos, os Concílios, a própria construção da civilização cristã, tudo é tragado nesta concepção diabólica de se negar a Verdadeira Igreja de Cristo. 

Se ela não é a Igreja de Cristo, todos os seus frutos são maus, tudo nela é condenável, e é preciso demonstrar isso aos novos seguidores para que encontrem o verdadeiro caminho da salvação (uma inconsistência, portanto, que Deus tenha permitido que Lutero nascesse apenas no século XV, para garantir-lhes, então, a salvação daí em diante). Mas isso contraria o que o próprio Cristo estabeleceu como premissa (e isso está na Bíblia Católica e na versão protestante): 'Eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo' (Mt 28, 20).

Nos tempos atuais, essa ação diabólica nascida da boca de Lutero ampliou-se de tal forma e com tanta veemência que as seitas protestantes se multiplicam e se reproduzem numa demência coletiva, cuja magnitude e proporção só são passíveis de entendimento e compreensão se movidos por forças malignas de cunho universal. E se, aparentemente, é a Igreja Católica que parece vacilar e se fragilizar, não há nada a temer, pois foi o próprio Cristo que preparou a sua Igreja para estes tempos finais: 'Quando o Filho do Homem voltar, encontrará ainda a fé sobre a terra?' (Lc 18,8). Um 'pequeno resto' certamente a manterá incólume. E muitos outros, incluindo muitos que pregaram inclusive em seu Santo Nome, serão condenados, porque escolheram a porta larga dos falsos profetas e das árvores más que só dão maus frutos (Mt 12, 13 - 27):

13. Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduzem à perdição e numerosos são os que por aí entram.

14. Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho da vida e raros são os que o encontram.

15. Guardai-vos dos falsos profetas. Eles vêm a vós disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos arrebatadores.

16. Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinhos e figos dos abrolhos?

17. Toda árvore boa dá bons frutos; toda árvore má dá maus frutos.

18. Uma árvore boa não pode dar maus frutos; nem uma árvore má, bons frutos.

19. Toda árvore que não der bons frutos será cortada e lançada ao fogo.

20. Pelos seus frutos os conhecereis.

21. Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus.

22. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não pregamos nós em vosso nome, e não foi em vosso nome que expulsamos os demônios e fizemos muitos milagres?

23. E, no entanto, eu lhes direi: Nunca vos conheci. Retirai-vos de mim, operários maus!

24. Aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as põe em prática é semelhante a um homem prudente, que edificou sua casa sobre a rocha.

25. Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa; ela, porém, não caiu, porque estava edificada na rocha.

26. Mas aquele que ouve as minhas palavras e não as põe em prática é semelhante a um homem insensato, que construiu sua casa na areia.

27. Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa; ela caiu e grande foi a sua ruína.