terça-feira, 9 de julho de 2013

EU VENHO EM NOME DE DEUS: O PURGATÓRIO

Por que será que eu me encontro de pé hoje nesse púlpito, meus caros irmãos? O que será que eu venho dizer para vocês? Ah! Eu venho em nome do próprio Deus. Eu venho em nome de seus pobres pais, para despertar em vocês aquele amor e gratidão que vocês lhes devem. Eu venho pra refrescar nas suas memórias novamente, toda a ternura e todo o amor que eles deram a vocês enquanto eles ainda estavam sobre essa terra. 

Eu venho pra dizer a vocês que eles sofrem no Purgatório, que eles choram e reclamam com urgentes gritos o auxílio de suas orações e boas-obras. Eu os tenho visto gritando das profundezas daquelas chamas que os devoram: – 'Digam aos nossos amigos, aos nossos filhos, aos nossos parentes, como é grande o mal que eles estão nos fazendo sofrer. Nós nos atiramos aos seus pés para implorar o auxílio de suas orações! Ah! Diga-lhes que desde que nós fomos separados deles, nós temos estado queimando em chamas! Oh! Quem poderia permanecer tão indiferente diante dos sofrimentos que estamos enfrentando!' 

Você vê, meu caro irmão, você escuta aquela terna mãe, aquele pai devotado e todos aqueles parentes que lhe ajudaram e fizeram parte de sua vida? Meus amigos, eles gritam: – 'Livrai-nos dessa dor, você pode!' Considerem então meus caros amigos: (i) a magnitude desses sofrimentos pelos quais passam as almas do purgatório; (ii) os meios dos quais dispomos para mitigar esses sofrimentos: nossas boas obras, nossas orações e acima de tudo, o santo sacrifício da Missa. 

Eu não quero parar neste estágio para provar a existência do Purgatório, pois isso seria uma perda de tempo. Espero que nenhum de vocês tenha a menor dúvida a este respeito. A Igreja, à qual Jesus Cristo prometeu a guia do Espírito Santo e a qual, consequentemente, não pode se enganar nem nos enganar, ensina-nos sobre o Purgatório de um modo bem claro e positivo. Isto é uma certeza mais que certa, de que lá é um lugar onde as almas dos justos completam a expiação por seus pecados, antes de serem finalmente admitidas na glória do Paraíso, o qual, diga-se de passagem, já está assegurado a elas. Sim meus caros irmãos, isto é um artigo de Fé: se nós não tivermos feito penitência proporcional à gravidade de nossos pecados, ainda que tenhamos sido absolvidos no Sagrado Tribunal da Confissão, nós seremos obrigados a expiar por eles. 

Nas Sagradas Escrituras, há muitos textos que mostram claramente que, embora nossos pecados possam ser perdoados, Deus ainda impõe-nos a obrigação de sofrer neste mundo duros trabalhos temporais ou no próximo através das chamas do Purgatório. Veja o que aconteceu com Adão. Porque ele se arrependeu logo depois de ter cometido o pecado original, Deus garantiu a ele que o havia perdoado, mas ainda assim Ele o condenou a passar nove séculos sobre esta terra fazendo penitência. Penitências que ultrapassam qualquer coisa que possamos imaginar: '... maldita seja a terra por tua causa. Tirarás dela com  trabalhos penosos o teu sustento todos os dias de sua vida. Ela te produzirá espinhos e tu comerás a erva da terra. Comerás o teu pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra de que fostes tirado; porque és pó, e em pó te hás de tornar...1 (Gênesis 3, 17). 

Veja novamente: Davi ordenou, contrariando a vontade de Deus, que se fizesse o recenseamento de Israel. Atingido pelo remorso de consciência, ele reconheceu o seu pecado, atirou-se ao chão suplicando ao Senhor que o perdoasse. Consequentemente, Deus tocado pelo seu arrependimento, o perdoou. Mas apesar disso, ele enviou Gad para dizer a Davi que ele teria que escolher entre três tipos de punições que Ele havia preparado para Davi reparar pelo seu pecado: a peste, a fome ou a guerra. Davi então respondeu: 'Ah! Caia eu nas mãos do Senhor, porque imensa é a sua misericórdia; mas que eu não caia nas mãos do homem...' (I Crônicas 21). 

Ele escolheu a peste e esta durou apenas três dias, mas matou sete mil pessoas de seu povo. Se o Senhor não tivesse detido a mão do Anjo que estava estendida sobre Israel, Jerusalém inteira teria ficado despovoada! Davi ao ver todo o mal causado pelo seu pecado, implorou a graça de Deus pedindo que Deus punisse apenas ele mesmo, mas que poupasse o seu povo que era inocente. Vejam também as penitências de Santa Maria Madalena! Quem sabe não sirvam para amolecer um pouco seus corações? 

Meus caros irmãos, o que serão então, o número de anos que nós teremos que sofrer no Purgatório, nós que cometemos tantos pecados e que sob o pretexto de já o termos confessado, não fazemos penitências e nem choramos por eles? Quantos anos de sofrimento nos esperam na próxima vida? Como poderia eu pintar um quadro dos sofrimentos que essas pobres almas suportam, quando os santos padres da Igreja dizem-nos que os tormentos que elas sofrem são comparáveis ao que passou Nosso Senhor Jesus Cristo durante sua dolorosa paixão? Uma coisa é certa, se o menor sofrimento que Nosso Senhor suportou tivesse sido compartilhado por toda a humanidade, todos estariam mortos devido à violência de seus sofrimentos. 

O fogo do Purgatório é o mesmo que o fogo do Inferno. A diferença entre eles é que o fogo do Purgatório não é eterno. Oh! Se Deus permitisse que uma daquelas pobres almas que estão mergulhadas nas chamas, aparecesse agora neste lugar, toda envolvida pelas chamas que a consome e desse ela mesma um recital dos sofrimentos que ela está suportando! Toda essa Igreja, meus caros irmãos, seria sacudida pelo eco de seus gritos e soluços e talvez quem sabe isso amoleceria os seus corações? Esta pobre alma nos diria: – 'Como nós sofremos! Ó irmãos, livrai-nos desses tormentos! Ah, se vocês pudessem experimentar o que é viver separado de Deus!... Cruel separação! Queimar no fogo aceso pela justiça de Deus! Sofrer dores incompreensíveis para a mente humana!... Ser devorado pelo remorso, sabendo que poderíamos facilmente ter evitado esses tormentos!... 

Oh! Meus filhos! - gritam os pais e as mães - como podem vocês nos abandonar nessas horas, nós que tanto os amamos quando estávamos sobre essa terra! Como vocês podem ir dormir tranquilamente em suas camas, enquanto nós queimamos em uma cama de fogo? Como vocês têm coragem de se entregar aos prazeres e alegrias, enquanto nós sofremos e choramos dia e noite? Vocês herdaram nossos bens, nossas propriedades, vocês se divertem com o fruto de nossos trabalhos, enquanto nós sofremos males tão indescritíveis e por tantos anos!... E não são capazes de oferecer uma pequena oração em nossa intenção, nem uma simples Missa que tanto ajudaria para nos livrar dessas chamas!... Vocês podem aliviar nosso sofrimento, vocês podem abrir nossas prisões e vocês simplesmente nos abandonam. Oh! Quão cruéis são estes sofrimentos!...'. 

Sim meus irmãos, as pessoas julgam de um modo muito diferente, o que é estar nas chamas do Purgatório por todas essas culpas leves. Se é que é possível chamar de 'leve' algo que nos faz suportar punição tão rigorosa! Que espanto seria para o homem, grita o profeta real, se mesmo o mais justo dos homens fosse julgado por Deus sem nenhuma misericórdia! Se Deus achou manchas até no sol e malícia nos anjos, o que será então do homem pecador? E para nós que cometemos tantos pecados mortais e praticamente não fazemos nada para satisfazer a justiça de Deus. Quantos anos de Purgatório! 

'Meu Deus!' – disse Santa Tereza de Ávila – 'que alma seria suficientemente pura para entrar diretamente no Céu sem ter que passar pelas chamas da justiça?' Em sua última doença, ela de repente gritou: 'Oh Justiça e Poder do meu Deus, quão terrível sois!' Durante sua agonia, Deus permitiu que ela contemplasse por alguns segundos a Sua Santidade, assim como os anjos e os santos do Céu O contemplam. E isso causou nela um pavor tão grande, que ela se pôs a tremer e ficou agitada de um modo tão extraordinário que as irmãs perguntaram-lhe chorando: – 'Ah! Madre, o que está se passando? Certamente que a senhora não teme a morte depois de tantos anos de penitência e lágrimas amargas!' – 'Não, minhas filhas, eu não temo a morte, muito pelo contrário, eu a desejo porque só assim estarei unida eternamente a Deus'. – 'Oh! Madre, seriam os teus pecados então, que ainda te aterrorizam depois de tantas mortificações?' – 'Sim minhas filhas' - respondeu Tereza - 'eu temo pelos meus pecados, mas temo por algo ainda maior!' – 'Seria então, o julgamento?' – 'Sim, eu temo pela formidável conta que terei que prestar diante de Deus. Principalmente porque nesse momento seremos julgados pela justiça e não pela misericórdia. Mas tem algo que ainda me faz morrer de terror'. As pobres irmãs já estavam profundamente angustiadas. – 'Madre, seria por acaso o Inferno?' – 'Não' - respondeu ela - 'O inferno, graças a Deus não é pra mim. Oh! Minhas filhas, é a Santidade de Deus. Meu Deus, tende misericórdia de mim! Minha vida será confrontada face a face com o próprio Cristo! Ai de mim se eu tiver a menor mancha ou falha! Ai de mim, se eu tiver a menor sombra de pecado!' – 'Ai de nós!' - gritaram as pobres irmãs - 'O que será então no dia das nossas mortes?' 

O que será então de nós, meus caros irmãos? Nós que talvez em todas as nossas penitências e boas obras, talvez nunca tenhamos conseguido satisfazer por um único pecado perdoado no tribunal da Confissão? Ah! Quantos anos e séculos de tormento para nos punir?... Vamos pagar muito caro por todas essas 'pequenas falhas' que nós vemos como algo que não tem a menor importância, como aquelas 'pequenas mentirinhas' que nós falamos para evitar problemas para nós mesmos, aqueles pequenos escândalos, o desprezo pelas graças que Deus nos concede a cada momento, aquelas pequenas murmurações nas dificuldades que Ele nos envia! Não, meus caros irmãos, nós não teríamos nunca a coragem de cometer o menor pecado, se pudéssemos entender o quanto isto ultraja a Deus e o quão merecemos ser rigorosamente punidos, já ainda nesse mundo. 

Meus irmãos, Deus é justo em tudo que Ele faz. Quando Ele recompensa-nos até pela menor boa ação que fazemos, Ele nos dá muito mais do que qualquer um de nós merecemos. Um bom pensamento, uma boa ação, um bom desejo, ou seja, o desejo de fazer uma boa obra, mesmo quando não somos capazes de fazê-la, Ele nunca nos deixa sem uma recompensa. Mas também, quando se trata de uma matéria de punição, isto é feito com o maior rigor e ainda que tenhamos a menor falta seremos enviados para o Purgatório. Isto é verdade absoluta e nós comprovamos isto pela vida dos santos. Muitos deles não chegaram ao Céu, sem antes terem passado pelas chamas do Purgatório. 

São Pedro Damião conta-nos que sua irmã permaneceu vários anos no Purgatório porque ela ouviu com prazer certos tipos de músicas. Conta-se também que dois religiosos fizeram um pacto um com o outro, acertando que quem morresse primeiro viria contar ao sobrevivente em que estado ele se encontrava. Deus permitiu que isso acontecesse e quando um deles morreu, apareceu ao seu amigo. Ele contou ao seu amigo que tinha permanecido 15 anos no Purgatório por seu orgulho de sempre querer fazer as coisas a seu modo. Então seu amigo o cumprimentou por ter permanecido lá por tão pouco tempo! O morto então respondeu: – 'Eu teria preferido ser queimado vivo por 10 mil anos ininterruptos nessa terra, pois esse sofrimento nem poderia ser comparado com o que eu sofri 15 anos naquelas chamas!' 

Um sacerdote contou a um de seus amigos que Deus o havia condenado a permanecer no Purgatório por vários meses, por ter segurado a execução de uma boa-obra que era Vontade de Deus que fosse feita. Coitados de nós, meus irmãos! Quantos de nós não temos faltas semelhantes? Quantos de nós recebemos a tarefa de nossos parentes e amigos de mandarmos celebrar Missas e dar esmolas e simplesmente fazemo-nos de esquecidos! Quantos de nós evitamos fazer boas-obras apenas por respeito humano? E todas essas almas presas nas chamas, porque não temos coragem de satisfazer seus desejos! Pobres pais e pobres mães, vocês agora estão sendo sacrificados pela felicidade de seus filhos e parentes! Vocês talvez tenham negligenciado sua própria salvação para construírem suas fortunas. E agora vocês estão sendo traídos pelas boas-obras que vocês deixaram de fazer enquanto ainda estavam vivos! Pobres pais! Quanta cegueira é esquecer de nossa própria salvação! 

Você talvez me dirá: – 'Nossos pais eram pessoas boas e honestas. Eles não fizeram nada de tão grave para merecerem essas chamas!' Ah! Se vocês soubessem que eles precisavam de muito menos do que eles fizeram para cair nessas chamas! Vejam o que disse a esse respeito, Alberto, o Grande, um homem cujas virtudes brilharam de modo extraordinário! Ele revelou a um de seus amigos, que Deus o havia levado ao Purgatório por ter se orgulhado de um pensamento sobre seu próprio conhecimento. A coisa mais surpreendente foi que ali haviam verdadeiros santos, muitos que inclusive já tinham sido canonizados pela Igreja e que estavam passando pelas chamas do Purgatório. São Severino, Arcebispo de Colônia, apareceu a um de seus amigos muito tempo depois de sua morte e disse-lhe que ele havia passado um longo tempo no Purgatório por ter adiado pra de noite, as orações do breviário que ele devia ter recitado pela manhã. 

Oh! Quantos anos de Purgatório não passarão aqueles cristãos que não tem o menor escrúpulo em adiar suas orações para uma outra hora, apenas pela desculpa de terem algo mais importante a fazer! Se nós realmente desejássemos a felicidade de possuir a visão beatífica de Deus, nós evitaríamos tanto os pecados mortais como os veniais, uma vez que a separação de Deus constitui-se um tormento tão terrível para essas almas!


(São João Maria Vianney, o Cura d’Ars

09 DE JULHO - SANTA PAULINA DO CORAÇÃO AGONIZANTE DE JESUS


A primeira santa brasileira nasceu Amábile Lúcia Visintainer em Vigolo Vittaro (Itália), em 16 de dezembro de 1865. A família imigrou para o Brasil quando Amábile tinha apenas 9 anos, fixando-se no povoado de Vigolo, em Nova Trento (SC), que recebeu o mesmo nome de sua terra natal. Aos 25 anos, após a morte da mãe, deu início, junto à amiga Virgínia Rosa Nicolodi, à obra que hoje é conhecida no Brasil inteiro e em muitos países como Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, fundada pela santa madre no dia 12 de julho de 1890. 

Em dezembro de 1895, Amábile e as duas primeiras companheiras (Virgínia e Teresa Anna Maule) fizeram os votos religiosos e Amábile recebeu o nome de Irmã Paulina do Coração Agonizante de Jesus. A santidade e a vida apostólica de Madre Paulina e de suas Irmãs atraíram muitas vocações, apesar da pobreza e das dificuldades em que viviam.

Em 1903, Madre Paulina foi eleita Superiora Geral por toda a vida pelas Irmãs da nascente congregação, que deixou Nova Trento e estabeleceu-se em São Paulo. Neste período, sofreu grandes perseguições que culminaram em sua destituição e afastamento da própria Congregação que havia fundado. Somente em 1918, foi readmitida na mesma, passando, então, a morar na casa-sede da congregação no Bairro do Ipiranga em São Paulo, onde permaneceu até a sua morte.

Em 1938, tiveram início os sérios problemas de diabetes, que a levaram a amputar um braço e a ficar completamente cega. Morreu piedosamente aos 76 anos, em 9 de julho de 1942, sendo suas últimas palavras as de sua habitual jaculatória: "Seja feita a vontade de Deus".

Em 1933, o Papa Pio XI assinou o Decreto de Louvor reconhecendo a importância de sua obra de caridade. O processo de canonização de Madre Paulina teve início em 1965. A primeira Santa do Brasil foi beatificada pelo Papa João Paulo II em 18 de outubro de 1991, em Florianópolis, Estado de Santa Catarina, Brasil.

EXCERTOS DA HOMILIA DO PAPA JOÃO PAULO II
NA CELEBRAÇÃO DA MISSA  DE BEATIFICAÇÃO
 DE MADRE PAULINA

Florianópolis, 18 de Outubro de 1991

1. Minha alegria no dia de hoje, queridos irmãos e irmãs de Florianópolis e de Santa Catarina, tem um motivo todo especial: a beatificação da Madre Paulina do Coração de Jesus Agonizante. Ela é, na verdade, uma representante bem legítima do povo catarinense. Como os pais e os avós de muitos dos que aqui estão, pertence ela a uma destas famílias que aqui chegaram no século passado e deram uma feição toda especial à terra catarinense.Foi uma destas famílias, vindas do Tirol e radicadas na região de Nova Trento, que deu ao Brasil e à Igreja a Madre Paulina. Hoje, diante de vós, ela será elevada pelo Papa à glória dos altares. 

Hoje, com a cerimônia da beatificação professamos nossa fé na Comunhão dos Santos. E ao mesmo tempo, consolida-se nossa esperança de santidade, de participação na vida de Deus. Ora, os santos nos indicam o caminho desta esperança. Deste modo cumprem eles uma particular tarefa dentro da missão evangelizadora da Igreja sobre a terra, e proclamam a vocação cristã à santidade. Eles nos exortam: “Revesti-vos da caridade, que é o vínculo da perfeição” (Cfr. Cl 3, 14).

2. Como foi que a Madre Paulina, que hoje proclamaremos beata, se revestiu desta caridade? O que mais se destaca na vida dos santos é sua capacidade de despertar o desejo de Deus, naqueles que tem a felicidade de deles se aproximar. Foi precisamente este o dom vivido em sumo grau por Madre Paulina. Soube ela converter todas as suas palavras e ações, num contínuo ato de louvor a Deus. Durante a juventude pediu a Deus a graça de entrar na vida religiosa com o único fim de amá-Lo e de servi-Lo com a maior perfeição possível. Sua conformidade com a vontade de Deus, levou-a a uma constante renúncia de si mesma, não recusando qualquer sacrifício para cumprir os desígnios divinos, especialmente no período, particularmente heróico, da sua destituição como Superiora Geral da Congregação por ela fundada.

Fruto desse grande amor de Deus, foi a caridade vivida pela Serva de Deus, desde menina até o último instante de sua vida terrena, em relação a todos que conviveram com ela. No seu testamento espiritual ela escreveu: Muito vos encareço que haja entre todas a santa Caridade, especialmente para com os doentes das Santas Casas, (os velhos) dos asilos, etc. Tende grande apreço pela prática da santa Caridade. Esse estar-para-os-outros, constituiu-se como o pano de fundo de toda sua vida. Os pobres e os doentes, foram os dois ideais da vida ascética da Madre Paulina, que, no seu serviço encontrava o incentivo para crescer no amor de Deus e na prática das virtudes.

3. Queridas filhas da Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, o exemplo de santidade de vossa Madre Fundadora, recolhe esta mensagem perene que a Santa Igreja guarda como tesouro precioso.Ser santo significa opor-se ao pecado, à ruptura com Deus.A Igreja existe para a santificação dos homens em Cristo. É esta santidade que ela deve levar também aos homens do mundo secularizado para que não se profanizem. Por isso ela ensina também que santidade não é “alienação”, como às vezes se ouve dizer, mas uma maior familiaridade com as realidades mais profundas de Deus.

4. Foi precisamente esta capacidade de manter-se constantemente unida a Deus e, ao mesmo tempo, de desenvolver um intensíssimo trabalho pelo bem das almas, que caracterizou a vida da Beata Paulina do Coração de Jesus Agonizante. A Igreja a propõe, a partir de hoje, como modelo de vida a ser admirado e imitado.

5. Deus disse a Abraão: “Deixa tua terra, tua família e a casa do teu pai, e vai para a terra que eu te mostrar” (Gn 12, 1). Ele repete hoje a todos nós, a cada um de nós: deixa tua terra, que é um lugar de passagem, deixa o lugar da casa dos teus pais, lugar de tantas gerações - e vai para a terra que eu te indicar. A Beata Paulina do Coração de Jesus Agonizante seguiu este chamado de Cristo. Que o exemplo de Madre Paulina possa inspirar a todos uma resposta decidida, generosa, ao chamado de Cristo à santidade! Confio à proteção materna da Virgem Maria, Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora do Desterro como A venerais aqui em Florianópolis, o presente e o futuro da Igreja no Brasil. Ela precisa, hoje, mais do que nunca, de santos!

domingo, 7 de julho de 2013

APOSTOLADO E ORAÇÃO

Páginas do Evangelho - Décimo Quarto Domingo do Tempo Comum


Eis a missão: levar a Boa Nova do Reino de Deus a todas as criaturas. Eis a síntese do apostolado cristão para os homens de sempre: anunciar o Evangelho de Cristo ao mundo inteiro. Ser missionário e se fazer apóstolo, aí estão as marcas de identidade de um cristão no mundo. De todos os cristãos: os primeiros doze apóstolos, os outros setenta e dois, os cristãos de todos os tempos, eu e você. Porque 'a messe é grande e os trabalhadores são poucos' (Lc 10, 2) e a nossa oração sincera é semente profícua que faz brotar novos apóstolos e novos missionários no Coração do Senhor da Messe.

Como cordeiros entre lobos, como emissários da paz entre promotores das guerras, os cristãos estão no mundo para torná-lo um mundo cristão. O apostolado começa com o bom exemplo, expande-se com o amor ao próximo, multiplica-se pela caridade. Não é preciso levar alforge ou vestimenta especial, apenas a entrega complacente à Santa Vontade de Deus. É imperioso o serviço da vocação; os frutos pertencem aos ditames da Providência. O reino de Deus deve ser proclamado para todos, em todos os lugares, mas a Boa Nova será recebida com jubilosa gratidão num lugar ou indiferença profunda em outro; aqui vai gerar frutos de salvação, mais além será pedra de tropeço. Em outros lugares ainda, será rejeitada simplesmente e, nestes, a sentença não será velada: 'Até a poeira de vossa cidade, que se apegou aos nossos pés, sacudimos contra vós' (Lc 10, 11).

Operários da grande messe do Senhor, nós, os cristãos, não podemos dispor das comodidades do mundo para vivermos a planura das alegrias efêmeras das calmarias. Não há amor sem sofrimento. Não há graça corrompida pelo respeito humano. Não há frutos de salvação em palavras amenas e solícitas. Deus nos quer valorosos combatentes da fé, pregadores perseverantes da Verdade Plena. À luz do Evangelho de Cristo, somos o sal da terra e a luz do mundo (Mt 5, 13-14). E ainda que sejamos capazes de domar a natureza e realizar prodígios, a felicidade cristã não está nos eventos temporais aqui na terra, mas na Eterna Glória daqueles que souberam combater o 'bom combate' (2Tm 4,7) e os quais Jesus nomeou como santos de Deus: 'vossos nomes estão escritos no céu' (Lc 10,20).

sábado, 6 de julho de 2013

HISTÓRIAS QUE OUVI CONTAR (IX)

'Eu não sei rezar?' Este era o pensamento que sufocava Celeste. Mãe de família, ciosa de suas obrigações familiares, dona de casa exemplar, religiosa e dedicada às suas orações, às suas missas, às suas comunhões frequentes. E no entanto... Acendera a vela benta durante as provas do vestibular da filha Clara com tanta devoção! Rezara pedindo as bênçãos e as luzes de Nossa Senhora Aparecida, de Nossa Senhora do Carmo, de Santa Terezinha para a menina não ficar nervosa, para se concentrar nas questões, para ter o discernimento do espírito, para ter a inteligência aguçada, para ter controle emocional, para fazer bem as provas, para passar no vestibular. E no entanto... Não cuidara com tanto carinho da imagem sagrada, não refizera o caprichado arranjo do pequeno retábulo, não colocara o terço nas mãos da santinha, não acendera a vela com tanto fervor e confiança? E no entanto...

Só podia ser isso: ela não sabia rezar direito. Rezava, mas sem saber colocar as palavras, talvez pedisse muitas coisas, talvez pedisse sem confiança, talvez tivesse esquecido de agradecer antes de pedir... Talvez tivesse feito as orações de sempre, e não colocara a sua própria oração. Talvez tivesse falado muito com suas próprias palavras e esquecido as orações que Deus ouve mais. Talvez tenha se distraído mais do que devia, se desconcentrado no que rezava, perdido a presença de Deus em sua oração. Quem sabe rezara sozinha e devia ter rezado em família, talvez rezara em cima da hora quando devesse ter pedido as graças com mais antecedência. Quem sabe faltara naquele momento uma novena, quem sabe um terço a mais?

Celeste estava sozinha, mergulhada em tantos pensamentos, ciosa de todas as suas preocupações, aflita pela sua incapacidade de fazer acontecer o desejado, imobilizada pela graça não alcançada, tristíssima pela filha não aprovada no vestibular, desamparada na sua insegurança, sozinha de Deus na sua desventura de momento.

Diante de Celeste deprimida e angustiada, o seu Anjo da Guarda rezava. Por tão grande graça concedida a essa mulher inconformada, a essa mãe chorosa, a essa criatura absorvida em sua enorme fragilidade e insensatez. Deus não troca as alegrias da terra pelas sementes da glória. Os enlevos e os sonhos dos homens não constroem abrigos no céu. Clara haveria de passar em outro vestibular à frente e seria de outra forma que encontraria o homem que seria seu marido. Em outros lugares e sob outras circunstâncias, ela seria muito mais instrumento da graça para si e para muitos outros. De forma diversa sedimentaria os dons de Deus em seu coração, com outra vida. De forma diversa, sua alma correria ao encontro de Deus no fim de todos os seus dias. 

Na pequena sala de estar, uma criatura humana era tomada de amargor profundo e um Anjo glorificava por meio dela as maravilhas da misericórdia de Deus! 

PRIMEIRO SÁBADO DE JULHO


Mensagem de Nossa Senhora à Irmã Lúcia, vidente de Fátima: 
                                                                                                                           (Pontevedra / Espanha)

‘Olha, Minha filha, o Meu Coração cercado de espinhos que os homens ingratos a todo o momento Me cravam, com blasfêmias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de Me consolar e diz que a todos aqueles que durante cinco meses seguidos, no primeiro sábado, se confessarem*, recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um Terço e Me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 Mistérios do Rosário com o fim de Me desagravar, Eu prometo assistir-lhes à hora da morte com todas as graças necessárias para a salvação.’
* Com base em aparições posteriores, esclareceu-se que a confissão poderia não se realizar no sábado propriamente dito, mas antes, desde que feita com a intenção explícita (interiormente) de se fazê-la para fins de reparação às blasfêmias cometidas contra o Imaculado Coração de Maria no primeiro sábado seguinte.

A MORTE DO MAU SACERDOTE

Palavras de Deus a Santa Catarina de Siena (II)

Santa Catarina de Siena (1347 - 1380), doutora da Igreja

Filha querida! Se grande é a dignidade do bom sacerdote, enorme é a baixeza do sacerdote mau, e cheia de trevas a sua morte. No momento de falecer, os demônios o acusam tremendamente e mostram-lhe sua figura que, como sabes, é horrível. O homem deveria tolerar qualquer sofrimento nesta vida para não o ver jamais! O remorso corrói o mau sacerdote moribundo com mais violência; a sensualidade - até então considerada como senhora - e também os prazeres desordenados, acusam-no. Ao tomar consciência de coisas que desconhecia, o mau sacerdote se perturba grandemente, pois vivera como um infiel. O egoísmo apagara-lhe a iluminação da fé. Agora o demônio aponta sua maldade, provocando-lhe o desespero.

Muito difícil esta batalha para o mau sacerdote moribundo, desarmado, sem o escudo da caridade. Qual amigo do diabo, de tudo se vê despojado: não possui a iluminação sobrenatural da fé, nem a ciência sagrada. Nada compreendera desta última, porque a soberba não lhe permitira penetrar em sua natureza íntima. Na grande luta final, nem sabe o que fazer. Não se alimentara de esperança; jamais confiara no sangue de Cristo, do qual fora distribuidor. Sua confiança repousava em si mesmo, nos cargos importantes, nos prazeres mundanos. Ó infeliz demônio encarnado, a quem eu tudo confiara com abundância! Na hora de me prestares contas, estás com as mãos vazias!

Para qualquer lado que se volte, o mau sacerdote só encontra repreensões na hora da morte, em uma grande confusão. As injustiças cometidas durante a vida acusam-no em sua consciência; resta-lhe apenas a coragem de implorar a justiça divina. Afirmo-te que grandes são a sua perturbação e vergonha; só um auxílio lhe resta: o costume de esperar no meu perdão. Tal costume no pecador havia sido, sem dúvida, um ato de presunção; não se pode dar o nome de confiança no perdão à atitude de quem peca por esperar ser perdoado. Isso é presunção. De qualquer modo, tal comportamento é levado em consideração, quando o pecador reconhece os próprios males antes da morte e se confessa. Nesse caso, a presunção também é esquecida, desaparece com o perdão. Mesmo para os pecadores, minha misericórdia sempre constitui um fiozinho de esperança; não fosse ela, cairiam no desespero e iriam com os demônios para a eterna condenação.

É bondade minha o fato de que os maus possam esperar no meu perdão. Deixo-lhes essa esperança para que, confiantes no perdão, deixem de pecar. Desejo que cresçam na caridade em consideração de minha generosidade. Infelizmente servem-se dela em sentido inverso: ofendem-me porque confiam no perdão. Assim mesmo eu os conservo vivos; quero que lhes fique um ponto de apoio no último instante, para que não se desesperem e não se condenem. Este pecado de desespero desagrada-me e prejudica os homens mais do que todos os outros males. É o mais prejudicial pelo seguinte: os demais vícios são cometidos pelo incentivo de algum prazer; deles a pessoa pode, portanto, arrepender-se e obter o perdão. No pecado de desespero o homem não é movido por fraqueza alguma. O ato de desesperar-se não inclui debilidade, mas somente intolerável dor. Quem desespera, despreza minha misericórdia e julga que seu pecado é maior que minha bondade. Quem faz tal pecado já não se arrepende, já não sente dor pela culpa. Poderá o responsável queixar-se do castigo recebido, mas não da ofensa cometida. Por essa razão são condenados.

Como vês, é o pecado do desespero que conduz alguém ao inferno, mas lá o homem sofrerá também por causa dos outros erros. Quando o pecador se arrepende das faltas passadas, é perdoado. Minha misericórdia é infinitamente maior que todos os pecados que um homem possa cometer. Entristece-me o fato de que alguém considere suas faltas maiores que meu perdão. Esse é o pecado que não será perdoado nem neste mundo, nem no outro (Mt XII, 32). Desagrada-me o ato de desespero de quem passou a vida no mal; gostaria que se apoiasse no meu perdão. Eis a razão por que permito aquele engano em que vivem, confiando em meu futuro perdão. Acostumados com tal esperança, dificilmente irão abandoná-la no momento da morte, diante das duras repreensões. Seria mais difícil, se não tivessem esse hábito.

Todas essas coisas são concedidas aos pecadores pela chama e abismo do meu imenso amor. Mas, devido ao egoísmo que é fonte de todos os males, abusam de mim; desconhecem minha caridade, transformam a confiança em presunção. Esta é, aliás, uma das repreensões que irão receber da própria consciência diante do demônio. Serão acusados porque tinham o dever de usar a vida e meu perdão para progredir no amor e nas demais virtudes; deviam passar o tempo na prática do bem. Mas na realidade, serviram-se do tempo e da minha misericórdia ofendendo-me desastrosamente.

Ó grande cego, enterraste a pedra preciosa e o talento (Mt XXV, 25) que eu colocara em tuas mãos para que os fizesses frutificar! Com muita presunção, recusaste cumprir o meu desejo. Enterraste-os no solo do egoísmo; agora colhes seu fruto mortal. Infeliz! Como é grande o castigo que recebes agora, no fim da vida. Conheces tuas culpas; o remorso já não dorme, como antes. Chamam-te os demônios e sabem que mereces a condenação. Desejosos de que não lhes escapes das mãos, provocam-te ao desespero, lançam-te à perturbação. Aspiram por que venhas a ter o que já possuem. Ó infeliz, tua dignidade sacerdotal mostra-se brilhante ante os teus olhos! Assim, envergonhado, reconhecerás como a mantiveste nas trevas. Os bens pertencentes à igreja ali estarão a recordar-te que és um ladrão, um devedor de coisas que pertenciam a ela e aos pobres. A consciência faz-te pensar no dinheiro gasto com prostitutas e na educação dos filhos, no enriquecimento de parentes e na gula, em ornamentação da casa, em vasos de prata, ao passo que era teu dever ser voluntariamente pobre. A consciência ainda recordar-te-á o ofício divino que deixaste de recitar sem medo de cometer pecado mortal; recordará como, ao recitá-lo com a boca, teu coração estava bem longe. Em forma de horrível demônio, ela mostrará os súditos pelos quais devias ter caridade e zelo, aos quais devias alimentar com a virtude, o bom exemplo, e corrigir com misericórdia e justiça. A ti, prelado, ela recordará prelaturas e curas de alma que erradamente confiaste sem olhar para quem e como davas. Não podias entregá-las motivado por discursos bajuladores e com a finalidade de agradar ou ganhar presentes. Ela far-te-á compreender que era preciso ter olhado as virtudes do candidato, considerar onde estava minha glorificação, quem poderia ser de maior utilidade à salvação dos homens. Por ter agido assim, serás repreendido. Por fim, para maior pena e confusão, passará diante de teu pensamento tudo o que não devias fazer e fizeste, tudo o que devias fazer e não fizeste.

Filha querida, as cores branco e preto destacam-se mais quando colocadas uma ao lado da outra. O mesmo acontece com estes infelizes sacerdotes moribundos. Na hora da morte, compreendem melhor os próprios males e virtudes. Ao sacerdote justo aparece claramente sua felicidade; ao pecador, a sua vida criminosa. Não é preciso que alguém lhes dê explicações. A própria consciência mostra os pecados cometidos e as virtudes que deveriam ter praticado. Queres saber por que o pecador se recorda também das virtudes? Porque colocando-se, lado a lado, vício e virtude, o conhecimento do bem realça a gravidade do mal e envergonha. Igualmente a virtude é esclarecida pelo mal e a pessoa sente maior dor ao ver que viveu distante do bem.

Em tal conhecimento da virtude e do vício, os sacerdotes maus percebem qual é a felicidade reservada aos virtuosos, bem como qual o castigo preparado para quem viveu nas trevas do pecado mortal. Propício tal conhecimento, não para induzir o homem ao desespero, mas a fim de que se conheça perfeitamente e se envergonhe de ter pecado. Essa vergonha e autoconhecimento querem levar o moribundo a dar reparação pelos seus pecados, aplacando minha justiça com o humilde pedido de perdão. Quanto ao sacerdote virtuoso, este esclarecimento final acresce a alegria de te vivido bem e de ter trilhado a mensagem de Cristo, não por bondade sua, mas minha. Leva-o a rejubilar-se em mim e, com tal visão, a atingir a meta da felicidade. (...).

É desta forma que o justo, após ter vivido na caridade, alegra-se, e o pecador sofre. Com a visão do demônio e as trevas, nada padece o justo; somente o pecado prejudica o homem. Sofrem e temem aqueles que viveram na impureza e outras degradações. Em si mesma a visão do diabo e das trevas não constituem motivo de desespero; é um sofrimento que urge o remorso, o temor. Como vês, minha filha, é muito diversa a agonia de uns e de outros, da mesma forma que são diferentes suas metas finais. Revelei-te a mínima parte, como que um nada em comparação com a realidade, seja dos castigos como da beatitude. Esforça-te por compreender a cegueira humana, especialmente dos maus sacerdotes. Dei-lhes tantas coisas; foram esclarecidos pela Escritura Sagrada! Sua confusão será maior. Durante a vida conheceram a Bíblia de um modo mais perfeito; por isso, na hora da morte terão mais consciência dos seus males. Maiores tormentos também receberão que os demais cristãos, da mesma forma como os bons sacerdotes obterão maior glória.

Acontece-lhes como para o cristão e o pagão que vão para o inferno. O cristão terá maiores sofrimentos, porque possuía a fé e a ela renunciou, ao passo que o pagão nunca a teve. Assim, os sacerdotes maus sofrerão mais que os simples cristãos, por causa do ministério de distribuir o sol no Santíssimo Sacramento. Se eles tivessem querido, discerniriam a verdade, pois possuíam a ciência sagrada. Por justiça padecem mais. Mas infelizmente os maus sacerdotes não o compreendem. Com um pouco de entendimento sobre a própria condição, evitariam tais desgraças. Viveriam no modo conveniente. Embora esteja o mundo todo corrompido, os sacerdotes são hoje piores que os leigos. Eles mancham a própria alma, corrompem os súditos, enfraquecem a santa Igreja. Empalidecem-na com seus defeitos, negam-lhe amor, gostam só de si mesmos. Da Santa Igreja querem apenas desfrutar cargos e rendas, esquecidos do dever de procurar as almas. Suas vidas tornam os leigos desrespeitosos e desobedientes, muito embora tal atitude não se justifique pelos defeitos dos ministros.

Sumário e exortação:

Teria eu ainda muitos defeitos dos sacerdotes para contar-te, mas não quero ferir teus ouvidos.(...) Filha querida, quero convidar-te, e também os outros servidores meus, a que choreis sobre esses (sacerdotes) mortos. Permanecei na Santa Igreja, alimentai-vos com o desejo santo e contínuas orações. Oferecei-as a mim em favor deles. Quero ser misericordioso para com o mundo. Não deixeis de fazê-lo! Nem por motivos de dificuldades, nem de comodidade; não desejo ver em vós reações de impaciência ou de exagerada alegria. Com humildade, aplicai-vos em dar-me honra, em salvar as almas, em reformar a Santa Igreja. Será esse o sinal de que tu e os demais servidores realmente me amais.

Certa vez eu te manifestei o seguinte: 'Quero que tu e os outros servidores sejais sempre ovelhas da Santa Igreja, suportando adversidades até o momento da morte'. Se fizerdes tal coisa, cumprirei os teus desejos.

(Excertos da obra 'Diálogo' de Santa Catarina de Siena)

sexta-feira, 5 de julho de 2013

A MORTE DO BOM SACERDOTE

Palavras de Deus a Santa Catarina de Siena (I)

Santa Catarina de Siena (1347 - 1380), doutora da Igreja

Sabes que o sofrimento existe por causa da vontade; ninguém padeceria, se a vontade de todos fosse reta e estivesse em conformidade com a minha. Com isto não quero dizer que iriam desaparecer as dificuldades. É o sofrimento que não existiria, pois as contrariedades seriam voluntariamente aceitas por meu amor. As pessoas aceitariam-nas, por saber que são queridas por mim. O homem conformado à minha vontade é desapegado de si mesmo, vence o mundo, o demônio e a carne; ao chegar o momento da morte, seu falecimento acontece na paz. Como seus inimigos foram vencidos durante a vida, já renunciou a seus prazeres; a carne enfraquecida não se ergue para o acusar, uma vez que foi dominada pela mortificação, vigílias, oração humilde e contínua. Graças à renúncia ao pecado e apego à virtude, não sente mais tendências para o que é sensível e amor pelo corpo, atitudes essas que tornam a morte indesejável. Por um sentimento natural, o homem teme a morte; o justo supera esse sentimento, vence o medo natural mediante o desejo de alcançar a meta. Desaparece, pois, todo sofrimento que vem do apego natural ao corpo.

A consciência do homem justo que agoniza está tranquila; durante a vida ela montou boa guarda, dera o alarme quando os inimigos da alma queriam assaltar a cidade interior. Como o cachorro late à chegada dos inimigos e acorda os guardas, assim ela sempre advertia a razão. Esta última, em ação conjugada com o livre arbítrio, distinguia quem era o inimigo, quem não. Diante dos amigos - virtudes e santos desejos do coração - acolhia-os com atenções; quanto aos inimigos - vício e maus pensamentos - eram afastados com a espada do ódio e do amor. Dessa forma, na hora da morte a consciência não atormenta. O interior da pessoa constitui uma família feliz, tudo está em paz. É verdade que o homem humilde, que conhece o valor do tempo e das virtudes, acusa-se na hora da morte por não ter aproveitado melhor a própria vida. Mas tal atitude não causa aflição; é mesmo meritória. Leva a pessoa a concentrar-se e a considerar o sangue do Cordeiro imaculado e humilde. Naquele instante a alma não fica a pensar nas virtudes práticas; sabe que não pode confiar nelas, mas unicamente no sangue de Cristo, onde achou o perdão. Mas como a lembrança do sangue sempre a acompanhara, também naquele último instante nele se inebria e afoga.

Quanto aos demônios, não tendo em que acusar o justo, aproximam-se à procura de qualquer coisa. São muito feios e creem atemorizar o justo por suas figuras. Como no justo não há pecado, a visão dos demônios não atemoriza. E eles, ao notar a alma mergulhada no sangue de Cristo, afastam-se atacam de longe, sem perturbar o homem. De fato, este último já começou a gozar da vida eterna. Pela fé, já contempla o bem infinito e eterno, que sou eu; pela esperança, não por méritos pessoais mas por dom gratuito, está seguro de atingir-me na virtude do sangue de Cristo; com a caridade, estende seus braços e abraça-me. Antes de chegar a mim, a alma já me possui. Imersa no sangue, atravessa a porta estreita que é Cristo e projeta-se em mim, pacífico mar. Completa é a união entre o mar, que sou eu, e aquela porta; eu e meu Filho somos uma só coisa. Que alegria sente o homem ao atingir a meta final! Alegra-se pela felicidade dos anjos, e, como passara a vida na caridade humana, participa agora da beatitude dos santos.

Esse é o prêmio de qualquer pessoa que tenha vivido santamente. Meus sacerdotes, que foram anjos na terra, gozarão muito mais. Já nesta vida fora maior seu conhecimento, maior o desejo de minha glória e de salvação da humanidade. Além da iluminação comum, possível a qualquer cristão que vive virtuosamente, meus ministros possuíram a luz da ciência, pela qual conhecem meu Filho Jesus. Ora, quem mais conhece, mais ama; e quem mais ama, mais recebe. O mérito acompanha a caridade.

Poderás perguntar: 'E uma pessoa que não possui a ciência sagrada, poderá atingir esse amor?' Respondo-te: sim, é possível atingi-lo. Mas, supondo que isso aconteça, será um caso especial, não a norma geral. Além de tudo isso, pela sua própria dignidade sacerdotal, os ministros terão maior posição no céu, uma vez que na terra tiveram por função a conquista de homens para a glória. Embora todos vós tenhais a obrigação de amar a humanidade, aos sacerdotes é confiada a guarda do sangue e, ainda, o governo dos homens. Se cumprem com zelo e virtude essa função, terão maior prêmio que os demais.

Como é feliz o bom sacerdote ao chegar o momento da morte. Tendo sido o pregador e o defensor da fé nesta vida, terminou assimilando-a no fundo do próprio ser. Pela fé, ele conhece seu lugar junto a mim. Vivera sempre esperando na minha providência, desconfiado de si mesmo; não colocara sua esperança nos próprios conhecimentos, não amara desordenadamente pessoas ou coisas criadas. Vivera na pobreza. Alegremente confiara em mim, seu coração fora um vaso de amor. Com muita caridade anunciara meu nome aos homens, confirmando suas palavras com o exemplo de uma vida honesta e santa. Eleva-se, agora, num inefável ato de caridade e abraça-me; entrega-me a pedra preciosa da justiça, com que durante sua vida tratara os outros. Com discernimento cumprira o seu dever; com humildade rende-me o preito da justiça: glorifica-me, honra-me, reconhece que a mim deve a graça de ter vivido com a consciência pura. Pessoalmente, julga-se indigno de tão sublime dom. Sua consciência testemunha em meu favor e eu, por justiça, dou-lhe a coroa (2Tm IV, 8), adornada de virtudes.

Ó anjo da terra, feliz de ti que não foste ingrato ante os favores recebidos, nem negligente ou maldoso. Com zelo, iluminado, vigilaste sobre os teus súditos; pastor corajoso, seguiste a mensagem do pastor bondoso e verdadeiro, o doce Cristo Jesus, meu Filho unigênito. Imerso no sangue tu passaste (Jo X, 9) por Ele juntamente com os súditos. Pelo ensino e bom exemplo conduziste muitos à vida eterna; outros, deixaste na terra no estado de graça! Filha querida, a presença dos demônios não perturba meus sacerdotes na hora da morte por causa da compreensão que têm de mim na fé e no amor. Eles estão isentos de pecado, por isso o negrume do diabo não os angustia, não os amedronta. Isentos do medo servil, acham-se no santo temor. Superam, pois, as ilusões diabólicas pela iluminação sobrenatural da fé e com a Sagrada Escritura. Já não padecem nenhuma obscuridade ou perturbação no espírito. Cheios de glória, embebidos no sangue, zelosos pela salvação alheia, inflamados de caridade entram pela porta do Verbo encarnado e adentram-se em mim (Pai eterno). Bondosamente os coloco em seus respectivos lugares, conforme o grau de amor com que até mim chegaram.
(Excertos da obra 'Diálogo' de Santa Catarina de Siena)