Quando se encontra Deus, a posse começa. E não mais na ordem do próprio ser, mas na ordem do conhecimento e do amor, uma vez que a alma e Deus constituem nada mais do que uma unidade. São duas naturezas unidas no mesmo espírito e no mesmo amor, que resulta em uma intimidade profunda, comunhão perfeita, fusão sem mistura e sem qualquer perturbação.
Estamos em Deus e Ele está em nós. Somos tudo o que Ele é. Temos tudo o que Ele tem. Nós o conhecemos, quase o vemos. Nós o sentimos, provamos e desfrutamos e nEle vivemos e morremos. Seria com efeito a hora da nossa morte, se Ele não quisesse que continuássemos vivendo aqui nessa terra. A vida que vivemos tem que ser doada e, por isso e para isso, aqui permanecemos. Até que a obra divina seja concluída e o último véu seja desvelado, para enfim se obter a posse plena e perfeita de uma vida sem fim.
Quanto mais avançamos nesse propósito, mais saboreamos a perfeição de Deus. É como uma investida contínua envolta em períodos de aparente estagnação. Então vem uma nova onda que se projeta ainda mais longe do que a primeira e parece provir de maior profundidade. Nada é tão suavemente impressionante quanto esta projeção da ação divina que se difunde desde o mais íntimo da alma e toma posse até mesmo das suas fronteiras mais extremas com o mundo sensível. Uma oração ardente brota então dos nossos corações: 'Se é verdade, ó meu Deus, que Vos possuo, dá-me a graça de me infundir completamente em Vós!' Parece então como se as mãos pudessem compartilhar de um tesouro interior com graças sem fim. Ó bem-aventurança!
(Excertos da obra 'A Vida Oculta em Deus', de Robert de Langeac; Parte III - A União com Deus; tradução do autor do blog)