segunda-feira, 18 de julho de 2022

A VIDA OCULTA EM DEUS: A ALMA CANTA

 

Falar, e sobretudo cantar, é expressar em voz alta e sem medo, com alegria e com entusiasmo, os sentimentos mais íntimos do coração em relação a Vós. Com efeito, Vós tendes direito, e pleno direito, a essa sensível manifestação da estima e afeto que a alma nutre por Vós. Na verdade essa lei se impõe automaticamente no íntimo da alma, pelo menos em certas ocasiões. Sem isso, a alma tenderia a ser asfixiada se tivesse que esconder esse sentimento.

Assim, é preciso que ela possa falar, é preciso que ela possa cantar, mesmo quando estiver sozinha. É verdade que Vós estais sempre presente para ouvi-la, e isso basta a ela. Essa voz que fala e que canta agrada a Deus e, sendo de tal agrado, pode dizer tudo. A alma canta assim com todo o seu ser. Tudo o que a alma faz ou diz enseja paz, tranquilidade, harmonia: tudo está em ordem nesta alma, selada pela doçura e recolhimento que alegra o seu Deus. Pois, para Deus, essa voz é muito suave e agradável.

Quão bem recompensada é a alma interior por seus esforços, ó meu Deus, quando a fazeis conhecer que tudo o que ela diz, tudo o que ela faz, tudo o que ela sofre, torna-se a mesma voz melodiosa que chega até Vós e Vós a amais por isso! Não há ruídos, nem asperezas, nem afetações e nem dissimulações nesta voz da alma; não, ela é apenas suave, harmônica e amável.

E se pensarmos agora que também outras almas - cujas atividades, internas e externas, alinhadas perfeitamente à Vossa vontade, compõem uma melodia semelhante - juntam igualmente suas vozes, pensaremos ouvir, muito acima do burburinho do mundo, uma sinfonia incomparável, que reverbera e constitui um verdadeiro prelúdio do cântico eterno. Abstraídas do mundo, abrem aquela janela da alma que dá vista para o infinito. E permanecem assim, no maior tempo possível, nessa misteriosa solidão diante desse horizonte sem limites, mesmo que não vejam nada, mas apenas respirando o ar divino em plenitude.

Escutemos, pois, o canto dessas almas silenciosas e desconhecidas que amam a Deus plenamente e que sabem falar com Ele sem o ruído das palavras, e apenas com o bater do seu coração, incensado com o fogo do amor. Ele vibra e reverbera constantemente nessa imensidão. Que esse canto de amor possa juntar também ao vosso, ao de Maria e José, ao dos anjos e ao de todos os santos.

(Excertos da obra 'A Vida Oculta em Deus', de Robert de Langeac; Parte III - A União com Deus; tradução do autor do blog)