segunda-feira, 2 de agosto de 2021

TESOURO DE EXEMPLOS (88/90)

 

88. SANTA CATARINA DE SENA

Nasceu em Sena, cidade da Itália, em 1347, no dia em que a Igreja celebra o mistério da Encarnação. Seu pai dedicava-se à indústria tintureira. Catarina fôra precedida, no lar paterno, por vinte e um irmãos. Contava apenas seis anos, quando Nosso Senhor a favoreceu com uma visão extraordinária e profética.

Sobre a torre do convento de São Domingos, viu um trono resplandecente, no qual estava sentado Jesus Cristo, revestido como um papa, com a tiara na cabeça, e tendo a seu lado São Pedro, São Paulo e São João. Jesus Cristo infundiu-lhe um conhecimento sobrenatural do que é a igreja e um amor ardentíssimo à mesma, e anunciou-lhe que seria uma grande capitã de seus exércitos e que Ele se valeria dela para purificar a sua igreja.

Aos quatorze anos, manifestou aos seus pais o desejo de ingressar na Ordem Terceira de São Domingos. Para provar a sua vocação, empregaram-na nos trabalhos mais humildes. Foi a criada de todos. Portou-se com tamanha humildade que seus pais consentiram que seguisse a vocação religiosa. Para que compreendesse ainda mais a Igreja, Jesus Cristo fê-la morrer, e sua alma, separada do corpo, percorreu o céu e o purgatório e mostrou-lhe até mesmo o inferno, onde os separados para sempre da Igreja sofrem eternamente e, em seguida, a ressuscitou.

Assim preparada, começou o seu apostolado. Não pregava dos púlpitos, porque isso competia aos sacerdotes; falava, porém, a enormes auditórios tanto nas praças como em pleno campo. Seguiam-na milhares de discípulos, entoando salmos de penitência; seguiam-na muitos sacerdotes, que confessavam os pecadores arrependidos. Aqueles eram dias difíceis para a Igreja. O papa mudara-se para a cidade de Avinhon, na França, e esta troca de residência do bispo de Roma escandalizava e dividia os católicos.

Obedecendo a Jesus Cristo, Santa Catarina apresentou-se ao papa, que era então Gregório XI, e intimou-o a voltar para Roma. O pontífice pediu-lhe uma prova de que o Espírito Santo a inspirava e ela respondeu: 'Tu mesmo o prometeste, com voto, no dia de tua elevação ao Pontificado'. O Papa, ao ver descoberto esse segredo, que a ninguém da terra havia confiado, não vacilou mais e transferiu-se para Roma.

Santa Catarina pediu a Deus que aceitasse a sua vida pela salvação do sucessor de Gregório XI, Urbano VI, a quem os demônios queriam assassinar, induzindo os romanos à sublevação. Aceitou Jesus a sua oferta, sendo a última enfermidade um verdadeiro martírio. Seu corpo parecia um esqueleto. A 29 de abril de 1380, aos trinta e três anos de idade (isto é, na mesma idade em que morreu Jesus Cristo, segundo se crê), seu rosto iluminou-se e sua alma voou para o céu. Sua festa litúrgica é celebrada no dia 30 de abril.

89. O SIGILO DA CONFISSÃO

São João Nepomuceno, natural da Boêmia, foi martirizado em Praga no ano de 1393. Seus pais, de idade bastante avançada, desejando ter sucessão, visitaram como peregrinos um santuário de Maria, onde imploraram a graça. Dizem que, ao nascer-lhes o filho, baixou do céu uma luz que envolveu toda a casa em forma de auréola.

A primeira coisa que o menino quis aprender na escola foi o catecismo e o modo de ajudar à missa. Todas as manhãs corria ao convento e, com edificante piedade, servia de coroinha. Sentindo vocação para padre, foi para Praga, capital do reino, onde estudou, recebeu as sagradas ordens e começou a pregar. Tendo os seus sermões produzido notável mudança nos costumes, foi nomeado cônego e pregador da corte. Quis o rei Venceslau que o santo fosse sagrado bispo; João, porém, que era muito humilde, declinou daquela honra, mas continuou desempenhando o cargo de confessor da rainha.

Aconteceu que o rei começou a entregar-se a excessos degradantes: embriagava-se com frequência e deixava-se arrebatar pela cólera a ponto de mandar meter num forno aceso o seu cozinheiro, pelo simples fato de lhe ter servido uma ave mal assada. Entre outras alucinações, concebeu a ideia de que sua esposa lhe era infiel e quis vingar-se. Mas como essa ideia não se apoiava em prova alguma, chamou o confessor da rainha e exigiu que revelasse os pecados ouvidos na confissão da mesma, prometendo-lhe grandes recompensas. São João respondeu: 'Não posso quebrar o sigilo sacramental. Tenho que servir e obedecer a Deus antes que aos homens'. Venceslau mandou atormentá-lo com tenazes em brasa e encerrá-lo num cárcere escuro. Mas, vendo que nada conseguia e tendo a rainha intercedido por seu santo confessor, deixou-o em liberdade.

Isso, porém, não durou muito. Um dia, voltava o santo de uma visita ao santuário de Nossa Senhora de Bunzlau e, ao passar perto do palácio real, o cruel Venceslau viu-o e, num de seus arrebatamentos de cólera, ordenou aos soldados que o prendessem e disse-lhe: 'Olha, padre: agora não se trata de guardar silêncio. Se não me dizes já os pecados que sabes da rainha, beberás toda a água do rio Moldava. O santo nem respondeu a tão insolentes palavras. Limitou-se a cruzar os braços e a orar. Ataram-lhe então os pés e as mãos, meteram-lhe na boca uma cunha e arrojaram-no do alto da ponte principal de Praga ao rio. Tendo sido milagrosamente encontrado o seu cadáver, sepultaram-no na catedral. Em 1719, estava ainda incorrupta a língua do mártir do sigilo sacramental.

90. SANTA RITA DE CÁSSIA

Nasceu esta santa a 22 de maio de 1381, num pequeno povoado chamado Rocca Porrena, não muito distante de Cássia, na Itália. Quando os pais, que eram lavradores, iam trabalhar na roça, depositavam a filhinha num cestinho de vime, que colocavam à sombra de uma árvore. Um dia, enquanto lavradores e pássaros cantavam alegres, a criança sonhava e agitava as débeis mãozinhas, tendo os olhos voltados para o céu azul. 

Foi então que se deu um fato curioso, como se lê em sua biografia. Um grande enxame de abelhas brancas envolveu a menina, produzindo um zumbido especial. Muitas entraram em sua boca e nela depositaram mel; e o mais interessante é que nenhuma a picava, como se não tivessem ferrões. Nenhum choro da criança se ouvia; de modo que os pais perceberam o fato, quando um dos ceifeiros se feriu com a própria foice e quis ir a Cássia para o necessário curativo. Ao passar perto da criança, viu as abelhas, que logo começaram a zumbir-lhe ao redor da cabeça. Parou e agitou as mãos para livrar-se delas e no mesmo instante a sua mão ferida cessou de sangrar e o ferimento fechou-se. Deu gritos de surpresa e, quando os pais da criança chegaram correndo, o enxame estava de novo rodeando a criança. Este fato é relatado pelos biógrafos da santa e transmitido pelas lições do Breviário.

Rita cresceu e, contra o seu desejo, foi por seus pais dada em casamento a um homem que a fez sofrer muitíssimo. A santa não só soube suportar tudo com heroica paciência, como ainda conseguiu a conversão do esposo. Após o falecimento deste, pediu admissão num convento, mas não a receberam. Deus, porém, a queria no convento e, certo dia, por um milagre, quando as religiosas, de madrugada, entraram no oratório, lá estava a santa a rezar.

O milagre da videira seca é daquele tempo. A superiora, para por à prova a obediência da boa noviça, ordenou-lhe que regasse de manhã e de tarde um madeiro seco, provavelmente um galho de videira que só servia para o fogo. Rita não opôs dificuldade alguma: de manhã e de tarde com admirável simplicidade, desempenhava sua tarefa, enquanto as Irmãs a observavam e se edificavam. Muito tempo durou a prova, ocasião naturalmente de muitos merecimentos para a santa. E Deus, também, quis manifestar quanto lhe agradou a obediência da virtuosa noviça. e foi assim: um belo dia ficaram as Irmãs estupefatas; e não era para menos, pois aquele galho seco começou a viver: surgiram brotos, apareceram folhas, estenderam-se ramos e uma bela videira deu a seu tempo deliciosas uvas. Foi um milagre evidente e que perdura até hoje, pois a videira milagrosa lá está na horta das agostinianas de Cássia para testemunhar a obediência da santa.

Benzem-se as uvas que são produzidas e, pelo seu uso e pela invocação da santa, obtêm-se grandes graças e maravilhosas curas. A 22 de maio de 1457, voava para o céu aquela santa alma. São inúmeros os fatos maravilhosos devidos à sua intercessão e, por isso, que é chamada a santa das causas impossíveis. Foi canonizada por Leão XIII em 1900. Sua festa litúrgica é celebrada no dia 22 de maio.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)


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