segunda-feira, 16 de agosto de 2021

A COVARDIA É UM PECADO?


Qual é o modelo atual de um católico autêntico? Ser equilibrado, tolerante, prudente, tranquilo, ecumênico. Não seria melhor falar claramente para apenas ser covarde? Por que é exatamente esse o modelo que se compra e que se vende do católico formal: ser covarde e manusear essa covardia dissimuladamente em atributos tais como indiferentismo, tolerância, docilidade e mornidão. O problema - gravíssimo problema - é que a covardia é um grande pecado, por se opor radicalmente ao amor e à caridade.

Veio, por fim, o que recebeu só um talento: ‘Senhor, disse-lhe, sabia que és um homem duro, que colhes onde não semeaste e recolhes onde não espalhaste. Por isso, tive medo e fui esconder teu talento na terra. Eis aqui, toma o que te pertence’. Respondeu-lhe seu senhor: ‘Servo mau e preguiçoso! Sabias que colho onde não semeei e que recolho onde não espalhei. Devias, pois, levar meu dinheiro ao banco e, à minha volta, eu receberia com os juros o que é meu. Tirai-lhe este talento e dai-o ao que tem dez. Será dado ao que tem e terá em abundância. Mas ao que não tem será tirado mesmo aquilo que julga ter. E a esse servo inútil, jogai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes (Mt 25, 24 - 30).

O servo do único talento associou medo e covardia contra aquele que lhe parecia ser 'um homem duro, que colhes onde não semeaste e recolhes onde não espalhaste'. O medo em si não é pecado, o pecado está na covardia que pode alimentar ou ser alimentada pelo medo, particularmente quando isso implica não fazer o bem, por omissão ou por deliberação, tanto mais grave quanto maiores estas consequências. E não pelo medo, mas pela covardia, recebeu do Senhor a dura sentença: 'jogai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes'.

Um jovem aproximou-se de Jesus e lhe perguntou: 'Mestre, que devo fazer de bom para ter a vida eterna?' Disse-lhe Jesus: 'Por que me perguntas a respeito do que se deve fazer de bom? Só Deus é bom. Se queres entrar na vida, observa os mandamentos'. 'Quais?' – per­guntou ele. Jesus respondeu: 'Não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho, honra teu pai e tua mãe, amarás teu próximo como a ti mesmo'. Disse-lhe o jovem: 'Tenho obser­vado tudo isso desde a minha infância. Que me falta ainda?' Respondeu Jesus: 'Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me!' Ouvindo essas palavras, o jovem foi embora muito triste, porque possuía muitos bens. Jesus disse então aos seus discípulos: 'Em verdade vos declaro: é difícil para um rico entrar no Reino dos Céus!' (Mt 19, 16 - 23).

A covardia peca contra o amor, contra a perseverança no amor. A covardia peca contra a caridade. E soma a si padrões de egoísmo, de negligência e de inconstância contra o amor e a caridade. Ao jovem rico dos Evangelhos, a perfeição de amar estava muito acima das suas forças, muito além dos limites do que lhe era aceitável. A sua covardia derivou da sua resistência ao domínio da graça, à perda da audácia de se lançar 'em águas mais profundas' e de atravessar o mar revolto sob a tormenta inesperada: fazer o que era possível bastava e sua tristeza decorreu do desgosto de ouvir de Jesus um desafio que se desfez por completo diante da sua incapacidade de superar seus estreitos limites de santificação pessoal.

A covardia torna-se um pecado monstruoso quando é moldada e tangida pelo indiferentismo religioso, pela mornidão do caráter, pelo ecumenismo parvo, pelo respeito humano bajulador, pela negação explícita aos ditames da Verdade e da Fé. A covardia é irmã siamesa da negligência  (Eclo 4,34) e filha órfã da tibieza, cuja destinação é ser a porta de entrada da segunda morte, invocando para si a gravidade extrema desse pecado quase esquecido: 

'Os tíbios, os infiéis, os depravados, os homicidas, os impuros, os maléficos, os idólatras e todos os mentirosos terão como quinhão o tanque ardente de fogo e enxofre, a segunda morte' (Ap 21, 8).

São recorrentes os exemplos que demonstram que os homens atuais tendem a ser modelos de mornidão e covardia. Embaraçam-se em meias verdades, fraudam a realidade dos desafios e dos obstáculos cotidianos, moldam-se pela secura dos sentimentos e pela volatilidade das causas fáceis e mais comezinhas. Nada de sofrimento, nada de penitência, nada de sacrifício. Masmorras diante da caridade e do amor. Nestas prisões mortuárias, não podem então ser peregrinos a caminho (estreito caminho) do Reino dos Céus. Porque os Céus definitivamente não afagam os espíritos domados pela covardia.