sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

A 'ORAÇÃO DO TEMPO' DO GENERAL PATTON

A batalha de Ardenas, que resultou em milhares de mortos entre soldados e civis, foi a última ofensiva alemã de porte na Segunda Guerra Mundial, lançada de surpresa em 16 de dezembro de 1944. Como a Bélgica havia sido libertada três meses antes, ninguém esperava o cerco que as tropas da Wehrmacht imporiam aos soldados americanos da 101ª divisão aerotransportada em Bastogne (sul da Bélgica). Os terríveis combates, que se espalharam por toda a região em meio a um frio polar, duraram seis semanas até a vitória dos Aliados no final de janeiro de 1945.

Neste cenário dramático, o cerco alemão foi rompido pelo Terceiro Exército Americano, sob a liderança do General George Patton (1885 - 1945), um dos mais importantes e carismáticos comandantes militares dos Aliados durante os eventos da Segunda Guerra Mundial. Para romper o cerco, Patton tinha que vencer, além das obstinadas e muito bem treinadas tropas alemãs, as piores condições climáticas possíveis, resultantes de uma combinação crítica de inverno rigoroso, chuvas intensas, terrenos encharcados e neblina, impedindo, assim, qualquer perspectiva ou estratégia militar de superação maciça e imediata das forças inimigas.


Neste cenário de incertezas completas, Patton recorreu  ao capelão católico do Terceiro Exército - James Hugh O´Neill - no sentido do mesmo prover uma oração de súplica a Deus pelas mudanças das condições climáticas locais e, assim, viabilizar a operação militar de superação do cerco alemão. Diante do questionamento do sacerdote de ser prática pouca ortodoxa invocar a Deus por um bom tempo com o intuito de matar homens,  Patton o retrucou: 'Você quer me ensinar teologia ou é o capelão do Terceiro Exército? Eu quero uma oração'. Assim, na falta de uma oração específica, o próprio capelão compôs a 'oração do tempo' solicitada pelo general Patton, nos seguintes termos:

'Pai todo-poderoso e misericordioso, humildemente imploramos, por Vossa grande bondade, conter essas fortes chuvas com as quais tivemos de lidar. Concedei-nos um tempo bom para a batalha. Por favor, ouvi-nos como soldados que Vos invocam para que, armados com o Vosso poder, possamos avançar de vitória em vitória e esmagar a opressão e a maldade dos nossos inimigos e estabelecer a Vossa justiça entre os homens e as nações. Amém'. 

Preparada a oração, Patton foi instado por alguns auxiliares a incluir, junto com a oração, uma saudação de Natal para as tropas sob tensão extremada. A mensagem incluída, do próprio punho do general, tinha os seguintes termos:

'A cada oficial e soldado do Terceiro Exército dos Estados Unidos, desejo um Feliz Natal. Tenho plena confiança em sua coragem, devoção ao dever e habilidade na batalha. Nós vamos avançar com toda a nossa força para uma grande vitória. Que a bênção de Deus repouse sobre cada um de vocês neste dia de Natal'. 

As mensagens foram impressas em um único cartão e distribuídas a cada soldado e oficial do Terceiro Exército (com cerca de 250.000 membros à época). 


No dia seguinte, o tempo mudou radicalmente e permaneceu estável por cerca de seis dias, favorecendo amplamente, não apenas o avanço terrestre das tropas, mas também as condições de voo e dos bombardeios aéreos que permitiram o exército aliado romper o cerco inimigo e enfrentar, de forma demolidora e final, o exército alemão, na chamada Batalha das Ardenas. A batalha se estendeu até o final de janeiro de 1945 e constituiu um dos mais renhidos, decisivos e sangrentos conflitos da Segunda Guerra Mundial.