quinta-feira, 15 de novembro de 2012

PORQUE É PRECISO JULGAR

É quase uma verdade de fé, para a esmagadora maioria dos católicos, que não devemos julgar nenhum dos nossos semelhantes, pois tal julgamento seria premissa absoluta de Deus. Baseados na citação bíblica do Evangelho de Mateus: ‘Não julgueis e não sereis julgados’ (Mt 7,1), torna-se verdade de fé o que não passa de um corolário da iniquidade. Pois, então, como considerar estes outros preceitos bíblicos:

‘Não sabeis que julgaremos os anjos? Quanto mais as pequenas questões desta vida!’ (I Cor 6,3).

‘O Senhor dizia: julgai segundo a verdadeira justiça; cada um de vós tenha bom coração e seja compassivo para com o seu irmão’ (Zc 7,9).

“Eles julgarão o povo todo o tempo.’ (Ex 18, 22).

‘Abre tua boca para pronunciar sentenças justas, faze justiça ao aflito e ao indigente.’ (Prov 31,9)

‘Não julgueis pela aparência, mas julgai conforme a justiça.’ (Jo 7,24)

Em primeiro lugar, a citação evangélica de Mateus tem endereço claro e definido: ‘não julgar’ implica essencialmente não formular julgamentos injustos, desonestos, parciais, temerários, maliciosos, covardes, mentirosos, simulados, tendenciosos,  manipulados. Mas qual a lupa protestante da livre interpretação, descontextualiza-se a mensagem e impõe-se a versão falsificada de que não se pode julgar os homens e suas ações.

Isto deveria ser evidente por princípio, uma vez que é obra de misericórdia corrigir quem se locupleta no erro e uma vez que tal correção exige a formulação de um julgamento de pessoas e de ações destas pessoas, pelo que se torna intrínseco a todo católico a prerrogativa de ‘julgar todas as coisas todo o tempo’, não em função do arbítrio ou do respeito humano, mas sob a única acepção de servir a Cristo e salvar as almas para Cristo. Armados de caridade fraterna, escudados nas palavras de vida eterna de Jesus Ressuscitado, no amor ao próximo e no amor ainda maior à Verdade de Deus, devemos julgar sempre e muito, pois o erro e a iniquidade se espalham como erva daninha na humanidade atual.

Deus nos deu, junto com o livre arbítrio, a graça de julgar e classificar, com zelo e clara distinção, o bem do mal, a virtude do pecado, a santificação da impiedade. E a ensinar e a difundir os ensinamentos de Cristo entre os homens, no mundo dos homens, de forma a corrigir os erros, impedir as injustiças, coibir o mal e combater a iniquidade em todos os nossos caminhos, a qualquer hora. Ai do católico que não o fizer, ai do católico que se calar diante do mal e da injustiça dos homens. Julgar, pois, com o santo julgamento dos justos, não é tarefa insensata à natureza humana, mas obra definitiva de misericórdia e de salvação.