quarta-feira, 1 de junho de 2022

BREVIÁRIO DIGITAL - LADAINHA DE NOSSA SENHORA (X)

 

Santa Maria, rogai por nós.

(Ilustração da obra 'Litanies de la Très-Sainte Vierge', por M. L'Abbé Édouard Barthe, Paris, 1801)

MEDITAÇÃO SOBRE A MORTE


Muito depressa chegará o teu fim neste mundo; vê, pois, como te preparas: hoje está vivo o homem, e amanhã, já não existe. Entretanto, logo que se perdeu de vista, também se perderá da memória. Ó cegueira e dureza do coração humano, que só cuida do presente, sem olhar para o futuro! De tal modo te deves haver em todas as tuas obras e pensamentos, como se fosse já a hora da morte. Se tivesses boa consciência não temerias muito a morte. Melhor fora evitar o pecado que fugir da morte. Se não estás preparado hoje, como o estarás amanhã? O dia de amanhã é incerto, e quem sabe se te será concedido?

Que nos aproveita vivermos muito tempo, quando tão pouco nos emendamos? Oh! nem sempre traz emenda a longa vida, senão que aumenta, muitas vezes, a culpa. Deus queira que tivéssemos, um dia sequer, vivido bem neste mundo! Muitos contam os anos decorridos desde a sua conversão; frequentemente, porém, é pouco o fruto da emenda. Se for tanto para temer o morrer, talvez seja ainda mais perigoso o viver muito. Bem-aventurado aquele que medita sempre sobre a hora da morte, e para ela se dispõe cada dia. Se já viste alguém morrer, reflete que também tu passarás pelo mesmo caminho.

Pela manhã, pensa que não chegarás à noite, e à noite não te prometas o dia seguinte. Por isso anda sempre preparado e vive de tal modo que te não encontre a morte desprevenido. Muitos morrem repentina e inesperadamente; pois na hora em que menos se pensa, virá o Filho do Homem (Lc 12,40). Quando vier aquela hora derradeira, começarás a julgar muito diferentemente toda a tua vida passada, e doer-te-á muito teres sido tão negligente e remisso.

Quão feliz e prudente é aquele que procura ser em vida como deseja que o ache a morte. Pois o que dará grande confiança de morte abençoada é o perfeito desprezo do mundo, o desejo ardente do progresso na virtude, o amor à disciplina, o rigor na penitência, a prontidão na obediência, a renúncia de si mesmo e a paciência em sofrer, por amor de Cristo, qualquer adversidade. Muito fácil é praticar o bem enquanto estás são; mas, quando estás enfermo, não sei o que poderás. Poucos melhoram com a enfermidade; raros também se santificam os que andam em muitas peregrinações.

Não confies em parentes e amigos, nem proteles para mais tarde o negócio da tua salvação, porque mais depressa do que pensas te esquecerão os homens. Melhor é providenciar agora e fazer algo de bem, do que esperar pelo socorro dos outros. Se não cuidas de ti no presente, quem cuidará de ti no futuro? Muito precioso é o tempo presente: agora são os dias da salvação, agora é o tempo favorável (2 Cor 6,2). Mas, ai! Que melhor não aproveitas o meio pelo qual podes merecer viver eternamente! Tempo virá de desejares, um dia, uma hora sequer, para a tua emenda, e não sei se a alcançarás.

Olha, meu caro irmão, de quantos perigos te poderias livrar e de quantos terrores fugir, se sempre andasses temeroso e desconfiado da morte. Procura agora de tal modo viver, que na hora da morte te possas antes alegrar que temer. Aprende agora a desprezar tudo, para então poderes voar livremente para Cristo. Castiga agora o teu corpo pela penitência, para que possas então ter legítima confiança.

Ó louco, que pensas viver muito tempo, quando não tens seguro nem um só dia! Quantos têm sido logrados e, de improviso, arrancados ao corpo! Quantas vezes ouviste contar: morreu este à espada; afogou-se aquele; este outro, caindo do alto, quebrou a cabeça; um morreu comendo, outro expirou jogando. Estes se terminaram pelo fogo, aqueles pelo ferro, uns pela peste, outros pelas mãos dos ladrões, e de todos é o fim a morte, e, depressa, qual sombra, acaba a vida do homem (Sl 143,4).

Quem se lembrará de ti depois da morte? E quem rogará por ti? Faz já, irmão caríssimo, quanto puderes; pois não sabes, quando morrerás nem o que te sucederá depois da morte. Enquanto tens tempo, ajunta riquezas imortais. Só cuida da tua salvação, ocupa-te só nas coisas de Deus. Granjeia agora amigos, venerando os santos de Deus e imitando as suas obras, para que, ao saíres desta vida, te recebam nas eternas moradas (Lc 16,9).

Considera-te como hóspede e peregrino neste mundo, como se nada tivesses com os negócios da Terra. Conserva livre o teu coração, e erguido a Deus, porque não tens aqui morada permanente. Para lá dirige as tuas preces e gemidos, cada dia, com lágrimas, a fim de que mereça a tua alma, depois da morte, passar venturosamente ao Senhor.

(Tomás de Kempis em 'Imitação de Cristo')

segunda-feira, 30 de maio de 2022

A CRISE DA IGREJA E AS MENSAGENS DE FÁTIMA

É certeza definida para qualquer católico consciente e minimamente imbuído das premissas da fé cristã o enorme impacto e magnitude da crise atual da Santa Igreja. A perda de referências da genuína civilização cristã impôs - e impõe duramente hoje - uma infinidade de erros, deturpações, desvios, inconsistências, heresias e mesmo blasfêmias delirantes aos rumos e perspectivas da Igreja. Neste contexto, não bastam o ateísmo, o agnosticismo ou o panteísmo de leigos consagrados de corpo e alma ao delirium tremens. Não bastam sacerdotes e religiosos amalgamados pela miséria dos instintos. Não bastam bispos e cardeais revestidos de seus majestosos sepulcros caiados. Não basta um papa (ou papas) incrédulos ou contraditórios. É preciso o caos completo e uníssono: é preciso o espólio da iniquidade universal para o reinado do Anticristo.

Neste contexto - neste caminho de imersão no caos crescente - houve de tudo, pois a virulência do redemoinho impõe a completa turbulência dos vórtices. Num arrimo inicial, o arcebispo Lefebvre consagrou quatro bispos em Écône, opondo-se francamente a um mandato papal e violando, desta forma, a Constituição Divina da Igreja relativa à sucessão apostólica e descumprindo hereticamente o ensinamento dogmático do Vaticano I sobre o primado papal de jurisdição. Em oposição aos atos de Lefebvre, ruminou-se todo tipo de sedevacantismo. Mais recente, a renúncia do papa Bento XVI alimentou de súbito e de forma extrema o caudal da rebentação, não menos que o eufemismo teológico do seu sucessor, o papa Francisco. 

Neste redemoinho crescente, multiplicaram-se os fluxos divergentes que propuseram, em diferentes momentos, cenários como a deposição imediata de Francisco pelo Colégio dos Cardeais; a não validade do pontificado de Francisco; a não validade da abdicação de Bento XVI e outras tantas digressões absurdas e fantasiosas. De uma certa maneira, parte da intelectualidade católica - mesmo a tradicional - pressupõe que Francisco e Bento XVI são promotores de teologias distintas e não que constituem consequências óbvias de uma mesma seiva e de uma mesma raiz. Francisco e Amores Laetitia não seriam possíveis sem a teologia de Bento XVI. Mas, de forma alguma, seria possível conceber que sejam ambos pontífices ilegítimos. Não o são.

Quando você se encontra mergulhado numa corrente tempestuosa que o arrasta através de uma garganta rochosa profunda, o que se pode fazer? Agarrar-se aos vórtices que o submergem como fardo inútil? Ou buscar um galho ou um tronco no desvario das águas, que possa ser instrumento de segurança, proteção e guia potencial para um subsequente refúgio nas margens? Esse é o desafio da cristandade atual e é miseravelmente doloroso constatar que a enorme maioria dos católicos há muito optou por fazer a primeira opção, sejam porque não querem remar contra a corrente, sejam porque acham que espernear sofregamente podem livrá-los da má sorte final; em ambos os casos, o fim será o mesmo: vão morrer afogados e esmagados pelas águas das heresias e do indiferentismo religioso. 

O que poderia ser esse tronco de salvação e por que, com toda a certeza, é possível acessá-lo nesta corredeira descomunal? A resposta é absolutamente simples: este tronco de salvação nos foi legado pelos Céus num ermo vilarejo de Portugal no início do século XX, pelas impressionantes mensagens de Nossa Senhora de Fátima. Aceitar e fazer cumprir os pedidos de Nossa Senhora de Fátima é a nossa tábua de salvação, forjada pelos seguintes pontos: 

➤ a perseverança inabalável nas verdades e na atualidade do Evangelho de Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador e ao firme compromisso aos sacramentos da Igreja, em contraposição à perda generalizada da fé e a uma era de apostasia universal. Para isso, Ela se nos apresenta como o modelo a ser seguido – Maria, a Virgem fiel – conclamando-nos, em um apelo preocupante e aflito, à consagração ao seu Imaculado Coração;

➤ a necessidade de conversão plena e imediata pelos caminhos da oração (particularmente o Rosário), o jejum e a penitência, fazendo uso da confissão frequente, intensa vida eucarística, fuga do pecado a qualquer preço e vida íntima na graça de Deus, em contraposição a uma civilização ateia e materialista, forjada na adoração às falsas divindades do poder, do dinheiro e do prazer;

➤ a conscientização da gravidade dos tempos atuais, do reinado do pecado e da apostasia generalizada, em contraponto à perda da fé e ao desmoronamento da civilização cristã;

➤ o preço terrível que a Igreja e toda a humanidade haverão de pagar por forjarem, por covardia, malícia ou indiferentismo, um mundo incendido por novas eras, novas ciências, novas seitas e novas ideologias, que visam corromper o homem como criatura divina e prescrevem civilizações e sociedades alicerçadas por uma completa rejeição a Deus.

O que você deve fazer? Assumir o compromisso de ler  integralmente e com esmerado espírito de recolhimento interior as mensagens de Fátima (ver, por exemplo, Fátima em 100 Fatos e Fotos, neste blog) e colocar-se como náufrago da tormenta despenhadeiro abaixo, diante deste tronco de salvação possível. O que você tem feito à luz destas revelações (recitação do terço, devoção dos primeiros sábados, comunhão frequente, oração pela paz do mundo ou pelas almas do Purgatório, etc)? Como você se insere no contexto dos pedidos da Virgem de Fátima? Como leitor curioso ou como legado de vida cristã? Nessa resposta, nesta posição de combate ou de indiferentismo, está ou não ao alcance de suas mãos o tronco de salvação - da sua alma e de muitos outros, ainda que sejam todos apenas um pequeno resto. A alternativa é o castigo final tão claramente previsto em Fátima: o mergulho no abismo das águas ensandecidas por tantas heresias e ideologias diabólicas que buscam submergir a todos num desvario sem fim...

BREVIÁRIO DIGITAL - LADAINHA DE NOSSA SENHORA (IX)

 

Santíssima Trindade, que sois um só Deus, tende piedade de nós.

(Ilustração da obra 'Litanies de la Très-Sainte Vierge', por M. L'Abbé Édouard Barthe, Paris, 1801)

domingo, 29 de maio de 2022

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Por entre aclamações Deus se elevou, o Senhor subiu ao toque da trombeta' (Sl 46)

 29/05/2022 - Solenidade da Ascensão do Senhor 

27. A ASCENSÃO DO SENHOR


Antes de subir aos Céus, Jesus manifesta a seus discípulos (de ontem e de sempre) as bases do verdadeiro apostolado cristão, a ser levado a todos os povos e nações: 'e no seu nome (de Jesus) serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém' (Lc 24, 47). Ratificando as mensagens proféticas do Antigo Testamento, Nosso Senhor imprime diretamente no coração humano os sinais da fé sobrenatural e da esperança definitiva na Boa Nova do Evangelho, que nasce, se transcende e se propaga com a Igreja de Cristo na terra.

Antes de subir aos Céus, Jesus nos fez testemunhas da esperança: 'Vós sereis testemunhas de tudo isso' (Lc 24, 48). Pela ação de Pentecostes, pela efusão do Espírito Santo, pela manifestação da 'Força do Alto', os apóstolos tornar-se-iam instrumentos da graça e da conversão de muitos povos e nações. Na mesma certeza, somos continuadores dessa aliança de Deus com os homens, na missão de semear a Boa Nova do Evangelho nos terrenos áridos da humanidade pecadora para depois colher, a cem por um, os frutos da redenção nos campos eternos da glória.

Como missionários da graça, 'Que ele abra o vosso coração à sua luz, para que saibais qual a esperança que o seu chamamento vos dá, qual a riqueza da glória que está na vossa herança como santos' (Ef 1, 18). E Jesus se eleva diante dos seus discípulos e sobe para os Céus. Jesus vai primeiro porque é o Caminho e para preparar para cada um de nós 'as muitas moradas da casa do Pai', levando consigo a nossa humanidade, tornando-nos participantes do seu mistério pascal e herdeiros de sua glória.

Na solenidade da Ascensão do Senhor, a Igreja comemora a glorificação final de Jesus Cristo na terra, como o Filho de Deus Vivo e, ao mesmo tempo, imprime na nossa alma o legado cristão que nos tornou, neste dia, testemunhas da esperança eterna em Cristo e herdeiros dos Céus.

sábado, 28 de maio de 2022

BREVIÁRIO DIGITAL - LADAINHA DE NOSSA SENHORA (VIII)

 

Deus Espírito Santo, tende piedade de nós.

(Ilustração da obra 'Litanies de la Très-Sainte Vierge', por M. L'Abbé Édouard Barthe, Paris, 1801)