quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

'QUEM É PELO SENHOR, JUNTE-SE A MIM!'


Vede, Senhor Deus dos exércitos, os capitães que formam companhias completas, os potentados que ajuntam numerosos exércitos, os navegadores que reúnem frotas inteiras, os mercadores que se congregam em grande número nos mercados e nas feiras! Quantos bandidos, ímpios, ébrios e libertinos se unem em massa contra Vós todos os dias, e isto com tanta facilidade e prontidão! Basta soltar um assobio, rufar um tambor, mostrar a ponta embotada de uma espada, prometer um ramo seco de louros, oferecer um pedaço de terra amarela ou branca; basta, em poucas palavras, uma fumaça de honra, um interesse de nada, um mesquinho prazer animal que se tem em vista, para, num instante reunir os bandidos, ajuntar os soldados, congregar os batalhões, convocar os mercadores, encher as casas e os mercados, e cobrir a terra e o mar com uma multidão inumerável de réprobos, que, embora divididos todos entre si, ou pelo afastamento dos lugares, ou pela diversidade dos gênios, ou por seus próprios interesses, se unem, entretanto, e se ligam até à morte, para fazer-vos guerra sob o estandarte e sob o comando do demônio.

E Vós, grande Deus! embora haja tanta glória e tanto lucro, tanta doçura e vantagem em servir-Vos, quase ninguém tomará Vosso partido? Quase nenhum soldado se alistará em Vossas fileiras? Quase nenhum São Miguel clamará no meio de seus irmãos, cheio de zelo pela Vossa glória: Quis ut Deus? [Quem como Deus?]. Ah! permiti que brade por toda parte: fogo, fogo, fogo! socorro, socorro, socorro! Fogo na casa de Deus! Fogo nas almas, fogo até no santuário! Socorro, que assassinam nosso irmão! Socorro, que degolam nossos filhos! Socorro que apunhalam nosso bom Pai! Si quis est Domini, iungatur mihi [Quem é pelo Senhor, junte-se a mim!]

Venham todos os bons sacerdotes que estão espalhados pelo mundo cristão, os que estão atualmente na peleja, e os que se retiraram do combate para se embrenharem pelos desertos e ermos, venham todos esses bons sacerdotes e se unam a nós. Vis unita fit fortior [Uma força unida torna-se mais forte], para que formemos, sob o estandarte da Cruz, um exército em boa ordem de batalha e bem disciplinado, para de concerto atacar os inimigos de Deus que já tocaram a rebate: Exsurgat Deus et dissipentur inimici eius! [Levante-se Deus, e sejam dispersados os seus inimigos!].

Erguei-Vos, Senhor: por que pareceis dormir? Erguei-Vos em todo o Vosso poder, em toda a Vossa misericórdia e justiça, para formar-Vos uma companhia seleta de guardas que velem a Vossa casa, defendam a Vossa glória e salvem tantas almas que custam todo o Vosso sangue, para que só haja um aprisco e um pastor, e que todos Vos rendam glória em Vosso santo templo: Et in templo eius omnes dicent gloriam [E no seu templo todos dizem: Glória!]. Amém.

(Excertos da 'Oração Abrasada', de São Luís Maria Grignion de Montfort pedindo a Deus missionários para a sua Companhia de Maria)

terça-feira, 11 de janeiro de 2022

TESOURO DE EXEMPLOS (122/124)

 

122. OITO CADÁVERES!

Há homens, que parecem feras. Entre os comunistas vermelhos há alguns desses homens. Foi no tempo do Movimento Nacional, que libertou a Espanha das garras do comunismo. O que vamos narrar passou-se perto de Cordoba. Triunfaram ali, desde os primeiros instantes, as hordas comunistas. Saíram como saem as feras de seus covis e, em poucas horas, mais de cem cadáveres de nobres e cristãos jaziam por terra junto aos muros do cemitério.

Enfureceram-se principalmente contra uma família de fé arraigada, de coração generoso e de fortuna regular. Jamais negaram os direitos dos operários. Jamais um pobre bateu às portas de sua casa e dali foi despedido sem auxílio. O pai, os filhos, as filhas, todos naquela numerosa família se distinguiam pela firmeza de suas crenças católicas.

➖ 'Agora, estes!' - bradaram aquelas feras humanas. E nadando em sangue, caiu o velho pai, homem fidalgo e distinto.. E nadando em sangue, caíram três filhos seus, jovens na flor da idade e nadando em sangue, caíram também dois genros, que eram o encanto de suas esposas e o orgulho da religião. Havia ainda outros dois jovens que eram noivos das duas filhas solteiras. 
➖ 'Agora, estes!' - rugiram aquelas hienas. E os dois caíram, também, nadando em sangue.

Oito cadáveres jaziam às portas daquela residência, onde até poucas horas viviam felizes aqueles corações cristãos. Oito cadáveres! Eram os seres mais amados, eram a esperança da família, eram o amor de todos... Oito cadáveres!

➖ 'Agora, estes!' - continuavam uivando aquelas feras sedentas de sangue humano. E em desordenado tropel penetraram naquela fidalga residência, espalhando-se por ela, roubando, saqueando, destruindo tudo o que encontravam. Enfim, cansados de tantas fadigas, estiraram-se nos sofás e cadeiras de braço, bebendo e cantando, estavam satisfeitos de sua obra. Oito cadáveres!

E a esposa? E as filhas casadas? E as solteiras? E os tenros e delicados netinhos? Não os esqueceram, aqueles vis criminosos. Trancaram-nos num quarto, dizendo-lhes que esperassem a decisão do povo: ao povo pertencia dispor o destino deles. E o povo dispôs que fossem enxotados de sua própria casa, que desde aquele momento passava a ser propriedade do comunismo.

E de sua casa teve de sair a infeliz família. Ia adiante a velha mãe, de cabelos brancos; atrás, as filhas casadas, carregando seus tenros filhinhos e, por fim, as filhas solteiras sem pai, sem irmãos, sem amores, sem um pedaço de pão e, assim, foram batendo de porta em porta e viram que as portas de muitas famílias que julgavam amigas se fecharam para elas. E por isso levavam a maldição da 'Casa do Povo'. Ó como foi triste, foi doloroso, foi revoltante! Foi, em suma, a obra do comunismo ateu, do qual nos livre a misericórdia de Deus.

123. BAILANDO COM O DIABO

Uma jovem francesa, que frequentava as salas de baile, atraída pela fama do santo Cura d'Ars, resolveu procurá-lo para se confessar. Vejamos como ela narrou o seu colóquio com o santo.
➖ Lembras-te - disse ele - da última vez que foste ao baile? Estava lá um moço que te parecia bonito, e te causou sentimentos de ciúme e de inveja, porque bailava somente com as outras e não se dignava dirigir-te um olhar sequer? 
➖ É verdade. Lembro-me, sim.
➖ Lembras-te que, em dado momento, ele retirou-se da sala, deixando-te desiludida, por não se ter dignado dançar contigo nem uma vez?
➖ Sim.
➖ E notaste, então, um pequeno fenômeno: duas como chamazinhas entre as solas dos sapatos dele e o pavimento da sala, quando se retirou. E não fizeste caso, atribuindo aquilo a uma ilusão de ótica do contraste entre as luzes e a obscuridade da porta de saída... lembras-te disso?
➖ Sim; lembro-me.
➖ Pois bem. Aquele que te parecia um rapaz encantador, que te causou tantos ciúmes, tanta inveja, tanto despeito... quem era?
➖ ....
➖ Aquele era o diabo. Dançou com aquelas que já lhe pertencem, com aquelas que não tem o menor escrúpulo da impureza. Contigo não quis dançar, porque ainda eras pura, e sabia que virias te confessar.
A moça ficou impressionadíssima com aquelas revelações do santo e prometeu que nunca mais iria a um baile. E tu, jovem leitora, não achas que contigo poderia acontecer?

124. UM PREFEITO LIVRE-PENSADOR LEVA NA CABEÇA

Há cerca de quarenta anos, estava em uma vila da Áustria o coronel Dobner von Dobenau com o seu batalhão. Ia estabelecer ali o seu quartel de inverno. A população alegrou-se com isso, pois esperava fazer bons negócios com os oficiais e soldados e contava, além disso, com o bom número de distrações. O prefeito da cidade, acompanhado de seus conselheiros municipais, saiu a saudar o coronel. Este era fervoroso católico e um de seus filhos era padre. Mas, ignorando essas circunstâncias, e julgando-o livre-pensador, o prefeito dirigiu-lhe longo discurso, insistindo na alegria que os habitantes da cidade sentiam com a presença da tropa que, certamente, viria quebrar a monotonia da estação hibernal. 

Não pôde deixar, porém, de mostrar o seu desagrado pelas práticas religiosas, dizendo:
➖ Uma só coisa desagradável há aqui, meu coronel. É que hoje, precisamente, os padres deram início a uma grande missão que vai durar mais de oito dias. Infelizmente não a podemos impedir, apesar de vermos na mesma um grande desmancha-prazeres. O batalhão deve, entretanto, consolar-se com o pensamento de que esses dias passarão e, logo depois, a alegria será muito maior.

Terminado o discurso, o coronel, carregando os sobrolhos, respondeu em tom seco:
- Senhor prefeito, não vejo na missão absolutamente nenhum desmancha-prazeres. Pelo contrário; eu só não assistirei aos sermões da missão, quando o serviço assim me permitir como meus oficiais, bem como toda a tropa, terão o prazer de me acompanhar. Eu só sinto não ter o poder, senhor prefeito, de mandar também a vós e aos vossos conselheiros a também ir a todos os sermões. As pregações não vos fariam mal nenhum; muito ao contrário, elas fariam imenso bem.
Após o seu destemido discurso, retirou-se friamente o coronel, deixando bastante desapontados e confusos os seus visitantes. E a lição foi bem merecida.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)

domingo, 9 de janeiro de 2022

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Que o Senhor abençoe, com a paz, o seu povo!' (Sl 28)

 09/01/2022 - Festa do Batismo do Senhor

7.  O BATISMO DE JESUS


No Evangelho do Batismo do Senhor, encerra-se na liturgia o tempo do Natal. João Batista, nas águas do Jordão, realizava um batismo de penitência, de ação meramente simbólica, pois não imprimia ao batizado o caráter sobrenatural e a graça santificante imposta pelo Batismo Sacramental, instituído posteriormente por Nosso Senhor Jesus Cristo: 'Eu vos batizo com água, mas virá aquele que é mais forte do que eu. Eu não sou digno de desamarrar a correia de suas sandálias. Ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo' (Lc 3, 16).

O Batismo de Jesus constitui, ao contrário, um ato litúrgico por excelência, pois o Senhor se manifesta publicamente em sua missão salvífica. Chega ao fim o tempo dos Profetas: o Messias tão anunciado torna-se realidade diante o Precursor nas águas do Jordão. E o batismo de Jesus é um ato de extrema humildade e de misericórdia de Deus: assumindo plenamente a condição humana, Jesus quis ser batizado por João não para se purificar pois o Cordeiro sem mácula alguma não necessitava do batismo, mas para purificar a humanidade pecadora sob a herança dos pecados de Adão. Ao santificar as águas do Jordão e nelas submergir os nossos pecados, Jesus santificou todas as águas do Batismo Sacramental de todos os homens assim batizados.

Ao receber o batismo de João, Jesus rezava: 'E, enquanto rezava...' (Lc 3, 21). E, enquanto Jesus rezava, 'o céu se abriu e o Espírito Santo desceu sobre Jesus...' (Lc 3, 21-22). O Espírito Santo manifesta-se diante da oração proferida na intimidade com o Pai, sem anelos de vanglória e clamor. Oração humilde, profunda, de absoluta confiança e louvor ao Pai, que induz a primeira manifestação da Santíssima Trindade, ratificada pela pomba e pela voz que vem do Céu: 'Tu és o meu Filho amado, em ti ponho o meu bem-querer' (Lc 3, 22). No batismo do Jordão, manifesta-se em plenitude a divindade de Cristo.

Eis a síntese da nossa fé cristã, legado de Deus a toda a humanidade, sem distinção de pessoas: 'ele aceita quem o teme e pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença' (At 10, 35). No Jordão, o céu se abriu para o Espírito Santo descer sobre a terra. No Jordão, igualmente, manifestou-se por inteiro o perdão e a misericórdia de Deus e a graça da salvação humana por meio do batismo. E, com o batismo de Jesus, tem início a vida pública do Messias preanunciado por gerações. Esta liturgia marca, portanto, o início do Tempo Comum, período em que a Igreja acompanha, a cada domingo e a cada semana, as pregações, ensinamentos e milagres de Jesus sobre a terra, o tempo em que o próprio amor de Deus habitou em nós.

sábado, 8 de janeiro de 2022

SOBRE A MALEDICÊNCIA

Três vidas diferentes temos nós: a vida espiritual, que a graça divina nos confere; a vida corporal, de que a alma é o princípio; e a vida social, que repousa os seus fundamentos na boa reputação. O pecado nos faz perder a primeira, a morte nos tira a segunda e a maledicência nos leva a terceira. A maledicência é uma espécie de assassinato e o maldizente torna-se réu de um tríplice homicídio espiritual: o primeiro e o segundo diz respeito a sua alma e à alma da pessoa com quem se fala; e o terceiro, com respeito à pessoa de quem se deturpa o bom nome.

São Bernardo diz, por isso, que os que cometem a maledicência e os que a escutam tem o demônio no corpo; aqueles na língua e estes no ouvido, e Davi, falando dos maldizentes, diz: 'Aguçaram a sua língua como a das serpentes', querendo significar que, à semelhança da língua da serpente, que, como observa Aristóteles, tem duas pontas, sendo fendida no meio, também a língua do maldizente fere e envenena o coração daquele com quem está falando e a reputação daquele sobre quem se conversa.

Peço-te encarecidamente que nunca fales mal de ninguém, nem direta nem indiretamente. Guarda-te conscientemente de imputar falsos crimes ao próximo, de descobrir os ocultos, de aumentar os conhecidos, de interpretar mal as boas obras, de negar o bem que sabes que alguém possui na verdade ou de atenuá-lo por tuas palavras; tudo isso ofende muito a Deus, de modo particular o que encerra alguma mentira, contendo então sempre dois pecados: o de mentir e o de prejudicar o próximo.

Aqueles que para maldizer começam elogiando o próximo são ainda mais maliciosos e perigosos. Confirmo, dizem eles, que estimo muito a fulano, que, aliás, é um homem de bem, mas para dizer a verdade não teve razão em fazer isso e aquilo. Aquela moça é muito boa e virtuosa, mas deixou-se enganar. Não está vendo a astúcia? Quem quer disparar um arco puxa-o primeiro para si o quanto pode, mas é só para arremessá-lo com mais força. Assim parece que o maldizente primeiro retira uma fofoca que já tinha na língua, mas faz isso somente para que lançando-a depois como uma flecha, com maior malícia, penetre mais profundamente nos corações...

(Excertos da obra Filoteia, de São Francisco de Sales)

sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

A VIDA OCULTA EM DEUS: DIGNIDADE E HARMONIA DA ALMA INTERIOR


Quando nos deparamos com uma alma interior, ficamos impressionados com a sua dignidade, desenvoltura e graça. Acreditaríamos que ela teria sangue real, o que em si é verdade, uma vez que ela é filha de um rei e, portanto, é rainha. Jesus não é o Rei dos reis? Ela não é a sua esposa? Por que, então, tal digressão? Na alma interior, tudo participa dessa nobreza divina que é revelada por suas palavras, seus gestos, seus movimentos, seus menores passos, que são polidos, discretos e firmes. Ao caminhar, não faz alarde e nem atrai a atenção e, no entanto, agrada, atinge o seu fim sem esforço. Mal notamos o que está fazendo, suas ações são ordenadas e silenciosas, têm o senso de medida. Age como se tem que agir. Fala como convém falar. Mantém-se calada no momento adequado. Mas o exterior é apenas um reflexo. O interior é o que Deus vê e o que realmente importa e o que é verdadeiramente belo. Um interior ordenado como um todo e em tudo.

Nesta alma, até os menores movimentos interiores são delicados e agradam por completo ao vosso julgamento. Todos eles são inspirados pelo vosso amor, princípio e fim de suas aspirações. E também a sua regra. Sim, todos os pensamentos desta alma são pensamentos de amor e o mesmo se dá com todos os seus desejos e com todas as suas ações.

Uma harmonia profunda reina nesta alma. O Espírito Santo, um artista com mãos hábeis, sempre a moldou. Da vontade, plástica como o barro e firme como o ouro, Ele fez um colar irrepreensível que mantém todas as outras faculdades perfeitamente unidas entre si. As faculdades sensíveis servem às faculdades internas e as obedecem. Estas, por sua vez, estão sob o comando daquela vontade na qual o amor divino penetrou tão profundamente. E todo esse mundo interior assim ordenado tem algo firme, gracioso e forte que agrada aos vossos olhos, ó meu Deus; é como uma participação nessa vossa simplicidade harmoniosa que sustenta - atrevo-me a dizê-lo - as vossas inumeráveis ​​e infinitas perfeições. Basta uma única palavra para expressar tudo quando vos consideramos sob esse ponto de vista: 'caridade' - a mesma palavra que distingue e nos revela o íntimo da alma interior.

(Excertos da obra 'A Vida Oculta em Deus', de Robert de Langeac; Parte III - A União com Deus; tradução do autor do blog)

PORQUE HOJE É A PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS (E DO ANO)

 

DEVOÇÃO DAS NOVE PRIMEIRAS SEXTAS - FEIRAS