sábado, 2 de outubro de 2021

TESOURO DE EXEMPLOS (101/103)

 

101. AS HORAS SÃO SÉCULOS...

São Paulo da Cruz, estando uma noite para se deitar, ouviu de repente um grande ruído perto de seu quarto. Crendo ser uma visita do demônio, que vinha, como de costume, perturbar o seu sono, aliás brevíssimo, deu-lhe ordem para retirar-se. Mas, repetindo-se por três vezes o estranho ruído, perguntou o que era e o que queria.

➖ 'Sou' - apresentou-se uma voz - 'a alma do sacerdote que faleceu esta tarde às seis e meia e venho comunicar-lhe que estou no Purgatório por não me haver emendado dos defeitos de que o senhor me repreendeu muitas vezes. Ó quanto sofro! Parece-me já ter passado mil anos neste oceano de fogo.
Comovido até às lágrimas, levantou-se o santo, olhou o relógio que marcava então seis e três quartos, e disse ao sacerdote:
➖ Como? Faz um quarto de hora que falecestes e parece-vos que já são mil anos?!
➖ Ó  como é longo o tempo no Purgatório!

E, pedindo com instância que o aliviasse, não se afastou enquanto o santo não lhe prometeu isso. Tomando sua disciplina de ferro, São Paulo da Cruz açoitou-se até sair sangue, orou e chorou pedindo a Deus que livrasse aquela alma de tão grandes tormentos. Não recebendo nenhum aviso do céu, como costumava acontecer, tomou de novo os seus rudes instrumentos de penitência, querendo fazer-se violência à divina Misericórdia. Como a resposta ainda não viesse, disse num transporte de confiança filial: 'Senhor, meu Deus, rogo-vos que livreis esta alma pelo amor que tendes à minha'.

Vencido pelos seus rogos, prometeu-lhe o Senhor que, no dia seguinte, antes do meio dia, a alma do sacerdote sairia do Purgatório. Apenas amanhecera, São Paulo subiu ao altar e celebrou com mais fervor do que nunca o Santo Sacrifício, oferecendo a Deus por aquela alma o precioso sangue de Jesus Cristo. Ó maravilha! No momento da comunhão, viu o santo passar diante de si, alegre e resplandecente de luz, a alma daquele sacerdote que subia ao Céu.

102. AS CRIANÇAS E O PURGATÓRIO

A. Santa Perpétua, que foi martirizada em Cartago no ano de 202, refere, em carta escrita de seu próprio punho no cárcere, que teve um sonho em que viu seu irmãozinho, falecido na idade de sete anos, encerrado num lugar escuro, coberto de lodo e devorado pela sede. Ao acordar, entendeu o que o sonho significava e passou o dia em oração pelo defunto. Depois de algumas noites tornou a vê-lo, mas desta vez junto a uma fonte em que bebia; as vestes estavam limpas e ele muito melhor e alegre. A santa ficou muito consolada com aquela visão e viu que aqueles sonhos foram mandados por Deus para o bem daquele menino.

B. São Pedro Damião ficou órfão muito criança e cresceu sob os cuidados de um seu irmão que o tratava com a maior crueldade, dando-lhe, além disso, muita pouca roupa e comida. Um dia achou no caminho uma moeda de prata, o que seria um tesouro para comida, roupa e sapatos. Estava a pensar no que faria com aquele achado, quando lhe veio à mente a lembrança de seus pais que tinham sido tão bons para com ele.
➖ Ah! - disse consigo - talvez estejam penando no Purgatório e eu os poderia aliviar agora.
Correu à igreja e entregou o dinheiro ao sacerdote, dizendo:
➖ Peço ao senhor que celebre missas por meus falecidos pais.
Desde aquela data todas as portas lhe foram abertas para ser sacerdote e um grande santo.

C. Santa Catarina de Bolonha foi certa vez favorecida com uma visão do Purgatório. Viu o fogo ardente que devorava o íntimo das almas e pareceu-lhe que o do inferno não poderia ser mais abrasador. Havia ali, ardendo nas chamas, tanta gente como folhas em uma floresta. Muitos haviam levado vida muito santa, mas ainda não estavam bastante puros para ver a Deus.

Viu ali, também, muitos meninos que não haviam cometido mais do que pecados veniais, como desafios, discussões com seus irmãos, desobediência aos pais... e as penas que sofriam por essas faltas leves causavam compaixão. Com isso compreendeu a gravidade mesmo do pecado venial que Deus, em sua justiça e santidade, castiga tão severamente.

103. MORRE A MÃE; A CRIANÇA, NÃO

Em 15 de junho de 1909, caiu um raio em Serebes (Hungria), atingindo a senhora Josefina Toth, que trazia no colo o seu filhinho. A mãe, fulminada pelo raio, morreu instantaneamente; a criancinha, porém, não sofreu coisa alguma.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)

PRIMEIRO SÁBADO DO MÊS

 

sexta-feira, 1 de outubro de 2021

UMA SANTA EM ESTADO PURO

 

Nada como um dia após o outro. Nada como um santo após o outro. O santo de hoje ou santa - Santa Teresa de Lisieux - é, em praticamente tudo, o oposto do santo de ontem - São Jerônimo. A Teresa das escolhas mais pequenas e mais humildes, que a tornou mundialmente conhecida como ‘Santa Teresinha do Menino Jesus’, é um contraponto absurdo ao furacão cáustico e intenso do Jerônimo doutor da Igreja. Duas vidas santificadas em plenitude, tangidas pelo mesmo espírito de fé e de humildade, porque há todos os tipos de santos e santas, mas não há no Céu um santo ou uma santa que não tenham sido moldados pela humildade e pela caridade.

Esta simples freira carmelita viveu no mais absoluto ostracismo e morreu com apenas 24 anos de idade. Marie Françoise Thérèse Martin nasceu em Alençon, em 02/01/1873, e faleceu em Lisieux, em 30/09/1897. Foi canonizada em 17 de maio de 1925 pelo Papa Pio XI, que posteriormente a declarou ‘Patrona Universal das Missões Católicas’ em 1927. O Papa João Paulo II tornou-a Doutora da Igreja no dia 19 de outubro de 1997.

Por desígnios divinos, Santa Teresinha foi a preceptora de um particular caminho de santificação: a chamada ‘pequena via’, a via de confiança absoluta à vontade de Deus. Na plena aceitação dos desígnios divinos sobre as almas de cada um de nós, no abandono de nossas vidas nos braços de Jesus Cristo, na entrega total de nossas ações e pensamentos à proteção da Santíssima Virgem: eis aí a pequena via, o caminho da infância espiritual, a gloriosa trilha de santificação para os homens comuns, o espantoso atalho ao Céu, proposto e vivido intensamente pela santa carmelita. Eis a sua pequena via maravilhosa de santificação: basta aceitar a nossa própria pequenez, a imensa fragilidade humana que nos domina, as enormes limitações de viver em plenitude os desígnios de Deus sobre as nossas almas; fazer de tantas imperfeições e fragilidades, não meros obstáculos, mas as próprias pedras do caminho, rejuntadas e consolidadas firmemente num imenso amor e numa confiança sem limites na bondade e misericórdia de Deus.

Quão suave é o jugo do Senhor e como são infindáveis os seus caminhos! Sob o vozeirão de um santo que abominava a frouxidão ou sob a batuta suave da santa da pequena via, os ecos da graça ecoam e se reverberam nas almas dos justos, gritando ou apenas sussurrando: o amor a Cristo, o amor incondicional a Cristo, é a nossa estrada para o Céu. Por meio da pequena via, a santificação começa e termina pelo propósito de fazer, de cada dia, mais um passo nesta rota de peregrinação, transformando cada ação diária, cada ato da nossa vida mundana, por mais simples e despojado que seja, em obra de perfeição cristã, compartilhado e vivido para a plena glória do Pai (‘sede perfeitos como vosso Pai do Céu é perfeito’). 

Dois santos absurdamente distintos, que se complementam e que se sucedem no mesmo espírito de fé e de humildade, como pedras contínuas da mesma via de santificação, tal como um dia após o outro. Ontem, um santo em estado bruto. Hoje, uma santa em estado puro. Modelos tão diversos quanto a assimetria dos temperamentos humanos, modelos tão radicalmente unidos pelo propósito comum de tornar as suas vidas, longas ou mais curtas, pura ou brutalmente, voltadas apenas para manifestar em plenitude a glória de Deus nessa terra.

PORQUE HOJE É A PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS

 

DEVOÇÃO DAS NOVE PRIMEIRAS SEXTAS - FEIRAS 

quinta-feira, 30 de setembro de 2021

UM SANTO EM ESTADO BRUTO


Um santo ou uma santa constituem sempre uma expressão de uma das dimensões do Nosso Senhor Jesus Cristo. Um expressa o seu recolhimento, outro a sua docilidade, outro ainda o amor extremado pelos pobres ou pelos humildes e simples de coração. Uma forma de santidade é sempre a consequência de viver, com extremado cuidado, um reflexo da vida do próprio Senhor.

São Jerônimo, nascido na Dalmácia no ano de 340, é um dos grandes santos e doutores da Igreja, reconhecido como o grande tradutor das Sagradas Escrituras para o latim e ainda como um grande filósofo, teólogo, tradutor, exegeta e historiador. Nele, a doutrina de Cristo é vívida e vivida em toda a sua dimensão: como monge, fundou mosteiros e ordens religiosas; como teólogo, investiu contra as heresias; como penitente ardoroso, tornou-se eremita e foi viver recluso em uma caverna de Belém.

Mas São Jerônimo é o 'santo em estado bruto'. Na sua época, o Cristianismo havia se tornado a religião oficial do Império Romano e os primeiros tempos de austeridade e de perseguição da Igreja haviam cessado e o inimigo agora era as tentações do mundanismo. Estêvão é o grande santo da tolerância zero, do nada de meias verdades, do nada de palavras sociais ou do respeito humano, do nada de adulação, dos eufemismos ou da retórica adocicada. Martelo da hipocrisia e das firulas sociais e do politicamente correto, sua linguagem áspera e suas atitudes rígidas e intempestivas são as marcas registradas do amor incondicional à Verdade, sem concessão alguma. O santo mais em falta nesta geração atual de homens e mulheres que padecem de uma síndrome crônica de frouxidão e covardia.

São Jerônimo rabugento, cáustico, impulsivo? Sim, em se tratando das almas mornas e tíbias, dos tolos de plantão, do indiferentismo religioso, dos inertes e dos omissos na arte de viver a plenitude da fé cristã. Para o santo das palavras duras e atitudes severas, o amor a Deus supera e vence montanhas, é movido pelo fogo da verdade, é incensado pela força das atitudes e dos propósitos firmados num simples sim ou não diante das vicissitudes humanas. São Jerônimo é o santo de hoje, ontem e sempre para os homens moldados pela graça em estado bruto. E nem um pouco dos refinados e lapidados homens de fé comum.

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

O DOGMA DO PURGATÓRIO (XVI)

Capítulo XVI

Dores do Purgatório - Santo Antonino e os religiosos enfermos - Um quarto de hora no Purgatório - Irmão Angelicus

O que nos mostra ainda mais o rigor do Purgatório é que o período de tempo mais curto ali parece ser de duração muito longa. Todos sabem que os dias de gozo passam rapidamente e parecem curtos, ao passo que o tempo que se passou no sofrimento nos parece muito longo. Ó como passam lentamente as horas da noite para os pobres enfermos, que as passam em meio à insônia e à dor. Podemos dizer que quanto mais intensa é a dor, um tempo de curta duração parece muito mais tempo. Essa regra nos fornece uma nova medida para se avaliar os sofrimentos do Purgatório.

Encontramos nos Anais dos Frades Menores, do ano de 1285, um fato que também é relatado por Santo Antonino em sua Summa (Parte 4, §4). Um homem religioso que sofreu, por muito tempo, uma doença dolorosa, permitiu-se ser vencido pelo desânimo e rogou a Deus que o permitisse morrer, para que pudesse ser libertado de suas dores. Ele não pensou que o prolongamento de sua doença fosse uma misericórdia de Deus, que desejava assim poupá-lo de sofrimentos mais severos. 

Em resposta à sua oração, Deus encarregou o seu anjo da guarda de oferecer a ele uma escolha entre morrer imediatamente e se submeter às dores do purgatório por três dias ou suportar a sua doença por mais um ano e então ir diretamente para o Céu. O enfermo, tendo a opção de escolher entre três dias no Purgatório e um ano de sofrimento na terra, não hesitou em escolher os três dias no Purgatório. Após um lapso de uma hora, o seu anjo foi visitá-lo em seus sofrimentos. Ao vê-lo, o pobre paciente queixou-se por estar ainda tanto tempo naqueles tormentos e acrescentou: 'a promessa é que eu ficaria aqui por apenas três dias'. 'Há quanto tempo' - perguntou o anjo - 'você acha que está aqui?' . 'No mínimo vários anos, quando deveriam ser apenas três dias'. 'Pois saiba' - disse o anjo - 'que você está aqui há apenas uma hora. A intensidade da dor faz você se enganar quanto ao tempo: um instante parece um dia e uma hora parece vários anos'. 'Ai de mim então' - disse ele com um suspiro - 'fui muito cego e imprudente na escolha que fiz. Reze a Deus, meu bom anjo, que me perdoe e que me permita voltar à terra. Estou pronto para sofrer as doenças mais dolorosas, não apenas por dois anos, mas o tempo que aprouver a Deus. E ainda que fossem muito mais anos de doenças terríveis, eu os prefiro a uma única hora neste lugar de sofrimentos inexprimíveis'.

O fato seguinte foi transcrito da obra de um piedoso autor citado pelo Padre Rossignoli (Merv 17). Dois religiosos, de virtudes muito elevadas, competiam entre si para levar uma vida santa. Um deles adoeceu e teve uma visão de que morreria em breve, que seria salvo e que permaneceria no purgatório apenas o tempo decorrido até se celebrar a primeira missa em intenção do repouso de sua alma. Cheio de alegria por estas revelações, apressou-se a comunicá-las ao bom amigo e rogou-lhe que não se atrasasse na celebração da missa que lhe abriria o Céu.

Ele morreu na manhã seguinte e seu companheiro não perdeu tempo em celebrar o Santo Sacrifício por intenção de sua alma. Depois da missa, enquanto fazia a sua ação de graças e continuava a rezar pelo amigo falecido, este lhe apareceu radiante de glória mas, em tom de queixa levemente complacente,  perguntou por que demorara tanto para celebrar a missa de que tanto precisava. 'Meu caríssimo irmão' -  respondeu o religioso, 'como assim, demorei? Não entendo o que você está me dizendo'. 'Como assim? Você me deixou sofrer no Purgatório, por mais de um ano, antes de oferecer a missa pelo repouso da minha alma...'.  'Não, meu querido irmão, celebrei a missa quase que imediatamente após a sua morte e certamente esse tempo não passou de um quarto de hora'. Olhando para ele com emoção, a alma abençoada então respondeu: 'Quão terríveis são essas dores expiatórias, pois me fizeram trocar alguns minutos como se fossem um ano... Sirva a Deus, meu querido irmão, com extrema fidelidade, para que possas evitar esses castigos. Até breve. Vou para o Céu, onde estaremos juntos um dia!'

Esta severidade da Justiça Divina, em relação às almas mais fervorosas, explica-se pela infinita santidade de Deus, que descobre manchas naquilo que nos parece mais puro. Os Anais da Ordem de São Francisco falam de um religioso cuja santidade eminente o levara a receber o sobrenome Angelicus (Chronique des Freres Min., P. 2, 1, 4. c. 8; cf. Rossign.). Morreu em odor de santidade no mosteiro dos Frades Menores de Paris, e um de seus irmãos religiosos, doutor em teologia, convenceu-se de que, depois de uma vida tão perfeita, havia ido direto para o céu e que não havia, portanto, necessidade de orações, sendo omitida desta forma a celebração das três missas de obrigação que, segundo o costume do mosteiro, deveriam ser oferecidas na intenção da alma de cada membro falecido.

Após alguns dias, enquanto caminhava e meditava em recolhimento, apareceu-lhe o falecido envolto em chamas e disse-lhe, com voz pungente: 'Querido amigo, imploro que tenha piedade de mim!'. 'Como? Irmão Angelicus, você precisa da minha ajuda?' 'Sim, estou retido na prisão de fogo do Purgatório, à espera dos frutos do Santo Sacrifício que devias ter oferecido três vezes por minha intenção'. "Amado irmão, pensei que você já estava na glória eterna; depois de uma vida tão fervorosa e exemplar como a sua, eu não poderia imaginar que restasse ainda alguma dívida a ser paga'. 'Ai de mim!' - respondeu o falecido: 'ninguém pode conceber com que severidade Deus julga e pune as suas criaturas. A sua infinita santidade descobre objeções em nossas melhores atitudes, e até as mínimas  imperfeições que o desagradam. E Ele exige que prestemos contas de tudo até o último centavo - Usque ad novissimium quadrantem'.

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog)

terça-feira, 28 de setembro de 2021

SOBRE O PROPÓSITO DE NÃO PECAR

Muitos já se manifestaram - com absoluto rigor teológico - de que não devemos temer o demônio, mas sim o pecado, que nos deixa à mercê da ação de todos os demônios. Como cristãos no mundo, estamos sujeitos a todas as tentações e, infelizmente, a pecar contra Deus, num mundo em que a única evolução palpável é a de que o pecado não existe, o demônio não existe, o inferno não existe. 

E o mal existe; e para se manifestar e se manter presente, precisa desesperadamente do conluio dos homens, por meio de uma única via dolorosa: o pecado. Com o pecado, o homem coopera com a ação diabólica no propósito de aniquilar a obra divina da salvação. E como o pecado tornou-se artigo de uso imediato e contínuo, a humanidade hoje se vê como um todo emaranhada num redemoinho de fatos e situações que nos fazem crer que o homem desaprendeu de vez a sua condição de criatura de Deus. 

A simples percepção dessa crença já é um propósito de vida cristã. Mas é preciso mais, muito mais: e o melhor começo - ou recomeço - é o firme propósito da não submissão ao pecado, sem quaisquer concessões ou desculpas, pelo simples motivo de que buscar desculpas para o pecado cometido é um grande pecado. Somos filhos e filhas de Deus e Deus abomina o pecado. Como filhos e filhas de Deus, devemos abominar o pecado e nos livrar deles a qualquer custo, sob quaisquer contextos ou tentações. Se fosse fácil, o caminho para o Céu seria uma rodovia pavimentada de oito pistas; não é nada fácil e, por isso, é que a porta é estreita e para poucos.

O livre arbítrio nos concede a condição ímpar de viver por instintos e é isso exatamente o que faz um animal qualquer viver. Mas o livre arbítrio não nos foi concedido para sermos animais quaisquer, mas para manifestar, nas nossas ações e decisões cotidianas, a graça de sermos filhos e filhas de Deus. O livre arbítrio nos propõe uma clara distinção do bem e do mal, da ação e do indiferentismo, do poder das escolhas, de submeter ou não às tentações, de pecar ou não pecar. Como filhos e filhas de Deus, somos criaturas destinadas a cumprir nesta vida em tudo, com todos, o tempo todo, a Santa Vontade de Deus. Estamos realmente vivendo assim?

E precisamos viver assim, para nos afastarmos do pecado para nós e para os outros. Esse é o caminho da Cruz, esse é o caminho do Céu. Não cairmos diante as tentações, não submetermos o livre arbítrio aos caprichos do pecado. E, caso aconteça - e com que causalidade isso nos afronta! - fiquemos rapidamente de pé (eu diria, de joelhos) e, mediante uma firme contrição e uma boa confissão, retomemos a estrada segura do Senhor. 

Que nesse propósito, sejamos mais que ousados, sejamos visceralmente ambiciosos no sentido de sermos instrumentos da salvação para muitos - para todos! O aguilhão do pecado vai nos machucar e nos tornar propensos a cair, arrastar, respirar ofegantes, perder tempo, lamentar e... levantar! Por mim mesmo e pelos que Deus colocou em meu caminho, para sermos todos  redimidos pelo Sangue de Jesus no Calvário. Por isso, a estrada é tão estreita, sinuosa e difícil, e o esforço tem que ser enorme para manter juntos tanta gente, o tempo todo. Mas, no fim do caminho, iremos todos habitar nas moradas eternas do Pai. E que neste propósito, ó meu Deus, eu não seja jamais pedra de tropeço para ninguém, e não me atreva nunca a sucumbir ao pecado que, me afastando de Vós e me colocando à mercê de todo o mal, possa vir a me tornar criatura de mim mesmo e senhor do meu próprio - e tenebroso - destino.