quinta-feira, 12 de novembro de 2020

GLÓRIAS DA CRISTANDADE: OS LIMITES DA PENITÊNCIA


Na antiga casa paroquial de Ars, conservam-se como troféu de vitória as disciplinas e os cilícios do Cura d'Ars, o Pe. João Maria Vianney. Mas o seu principal instrumento de penitência não está ali; deixaram-no na igreja: é o confessionário. Pode-se dizer que o servo de Deus ali se crucificou livremente. Foi 'um mártir da confissão', conforme as palavras de uma testemunha de sua vida. 

... Algumas horas de confessionário bastam para alquebrar o sacerdote mais robusto. Sai-se dele com os membros entumecidos, a cabeça congestionada e incapaz de fixar um pensamento. Perde-se o sono e o apetite, e a quem quiser passar, todos os dias, longas horas assentado, faltar-lhe-ão as forças. Pois bem, conforme escreveu a condessa de Garets, o Cura d'Ars impôs-se um trabalho que extenuaria seis confessores. 'Eis', diz o Pe. Raymond que o viu exercer este ministério, 'eis o que sempre me pareceu milagroso e superior às forças humanas: que um sacerdote tão achacado e de um regime tão austero pudesse, de qualquer maneira, passar a vida no confessionário!... A minha saúde, graças a Deus, é excelente, contudo, confesso que me seria impossível suportar aquele modo de vida durante uma semana, e o mesmo ouvi dizer por outros sacerdotes acostumados a confessar em peregrinações'.

Sim; foi ali entre aquelas tábuas, naquele ataúde antecipado, onde o Cura d'Ars mais teve que sofrer. No verão, a igreja era como um forno. O calor no confessionário, como ele mesmo dizia, dava-lhe uma ideia do inferno. Algumas vezes tinha que ouvir confissões com compressas na fronte, a tal ponto o torturavam as enxaquecas. Era por este motivo que trazia o cabelo muito curto na parte anterior da cabeça. Nos dias de tempestade ou de forte calor, o ar estava tão viciado na estreita nave do templo que o heroico confessor sentia náuseas e não as podia evitar, a não ser aspirando um vidro de vinagre ou de água de colônia. No inverno, pelo contrário, naquela região de Dombes, sobretudo quando sopra o vento dos Alpes, até as pedras se fendem. 

Muitas vezes, refere o Pe. Dubouis, desmaiou no confessionário, ora por causa do frio, ora por causa das suas enfermidades. Perguntei-lhe uma ocasião: 'Como pode V. Revma estar tantas horas assim num tempo tão cruel, sem nada para lhe aquecer os pés?'
- 'Ah! meu amigo, é por uma razão muito simples: Desde o dia de Todos os Santos até a Páscoa não sinto que tenho pés'.

O cônego Aleixo Tailhades, de Montpellier, que passou com ele parte do inverno de 1838, conta que 'os pés do pobre Cura se achavam tão lastimados que a pele dos calcanhares saía com as meias quando à noite se descalçava'. Para atenuar a dureza da tábua em que se assentava, experimentaram colocar sobre ela umas almofadas de palha. Ele as rejeitou (...)

A assiduidade do Pe. Vianney ao confessionário e os sofrimentos que nele suportava teriam bastado para fazê-lo alcançar um grau de alta santidade. Mas procurando as mortificações com o mesmo ardor com que outros buscam os prazeres, jamais estava saciado de penitência. Impôs-se o sacrifício de nunca olhar para uma flor, de não comer frutas e de não tomar uma gota de água em dias de grande calor. Jamais espantava as moscas que lhe pousavam na fronte. Permanecia ajoelhado sem apoio algum. Impusera-se a lei de nunca manifestar os desgostos e de ocultar todas as repugnâncias da natureza. Dominava a curiosidade ainda a mais legítima: nem sequer manifestou o desejo de ver a estrada de ferro que passava a poucos quilómetros de Ars, e que cada dia trazia para ele um maior número de peregrinos.

O seu coração estava sem pecado, e contudo, jejuou durante 40 anos: jejuou e flagelou-se pelos pecadores. Vimo-lo no princípio do seu apostolado como tomava sangrentas disciplinas para obter de Deus a conversão dos seus paroquianos. Quando estes se converteram, não deixou, apesar disso, que os seus instrumentos de penitência se enferrujassem. A diminuição das forças obrigou-o a servir-se menos deles e a tratar com menos crueldade o seu cadáver. Algumas vezes teve que fazer intervalos entre as flagelações e deixar que as feridas cicatrizassem para poder novamente flagelar-se (...)

Trazia em cada braço um bracelete de ferro eriçado de pontas agudas. 'Pela rigidez dos seus movimentos e pela maneira como se movia, no púlpito e no altar, era fácil ver' - diz uma senhora de Garets, 'que estava coberto de cilícios e de outros instrumentos de penitência'. Uma vez o cilício provocou-lhe uma ferida que causou inquietação pelo perigo da gangrena.

Tais mortificações debilitavam-no ainda mais. Como poderia este sacerdote manter-se em pé quando vivia daquilo que a outros faria morrer? Depois das suas 'loucuras da juventude', daqueles jejuns completos de dois ou três dias, que a princípio se impunha, resignar-se-ia, em vista da sua debilidade e do seu trabalho, a tomar o alimento necessário? (...) 

Pura ilusão! Consentir em comer todos os dias era contudo muito pouca coisa. O jejum, até então nunca interrompido, continuou da mesma maneira. De ordinário, ao meio-dia, entrava na cozinha do orfanato, e ali num canto do fogão esperava-o uma tigela de leite ou sopa. Quase nunca chegava a saborear a comida. Às vezes, além da sopa, comia alguns gramas de pão torrado. Durante muito tempo não tomava nada durante a manhã. Em 1834, estando muito fraco, foi obrigado por Monsenhor Devie a tomar um quebra-jejum. Desde então, depois da Missa, sorvia um pouco de leite, mas nos dias de jejum nem disso se servia.

Nas Quaresmas de 1849, 1850 e 1851, o Irmão Atanásio revelou que ele comia só uma vez por dia. Foi visto aceitar algumas vezes um pouco de sobremesa, ou seja, um pouco de doce; mas nos últimos anos também disso se absteve. Até à sua grave doença de 1843, nunca tomava nada à noite (...)

Quinhentos gramas de pão duravam mais de uma semana. 'Vi um dia no seu aposento, refere o Sr. Camilo Monnin, um pãozinho com aparentes sinais de ter sido roído por um rato; de fato, era um pedaço de pão que o servo de Deus havia tomado para alimentar-se durante uma grande parte do dia' (...) 'Para chegar a essa sobriedade excessiva ter-lhe-ia custado horrivelmente'. Assim se expressou o conde de Garets, testemunha emocionante de uma existência totalmente mortificada.

E se para apreciar o Cura d'Ars penitente é mister ouvir um especialista em matéria de penitência, eis aqui o testemunho de um padre da Grande Cartuxa: 'Vemo-nos obrigados a confessar, nós os solitários eremitas, monges e penitentes de toda a classe, que não nos atrevemos a seguir o Cura d'Ars senão com o olhar de nossa afetuosa admiração, e que não somos dignos de beijar os seus pés, nem a poeira dos seus sapatos'.

(Excertos da obra 'O Santo Cura d'Ars', de Francis Trochu)

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

AS TRÊS DIMENSÕES DA FÉ

1. A fé é um ato da inteligência

Antes de crer examinamos primeiro se o que devemos crer é realmente revelado, Deus quer esta investigação porque exige uma obediência racional.

2. A fé é um ato da vontade

Logo que a inteligência adquiriu a certeza de que a doutrina proposta foi revelada por Deus, a vontade deve logo submeter-se à palavra divina ainda que a razão não compreenda esta doutrina em si mesma.

3. A fé é um ato da graça

A virtude ou ato é sobrenatural, quer dizer, exige a cooperação da graça. A graça é necessária por três razões: (i) Para iluminar e nortear o espírito, a fim de que não se deixe arrastar pelo erro impedindo assim que reconheça o fato da Revelação e aceite as verdades contidas nela; (ii) Para purificar e fortalecer a vontade; é preciso que a justiça comova o coração, dispondo-o a abraçar as verdades que contrariam as paixões; (iii) Para ter a faculdade de acreditar; para crer nas verdades de ordem revelada é necessária uma facilidade de ordem sobrenatural - a graça da fé.

Assim como Deus nos deu olhos e com eles a força de ver as coisas, a inteligência e com ela a força de conhecermos; assim também nos dá a fé e com a fé, a potência, a força para crermos na sua palavra, que nos é anunciada pela Igreja.

A fé dá-nos a conhecer as verdades de ordem sobrenatural, desta ordem que, elevando-nos acima dos sentidos e da simples razão nos faz viver na eternidade da vida e da glória. A fé é uma luz colocada pelo Salvador nas nossas mãos para nos conduzir e guiar no caminho do Céu. A fé é para a razão o que o telescópio é para a vista. O que já não podemos ver a olho nu, o telescópio no-lo descobre em novos mundos e novas maravilhas. Longe de contrariar a razão, a fé só lhe serve de luz ou apoio.

(Excertos da obra 'O Crucifixo - Meu Livro de Estudos', do Pe. júlio Antônio dos Santos, 1950)

terça-feira, 10 de novembro de 2020

10 DE NOVEMBRO - SÃO LEÃO MAGNO

 

Com o falecimento do Papa São Sixto III em 440, assumiu o pontificado Leão I, arquidiácono da Igreja romana, conselheiro pontifício e homem de doutrina e palavra eloquente que, ao longo de 21 anos, defendeu a fé cristã e enfrentou heresias e a fúria das hordas invasoras que se lançavam à conquista da Europa e de Roma, mantendo, do Ocidente até o Oriente, a primazia da Sé de Roma. 

No campo dogmático, Leão I enunciou, de forma clara e contundente, a doutrina cristológica das duas naturezas - humana e divina - na pessoa única do Verbo, dogma da Igreja ratificado pelo Concílio de Calcedônia em 451, condenando de forma definitiva os desvios doutrinários de Nestório ('duas pessoas em Cristo') e dos monofisitas de Eutiques ('uma única natureza em Cristo'). 


A maior vitória de Leão I, entretanto, foi a defesa de Roma contra a barbárie pagã que invadira a Europa. Átila, o terrível chefe dos hunos, autoproclamado 'flagelo de Deus', havia cruzado os Alpes, tomado Milão e Pavia e chegado à Mântua, às portas de Roma, agora abandonada à própria sorte pelos governantes em fuga. Com muitos cardeais e membros do clero romano, e revestido das insígnias pontifícias, Leão I foi até Mântua para intimar o invasor a não empreender o ataque à Roma, a deixar a Itália e voltar às suas terras de origem. 

Contra todas as expectativas possíveis, foi exatamente isso que aconteceu. Aceitando a proposta do pontífice mediante um tributo anual por não saquear a cidade romana, Átila volveu seu exército em retirada. O que aconteceu naquele dia em Mântua? O que terá dito Leão I ao bárbaro invasor, reconhecido e aclamado por sua brutal impiedade, para tal reconsideração espantosa?  Os registros históricos revelam uma singular visão do invasor: 'Enquanto ele me falava, eu via, de pé a seu lado, um Pontífice de majestade sobre-humana (São Pedro). De seus olhos jorravam raios, e tinha na mão uma espada desembainhada; seu olhar terrível e seu gesto ameaçador me ordenavam conceder tudo quanto solicitava o enviado dos romanos'. Desta extraordinária intervenção divina, Leão I, para louvor e ação de graças, mandou fundir a estátua de bronze de Júpiter Capitolino e fazer com esse metal uma grande imagem do Apóstolo Pedro, que até hoje se venera na Basílica Vaticana.

O grande papa e santo faleceu em Roma no dia 10 de novembro de 461. Pelo enorme acervo de documentos teológicos, sermões admiráveis e devotada defesa dos dogmas, São Leão foi chamado Magno e declarado Doutor da Igreja em 1754.

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

PALAVRAS DE SALVAÇÃO

'Os mistérios de Jesus ainda não estão totalmente levados à sua perfeição e realizados. Na pessoa de Jesus, sim; não, porém, em nós, seus membros, nem na Igreja, seu Corpo místico. Por querer o Filho de Deus comunicar, estender de algum modo e continuar seus mistérios em nós e em toda a sua Igreja, determinou tanto as graças que nos concederá quanto os efeitos que quer produzidos em nós por esses mistérios. Por esta razão deseja completá-los em nós. Por isso, São Paulo diz que Cristo é completado na Igreja e que todos nós colaboramos para sua edificação e para a plenitude de sua idade (Ef 4,13), isto é, a idade mística que tem em seu Corpo místico, mas que só no dia do juízo será plena. Em outro lugar, diz o Apóstolo que completa em sua carne o que falta aos sofrimentos de Cristo (Cl 1,24). Deste modo, o Filho de Deus decidiu que seus estados e mistérios seriam completados e levados à perfeição em nós. Quer levar à perfeição em nós o mistério da sua encarnação, nascimento e vida oculta, quando este se forma e renasce em nossa alma pelos sacramentos do santo batismo e da divina eucaristia e quando nos dá vivermos a vida espiritual e interior, escondida com ele em Deus (Cl 3,3). Quer ainda levar à perfeição em nós o mistério de sua paixão, morte e ressurreição que nos fará padecer, morrer e ressurgir com Ele. E, finalmente, quer completar em nós o estado de vida gloriosa e imortal, quando nos fará viver com Ele e nEle a vida gloriosa e perpétua nos céus. Assim quer consumar e completar seus outros estados, seus outros mistérios em nós e em sua Igreja; deseja comunicá-los a nós e partilhá-los conosco e por nós continuá-los e propagá-los. Assim, os mistérios de Cristo não estarão completos antes daquele tempo que Ele marcou para o término destes mistérios em nós e na Igreja, isto é, antes do fim do mundo'.
(São João Eudes)

domingo, 8 de novembro de 2020

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Sois vós, ó Senhor, o meu Deus! Desde a aurora ansioso vos busco! A minha alma tem sede de vós, minha carne também vos deseja, como terra sedenta e sem água!' (Sl 62)

 08/11/2020 - Trigésimo Segundo Domingo do Tempo Comum

50. A PARÁBOLA DAS DEZ VIRGENS


No Evangelho deste domingo, Jesus nos exorta a praticar a vigilância constante em relação à hora da nossa morte pois ela há de vir na hora mais inesperada: 'ficai vigiando, pois não sabeis qual será o dia nem a hora' (Mt 25, 13). No fim da nossa vida, não haverá mais tempo para prover-nos tributos de salvação e então, no Juízo Particular, Deus vai nos pedir contas da nossa vigilância à Sua Santa Vontade, do cumprimento de nossas ações cristãs e do acervo das graças recebidas e dos talentos aproveitados ou não. Neste momento tremendo de nossa existência, seremos julgados previdentes ou imprevidentes pelo Pai e merecedores ou não do Reino dos Céus.

São palavras de salvação, porque a única coisa realmente importante para o homem é a salvação eterna de sua alma, expressas sob a forma da parábola das dez virgens (Mt 25, 1 - 13) que esperam a chegada do noivo, que tarda a chegar. O ingresso no Reino de Deus se assemelha às núpcias das festas de casamento daquele tempo em que a entrada da esposa na casa do esposo era um evento singular, marcado pela condução ritual da noiva por um certo número de virgens auxiliares. 

Na narração evangélica, estas virgens são dez ao todo, cinco delas previdentes e outras cinco imprevidentes. As primeiras, prevendo uma eventual demora do noivo (o Senhor), guardaram uma provisão de óleo para manterem acesas as suas lâmpadas qualquer que fosse a hora que o noivo chegasse; ao contrário, as virgens imprudentes, não tendo o mesmo cuidado, viam angustiadas o óleo ser consumido e as suas lâmpadas prestes a se apagarem. E então recorrem desesperadamente às primeiras para que estas lhes forneçam o óleo necessário, o que lhes é negado peremptoriamente. Na morte, na nossa morte, não teremos tempo nem acesso a 'óleos' alheios, a provisão dos nossos méritos será fruto tão somente daquilo que efetivamente levarmos desta vida. 

Diante de Deus, cada um de nós deverá responder por si, como resultado de um julgamento pessoal e intransferível. Ou apresentamos as lâmpadas acesas da graça, providas pelo óleo abundante da fé, para merecermos entrar no Reino de Deus ou ficaremos às escuras diante da porta fechada e da terrível sentença do juiz eterno: 'Não vos conheço!' (Mt 25, 12): 'Não vos conheço, porque não seguistes os meus mandamentos, não vivestes segundo os meus princípios e leis, não vos tornastes na terra herdeiros dos Céus!'

sábado, 7 de novembro de 2020

DICIONÁRIO DA DOUTRINA CATÓLICA (XV)

 

NEUTRALIDADE RELIGIOSA

Consiste na posição do Estado deixar livremente professar, praticar e propagar todas as religiões. É filha do indiferentismo, o qual admite todas as religiões porque não prefere nenhuma, fazendo assim injúria a todas; e do liberalismo, que reconhece a todas as religiões os mesmos direitos que à religião que considera verdadeira, fazendo-lhe grave injúria, e preparando o caminho para a indiferença religiosa. A neutralidade religiosa é condenada por Jesus Cristo, dizendo: 'Quem não é comigo é contra mim e quem não ajunta comigo, desperdiça' (Mt 12, 30). Em religião não pode haver neutralidade: ou se pratica a religião de Jesus Cristo, e tudo se ganha porque se serve a Deus como Ele merece e quer, ou não se pratica a sua religião, que é o mesmo que não praticar a religião verdadeira, e em tal caso não se serve a Deus, e por isso não se merece coisa alguma para a vida eterna.

NOA

É a última das Horas Canônicas, que se recitam antes de Vésperas, e corresponde às 3 horas depois do meio dia, que os antigos chamavam a nona hora do dia.

NOVICIADO

É palavra que designa ou a preparação das pessoas que entram no Convento para seguirem a vida religiosa, ou o tempo que dura essa preparação, ou a parte do Convento destinada à habitação dos noviços, isto é, das pessoas que se preparam para a vida religiosa. Nas Ordens Religiosas de votos perpétuos, todas as mulheres, e na dos homens, todos os irmãos leigos, antes de serem admitidos ao Noviciado, têm no próprio Convento pelo menos seis meses de postulantado; nas Congregações de votos temporários, o tempo de postulantado é determinado pelas respectivas constituições. À vida religiosa pode ser admitido qualquer católico que não tenha algum legítimo impedimento, que seja movido por intenção reta, e que seja idôneo para os ônus da vida religiosa. As condições da admissão ao Noviciado são indicadas no Código de Direito Canônico e nas Constituições das Ordens e das Congregações Religiosas.

NOVÍSSIMOS

São as últimas coisas que, segundo os preceitos da divina Providência, estão reservadas a cada um que sai desta vida. São quatro os novíssimos: morte, juízo, inferno, paraíso.

NÚNCIO

Constitui o embaixador do Papa, na qualidade de Chefe espiritual, junto dos príncipes e aos governos das nações.

OBRAS DA VIDA CRISTÃ

São aquelas necessárias para termos a recompensa da vida eterna. Disse Jesus: 'O Filho do homem há de vir na glória de seu Pai com os seus Anjos (para julgar os homens) e então dará a cada um a paga segundo as suas obras' (Mt 16, 27). E o Apóstolo São Tiago escreve: 'Não vedes como pelas obras é justificado o homem, e não pela fé somente? Sede cumpridores da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos' (Tg 2, 24; Tg 1,22). Mas Jesus preveniu: 'Tende cautela, não façais vossas boas obras diante dos homens para serdes vistos por eles; de outro modo não tereis a recompensa de vosso Pai que está nos Céus' (Mt 6, 1). Não é, pois, só pela fé que nos salvaremos, mas também pelas boas obras que fizermos, não para que os homens nos louvem, mas sim para darmos glória a Deus, como diz o Apóstolo São Paulo: 'ou comais, ou bebais, ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para glória de Deus' (I Cor 10, 31).

OFÍCIO DIVINO

É a oração que, pela lei da Igreja, os Clérigos de Ordens Sacras e alguns Religiosos e Religiosas têm obrigação grave de rezar diariamente pelo livro chamado Breviário. Consta de várias partes, cuja reza se distribui pelas horas do dia: Matinas com Laudes, Prima, Tercia, Sexta, Noa, Vésperas e Completas. A divisão da reza do Ofício por diversas horas do dia obedece ao desejo que a Igreja tem de que os Clérigos não passem muito tempo de cada dia sem ocuparem o seu espírito na oração. O Ofício Divino rezado em nome da Igreja em união com Jesus — o grande Religioso de Deus — é a continuação do louvor que o Salvador Divino veio entoar na terra ao Pai celeste. O Ofício Divino está profundamente relacionado com o Sacrifício eucarístico, cujos fins pretende realizar, insistindo principalmente nestas duas modalidades de adoração — a admiração e o louvor. O Ofício Divino tem por origem a primeira parte da Missa, chamada Missa dos Catecúmenos; imita-a na sua estrutura e dela toma os principais elementos — Epístola, Evangelho e Coleta. O Ofício chama-se divino porque: a) tem por exemplar o Louvor eterno que ressoa no seio da Trindade Santíssima; b) Tem por origem Deus que inspira à sua Igreja os afetos, as palavras e os gestos com que quer ser adorado; c) tem por objeto o próprio Deus cujas perfeições infinitas glorifica. O Ofício Divino é evidentemente uma oração vocal sendo também profundíssima oração mental, a meditação tradicional da Igreja .

ÓLEOS SANTOS

São aqueles que a Igreja usa na administração dos sacramentos do Batismo, da Confirmação, da Ordem e da Unção dos Enfermos. São benzidos pelo bispo na Quinta-feira Santa, e não devem ser usados os antigos, a não ser em caso de urgente necessidade. Faltando o óleo benzido, pode-se acrescentar outro, também de oliveira, não benzido, em menor quantidade. O Pároco deve guardar os santos óleos na igreja, em lugar decente e seguro, fechado à chave, e não os pode ter em sua casa, nem mesmo o óleo dos enfermos, a não ser por necessidade ou por outra causa razoável, e mediante licença do Bispo. O óleo benzido é também empregado na bênção dos sinos, na consagração dos altares e dos cálices para a Missa. O óleo é símbolo da incorruptibilidade e da força.

ORDEM NATURAL

É a apta disposição dos meios naturais para o fim natural. O fim natural do homem é a posse de Deus conhecido só pela razão, fim que se há de conseguir pelo exercício das faculdades e forças próprias, principalmente pela inteligência e vontade sob o influxo natural de Deus, e pelo cumprimento da lei natural impressa no coração de todos.

ORDEM RELIGIOSA

É uma sociedade aprovada pela legítima autoridade da Igreja, na qual os seus membros procuram a perfeição da vida cristã, por meio da observância dos Conselhos Evangélicos com os três votos de castidade, obediência e pobreza e sujeição às leis próprias da mesma sociedade. Ordem religiosa propriamente dita é aquela em que se fazem votos solenes. São Congregações Religiosas aquelas sociedades em que se fazem somente votos simples, quer perpétuos, quer temporários. As Ordens Religiosas dizem-se isentas por não estarem sujeitas ao bispo e sim ao seu Superior Maior e ao Papa. As Congregações são de Direito Pontifício, se recebem aprovação do Papa; e de Direito Diocesano, se são formalizadas pelo bispo e não obtiveram aprovação do Papa.

ORDEM SOBRENATURAL

É a apta disposição dos meios sobrenaturais para o fim sobrenatural. O fim sobrenatural do homem é a visão de Deus, face a face, e o amor de união eterna. O meio de o conseguir é o exercício das faculdades humanas, sob o influxo da graça atual e o cumprimento dos preceitos que Deus acrescenta à lei natural.

ORDENS TERCEIRAS

Terceiros seculares são os fiéis que, vivendo no século, procuram praticar com maior perfeição as virtudes cristãs, sob a direção e segundo o espírito de uma Ordem Regular, e conforme as regras aprovadas pela Santa Sé. Uma pessoa não pode pertencer ao mesmo tempo a mais de uma Ordem Terceira. Há as Ordens Terceiras de São Domingos, a de São Francisco, e a de Nossa Senhora do Carmo. Para ser admitido numa Ordem Terceira, é preciso pedir ao respectivo Superior a admissão, o qual dará a conhecer as regras, as obrigações, e os privilégios dos Terceiros.

ORTODOXO

É uma palavra pela qual se dá a entender tudo o que plenamente concorda com a doutrina da Fé católica.

OSTIÁRIO

É a Ordem que confere o poder de abrir e fechar a porta da igreja, de expulsar os indignos e de guardar as alfaias sagradas.

(Verbetes da obra 'Dicionário da Doutrina Católica', do Pe. José Lourenço, 1945)

PRIMEIRO SÁBADO DO MÊS