quarta-feira, 26 de outubro de 2016

10 QUESTÕES SOBRE A PASSAGEM POR UMA PORTA SANTA


1. O que é uma Porta Santa?

Uma porta representa, de certa forma, um 'símbolo humano', presente em todas as culturas. Com efeito, um homem possui duas atitudes básicas em relação a uma porta: entrar e sair por ela. No caso de uma Porta Santa também se entra e se sai por ela, mas há um elemento adicional muito importante nesta passagem: são derramadas abundantes bênçãos e graças especiais quando por ela passamos. Em um Jubileu, a Porta Santa serve para indicar aos fieis que o ato de passar pela porta da igreja significa uma atitude de recolhimento, de agradecimento, de pedir perdão ou de suplicar novas graças, ou seja, de se ter a certeza de que vamos receber neste ato uma bênção muito especial.

2. O que significa passar pela Porta Santa?

Cada vez que cruzamos uma Porta Santa, ganhamos uma graça especial e essa é a indulgência plenária. Esta passagem é sinal de uma renovação e de uma atitude de conversão e arrependimento. A passagem pela Porta Santa significa expressar todos os bons propósitos renovados que um cristão se propõe para mudar de vida. Cristo chamou a si mesmo de 'Porta', como expressão de salvação, segurança, acolhida e paz. Todas estas são as condições para se adentrar ao redil de Cristo por uma porta plena da liberdade de se entrar e sair dela quando se quiser.

 3. Por que a Porta Santa é aberta apenas em um Jubileu?

Deus está sempre propício a nos conceder as suas bênçãos e suas graças. Mas existe um tempo, chamado de 'kairos' no Novo Testamento, em que Deus tende a se tornar mais propício a nos cumular com as suas graças e atender especialmente os nossos pedidos. Este tempo especial encontra-se exatamente no tempo de um Jubileu, ou seja, neste ano do perdão, neste Ano da Misericórdia. 

4. A Porta Santa é um chamado para que as pessoas se aproximem de Deus?

Passar pela Porta Santa é adentrar na própria graça de Deus, na própria misericórdia de Deus. É, pois, um chamado a tantos cristãos tíbios ou indiferentes em sua fé a se colocarem por inteiro na presença de Deus e, numa súplica de perdão e arrependimento, voltarem à Igreja e alcançarem os frutos da misericórdia divina. Uma vez arrependido e confessado dos seus pecados, ao passar pela Porta Santa , o cristão é perdoado na misericórdia de Deus e obtém, assim uma indulgência plenária.

5. Como um cristão deve passar por uma Porta Santa?

Não se trata de uma mera passagem pela Porta Santa. Fazer uma entrada e uma saída protocolares, fazendo-se um sinal da cruz ou uma mera oração formal. É preciso mais. A passagem efetiva, sinal de transformação da pessoa que a fez, não ocorre por um passe de mágica ou automaticamente. É preciso fazê-lo com um verdadeiro espírito de arrependimento, de conversão e de plena confiança no perdão e na misericórdia de Deus.

6. Por que é importante esta indulgência plenária?

A indulgência plenária constitui uma anistia absoluta, ou seja, Deus perdoa todos os nossos pecados, quaisquer que sejam eles e, ainda mais, o dano e as consequências destes pecados.  Assim, no roubo, faz-se uso indevido do valor roubado, que muitas vezes não pode ser restituído. Na confissão, perdoa-se o pecado do roubo, mas não o dano, a consequência do furto. A indulgência plenária, ao contrário, remove não apenas os pecados, mas todos os seus danos e consequências. A alma fica completamente livre, como se a pessoa houvesse acabado de ser batizada e, se morresse nesta condição, adentraria a glória celeste sem passar pelo purgatório.

7. Quais são as condições que devem ser cumpridas para se atravessar a Porta Santa e se obter a indulgência plenária?

Antes de cruzar a Porta Santa, o cristão deve confessar-se, comungar e rezar pela intenções do Santo Padre e da Igreja.

8. Qualquer sacerdote pode abrir uma Porta Santa?

Não; uma Porta Santa só pode ser aberta pelo próprio papa ou por bispos especialmente designados pelo papa para fazê-lo, em determinados lugares.


9. Por que não são abertas as portas de todos as igrejas?

A escolha de determinados templos específicos tem o caráter do extraordinário, do especial. Trata-se de um evento singular da Igreja, e não um ritual corrente. Além disso, inclui-se no rito da passagem pela Porta Santa o caráter de 'peregrinação', que pode ser curta ou muito mais extensa, mas que , em qualquer caso, incorpora solenemente no cristão uma atitude de perseverança e de busca confiante no perdão e na misericórdia de Deus.

10. Como se faz a passagem por uma Porta Santa?

Fisicamente, numa atitude de recolhimento e humildade (de silêncio, com a cabeça baixa, de joelhos, etc). Espiritualmente, com reverência e devoção, fazendo-se as orações julgadas mais pertinentes e de livre escolha naquele momento. O mais importante, entretanto, é sempre fazê-lo com reta intenção e tendo atendido todas as condições previamente indicadas.

Conhecidas estas tantas graças, o que você está esperando para passar por uma Porta Santa neste Ano do Jubileu? Descubra as mais próximas de você e (re)comece a sua peregrinação espiritual.

(Texto adaptado e resumido pelo autor do blog, a partir das respostas dadas em entrevista pelo Pe. Donato Jiménez, sacerdote agostiniano e professor emérito da Faculdade de Teologia Pontifícia e Civil de Lima/Peru a ACI Prensa).

VÍDEOS CATÓLICOS

Um alerta para os Tempos Finais

Um alerta, um aviso, um apelo à conversão! Um sacerdote mexicano, o Pe. Juan Rivas da cidade de Guadalajara, diante da manifestação preocupada de vários de seus paroquianos em relação a estranhos sinais vistos no céu da cidade, fala abertamente sobre os sinais ainda mais que evidentes dos tempos finais que vivemos e nos alerta a uma conversão imediata, uma vez que a Porta da Misericórdia está prestes a se fechar... 

terça-feira, 25 de outubro de 2016

LUZ NAS TREVAS DA HERESIA PROTESTANTE (II)

CAPÍTULO III

CONTRA O QUÊ OS PROTESTANTES PROTESTAM

Contra quem? Contra o quê? Protesta-se contra aquilo que é injusto ou nos incomoda; e, não sendo assim, protesta-se por vício ou por mania. Os protestantes protestam contra a Igreja Católica e contra os ensinamentos da mesma. Por quê? Terá a Igreja Católica cometido qualquer injustiça contra eles? Nunca! A Igreja Católica, como mãe carinhosa e como pai vigilante, ensina a doutrina recebida por Jesus Cristo. Exorta os homens a praticar a virtude, a afastar-se do mal, a respeitar as pessoas que não partilham o seu credo, embora refutem os erros por elas ensinados.

É a sua tarefa em tempo de paz. E em tempo de guerra, quando é atacada pelos inimigos, defende-se e defende o seu chefe Cristo, como o soldado, atacado pelos inimigos da pátria, defende a sua honra, a sua bandeira e o seu chefe. É o seu direito. É o seu dever. Atacada, ela se defende; perseguida, ela reza e sofre; levada ao patíbulo – o católico morre; porém a Igreja não pode morrer; ela se levanta mais radiante do meio do sangue dos seus filhos, para cantar o seu hino de triunfo em cima do túmulo dos seus perseguidores.

Quanto aos seus inimigos, ela perdoa, reza por eles e procura converter seus próprios algozes. Tudo isto é nobre, é leal, é brioso, e deve excitar a admiração e não o ódio. Não podendo protestar contra qualquer injustiça da parte da Igreja Católica, deve-se concluir que os protestantes protestam, porque ela os incomoda. Isso pode ser. A verdade incomoda a mentira; a virtude incomoda o vício; a honestidade incomoda a ganância; Deus incomoda o demônio.

Estamos de acordo neste ponto. A Igreja Católica, pelo seu ensino, sempre idêntico e sempre invariável; pela sua organização admirável; pela sua santidade que realiza na pessoa de seus filhos; pelas altas intelectualidades que a professam, defendem e exaltam, forma com tudo isso um astro luminoso, que incomoda a retina visual da miopia protestante. Assim, incomoda ao libertino a pureza de uma donzela, como incomoda ao ladrão a presença da polícia, como incomoda ao bêbado a temperança dos sensatos.

Isto é lógico. A mão coça onde há coceira, diz o ditado. Assim explicado, compreende-se a razão íntima do protesto dos protestantes e a mira desse protesto. Não protestam nem contra a barbaridade de um Calles no México; nem contra a tirania de um Lenin na Rússia, nem contra a perversidade do espiritismo, nem contra a imoralidade dos costumes e das modas. Isto, para eles, não merece protesto, mas merece-o a Igreja de Cristo, a Igreja do Papa, a Igreja de Roma, que atravessa os séculos, passando por cima dos ódios e da lama dos vícios, sempre bela, sempre pura, sempre majestosa e sempre divina! Ah! Isso é demais; é preciso protestar – e o protestante, escutando a calúnia dos seus pastores, em vez de escutar a voz do bom senso, protesta e vive protestando.

Cristo, o verdadeiro Deus, dirigindo-se a Pedro, disse: 'Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela' (Mt 16,18). 'Estarei convosco até o fim dos séculos' (Mt 28,20). 'Se alguém, ainda que fosse um anjo do céu, vos anunciasse outro evangelho além do que vos tenho anunciado, seja anátema' (Gl 1,8). 'Pedro, rezei por ti, para que a tua fé nunca venha a desfalecer' (Lc 22,32). Tudo isto é claro; é tal um sol refulgente!

O protestante, entretanto, protesta, e tapando os olhos com os dois punhos, grita: 'Não! São Pedro não é o chefe da Igreja! Não é ele o primeiro papa! Ele nunca esteve em Roma! Não tem nenhuma autoridade! A Igreja romana está errada! A religião verdadeira é o protestantismo de Lutero! Cristo disse: 'Minha Igreja!' É um erro! grita o protestante, a igreja verdadeira é a de Lutero. Pobres protestantes! Protestam contra Deus, contra a Igreja fundada por Cristo, filho de Deus, contra a Igreja fundada por Cristo e contra a doutrina ensinada por Deus.

Mas, então, em que acreditais, pobres protestantes? Se fôsseis sinceros, devíeis responder: 'Só acreditamos no protesto'. Afirmamos tudo aquilo que a Igreja católica nega, e negamos tudo que ela afirma: eis a nossa religião. Nós protestamos! A Igreja Católica crê que São Pedro e seus sucessores são os representantes de Cristo na terra. Nós protestamos! A Igreja Católica crê na pureza imaculada da Mãe de Jesus, honrando-a e invocando-a. Nós protestamos! A Igreja crê na confissão, no poder que o sacerdote recebeu de Cristo, de perdoar os pecados. Nós protestamos!

A Igreja crê no céu para os justos, no inferno para os maus e no purgatório para aqueles que têm de expiar ainda umas faltas. Nós protestamos! A Igreja crê na intercessão dos santos, no culto dos finados, na união que existe entre os vivos e os mortos. Nós protestamos! A Igreja crê nos sete sacramentos, no poder da oração, no valor das boas obras, nas indulgências concedidas pela Igreja. Nós protestamos! A Igreja crê na bíblia, como um livro divino, exigindo uma interpretação autêntica, feita por uma autoridade legítima. Nós protestamos! A Igreja crê na tradição, conforme as palavras de São Paulo: 'Conservai as tradições que aprendestes, ou por nossas palavras, ou nossa carta' (2 Tess 2,14). Nós protestamos!

Eis o protesto dos protestantes. Eis porque, como e contra o quê eles protestam. Para quem quer refletir e é capaz de o fazer, a verdade se impõe com todo o rigor e com todas as suas consequências. O protestantismo é uma seita humana, de revoltosos ou de ignorantes, de orgulhosos ou de néscios. Numa palavra, é bem a seita anunciada por São Paulo: 'Muitos andam que são inimigos da cruz de Cristo, cujo fim é a perdição, cujo deus é o ventre, e cuja glória é para confusão deles, que só pensam nas coisas terrenas' (Fp 3, 18-19). Não é isso o retrato perfeito de tais pastores, protestantes, exploradores, vendedores de bíblias, de sermões e consciências, que só pensam em ganhar dinheiro e em passar boa vidinha? Reflitam sobre isto, pobres protestantes iludidos, enganados por estes falsários que nada têm de pastores, mas que, como o disse Cristo, 'são ladrões e salteadores' (Jo 10,1).

CAPÍTULO IV

COMO OS PROTESTANTES PROTESTAM

Há diversos modos de protestar. Protesta-se contra a mentira, pela manifestação da verdade. Protesta-se contra a injustiça pela valorização dos seus direitos. Protesta-se contra a calúnia pela exibição das provas contrárias. O protestantismo protesta contra a Igreja Católica! Já expliquei a razão deste protesto; mas, como é que ele protesta? Mostrando a verdade? Mostrando seus direitos? Mostrando sua inocência? Nada disso. É o contrário: ataca a verdade. Não respeita os direitos alheios. Calunia a inocência do que e de quem não conhece. Protesta unicamente pela calúnia, pelo ódio, pela hipocrisia e pelas objeções. É um protesto fora de todas as regras do bom senso, da lógica e da bíblia, que se ufana de praticar.

O protesto verdadeiro, lógico, racional e convincente seria de mostrar, de provar a mentira, a injustiça ou a calúnia. Por que os protestantes não provam a mentira, a injustiça ou a calúnia da Igreja Católica contra eles? Pela razão que a Igreja não mente, nem comete injustiças, nem calúnias e que os mentirosos são eles; os fautores de injustiças são eles; os caluniadores são eles ainda. A Igreja Católica teria direito de protestar; ela não protesta, mas sim, mostra a verdade, prova esta verdade e pela verdade dissipa o erro.

Por que os protestantes não seguem o mesmo caminho? Em vez de limitar a sua ação em fabricar objeções, por que não provam eles a verdade do protestantismo? Se tal verdade existe, ela há de dissipar necessariamente o erro católico como a verdade católica dissipa o erro protestante. A primeira obra que uma religião deve fazer é provar a autenticidade, a autoridade e a legitimidade do seu ensino; em outros termos: é provar os seus dogmas. Por que não o fazem os protestantes? Pela razão muito simples de não terem dogmas. A negação ou o protesto não se sustentam por si mesmos, só podem existir onde há uma coisa positiva, que se possa negar, onde há uma verdade contra a qual se possa protestar.

***

O protestantismo é um verdadeiro parasita religioso, que só pode viver nas costas do catolicismo, procurando chupar-lhe a fé, como os parasitas – animais ou vegetais – que vivem do sangue ou do suco de outro. Tirai das costas do animal tal parasita-bicho e está morto; arrancai tal outro parasita da casca do vegetal, e morto estará também. Assim o protestantismo. Se o catolicismo pudesse morrer - o que é impossível – no mesmo dia e na mesma hora, estaria morto o protestantismo. Arrancai-o das costas do catolicismo e ele será um cadáver em putrefação.

A Igreja Católica é o objeto positivo; o protestantismo é a sua negação. A Igreja Católica é o sol luminoso e resplandescente do dia; o protestantismo é as trevas da noite onde se tropeça e perde o caminho: Vae ponentes tenebras lucem (Is 5,20). A Igreja Católica é uma instituição modelar, harmoniosa e divina; o protestantismo é a anarquia, a desordem e a revolta que procura aviltar esta instituição: Super hanc petram aedificabo ecclesiam meam (Mt 16,18). A Igreja Católica é um colosso de vida, de progresso, de expansão e de força; o protestantismo é um ancilóstomo ou necátor que procura fixar-se no organismo para aí produzir a opilação espiritual, o cansaço de Deus e o amarelão religioso: Ite in mundum universum, praedicate evangelium (Mt 16,15).

A Igreja Católica é a água divina, num voo direto, em demanda do céu; o protestantismo é a pulga que procura fixar-se nas asas do pássaro, para cansá-lo e impedir o seu voo: Sicut aquila, provocans ad voladum pullos suos (Dt 32,11). A Igreja Católica é árvore frondosa, em cujos ramos as aves do céu, que são os santos, se aninham; o protestantismo é o parasita que procura envolver o tronco, chupar-lhe a seiva, para esterilizá-lo: Fit arbor, ita ut voluvres caeli... habitent in ramis ejus (Mt 13,32).

A Igreja Católica é o farol luminoso, que Deus colocou à beira da estrada humana, para indicar aos homens a verdade e a virtude; o protestantismo é a noite escura, que cega o olhar do viandante e o faz precipitar-se no abismo: Posui te in lucem gentium (At 13,47). A Igreja Católica é a ponte que liga a terra ao céu, e onde os homens devem estar para, da terra, subirem ao céu; o protestantismo é o abismo horrendo, que passa por baixo da ponte, onde se precipitam aqueles que desprezam a ponte: Arcta via est, quae ducit ad vitam (Mt 7,14). A Igreja Católica é a arca fora da qual ninguém se salva, sendo todos – como no dilúvio – arrastados pelas ondas em furor; o protestantismo é o lodo terrestre, é o arrecife, formado pelas árvores arrancadas, pelas casas destruídas, que procura atalhar a navegação da arca: Tanquam navis quae pertransit fluctuantem aquam (Sab 5,10).

A Igreja é a barquinha de São Pedro que leva, através do oceano do mundo, os filhos de Deus, até aportar no céu; o protestantismo é a perdição, é a porta para o inferno: Si ecclesiam non audierit, sit tibi sicut ethnicus (Mt 18,17). A Igreja Católica é o reino de Deus, reino triunfante no céu; reino padecente no purgatório; reino militante na terra; o protestantismo, estando fora deste tríplice reino, é necessariamente o único reino aí não incluso: o reino de Satanás ou inferno: In hoc manifestati sunt filii Dei, et filii diaboli (Jo 3,10).

Para terminar resumamos tudo em duas palavras: a Igreja Católica é a obra de Deus, fundada por Deus, sustentada por Deus, inspirada por Deus, fazendo as obras de Deus; o protestantismo é obra dos homens (de Lutero), fundada pelos homens, hoje sustentada pelo dólar americano, inspirada pelo ódio, e fazendo as obras do ódio e da revolta: Ex fructibus eorum cognoscetis (Mt 7,20). É o bastante para os homens sinceros compreenderem o que é o protestantismo e como é que ele protesta. Protesta pelo ódio, pelos ataques, pelas objeções, pelas calúnias, pela hipocrisia, fazendo em tudo o contrário do que manda a bíblia e o bom senso. E têm a coragem de chamar isso de religião! É muita coragem!

(Excertos da obra 'Luz nas Trevas - Respostas Irrefutáveis às Objeções Protestantes', do Pe. Júlio Maria de Lombaerde)

domingo, 23 de outubro de 2016

O VALOR DA ORAÇÃO HUMILDE

Páginas do Evangelho - Trigésimo Domingo do Tempo Comum 


Jesus falou muitas vezes sobre o valor da oração. Do valor da oração humilde e confiante, pautada no arrependimento sincero e na dor pelos pecados cometidos. Falou sobre a necessidade de orar sempre, com contrição e perseverança nas súplicas dirigidas à Divina Misericórdia. Mas, todas as vezes que Jesus falou sobre a oração, destacou sempre a premissa essencial do seu valor e ponderação: a humildade. A oração humilde é tangida pela Verdade porque emana da gratuidade da vida em comunhão com Deus.

No Evangelho deste domingo, outros dois personagens são trazidos à realidade das digressões humanas: um fariseu e um cobrador de impostos. Investidos de suas atribuições cotidianas, são apenas homens cumprindo metas e obrigações. Diante de Deus, duas almas, fruto de escolhas singulares da Infinita Sabedoria. Na vida de ambos, certamente o fariseu parecia ter escolhido a melhor parte, pelo menos até o dia em que ambos, vivendo vidas tão opostas, 'subiram ao Templo para rezar' (Lc 18, 10).

E ali, diante de Deus, as realidades humanas se consumiram no nada. O fariseu, eivado de orgulho e auto-suficiência, proferiu a oração despropositada e inútil: 'Ó Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros, nem como este cobrador de impostos. Eu jejuo duas vezes por semana, e dou o dízimo de toda a minha renda’ (Lc 18, 11-12). No ato desonesto de louvar a si mesmo com desmedida jactância e julgar o próximo pela ótica dos valores humanos, arruinou a própria súplica. O cobrador de impostos, ao contrário, sabedor de suas fraquezas e misérias, prostrou-se em humilde recato e contrição, na sua súplica por clemência e perdão: 'Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador!' (Lc 18,13).

O primeiro homem se viu em luz, e se banhou com desmedido orgulho nesta própria luz, mortiça e inútil, forjada tão somente por ações humanas. E saiu do templo com a concessão irrisória das alegrias humanas. O segundo homem, porém, apagou primeiro em si toda vaidade e interesses profanos e mergulhou, com inteira confiança e despojamento, na luz de Cristo. E, iluminado pela graça de Deus, alcançou misericórdia e experimentou a consoladora e definitiva paz daqueles que são plenamente justificados em Cristo: 'Pois quem se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado' (Lc 18, 14).

sábado, 22 de outubro de 2016

QUESTÕES SOBRE A NATUREZA DO DEMÔNIO (V)


Questão 12: Os demônios conhecem o futuro? 

Eles não veem o futuro, mas podem fazer às vezes fazer conjecturas sobre ele. Com sua inteligência, muito superior à humana, podem deduzir algumas coisas que sucederão ou ocorrerão, conhecendo as suas causas. Aquilo que pertence apenas à liberdade humana, está indeterminado e isto eles não o conhecem. Não sabem o que eu decidirei livremente. Mas, com sua inteligência superior, veem os efeitos das causas que nós não percebemos nada. Assim, há ocasiões em que eles sabem, com toda a certeza, o que sucederá, ainda que nem o mais inteligente dos seres humanos seja capaz de suspeitar mesmo analisando com todo rigor todos os aspectos causais. Em outras ocasiões, porém. nem a natureza angélica da mais elevada hierarquia poderia deduzir [o futuro].  A liberdade humana [nosso livre arbítrio] constitui sobretudo o grande fator de indeterminação em suas previsões.

Questão 13: Pode um demônio fazer algo de bom? 

O demônio não está sempre fazendo o mal; muitas vezes, ele está simplesmente pensando. E, nisso, não faz mal algum, pois se trata de um mero ato de sua natureza. Entretanto, o demônio não pode realizar atos morais sobrenaturais, ou seja, não pode fazer um ato de caridade, de arrependimento sobrenatural, de glorificação sincera a Deus, etc, uma vez que, para realizá-los, precisaria de uma graça sobrenatural. Pode até glorificar a Deus, mas à força, mas não porque quisera fazê-lo. Pode arrepender-se de ter se afastado de Deus, mas sem pedir perdão por isso, recriminando apenas o mal que lhe sobreveio desta ação, mas sem remorso por ter ofendido a Deus. E assim pode fazer muitos outros atos naturais com sua inteligência e vontade. Porém, o demônio jamais demonstrará a mínima compaixão nem o menor ato de amor para quem quer que seja. Seu coração somente odeia, sendo insensível ao sofrimento dos demais.

Questão 14: O demônio pode experimentar algum prazer? 

O demônio não conta com nenhum dos nossos cinco sentidos. Conta apenas com a sua inteligência e vontade. Pode parecer que é pouca coisa, mas não é. Os prazeres intelectuais podem ser tão variados como os de nossos cinco sentidos. Na realidade, são muito mais variados. O gozo que nos proporciona uma ópera, uma sinfonia, uma partida de xadrez, um livro, são prazeres eminentemente espirituais, ainda que essa informação nos chegue ao espírito por meio de imagens sensíveis. O mundo espiritual, visto por nós a partir de nosso mundo, pode parecer insípido, incolor, tedioso, mas isso é um erro. O mundo espiritual é muito mais variado, rico e auspicioso daquilo que nos oferece o universo material. 

Os demônios gozam dos prazeres, pois suas duas faculdades espirituais (conhecimento e vontade) permanecem intactas. A forma de agir de sua natureza permanece inalterada apesar do afastamento de Deus. O que não podem fazer é amar a ninguém com um amor sobrenatural. A capacidade de amar foi aniquilada na psicologia do demônio. O demônio conhece mas não ama. O prazer que consegue ao ter êxito em fazer um mal é exatamente o mesmo de uma pessoa na terra quando consegue vingar-se de seu inimigo. Trata-se de um prazer cheio de ódio, sem nenhuma consolação.

Questão 15:  O demônio é livre para fazer mais ou menos males? 

O demônio faz o mal quando quer, nada o obriga a fazê-lo. É um ser livre e sua vontade é que determina fazer as coisas quando quiser. Deseja fazer o mal e para fazer o mal há que tentar. Mas, para tentar, tem que insistir. Alguns demônios insistem mais, outros desistem antes. Há demônios mais decididos e outros menos operosos. Há demônios que, pelo ímpeto de sua cólera, perseguem as almas como verdadeiros predadores. Outros demônios estão submersos em uma espécie de depressão e não possuem um ódio extremado para perseguir tão obsessivamente as almas. Entretanto, estamos falando de graus, já que todos odeiam a Deus e são predadores de almas.

Questão 16: Quais são os mais malignos dentre os demônios? 

Pode parecer que demônios mais perversos são os pertencentes à mais alta hierarquia, mas não. Não existe uma relação entre natureza e pecado. Uma natureza angélica da última hierarquia pode ser muito mais perversa que um anjo superior. O mal que pode cometer um ser livre não depende da inteligência, nem do poder que se possui. Sempre se coloca como um exemplo de malignidade extrema o chefe das forças nazistas, Heinrich Himler. Mas, não poderia ser pior algum de seus subordinados? Evidente que sim! 

Entre os homens, vemos que alguém menos inteligente e em uma posição social menos relevante pode ser muito pior, muito mais perverso, que um grande ditador. E o mesmo que vale para o mal, vale para o bem. Um anjo da última hierarquia pode desenvolver mais as suas virtudes que um da mais alta hierarquia. Da mesma forma, uma idosa humilde e sem estudos e que tenha se dedicado apenas aos afazeres domésticos pode ser mais santa que um arcebispo ou um sumo pontífice. Uma interessante pergunta que se depreende de tudo isso é se a hierarquia que nos dá a Bíblia (anjos, arcanjos, principados...) é uma hierarquia da graça ou da natureza. Ou seja, os serafins são os mais santos ou somente os mais poderosos e nos quais brilha mais o fulgor da inteligência angélica? 

Minha opinião é de se trata de uma hierarquia segundo a natureza, uma vez que as descrições das imagens dos quatro Seres Viventes ao redor do Cordeiro (os anjos de maior hierarquia) dão mais impressão de poder e de conhecimento, assim como os próprios nomes das nove hierarquias. O nome de principado ou potestade, por exemplo, são nomes que pressupõem mais poder. Além do mais, é mais fácil estabelecer uma hierarquia de natureza que de graça. 

(Excertos da obra 'Summa Daemoniaca', do Pe. Jose Antonio Fortea, tradução do autor do blog)

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

APRENDENDO A REZAR (III)

Parte III

Sobre a Oração de Jesus

Desde tempos imemoriavelmente antigos, cristãos fervorosos repetiam curtas invocações a Deus para que orassem incessantemente e afastassem pensamentos errantes ociosos. Estas eram várias orações. São Cassiano dizia que no Egito todos os cristãos repetiam: 'Ó Deus, me ajude, ó Senhor, concede-me Teu auxílio'. São Ioanício repetia constantemente: 'Minha esperança é o Pai, meu refúgio, o Filho, minha proteção, o Espírito Santo; Santíssima Trindade, glória a Ti.' Outra pessoa disse: 'Como homem pequei, mas Tu, como Deus misericordioso, tem piedade de mim'.

Certamente havia também outras orações curtas similares. Com o tempo, a oração de Jesus se estabeleceu e se tornou amplamente usada por todos: 'Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim, um pecador.' O objetivo desta oração é o mesmo das outras: manter a mente voltada para Deus. Ao mesmo tempo, deve-se lembrar que dizer a oração de Jesus é apenas uma ferramenta ou obra que demonstra um forte desejo de encontrar o Senhor.

Todos se beneficiarão dizendo a oração de Jesus. Aqueles que integram as ordens monásticas devem repeti-la o tempo todo. Portanto não há perigo algum na oração em si, se é dita com reverência. No entanto, o que é perigoso é o 'trabalho artístico' (isto é, alguns truques artificiais) inventados para acompanhar esta oração. Por exemplo, enquanto dizem a oração de Jesus, algumas pessoas colocam sua mão sobre a mesa e concentram sua atenção debaixo de seu dedos - isto é uma esquisitice inconsistente. Ou então, eis aqui outro capricho: tocar o dedo da sua mão direita contra a palma da sua mão esquerda e assim tentar concentrar a mente na oração.

A primeira pessoa a escrever sobre a execução 'artística' da oração de Jesus foi São Gregório do Sinai, no século XIII. Foram estes truques que afundaram algumas pessoas em um estado delirante de encantamento, enquanto outras, por mais estranho que pareça, em um estado constante de luxúria. É por isso que estes truques devem ser reprovados e condenados absolutamente. E devemos urgir a todos a ensinar todas as pessoas a aclamar o dulcíssimo nome do Senhor de um modo simples e sincero.

A essência da oração é fácil de explicar. Faça com que seu coração e sua mente se apresentem diante do Senhor e supliquem a Ele: 'Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim, um pecador'. Esta será a sua obra de oração. O Senhor verá quem ora piedosamente e concederá à pessoa que ora uma oração espiritual de acordo com seu zelo. Esta oração espiritual é na verdade o fruto da graça do Espírito Santo. Isto é tudo que precisamos dizer sobre a oração de Jesus. Todo o resto que foi inventado nada tem a ver com ela: é o inimigo que está tentando nos distrair da oração.

Conclusão

Portanto, a essência da oração consiste em dirigir-se a Deus com atenção e suplicar a Ele com um sentimento caloroso e sincero - quer você esteja expressando sua gratidão, arrependimento ou alguma outra coisa em sua oração. Se não houver tal sentimento, então não há oração verdadeira. De modo a aprender a rezar, reze com mais frequência e mais zelo e aprenderá: não precisará de mais nada. Se trabalhar duro e com paciência, com o tempo adquirirá a habilidade de orar sem cessar. Faça disso o seu objetivo - buscar e buscar. O Senhor está perto de você. Mantenha Deus sempre na sua mente e tente sempre ver o Senhor diante de si e venerá-Lo.

Quando pensamentos perturbadores vierem até você durante a oração, afaste-os; se eles persistirem, expulse-os novamente e seja desta maneira em tudo. Esta é uma obra de sobriedade. Esforce-se a manter no seu coração um espírito religioso. Quando seu coração é dominado por um sentimento, pensamentos vãos não o perturbam.

Quando começamos a escrever, isso acontece com esforço e com o desejo de realizar uma obra corretamente. Da mesma forma devemos aprender a orar através do esforço e da persistência. Uma oração não virá por si mesma, você precisa aprendê-la, como que se sua alma fosse aquecer-se ao esfregá-la. Quando o calor vier, seus pensamentos se acalmarão, e sua oração se tornará pura. Tudo vem através da graça de Deus. É por isso que precisamos orar ao Senhor para que Ele nos conceda a oração.

No que diz respeito à regra de oração, você pode escolher qualquer uma delas, desde que esteja mantendo sua alma em reverência a Deus. Seria bom se acostumar a suplicar a Deus com orações curtas durante o dia. A principal oração dentre todas elas é a oração de Jesus, 'Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim, um pecador'. Aprenda as 24 orações de São João Crisóstomo e ora a Deus com elas. Utilizar orações curtas concentra sua atenção, e perfaz todas as suas necessidades espirituais.

Não esqueça que a força da oração é o 'espírito contrito', isto é, o estado no qual seu coração está repleto de arrependimento e humildade. Entreguem-se nas mãos de Deus e Ele nunca o deixará. Enquanto estiver orando, você não deve tentar visualizar Deus ou a Mãe de Deus, ou os santos, ou os anjos, ou qualquer outra visão; apenas ore tendo a certeza de que Deus e os santos escutam sua oração. Como eles conseguem escutar? De que vale discutir isto? Eles simplesmente escutam, e isso é tudo. 

Se você começar a criar várias imagens na sua mente, surge o perigo de rezar para alguma fantasia. Como podemos visualizar algo que nunca vimos? E também, o estado no qual os santos se encontram naquele outro mundo é tão diferente de qualquer coisa que nos é familiar que todas as nossas visualizações estão destinadas a ser fraudulentas e equívocas. É por isso que devemos nos acostumar a dizer uma oração sem criar imagens nas nossas mentes.

(São Teófano, o Recluso)