sábado, 22 de março de 2014

ORAÇÃO DA HUMILDADE



Ó Jesus, manso e humilde de coração, ouvi-me.
Do desejo de ser estimado, livrai-me, ó Jesus.
Do desejo de ser amado, livrai-me, ó Jesus.
Do desejo de ser conhecido, livrai-me, ó Jesus.
Do desejo de ser honrado, livrai-me, ó Jesus.
Do desejo de ser louvado, livrai-me, ó Jesus.
Do desejo de ser preferido, livrai-me, ó Jesus.
Do desejo de ser consultado, livrai-me, ó Jesus.
Do desejo de ser aprovado, livrai-me, ó Jesus.

Do receio de ser humilhado, livrai-me, ó Jesus.
Do receio de ser desprezado, livrai-me, ó Jesus. 
Do receio de sofrer repulsas, livrai-me, ó Jesus.
Do receio de ser caluniado, livrai-me, ó Jesus.
Do receio de ser esquecido, livrai-me, ó Jesus.
Do receio de ser ridicularizado, livrai-me, ó Jesus.
Do receio de ser infamado, livrai-me, ó Jesus.
Do receio de ser objeto de suspeita, livrai-me, ó Jesus.

Que os outros sejam amados mais do que eu, Jesus, dai-me a graça de desejá-lo.
Que os outros sejam estimados mais do que eu, Jesus, dai-me a graça de desejá-lo.
Que os outros possam elevar-se na opinião do mundo, e que eu possa ser diminuído, Jesus, dai-me a graça de desejá-lo.
Que os outros possam ser escolhidos e eu posto de lado, Jesus, dai-me a graça de desejá-lo.
Que os outros possam ser louvados e eu desprezado, Jesus, dai-me a graça de desejá-lo.
Que os outros possam ser preferidos a mim em todas as coisas,Jesus, dai-me a graça de desejá-lo.
Que os outros possam ser mais santos do que eu, embora me torne o mais santo quanto me for possível, Jesus, dai-me a graça de desejá-lo.

(Ladainha de autoria do Cardeal Merry del Val, então Secretário de Estado do Papa São Pio X)

sexta-feira, 21 de março de 2014

MEDITAÇÕES PARA A QUARESMA (II)

MEDITAÇÃO PARA A SEGUNDA SEMANA DA QUARESMA

DA TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR


PRIMEIRO PONTO - POR QUE NOSSO SENHOR ESCOLHEU, PARA TRANSFIGURAR-SE, UM LUGAR AFASTADO DO MUNDO?

Nessa escolha, Nosso Senhor quer nos ensinar que não é no meio do mundo e das obrigações mundanas que Deus se manifesta à alma e a faz passar das misérias do homem velho ao esplendor e às virtudes do homem novo. Para se ver a Deus, para ouvi-lO, e ser transformado pela Sua Graça, a primeira condição que se exige é o recolhimento interior, ou seja, a serenidade da alma protegida do tumulto das criaturas e aberta somente à Deus e às Suas divinas inspirações, a paz do despojamento sob o olhar de Deus.

À medida que nos deixamos levar pela dissipação do espírito, das divagações da imaginação, das preocupações mundanas, dos apegos do coração, do tumulto dos pensamentos inúteis; quando, enfim, não vivemos retirados somente no recolhimento do nosso coração, Deus não Se mostrará a nós e nos será tão somente o 'deus desconhecido' de Atenas. 

Sua bondade e perfeições infinitas não nos enternecerão; não vamos amá-lO e nem teremos desejo algum de amá-lO. Estranhos para Deus, não seremos menos estranhos para nós mesmos; não nos conhecemos e não encontraremos nada para sermos corrigidos, nada para se alterar, nenhuma razão para humilharmos, mortificarmos ou renunciarmos; e toda a nossa vida se passará no esquecimento de Deus e na ignorância sobre nós mesmos. Ó dissipação, quanto mal fazes à alma! Ó santo recolhimento, quão necessário és! Conduzi-me , Senhor, ao recolhimento, tal como a vossos apóstolos, e tende ali sempre encerrados o meu espírito e o meu coração.

SEGUNDO PONTO - POR QUE NOSSO SENHOR ESCOLHEU, PARA TRANSFIGURAR-SE, UM ALTO MONTE?
     
Este lugar elevado, de onde os apóstolos podiam dominar os lugares nos quais viviam, significa que, para desfrutar de Deus, para merecer a graça e santificar-se, é necessário ter um coração elevado acima de todas as coisas sensíveis, um coração maior e mais elevado que o mundo; é preciso recalcar tudo o que antes nos atraía. Enquanto possamos ter aqui algum apego, enquanto houver na terra um objeto de nossa predileção, vamos apenas nos arrastar miseravelmente pelos mesmos caminhos e vagar no labirinto de nossas misérias, em vez de avançar nos caminhos da virtude; definhando em vez de viver e nos fortificar.

Mesmo que a nossa alma tivesse as asas de uma pomba que anseia voar ao encontro de Deus, enquanto se mantiver apegada ao mundo, ainda que seja por um fio, não vai fazer mais do que lutar e se revolver penosamente em torno do que a detém, sem nunca alçar voo. Por outro lado, se esta alma conseguir, enfim, se libertar de suas amarras e se deixar conduzir por Nosso Senhor até o cume da montanha e, ali, recalcar sob os pés todos os apegos vãos que amava, de pronto ela há de progredir na perfeição. Em um único dia e, com menos trabalho, há de avançar nessa caminhada mais do que teria feito durante todo o tempo que arrastava consigo os pesos que a sujeitavam.

Nisso, nada há que possa retardar a sua caminhada, nada há que possa turbar ou distrair a sua marcha; mas ela há de avançar livremente, como diz a Imitação de Cristo: 'Quem é mais livre do que aquele que nada deseja sobre a terra?' Se não quisermos buscar tudo o que lisonjeia a vaidade, tudo que mantém a debilidade, tudo que incita a curiosidade, as inutilidades que divertem e os modismos que distraem os homens tíbios, é preciso renunciar à paixão do prazer e do gozo e não se apegar demasiado às comodidades da vida; é preciso satisfazer as necessidades mundanas com discernimento, não dar valor às coisas mais do que o necessário e não usá-las, por assim dizer, mais que ligeiramente e de pronto, tal como o fazia os soldados de Gideão ou como Jônatas, que tomou o mel por meio da ponta de sua lança, sem se submeter.

Acima de tudo, é preciso nos desprendermos de nós mesmos, de nossos gostos, de nossa honra, de nossa própria vontade e de suas fantasias, de nosso amor próprio e de sua ambição, que busca participar de tudo o que se diz e encontrar tudo o que se faz: é preciso romper com os cuidados excessivos com a saúde, que nos torna sensíveis e difíceis de agradar, sobretudo no que contraria e mortifica os sentidos; enfim, impõe-se elevar-se acima de nós mesmos e, sob pena de nos perdermos, esvaziar o coração de tudo o que não é de Deus. Como nos encontramos neste desprendimento universal? Isto é muito mais grave do que se pensa. Pensemos nisso seriamente e trabalhemos a cada dia para torná-lo cada vez mais realidade.

(Excertos da obra 'Meditações para todos os dias do ano para uso do clero e dos fieis', de Pe. Andrés Hamon, Tomo II).

21 DE MARÇO - SÃO NICOLAU DE FLÜE



Nicolau de Flüe, conhecido também com Bruder Klaus (Irmão Klaus), nasceu em Sachseln, na Suíça, em 1417. Desde muito cedo, manifestou claramente uma vida de oração e mortificação. Em obediência aos pais, casou-se com Dorotéia Wyss e tiveram dez filhos, sendo cinco homens e cinco mulheres. No âmbito da vida matrimonial, continuou a desenvolver, com redobrado fervor, a sua prática religiosa e de oração cotidiana intensa, agora junto a uma numerosa família.

Em torno dos 50 anos, tomou a decisão que iria percorrer até a morte na via da santificação pessoal pelo ascetismo. Com o consentimento da esposa (mas não de todos os seus familiares) abandonou todo e qualquer afeto humano para viver em absoluto isolamento do mundo, dedicando-se exclusivamente a uma vida de oração e contemplação. Vivendo inicialmente numa pequena cabana e, mais tarde, numa ermida de pedra construída especialmente para ele, com acesso diário ao Santo Sacrifício, o santo foi personagem de um milagre impressionante: passou os últimos 20 anos de sua vida sem se prover de água ou de alimentos, mas vivendo somente da Sagrada Eucaristia!

Neste período, praticou intensamente a catequese espiritual a seus concidadãos, manifestando, em várias ocasiões, o dom da profecia. Em certa ocasião, atuou, de forma decisiva, para evitar conflitos associados a uma potencial divisão do território suíço, pelo que é celebrado também como padroeiro da Suíça. Após a sua morte, o culto pessoal estendeu-se não apenas na Suíça, mas também na Alemanha, França e Países Baixos. São Nicolau de Flüe faleceu no dia 21 de março de 1487, data do seu nascimento, aos setenta anos de idade. Foi canonizado por Pio XII em maio de 1947.

São Nicolau de Flüe, rogai por nós!

quarta-feira, 19 de março de 2014

19 DE MARÇO - SÃO JOSÉ


São José, esposo puríssimo de Maria Santíssima e pai adotivo de Jesus Cristo, era de origem nobre e sua genealogia remonta a David e de David aos Patriarcas do Antigo Testa­mento. Pouquíssimo sabemos da vida de José, além de suas atividades de carpinteiro em Nazaré. Mesmo o seu local de nascimento é ignorado: poderia ser Nazaré ou mesmo Belém, por ter sido a cidade de Davi. Ignora-se igualmente a data e as condições da morte de São José, mas existem fortes razões para afirmar que isso deve ter ocorrido an­tes da vida pública de Jesus. Com certeza, José já teria falecido quando da morte de Jesus, uma vez que não se explicaria, então, a recomendação feita aos cuidados mútuos à mãe e ao filho, dados, da cruz,  por Jesus a Maria e a São João Evangelista.

Não existem quaisquer relíquias de São José e se desconhece o local do seu sepultamento. Muitos pais da Igreja defendiam que, devido à sua missão e santidade, São José, a exemplo de São João Batista, teria sido consagrado antes do nasci­mento e já gozava de corpo e alma da glória de Deus no céu, em com­panhia de Jesus e sua santíssima Esposa. As virtudes e as graças concedidas a São José foram extraordinárias, pela enorme missão a ele confiada pelo Altíssimo. A dig­nidade, humildade, modéstia e pobreza, a amizade íntima com Je­sus e Maria e o papel proeminente no plano da Redenção, são atributos e méritos extraordinários que lhe garantem a influência e o poder junto ao tro­no de Deus. Pedir, portanto, a intercessão de São José, é garantia de ser ouvido no mais alto dos céus. Santa Tereza, ardorosa devota de São José, dizia: 'Não me lembro de ter-me dirigido a São José sem que tivesse obtido tudo que pedira'.

A devoção a São José na Igreja Ca­tólica é antiquíssima. A Igreja do Oriente celebra-lhe a festa, desde o século nono, no domingo depois do Natal. Foram os carmelitas que in­troduziram esta solenidade na Igreja Ocidental; os franciscanos, já em 1399, festejavam a comemoração do Santo Pa­triarca. Xisto IV inseriu-a no bre­viário e no missal; Gregório XV ge­neralizou-a em toda a Igreja. Cle­mente XI compôs o ofício, com os hinos, para a celebração da Festa de São José em 19 de março e colocou as missões na China sob a proteção do Santo. Pio IX introdu­ziu, em 1847, a festa do Patrocínio de São José e, em 1871, declarou-o Pa­droeiro da Igreja; muitos pontífices promoveram solenemente a devoção a São José, por meio de orações, homilias, encíclicas e devoções diversas.


São José, rogai por nós!

terça-feira, 18 de março de 2014

O DRAMA DO FIM DOS TEMPOS (II)

DOS ESCRITOS PROFÉTICOS DO Pe. R. P. EMMANUEL 

SEGUNDO ARTIGO: OS SINAIS PRECURSORES (abril de 1885*)

I

A questão do fim do mundo foi discutida desde as origens da Igreja. São Paulo tinha dado sobre esse assunto preciosos ensinamentos aos cristãos de Tessalônica; e como, apesar das instruções orais, os espíritos se deixassem inquietar por predições e rumores sem fundamento, lhes dirigiu uma gravíssima carta para acalmar as inquietações.

'Nós vos rogamos com insistência', lhes diz, 'meus irmãos, não vos deixeis abalar em vossas resoluções, nem vos perturbeis por qualquer visão, ou falatórios, ou carta supostamente vinda de nós, como se o dia do Senhor estivesse perto'. 'Ninguém de modo algum vos engane! Pois é preciso que antes venha a grande apostasia, e que apareça o homem do pecado, o filho da perdição'... 'Não vos lembrais que eu vos dizia essas coisas quando ainda estava convosco?' 'E agora vós sabeis o que é que o retém. Pois o mistério da iniquidade já faz sua obra. Aquele que o retém retenha-o, esperando até que seja posto de lado' (2 Ts 2, 1, 6).

Assim o fim do mundo não chegará sem que tenha aparecido um homem apavorantemente mau e ímpio, o filho da perdição. E este, por sua vez, só se manifestará depois da grande apostasia geral, depois do desaparecimento de um obstáculo providencial sobre o qual o Apóstolo havia ensinado de viva voz a seus fieis.

II

De que apostasia fala São Paulo? Não se trata de uma defecção parcial; ele diz de uma maneira absoluta, a apostasia. Só se pode entender a apostasia em massa das sociedades cristãs, que socialmente e civilmente renegarão seu batismo; a defecção dessas nações que Jesus Cristo, segundo a enérgica expressão de São Paulo, tornou membros do corpo de sua Igreja (Ef 3, 6). Somente esta apostasia tornará possível a manifestação e a dominação do inimigo pessoal de Jesus Cristo, em uma palavra, o Anticristo.

Nosso Senhor disse: 'Será que o Filho do Homem, quando voltar, encontrará a fé sobre a terra?' (Lc 18, 8). O Divino Mestre via a fé declinar, num mundo que envelhecia. Não são os ventos do século capazes de fazer vacilar esta chama inextinguível, mas as sociedades, embriagadas pelo bem-estar material, a afastam como inoportuna.

Voltando as costas à fé, o mundo entra nas trevas e se torna joguete das ilusões do mal. Pensa que são luzes meteoros enganadores. Irá até tomar pelos primeiros raios do dia a vermelhidão do incêndio. Renunciando a Jesus Cristo, cairá, queira ou não, nas garras de Satã, tão bem chamado príncipe das trevas. Não pode ficar neutro; não pode criar para si uma independência. Sua apostasia o põe diretamente debaixo do poder do diabo e de seus cúmplices.

O douto Estius, estudando o texto do Apóstolo, diz que esta apostasia começou em Lutero e Calvino. Este é o ponto de partida. Daí fez um caminho assustador. Hoje ela tende a se consumar. Ela se chama Revolução, que é a insurreição do homem contra Deus e seu Cristo. Ela tem como fórmula o laicismo, que é a eliminação de Deus e seu Cristo.

É assim que vemos as sociedades secretas, investidas do poder público, obstinadas em descristianizar a França, tirando-lhe um a um, todos os elementos sobrenaturais, com os quais foi impregnada durante quinze séculos de fé. Esses sectários só têm um fim: selar a apostasia definitiva, e preparar as vias para o homem do pecado.

Cabe aos cristãos reagir, com todas as energias de que dispõem, contra essa obra abominável; e para isto reintroduzir Jesus Cristo na vida privada e pública, nos costumes e leis, na educação e instrução. Há muito tempo que, em tudo isso, Jesus Cristo não é mais o que devia ser, isto é, tudo. Há muito tempo, reina uma meia-apostasia. Como, por exemplo, depois que a instrução foi paganizada, poderíamos formar outra coisa que meio-cristãos?

Trabalhando em sentido diametralmente oposto ao da franco-maçonaria, os cristãos atrasarão o advento do homem do pecado: prepararão para a Igreja a paz e a independência de que ela precisa para alcançar e converter o mundo que se abre diante dela. Toda a luta da hora presente está pois concentrada aí: deixaremos, sim ou não, nós batizados, que se consuma a apostasia que trará, em pouco tempo, o Anticristo?

III

O Apóstolo fala, em termos enigmáticos, de um obstáculo que se opõe à aparição do homem do pecado: 'Aquele que o retém, diz ele, retenha-o, até que ele seja posto de lado'. Por esse que retém, os mais antigos padres gregos e latinos entendem, quase unanimemente, o império romano. Consequentemente, eles assim explicam São Paulo: enquanto subsistir o império romano, o Anticristo não aparecerá.

Repugna esta glosa aos intérpretes mais recentes; não admitem que a sorte da Igreja esteja ligada à de um império; mas procuram em vão outra explicação satisfatória. Confessamos ingenuamente que o pensamento dos antigos não nos parece tão desprezível, desde que o entendamos com uma certa amplidão.

Notemos que São Paulo, anunciando aos fiéis uma apostasia quando a conversão do mundo estava esboçada, estava lhes dando uma visão de todo o futuro da Igreja. Ele lhes anunciou que as nações se converteriam, que se formariam sociedades cristãs, e depois estas sociedades perderiam a fé. Ele lhes mostrara, sem dúvida alguma, o império romano transformado, um poder cristão surgindo no lugar de um poder pagão, a autoridade dos Césares passando para a mão dos batizados que dela se serviriam para estender o reino de Jesus Cristo. Ele poderia, desde então, acrescentar: enquanto durar este estado de coisas, estejam tranquilos, o Anticristo não aparecerá.

O sentido do Apóstolo, entendido largamente, seria pois este: enquanto a dominação do mundo estiver entre as mãos batizadas da raça latina, o inimigo de Jesus Cristo não se mostrará. Notemos, como corolário desta interpretação, que os franco-maçons se opõem antes de tudo e acima de tudo à restauração do poder cristão.

Quando um príncipe se anuncia como cristão, todos os meios são empregados para se desembaraçar dele. Isto é preciso fazer a qualquer preço. O Pe. Deschamps dá curioso detalhe do vivo ódio que a franco-maçonaria tem dos representantes do poder cristão. Em certa prova, o iniciado recebe esta enigmática divisa: L.D.P. Ora, esta divisa tem um duplo sentido. No primeiro significa: Liberdade De Pensamento. É a revolta contra Deus. No segundo: Lilia destrue pedibus. Esmague com os pés os lírios: é aquela das monarquias cristãs. Assim pois é o poder político cristão o que impediria a seita de alcançar o seu fim.

Por outro lado, as raças latinas estão voltadas a exercer no mundo uma influência católica, ou bem abdicar. Sua missão é servir à difusão do Evangelho; e sua existência política está ligada a esta missão. No dia em que a ela renunciarem pela completa apostasia, seriam aniquiladas; e o Anticristo, surgindo provavelmente do Oriente, as esmagaria facilmente com os pés.

Aqui ainda incumbe aos cristãos agir sobre o espírito público, fazer com que os governos retomem as tradições cristãs, fora do que só haverá a decadência para as nações europeias e, especialmente, para a nossa pobre pátria.

(Excertos da obra 'O Drama do Fim dos Tempos, do Pe. R.P. Emmanuel, prior do Mosteiro de Mesnil-Saint-Loup, Ed. Permanência, 2004)

Foi no ano anterior (1884) que o Papa Leão XIII escreveu sua famosa oração de exorcismo pela intercessão de São Miguel Arcanjo, em face de sua profética visão sobre a ação futura do inferno sobre a Santa Igreja)

domingo, 16 de março de 2014

A TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR

Páginas do Evangelho - Segundo Domingo da Quaresma


'Naquele tempo, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e os levou a um lugar à parte, sobre uma alta montanha' (Mt 17,1). Uma alta montanha, o Monte Tabor. Como testemunhas da extraordinária manifestação da glória celeste e da vida eterna em Deus, Jesus conduz os três apóstolos escolhidos para o alto, numa clara assertiva de que é por meio da profundo recolhimento interior e da elevação da alma muito acima das coisas do mundo é que podemos viver efetivamente a experiência plena da contemplação de Deus.

'E foi transfigurado diante deles; o seu rosto brilhou como o sol e as suas roupas ficaram brancas como a luz (Mt 17,2). No mistério da transfiguração do Senhor, os apóstolos testemunharam antecipadamente alguma coisa dos mistérios de Deus. Algo profundamente diverso da natureza humana, pois nascido direto da glória de Deus. Algo muito limitado da Visão Beatífica, posto que deveria atender sentidos humanos: 'nem o olho viu, nem o ouvido ouviu, nem jamais passou pelo pensamento do homem o que Deus preparou para aqueles que O amam (1 Cor 2, 9). Ainda assim, algo tão extraordinário e consolador, que perturbou completamente aqueles homens e, ao mesmo tempo, os moldou definitivamente na certeza da vitória e da ressurreição de Cristo.

'Nisto apareceram-lhe Moisés e Elias, conversando com Jesus (Mt 17, 3). A revelação da glória de Deus é atestada pela Lei e pelos Profetas, pelo Senhor da vida e da morte, pelos textos das Sagradas Escrituras. Naquele momento, se fecha a Lei e a morte (com Moisés) e se cumprem todas as profecias e se impõe a vida eterna em Deus (com Elias, que ainda vive). E, para não se ter dúvida alguma, Deus se pronuncia no Alto do Tabor em favor do Filho: 'Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo o meu agrado. Escutai-o! (Mt 17, 5).

Do alto do Tabor, a ordem divina ecoa pelos tempos e pelas gerações humanas a todos nós, transfigurados na glória de Deus pelo batismo e herdeiros do Tabor eterno: 'Escutai-o! Como batizados, somos como os apóstolos descidos do monte e novamente envoltos pelas brumas e incredulidades do mundo. Pela transfiguração, entretanto, somos encorajados a vencer o mundo como Cristo, a superar a fragilidade de nossos sentidos, a elevarmos nosso pensamento às coisas do Alto, a manifestar em nós a glória de Deus como primícias do Céu, sob a divina consolação: 'Levantai-vos e não tenhais medo' (Mt 17, 7).

sábado, 15 de março de 2014

VERSUS: O SINAL DA CRUZ


Manifestação de um ex-protestante convertido ao Catolicismo*

É provável que, entre os cristãos primitivos, o sinal-da-cruz fosse a expressão de fé mais universal. Aparece com frequência nos documentos do período. Na maioria dos lugares, o costume era apenas traçar a cruz sobre a fronte. Alguns autores (como São Jerônimo e Santo Agostinho) descrevem os cristãos traçando a cruz sobre a fronte, em seguida sobre os lábios e depois sobre o coração, exatamente como fazem os católicos ocidentais modernos antes da leitura do Evangelho.

Grandes santos também atestam o poder extraordinário do sinal. No século III, São Cipriano de Cartago escreveu que 'no... sinal-da-cruz está toda virtude e todo poder...' Neste sinal-da-cruz está a salvação para todos os marcados na fronte' (referência aliás a Ap 7,3 e 14,1). Um século mais tarde, Santo Atanásio declarou que 'pelo sinal-da-cruz toda mágica cessa e toda feitiçaria não dá resultado'. Satanás é impotente diante da cruz de Jesus Cristo.

O sinal-da-cruz é o gesto mais profundo que fazemos. É o mistério do Evangelho em um momento. É a fé cristã resumida em um único gesto. Quando nos persignamos, renovamos a aliança que se iniciou com nosso batismo. Com nossas palavras, proclamamos a fé trinitária na qual fomos batizados ('Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo').

Com a mão, proclamamos nossa redenção pela cruz de Jesus Cristo.O maior pecado da história da humanidade - a crucificação do Filho de Deus - tornou-se o maior ato de amor misericordioso e de poder divino. A cruz é o meio pelo qual somos salvos, pelo qual entramos em comunhão com a natureza divina (veja 2Pd 1,4).

Trindade, encarnação e redenção - todo o credo passa como um raio naquele breve momento. No Oriente, o gesto é ainda mais fecundo, pois os cristãos traçam o sinal juntando os três primeiros dedos (polegar, indicador e médio), separados dos outros dois (anular e mínimo): os três dedos juntos representam a unidade da Trindade, os dois dedos juntos representam a união das duas naturezas de Cristo, a humana e a divina.

Não é apenas um ato de culto. É também um lembrete de quem somos nós. 'Pai, Filho e Espírito Santo' reflete um relacionamento familiar, a vida interior e a comunhão eterna de Deus. A nossa é a única religião com um Deus que é uma família.O próprio Deus é uma 'família eterna', mas, por causa de nosso Batismo, ele é nossa família também.

O Batismo é um sacramento que vem da palavra latina para juramento (sacramentum) e, por esse juramento, estamos ligados à família de Deus. Ao fazer o sinal da cruz, iniciamos a missa com um lembrete de que somos filhos de Deus.

Também renovamos o juramento solene do Batismo. Fazer o sinal-da-cruz, então, é como jurar sobre a Bíblia num tribunal. Prometemos que viemos à missa para dar testemunho. Assim, não somos espectadores do culto, mas participantes ativos, testemunhas e juramos dizer a verdade, toda a verdade e nada mais que a verdade. Que Deus nos ajude.

(* Scott Hahn, 'O Banquete do Cordeiro - a Missa segundo um Convertido')


Manifestação de um padre católico*

Muitos católicos ainda fazem cada dia, sobretudo no início das orações, o 'pelo sinal'. Traçam a cruz com o dedo polegar na testa, na boca e no peito, dizendo: 'Pelo sinal da Santa Cruz, livrai-nos, Deus, nosso Senhor, dos nossos inimigos' [aqui peca pela omissão por não dizer que, em seguida, os católicos fazem o sinal-da-cruz propriamente dito]. Particularmente, não vejo sentido algum nessa oração. Não sei se é pretensão, mas acho que não tenho inimigos [será que esse padre acredita mesmo que 'inimigos' aqui tratam-se exclusivamente daqueles que porventura possam vilipendiar, ferir ou matar o corpo?]. E se tiver, isso faz parte da vida. Eles nos ajudam a rever nossas atitudes e exercitar o perdão [inacreditavelmente, acredita!]. Por isso, ao começar o dia ou uma prece, costumo traçar uma cruz na testa dizendo: Senhor, ilumina a minha mente, pra que eu tenha bons pensamentos! Faço a cruz no peito dizendo: ilumina o meu coração, pra que eu tenha bons sentimentos! E na boca: abençoa a minha boca, pra que eu possa dizer sempre palavras boas! [desculpem-me, mas não posso resistir: porque não pede também para fazer uma cruz nas mãos, para que não possa escrever tanta heresia?]

Pode-se também usar a sugestão do Ofício Divino: 'Estes lábios meus vem abrir, Senhor! Cante esta minha boca sempre o teu louvor'. Me perdoem os devotos, mas também não gosto muito de rezar a 'Salve Rainha'. Aprendi isso com papai. Acho uma oração muito pessimista ...

(Pe. José Antonio de Oliveira, 'Pequenas mudanças, sentido profundo', artigo publicado no site da Arquidiocese de Mariana/MG)

Um comentário mais: entre o que papai me ensinou e o Que Deus nos ajude está a terrível provação que passa a Santa Igreja nestes tempos terríveis.