domingo, 11 de agosto de 2013

AS PARÁBOLAS DA VIGILÂNCIA

Páginas do Evangelho - Décimo Nono Domingo do Tempo Comum


' Feliz o povo que o Senhor escolheu por sua herança!'

Três parábolas de Jesus são contempladas no Evangelho deste Décimo Nono Domingo do Tempo Comum, todas centradas na prática da vigilância. A vida cristã não pode prescindir da contínua vigilância sobre nossas palavras, pensamentos e ações, embalada pelo zelo às coisas do Pai e às virtudes de uma serena e santa prudência. Jesus vai falar da necessidade imperiosa da vigilância ao seu 'pequenino rebanho' (Lc 12, 32) a quem está destinado o Reino de Deus, que, como dito em outra passagem, 'não é deste mundo'. Sim, pequenino rebanho inserido na imensa multidão dos que se acercam apenas dos bens e futilidades desse mundo, pequenino rebanho que tem por Jesus o Bom Pastor, pequenino rebanho que vende o que tem, dá esmolas, que ajunta tesouros que o ladrão não rouba e nem a traça corrói, pequenino rebanho que guarda tesouros num coração que persevera em ser bondoso e compassivo.

A primeira voz da vigilância ressoa na alegoria dos empregados que esperam o senhor da casa voltar de uma festa de casamento. Na impossibilidade de saber com certeza a hora da chegada do Senhor Que Vem, a palavra de Jesus é uma exortação à vigilância constante, a qualquer hora, à meia noite ou de madrugada: 'Felizes os empregados que o Senhor encontrar acordados quando chegar' (Lc 12, 37). E estes bem-aventurados poderão sentar-se, então, à mesa com o Senhor.

Na segunda mensagem, reaviva-se o mesmo espírito de vigilância de todas as horas, na única certeza de que Jesus há de vir, uma vez mais, em busca do seu pequenino rebanho: 'Vós também, ficai preparados! Porque o Filho do Homem vai chegar na hora em que menos o esperardes' (Lc 12, 40). Os que se fartam da imprudência e da indiferença dos tempos, descuidam da suas casas (almas) e as tornam vulneráveis à ação de ladrões. Mas o que se cerca de diligências e cuidados, estará sempre pronto quando o Senhor chegar.

Na parábola final do administrador prudente e fiel, Jesus leva a virtude da vigilância à medida do nosso amor à Santa Vontade de Deus. Neste amor sem medidas, há de se fazer a medida do amor de cada um: 'A quem muito foi dado, muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais será exigido!' (Lc 12, 48). A perseverança e a vigilância de sempre devem ser reflexos cristalinos da nossa certeza nas verdades imutáveis dos Santos Evangelhos e das palavras de Cristo. Como um pequenino rebanho, confiantes e perseverantes na fé, guardemos no coração os tesouros dos que vivem vigilantes à doce espera do Senhor Que Vem.

sábado, 10 de agosto de 2013

O INFERNO E AS PORTAS DO INFERNO (II)


V - Segunda Porta do Inferno - O Furto

'Não erreis', diz o mesmo apóstolo, 'os ladrões não herdarão o reino de Deus'. O furto consiste em tomar, sem razão legítima, o alheio, às escondidas do dono. A rapina é um furto praticado à força na presença do dono. A fraude consiste em enganar no comércio, no peso, na medida, na qualidade, no preço, nos contratos. A usura, em cobrar juros excessivos.

É pecado intentar processos injustos, recorrer à chicana para apoderar-se dos bens ou dos direitos dos outros, ficar com um objeto achado quando o dono é conhecido ou pode ser conhecido facilmente, comprar cientemente coisas furtadas, causar qualquer prejuízo ao próximo em seus bens, sua lavoura, seus negócios.
Enfim, pecam contra a justiça todos os que mandam ou aconselham ou às vezes simplesmente consentem que outros causem qualquer prejuízo ao próximo. Pois este pecado é tão abominável que deveria inspirar horror a todos os cristãos, porque atrai sobre o homem a cólera de Deus e os priva do céu.

O alheio é uma isca com que se engole o anzol pelo qual Satanás pega as almas. No entanto os homens são tão levados para os bens perecedores, que seus herdeiros disputarão e arrancarão depois da morte que, obcecados pela cobiça, deixam se arrastar. Há certas pessoas que tributam, por assim dizer, honras divinas ao dinheiro e o apreciam como seu fim último. 'Seus deuses são o ouro e a prata', diz o profeta Daniel. Verdade é, há pecados mais graves que o furto, mas nenhum torna mais difícil a eterna salvação. A razão disso é que, para alcançar o perdão dos demais pecados, basta ter deles um verdadeiro arrependimento, e confessá-los; mas não assim quando se trata do furto; o arrependimento com a confissão não é suficiente, além disso é preciso restituir. Ora, nada mais raro que a restituição. 

Eis a visão que teve um certo eremita: viu Lúcifer sentado no seu trono. Era a hora em que os demônios voltavam da terra aonde tinham sido mandados para tentar os homens. A um que chegou muito atrasado, Satanás perguntou qual o motivo do seu grande atraso. Respondeu que tinha trabalhado até àquela hora para impedir a um ladrão que fizesse uma restituição que lhe pesava muito na consciência. Lúcifer mandou castigá-lo, dizendo-lhe que não devia ignorar que o ladrão nunca restitui e que tinha perdido seu tempo. Em verdade assim é.

Dir-se-ia que o alheio se converte em próprio sangue e a dor de tirar o próprio sangue para dá-lo a outro é coisa dura de se sofrer. Demonstra-o a experiência de todos os dias. Quantos procuram iludir-se sobre a necessidade da restituição. Alega-se a pobreza... a família... deixa-se aos herdeiros o cuidado de restituir, ou, para tranquilizar a consciência, dá-se alguma esmola aos pobres, mesmo quando se conhece a quem se deve. No entanto, Santo Agostinho disse: 'ou restituição ou condenação'. Consideremos com São Gregório que as riquezas que temos amontoado por meios injustos nos abandonarão um dia, mas os crimes cometidos nunca nos abandonarão. Lembremo-nos que é uma extrema loucura deixar após si bens de que não teremos sido donos senão uns instantes e de carregar conosco injustiças que nos atormentarão eternamente.

Não tenhamos a insensatez de transmitir aos nossos herdeiros o fruto do nosso pecado para nos carregar de toda a pena que lhe é devida e não nos exponhamos à horrorosa desgraça de arder eternamente na outra vida por termos educado e enriquecido filhos talvez ingratos. Lembremo-nos principalmente da palavra de Jesus Cristo: 'Que serve ao homem lucrar o mundo inteiro, se depois perder sua alma?'

VI - Terceira Porta do Inferno - A Profanação do Domingo

A santificação do domingo comporta duas coisas: a cessação do trabalho e a oração. Aos domingos não se pode trabalhar sem necessidade ou por motivo justo: 'Trabalhareis durante seis dias, disse outrora Deus aos israelitas, mas ao sétimo dia não fareis nenhum trabalho, nem vós nem vossos servos'. Trabalhar aos domingos é, pois, uma desobediência formal a Deus. O trabalho do domingo é um desastre para o corpo, para a alma e mesmo para a fortuna.

As máquinas de bronze e de aço não podem trabalhar semanas e meses seguidos. Forçosamente, de quando em vez, é preciso pararem, repousarem, senão arrebentam. Não somos de bronze nem de aço, somos de carne. Sem o repouso de oito em oito dias, dizem os sábios, os homens abreviam consideravelmente sua vida. Quereis ver um povo sadio, forte, alegre? Vede as nações que respeitam o domingo. Quereis ver um povo doentio, fraco? Considerai os países em que o dia do Senhor é profanado.

Quanto à alma, o trabalho ao domingo faz que o homem nem se lembre dela. Quem trabalha sem cessar torna-se material como a terra que cultiva, como as máquinas que maneja, torna-se um animal, um bruto. Notou-se que os revolucionários, os criminosos têm-se recrutado principalmente entre os profanadores do domingo. Afinal nossos interesses temporais pedem que santifiquemos o domingo. Se Deus não constrói a casa, diz o profeta, em vão trabalham os que a edificam.

O trabalho ao domingo é como o bem mal adquirido, atrasa. Deus não engana. Ora, disse aos judeus: 'Guardareis o dia do Senhor e respeitareis meu santuário: se fizerdes estas coisas, eu vos darei as vossas chuvas a seu tempo e a terra e as árvores darão o seu fruto; comereis o vosso pão a fartar e habitareis seguros em vossa terra. Se, pelo contrário, rejeitardes meus mandamentos, visitar-vos-ei em minha cólera, vossas árvores, vossos campos, não darão seu fruto, farei que o céu seja como ferro e a terra como bronze, plantareis debalde a vossa semente e vossos inimigos a comerão, as feras devorarão vosso gado, mandarei a peste, a guerra, a fome'. Repousemos, pois, ao domingo e santifiquemos este dia pela oração.

A oração obrigatória é a Santa Missa, para quem não tem um motivo justo de dispensa. Estes motivos são os seguintes: doenças, cuidados de crianças ou de doentes, grande distância da igreja (mais de uma hora de caminho, a pé), falta de companhia para senhoras, pobreza tal que a gente não possa se apresentar na igreja sem se envergonhar. As mães que têm crianças pequenas, procurem alguém que possa substituí-las, para que, pelo menos de vez em quando, possam ouvir a Santa Missa. Não esqueçamos que faltar à Missa por descuido, por preguiça, é pecado grave. Mau sinal, péssimo sinal, perder a Missa aos domingos. Enquanto o homem aos domingos veste a roupa limpa, toma o caminho da igreja, assiste ao santo sacrifício, ouve a palavra de Deus, há esperança. Embora este homem se tenha desviado de Deus, um dia voltará para ele. Mas, quando o homem chegou a este ponto de embrutecimento que não faz mais distinção entre dia de serviço e dia de domingo, não há mais esperança. Não é mais cristão, não é mais homem, é animal. É a perda da alma, é o inferno.

Que dizer agora dos que não só profanam o dia do Senhor pelo trabalho e a perda de Missa, senão pelo pecado propriamente dito. Infelizmente, para muitos, o domingo é o dia do pecado, da embriaguez, do jogo, do escândalo. Que crime! Roubar a Deus o dia que ele reservou para sua glória e para nossa salvação, e consagrá-lo a Satanás pelo pecado! O que digo do domingo, digo-o das festas que, muitas vezes, em lugar de serem festas dos santos, são festas do demônio, pela devassidão. Assim é que outrora os judeus celebravam os domingos e as festas e por isso Deus lhes disse: 'Eu tenho horror de vossas festas, lançar-vos-ei em rosto as imundícies de vossas solenidades'. O que Nossa Senhora e os santos esperam de nós nos seus dias de festas não são músicas, foguetes, danças, jogos, orgias, mas orações fervorosas, confissão, comunhão. Só assim nos tornamos merecedores de seus favores.

VII - Quarta Porta do Inferno - A Embriaguez

'Não erreis: os bêbados não herdarão o reino de Deus', diz São Paulo. A embriaguez é um dos vícios mais vergonhosos e funestos. O seu efeito imediato é privar o homem do uso da razão e até de seus membros. Este pecado ultraja a Deus porque mancha e apaga no homem a imagem de Deus. Pela sua alma o homem é a imagem de Deus. Como Deus, a alma conhece, ama e quer. Vede agora o escravo da bebida. Onde está a imagem de Deus? O embriagado é incapaz de formar uma ideia. Semelhante ao animal, não é capaz de exprimir seu pensamento. Onde estão seus sentimentos? Só tem instinto de bruto. Onde está sua liberdade? Faz o que não quer e não faz o que quer. Chega a ponto de não poder ficar de pé, de não poder dirigir seus passos, de cair. Um dia, um bêbado caiu numa sarjeta. Chega um cão, olha, fareja-o festejando-o com a cauda. O cachorro parecia satisfeito por encontrar um colega. Mas depois o cachorro foi-se embora, e o bêbado ficou deitado na lama, porque não podia arredar-se do lugar. Deus fez o homem grande, diz a Escritura, mas, pelo vício, o homem nivelou-se ao bruto.

O alcoólico é inimigo de sua alma, porque calca aos pés todos os mandamentos da lei de Deus. Amai a Deus sobre todas as coisas, diz o primeiro mandamento. O escravo da embriaguez é do número daqueles que São Paulo estigmatiza, quando diz: 'Seu ventre é seu Deus'. O bêbado blasfema frequentemente, roga pragas, jura falso, profana o dia do Senhor, é mau filho, mau pai, mau esposo, briga, fere, às vezes mata. Como é raro dois embriagados separarem-se sem trocar uns murros e se estragar a cara.

Quanto ao sexto mandamento, são obscenidades de toda espécie, pensamentos, desejos, palavras, olhares, ações, brutalidades que os próprios irracionais ignoram. No vinho está a luxúria, diz o Espírito Santo. O alcoólico é inimigo de seu corpo. O álcool é um veneno, acaba sempre por estragar e matar. Exerce um efeito funesto sobre o estômago, o coração, os rins. Os médicos contam até vinte doenças quase todas mortais, causadas pelo álcool. De 120.000 pessoas que morrem cada dia, 20.000 morrem diretamente pelos excessos alcoólicos*.

O alcoólico é inimigo de sua família. Uma boa moça regozijava-se na doce esperança de em breve achar-se ao lado de um moço, o preferido do seu coração, para levar com ele uma vida cheia de alegria e de felicidade. Por ele deixou pai e mãe, a ele dá sua mocidade, seu coração, suas forças, seu trabalho, sua vida. E o moço lhe promete torná-la feliz, promete-o, jura-o, até, ao pé do altar. E, agora, escravo da embriaguez chega em casa bêbado, envergonha sua esposa, a contrista, a descompõe, a maltrata, e, às vezes, deixa-lhe faltar o estrito necessário. Que ingratidão, que traição! 

Este pecado levanta contra ele um brado de maldição, arrancado de um coração esmagado. O eco desta maldição subirá até ao trono de Deus, para bradar vingança contra o violador do amor conjugal. Mau esposo, talvez pai pior ainda. Filhos idiotas, raquíticos, epilépticos, eis, geralmente, a descendência do alcoólico. E estas pobres criaturas geralmente nascem predispostas ao vício. O fruto não cai longe da árvore, diziam os antigos. Que educação dará aliás tal pai a seus filhos? Que ouvem os filhos? Palavras obscenas, conversas ímpias. Que veem? Brigas, escândalos. Pai miserável, que responderás no dia do juízo, quando Deus te perguntar qual o exemplo que deste a teus filhos?

Renunciai ao vício, cristãos, e gozareis as satisfações da virtude e da abundância, os encantos da vida de família, tão puros e tão santos. Que alegria ver-se objeto da afeição de uma esposa, ter filhos sadios e bem educados! Fugi, pois, do maldito vício da embriaguez. Rezai, frequentai os sacramentos, afastai-vos da ocasião, principalmente, lembrai-vos da palavra de São Paulo: 'Os bebedores não entrarão no céu'.

* Dados recentes de um estudo da OMS (Organização Mundial da Saúde): O consumo de álcool mata 320 mil jovens e adolescentes por ano, sendo responsável por 9% das mortes de pessoas entre 15 e 29 anos no mundo. No total, 2,5 milhões de pessoas perdem a vida por ano por causa do produto, que pode provocar ao menos 60 tipos de doenças e ferimentos. Esse número de mortes é maior do que o registrado para a Aids ou a tuberculose. O estudo indica que 4% das mortes no mundo têm o álcool como causa. O problema é gritante principalmente na população masculina: 6,2% das mortes de homens são relacionadas ao álcool, enquanto para as mulheres o índice é de 1,1%. Para homens de 15 a 59 anos, a bebida é a principal causa de morte (nota adicional ao texto original).

Excertos da obra 'O Pequeno Missionário - Manual de Instruções, Orações e Cânticos' do Pe. Guilherme Vaessen, 6ª edição, Editora Vozes, 1953.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

ABERRAÇÕES LITÚRGICAS (III)

Eis aí a banalização do sagrado. A missa transformada em um festim profano e diabólico. Quem dentre estes conhece a sacralidade da liturgia, os mistérios insondáveis de uma única missa? Que desgraçados são estes que se prostram diante de Baal em nome de uma tal diabólica 'alegria cristã'? Ai do homem do pecado e da blasfêmia exposta aos pés dos altares. A conduta deles clama por justiça diante de Deus, 'de tal modo que serão abatidos por causa de suas iniquidades' (Sl 105, 43).

O INFERNO E AS PORTAS DO INFERNO (I)


I - O Inferno

Há um inferno.

1º A Sagrada Escritura nos diz que há um inferno. Jesus Cristo disse: 'Não temais os que podem matar o corpo, temei os que matam o corpo e a alma e os precipitam no inferno'. 'Se vosso olho, vossa mão, vosso pé vos escandalizam, isto é, são para vós ocasião de cometerdes o pecado, arrancai-os e lançai-os longe de vós, para não cairdes no inferno'. O rico avarento foi sepultado no inferno e, no meio de seus suplícios, bradava: 'Estou atormentado horrorosamente nas chamas devoradoras, dai-me uma gota de água para refrescar a língua'. No dia do juízo Jesus dirá aos condenados: 'Ide, malditos, para o fogo eterno. São claras estas palavras. Ou há um inferno ou o Evangelho é mentira. Há um inferno ou Jesus nos engana.

2º A razão nos diz que há um inferno. Dois homens que seguem dois caminhos opostos não podem se encontrar no mesmo ponto. Podem encontrar-se e ter a mesma sorte os homens que seguem, uns o caminho do bem, outros o caminho do mal? O justo e o pecador, a vítima e o assassino, a virgem e o sedutor, o mártir e o algoz, a mãe de família honesta e a mulher perdida, podem ir para o mesmo lugar? Suponhamos que São Pedro e Nero tivessem morrido no mesmo dia e que juntos comparecessem perante o tribunal de Deus. Jesus Cristo pergunta a São Pedro: 'Que fizeste durante a vida?' – 'Senhor, era um pobre pescador. Vós me chamastes para ser pescador de almas. Deixei tudo e vos segui. Desde então sabeis qual foi minha vida: rezar, jejuar, pregar, batizar, converter os pecadores, salvar as almas, até que fui preso, lançado na cadeia e crucificado por amor de vós. Eis minha vida e minhas obras'. 'E tu, Nero, que fizeste?' – 'Eu era imperador de Roma, gozei, e para gozar não recuei diante de nenhum crime. Zombei de Deus e da virtude, mandei assassinar minha mãe e meu irmão, queimar vivos milhares de cristãos, queimei a cidade de Roma. Afinal, perseguido pelo povo revoltado por meus crimes, suicidei-me. Eis minha vida e minhas obras'. Notai que são fatos históricos, coisas que realmente se passaram. E agora, quereis que Deus diga: muito bem, Pedro; muito bem, Nero; 'vão para o céu'? Ou então que diga: 'vão para o inferno'? Nossa razão protesta e nos diz que deve haver uma recompensa para São Pedro e um castigo para o monstro que se chamou Nero. Este castigo é o inferno. Há um inferno.

3º A experiência nos diz que há um inferno. Dizem os libertinos: nunca ninguém voltou do inferno para nos dizer que há um inferno. É precisamente o que o inferno tem de horrível. Dali ninguém volta. Ninguém saí do inferno, diz a Escritura. No entanto, por uma disposição especial da Providência Divina, por exemplo, para nos instruir, isto pode acontecer e de fato tem acontecido. São Francisco de Girolamo pregava em Nápoles, em frente de uma casa em que morava uma mulher de má vida que perturbava a missão com seus gritos e suas gargalhadas. De repente, esta cai morta. O Santo, logo que soube o que tinha acontecido, foi à casa dela. 'Catarina, disse ele, onde estás?' E duas vezes repetiu as mesmas palavras. Repetiu-as uma terceira vez com mais autoridade; e os olhos do cadáver se abrem, seus lábios se movem e na presença de toda a multidão, uma voz, que parecia sair do abismo, respondeu: 'no inferno, no inferno!' Todos fogem, tomados de assombro, e o próprio Santo, impressionado, repetia: 'No inferno! Deus terrível, no inferno!' É um fato absolutamente certo, a tal ponto que serviu de milagre para a canonização do Santo. Há um inferno.

II - Que é o Inferno

Todo o inferno está nesta palavra de Jesus Cristo: 'Afastai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno'.

1º  O inferno é a separação, a perda de Deus. 'Afasta-te de mim, pecador'. É assim que Deus repele para longe de si a alma pecadora. É a perda de Deus, a perda da suma beleza, da suma bondade, do sumo bem. Enquanto nossa alma estiver presa no cárcere da carne, não poderá nunca compreender a imensidade desta desgraça que, na frase dos santos, constitui o inferno dos infernos.

2º O inferno é a maldição de Deus. 'Afasta-te, pecador maldito!'. A maldição eficaz de um Deus todo-poderoso. Se é terrível a maldição de um pai, de uma mãe, que será a maldição de Deus? Pecador maldito, maldito no corpo, maldito na alma. Olhos, língua, mãos, pés, inteligência, coração, vontade, tudo é maldito, porque tudo serviu de instrumento ao pecado.

3º O inferno é o fogo. 'Afasta-te de mim, pecador maldito, para o fogo!' Quando os profetas falam do inferno, logo se lhes apresenta à imaginação o mar, o mar sem limites e sem fundo, e os condenados nadando e mergulhando neste abismo de fogo. O fogo os envolve, penetra-os, circula em suas veias, insinua-se até à medula dos ossos.

4º O inferno é a eternidade. 'Afasta-te, pecador maldito, para o fogo eterno!' A eternidade… quem pode compreendê-la! É um tempo que não acaba. Mil anos, milhões de anos, mil milhões de anos. Contai as gotas de água do oceano, os grãos de areia das praias, as folhas das árvores… a eternidade tem mais anos, mais séculos. Sempre! Nunca! Sempre queimar, sempre sofrer! Nunca o menor alívio, a menor esperança.

Se os condenados que estão no inferno pudessem voltar à terra, que fariam? Procurariam outra vez a ocasião do pecado, as danças, os espetáculos, as tavernas, as casas de perdição? Não! Correriam para a igreja, ao pé do altar do Santíssimo Sacramento, de Nossa Senhora, ao pé do confessor principalmente, para alcançar o perdão de seus pecados. O que os condenados não podem mais, vós o podeis. Não estais no inferno, mas talvez estejais no caminho do inferno. Quanto antes, voltai para trás; talvez amanhã seja tarde.

III - As Portas do Inferno

'É larga, disse Jesus Cristo, a porta do inferno'. Pode-se acrescentar, são muitas as portas do inferno. Com efeito, há tantas portas do inferno quantas espécies de pecados mortais; mas há entre elas algumas mais largas e mais perigosas: são as da impureza, da injustiça, da profanação do domingo, da embriaguez, da má educação dos filhos, do protestantismo, do espiritismo, da demora da conversão.

IV - Primeira Porta do Inferno - A Impureza

Não erreis, disse São Paulo, os impuros não herdarão o céu. A impureza é o amor desregrado dos prazeres da carne. Pensar voluntariamente em coisas desonestas; desejar praticar, ver, ouvir coisas escandalosas; dizer palavras, ter conversas imorais, ler livros obscenos, olhar gravuras, espetáculos, pessoas indecentes; permitir-se consigo ou com outras pessoas liberdades criminosas; praticar no sacramento do matrimônio o que a moral cristã proíbe... são pecados contra a pureza.

Dirão alguns: isso é pecado pequenino. Pequenino? Mas é pecado mortal. Diz Santo Antonino que é tal a corrupção que faz lavrar este pecado, que nem os próprios demônios podem sofrê-lo, e acrescenta o mesmo santo que, quando se cometem semelhantes torpezas, até o demônio foge de vê-las. Considerai agora o horror que causará a Deus aquela pessoa que, como diz São Pedro, semelhante ao suíno, se revolve no lodaçal deste pecado. Dirão ainda os escravos da impureza: 'Deus é misericordioso, conhece a fraqueza da carne'. Pois ficai sabendo que, conforme o relata a Escritura, os mais terríveis castigos que Deus descarregou sobre o mundo foram a punição deste pecado.

Abramos, com efeito, a Escritura. O mundo está ainda no começo e já os homens estão corrompidos, carnais impudicos. Deus se arrepende de ter criado o homem e por isso toma a resolução de o exterminar. Abre as cataratas do céu, a chuva cai durante quarenta dias e quarenta noites, as águas sobem até cobrirem as montanhas mais altas, e a humanidade morre afogada, abismada nas águas do dilúvio. Só escapam oito pessoas, a família de Noé que, sozinho, guardara a castidade.

Será pecado leve? Que lemos ainda na Bíblia? Havia na Palestina cinco cidades célebres pelo seu comércio, suas riquezas; mais célebres ainda pela sua corrupção espantosa. Naquelas cidades cometiam-se pecados de que nem se pode dizer o nome, pecados sensuais contra a natureza, pecados horrorosos que infelizmente se cometem hoje, depois de dois mil anos de cristianismo. Que fez Deus? Mandou chover sobre aquelas cidades uma chuva, não mais de água, mas de fogo e de enxofre, que reduziu a cinzas as cidades e os habitantes. Não satisfeito, Deus mandou à terra que se abrisse e ao inferno que engolisse os restos infames de Sodoma e Gomorra.

Que nos diz ainda a Sagrada Escritura? Que outrora Deus mandava queimar vivo a quem cometia semelhantes pecados e até aos casados que profanavam o matrimônio pelo crime horrendo do adultério. Este pecado de adultério, depois do assassínio, o mais grave de todos os pecados contra o próximo, foi sempre considerado até pelos pagãos como um crime digno de todos os castigos. Os antigos egípcios condenavam a ser queimada viva a mulher casada que tinha cometido este pecado; os saxões igualmente condenavam à fogueira a mulher casada infiel, e à forca o cúmplice de seus crimes. E há cristãos que trazem na lama do pecado o sacramento que São Paulo chama grande.

Estes são apenas os castigos para este mundo. Que será no outro mundo! Está escrito, e a palavra de Deus não volta atrás, que os desonestos não entrarão no reino do céu. E este o pecado que arrasta para o inferno o maior número das almas. Diz São Remígio que a maior parte dos condenados estão no inferno por causa deste pecado. O mesmo diz São Bernardo: este pecado precipita no inferno quase todo o mundo. Do mesmo modo fala Santo Isidoro: é a luxúria muito mais que qualquer outro vício que sujeita o gênero humano ao demônio. Em uma palavra, e é a doutrina de todos os santos; de cem condenados no inferno, haverá um ladrão, um assassino, um ímpio, mas noventa e nove desonestos. Pobres pecadores. Longe de mim o infundir-vos o desespero; o que quero dizer é que, se vos achais atolados neste vicio, procurai sair quanto antes deste lodaçal imundo, senão o inferno será vossa sorte eterna. O que deveis fazer é o seguinte:

1º. Rezar. A oração é uma chuva celestial que apaga o pecado da concupiscência. Rezai antes de dormir, de joelhos, ao pé do leito, três Ave-Marias à pureza de Nossa Senhora;

2º. Repelir sem demora todo mau pensamento e desejo, chamando pelos nomes de Jesus e Maria;

3º. Fugir, mas fugir absolutamente, custe o que custar, da ocasião do pecado, da frequentação de tal pessoa, de tal casa, de tal divertimento, de um modo especial destas danças modernas tão imorais e escandalosas;

4º. Enfim o meio mais eficaz é a recepção frequente e piedosa dos sacramentos da confissão e comunhão. Desenganai-vos, se agora não vos emendardes, mais tarde será tarde demais.

Excertos da obra 'O Pequeno Missionário - Manual de Instruções, Orações e Cânticos' do Pe. Guilherme Vaessen, 6ª edição, Editora Vozes, 1953.


quinta-feira, 8 de agosto de 2013

08 DE AGOSTO - SÃO DOMINGOS DE GUSMÃO


São Domingos de Gusmão nasceu em 24 de junho de 1170, na pequena vila de Caleruega, então Reino de Castela, na Espanha, de família nobre e muito religiosa. Recebeu a ordem sacerdotal com cerca de 24/25 anos, sendo enviado para a diocese de Osma, também na Espanha. Devido a sua vasta cultura e erudição, foi indicado como representante da Santa Sé e do rei de Castela Afonso VII em diversas missões diplomáticas. Combateu duramente a heresia dos albigenses, surgida no sul da França, como enviado do então papa Inocêncio III.

O seu apostolado fez surgir um pequeno grupo chamado de 'Irmãos Pregadores' (que incluía o próprio irmão chamado Manes, beatificado mais tarde). No esforço de se colocar sempre a serviço de Deus, foi pregador incansável em meio a peregrinações sem fim. Dessas experiências, em 1215, decidiu fundar uma nova Ordem de vida apostólica e para a evangelização cristã. Durante o IV Concílio de Latrão, o papa Inocêncio III concedeu a primeira aprovação, ratificada, no ano seguinte, pelo seu sucessor, o papa Honório III, com o nome de Ordem dos Frades Predicadores ou Dominicanos. O primeiro convento da Ordem Dominicana foi fundado em 25 de abril de 1215 em Toulouse, na França. 

Em 1217, para atrair a juventude acadêmica, Casas da Ordem foram implantadas em Bolonha, Paris e outras cidades universitárias da Europa. Em Bolonha, escreveu, entre 1220 e 1221, os dois primeiros capítulos gerais da carta magna da nova Ordem, trabalho interrompido pela sua morte precoce em 6 de agosto de 1221, com apenas cinquenta e um anos de idade. São Domingos foi sepultado na catedral de Bolonha e canonizado pelo papa Gregório IX, que lhe dedicava especial estima e amizade, em 1234. Sua festa litúrgica é celebrada em 08 de agosto.


No seu ferrenho combate e conversão dos seguidores da seita herética dos albigenses, São Domingos defrontou-se com terríveis dificuldades e perseguições, devido à dureza espiritual daquelas almas. Retirou-se, então, em oração, para um lugar ermo situado nos arredores de Toulouse e suplicou a intercessão da Virgem Maria para os bons propósitos de tão dura missão. As suas preces extremadas foram atendidas e o santo recebeu uma aparição de Nossa Senhora que lhe entregou o Rosário (também chamado Saltério de Maria, em referência aos 150 salmos de Davi), ensinando-o como rezá-lo e assegurando ser esta a arma mais poderosa para se ganhar as almas para o Céu. Este evento, respaldado por numerosos documentos pontifícios, é narrado na obra 'Da Dignidade do Saltério', do Bem-Aventurado Alain de la Roche (1428 – 1475), célebre pregador da Ordem Dominicana. Com o Rosário em punho, São Domingos pregou incansavelmente na França, Itália e Espanha a devoção que a própria Senhora do Rosário lhe havia ensinado, convertendo os hereges e os tíbios, e erradicando por completo naqueles países a heresia albigense.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

DA VIDA ESPIRITUAL (56)




Nas tuas pequenas e grandes alegrias, louva o Pai pela graça de perceber que és capaz de alcançar objetivos e metas; nos teus pequenos ou grandes fracassos, louva o Pai ainda mais por te mostrar que sem Ele tu és nada...

O CÉU É AQUI...