sexta-feira, 28 de junho de 2013

PARA QUE TODOS SE SALVEM!

A vocação cristã, que é um chamamento pessoal do Senhor, leva cada um de nós a identificar-se com Ele. Não devemos esquecer-nos, porém, de que Ele veio à Terra para redimir o mundo inteiro, porque quer que os homens se salvem. Não há uma só alma que não interesse a Cristo. Cada uma lhe custou o preço do seu Sangue.

Ao considerar estas verdades, vem-me à memória a conversa dos Apóstolos com o Mestre momentos antes do milagre da multiplicação dos pães. Uma grande multidão acompanhara Jesus. Nosso Senhor ergue os olhos e pergunta a Filipe: Onde compraremos pão para dar de comer a toda esta gente? Fazendo um cálculo rápido, Filipe responde: Duzentos dinheiros de pão não bastam para cada um receber um pequeno bocado. Como não dispõem de tanto dinheiro, lançam mão de uma solução caseira. Diz-lhe um dos seus discípulos, André, irmão de Simão Pedro: Está aqui um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixes, mas que é isto para tanta gente.

Nós queremos seguir o Senhor e desejamos difundir a sua Palavra. Humanamente falando, é lógico que também perguntemos a nós mesmos: mas que somos nós para tanta gente? Em comparação com o número de habitantes da Terra, ainda que nos contemos por milhões, somos poucos. Por isso, temos de considerar-nos como uma pequena levedura, preparada e disposta a fazer o bem à humanidade inteira, recordando as palavras do Apóstolo: Um pouco de levedura fermenta toda a massa, transforma-a. Precisamos, portanto, de aprender a ser esse fermento, essa levedura, para modificar e transformar as multidões.

Se meditarmos com sentido espiritual no texto de São Paulo, compreenderemos que temos de trabalhar em serviço de todas as almas. O contrário seria egoísmo. Se olharmos para a nossa vida com humildade, veremos claramente que o Senhor nos concedeu talentos e qualidades, além da graça da fé. Nenhum de nós é um ser repetido. O Nosso Pai criou-nos um a um, repartindo entre os seus filhos diverso número de bens. Pois temos de pôr esses talentos, essas qualidades, ao serviço de todos; temos de utilizar esses dons de Deus como instrumentos para ajudar os homens a descobrirem Cristo.

Falando ou escrevendo, às vezes compara-se o mundo com o mar. E há muita verdade nessa comparação. Na vida humana, tal como no mar, há períodos de calma e períodos de borrasca, de tranquilidade e de forte ventania. Muitas vezes, os homens nadam em águas amargas, no meio de grandes vagas; caminham no meio de tormentas; viajam cheios de tristeza, mesmo quando parece que têm alegria, mesmo quando falam ruidosamente: gargalhadas que pretendem encobrir o seu desalento, o seu desgosto, a sua vida sem caridade nem compreensão. E devoram-se uns aos outros, tanto os homens como os peixes… É missão dos filhos de Deus conseguir que todos os homens entrem - com liberdade - dentro da rede divina, para que se amem. Se somos cristãos, temos de converter-nos nos pescadores de que fala o profeta Jeremias. Jesus Cristo também utilizou repetidamente essa metáfora: 'Segui-me e Eu farei de vós pescadores de homens', diz a Pedro e a André.

Atrevo-me a assegurar que também o Senhor fará de nós instrumentos capazes de realizar milagres e até, se for preciso, dos mais extraordinários, se lutarmos diariamente por alcançar a santidade, cada um dentro do seu estado, no meio do mundo, no exercício da sua profissão, na vida normal e corrente. Daremos luz aos cegos... Quem não poderia contar mil casos de cegos, quase de nascença, que recobraram a vista, recebendo todo o esplendor da luz de Cristo? E de outros que eram surdos, e outros mudos, que não podiam ouvir ou articular uma palavra como filhos de Deus... E que purificaram os seus sentidos, e já ouvem, e já se exprimem como homens, não como animais!... In nomine Iesu!, em nome de Jesus, os seus Apóstolos dão agilidade àquele aleijado, que era incapaz de uma ação útil... E àquele outro, um poltrão, que conhecia as suas obrigações mas não as cumpria... - Em nome do Senhor, surge et ambula!; levanta-te e caminha! E um outro, já morto, apodrecido, que tresandava a cadáver, também ouviu a voz de Deus, como no milagre do filho da viúva de Naim - Rapaz, eu te ordeno: levanta-te! 

Faremos milagres como os de Cristo, milagres como os dos primeiros Apóstolos... Talvez esses prodígios se tenham dado contigo mesmo, ou comigo... Talvez fôssemos cegos, ou surdos, ou estropiados, ou cheirássemos a cadáver, e a palavra do Senhor nos tivesse levantado da nossa prostração... Pois bem: se amamos Cristo, se o seguimos com sinceridade, se não nos procuramos a nós mesmos mas tão só a Ele, em seu nome poderemos transmitir a outros de graça, o que de graça nos foi concedido.

Deus quer que todos se salvem. Isto é um convite e uma responsabilidade que pesam sobre cada um de nós. A Igreja não é um reduto de privilegiados. A grande Igreja será porventura uma exígua parte da Terra? A grande Igreja é o mundo inteiro. Assim escrevia Santo Agostinho, acrescentando: Aonde quer que te dirijas, aí está Cristo. Tens por herança os confins da Terra. Vem! Toma posse dela toda comigo.

Além disso, quem disse que para falar de Cristo, para difundir a sua doutrina, é preciso fazer coisas especiais, fora do comum? Faz a tua vida normal; trabalha onde estás a trabalhar, procurando cumprir os deveres do teu estado, acabar bem o que é próprio da tua profissão ou do teu ofício, superando-te, melhorando-te dia-a-dia. Sê leal, compreensivo com os outros e exigente contigo mesmo. Sê mortificado e alegre. Será esse o teu apostolado. E, sem saberes porquê, tendo perfeita consciência das tuas misérias, os que te rodeiam virão ter contigo e, numa conversa natural, simples - à saída do trabalho, numa reunião familiar, no carro, ao dar um passeio, em qualquer parte - falareis de inquietações que em todas as almas existem, embora às vezes alguns não queiram dar por isso. Mas cada vez as perceberão melhor, desde que comecem a procurar Deus a sério.

Pede a Maria, Regina apostolorum, que te decidas a participar nas ânsias de sementeira e de pesca que estão no Coração do seu Filho. Garanto-te que, se começares, terás a barca cheia, como os pescadores da Galileia. E Cristo na margem, à tua espera. Porque a pesca é sua.

('Para que todos se salvem', excertos de homilia proferida pelo Santo Josemaria Escrivá de Balaguer, em 11/03/1960)

quinta-feira, 27 de junho de 2013

O MANUSCRITO DO PURGATÓRIO (VII)


O MANUSCRITO DO PURGATÓRIO

PARTE VIII - 1880 (II)

Por que eu estava tão emocionada quando ouvi pela primeira vez as palavras do Padre?

'Isso já era o prelúdio para as graças que você receberia durante o retiro. Há certas atrações entre as almas que não são compreendidas aqui na terra. Deus fez a alma daquele Padre e a sua, uma para a outra, e é por isso que você estava tão impressionada quando ele falou; muitas vezes você vai sentir o mesmo sentimento no futuro. Reze muito por este Padre, a quem Jesus lhe deu para ajudá-la a elevar a sua alma até Ele. Ele precisa de graças mais fortes e maiores do que a maioria das pessoas, para não ser desencorajado. Em seu trabalho, ele se depara com jornadas pesadas e cansativas para a sua natureza. Sua vida é difícil e penosa. Você deve ajudá-lo com as suas orações. Até agora, você tem feito isso, mas não é o bastante.Você deve oferecer por ele seus trabalhos, alguns dos seus sofrimentos exteriores, alguns dos seus sacrifícios; em uma palavra, unir as intenções dele a tudo o que você faz e unir as suas intenções a tudo o que ele faz.

Jesus tem grandes desígnios sobre ele, como ele tem também sobre você; por esta razão, Ele permite que você fale com ele e abra o seu coração. Considera-o como seu pai e seja submissa a ele como uma verdadeira filha, e isso será agradável a Deus. Não se perturbe porque eu lhe digo todas essas coisas. Você tem conduzido muito bem o que eu tenho dito a você. Eu tinha que lhe dizer isto e você deve repeti-lo ao Padre. Você me ouve?

Este retiro foi muito agradável a Deus e muito proveitoso para as almas. É com deleite que Jesus vê as almas  religiosas volverem-se a Ele e buscá-lO como seu único fim. É para isso que Jesus os chama a Seu serviço, mas quão fácil é na terra esquecer-se do que é mais sagrado. Um bom retiro ajuda as almas a renovar o seu primeiro fervor e é isso que aconteceu nesse que você acabou de fazer e que consolou enormemente o Sagrado Coração de Jesus.

O que são os poucos momentos que temos que passar na terra comparados com a eternidade? Na hora da morte, você não vai achar que tenha feito muito. Seja muito generosa, não ouça a si mesmo, mas sempre olhe para o objetivo que Jesus lhe chama. Isso é a santidade, amor puro. Vá sempre em frente e nunca olhe para trás. Grandes cruzes, cruzes que esmagam muitas vezes o coração, por assim dizer, são a herança dos amigos de Deus.

Você recentemente se queixou a Jesus porque Ele enviou muitas dores a você neste ano. É verdade, mas por que você encontra essas cruzes tão pesadas? É porque você não O ama o bastante e, ainda assim, você não chegou ao fim de suas provações. Aquelas que você teve até agora são apenas as precursoras das que você ainda tem a esperar. Eu não lhe disse que você iria sofrer sempre no corpo e na alma e, muitas vezes nos dois juntos? Não há santidade sem sofrimento. Quando você permite a graça trabalhar livremente em você, quando Jesus realmente reina sobre a sua vontade e você permite que Ele seja o senhor absoluto de todo o seu ser, então, não importa quão fortes sejam as cruzes, você não vai sentir o peso delas.

O amor vai absorver tudo mas, até esse momento chegar, você vai sofrer, e sofrer muito, porque a alma não tem como desprender-se de tudo, em um minuto, de forma a agir apenas por puro amor. Deus vê os seus esforços com agrado. Ah, se Ele fosse mais conhecido e compreendido na terra! Mas não, Ele é esquecido. Pelo menos, você O ame e O console. Deixe os seus esforços sempre crescer em intensidade, de modo a agradá-lO sempre mais. Trabalhe duro, sem relaxar, para que você possa em breve alcançar o grau de santidade que Ele deseja de você'.

16 de setembro de 1870: 'Você está um pouco mais satisfeita consigo mesma nesses últimos dias, e Jesus também, porque você está fazendo esforços para agradá-lO e tornar-se mais intimamente unida a Ele. Mas não pense que esta união já esteja concluída. Este é apenas um tímido começo daquilo que Ele deseja ter com a sua alma. Oh, quão pouco as pessoas na terra compreendem o grau de desprendimento que Jesus exige de uma alma a qual pretende fazer toda Sua! As pessoas pensam que amam e que, em breve, serão santos porque sentem uma devoção pouco mais sensível do que o habitual; mas todas estas devoções naturais não são nada.

A alma deve elevar-se e separar-se de seu amor-próprio, de suas paixões, a fim de libertar-se de todo o amor humano. É difícil, e muito poucos compreendem o que tudo isso significa. A você que foi dado, pela grande misericórdia de Deus, compreender um pouco mais sobre isso, você que Ele ama tanto, comece a trilhar o caminho da abnegação e do aniquilamento interior. Pense muitas vezes nos sinais do amor que Jesus lhe deu. Considere o quão longe Ele tem ido em buscar você e como Ele aplainou todos os obstáculos em seu caminho. Ele fez mais para você do que para qualquer outra pessoa. Cada dia Ele derrama sobre você graças especiais. Reflita quão generoso Ele tem sido com você nestes últimos dias. Em troca, ele espera uma grande generosidade da sua parte, mais do que a dos outros, a quem Ele não abençoou tão ricamente (de graças) e de quem Ele não espera (portanto) um alto grau de perfeição. De você Ele espera uma entrega plena de si mesma diante de todas as provações e, sobretudo, muito amor.

De todo coração e de toda alma, você deve estar submersa a Ele, de modo que você não faça nada que não seja do Seu agrado. Eleve-se acima das coisas terrenas e do que lhe cerca para se perder inteiramente em Sua Vontade. Você deve esforçar-se para nunca perdê-lO de vista nem por um momento. Não pense que, por essa razão, será ficará tão absorvida que não será capaz de atender bem às suas obrigações. Você vai experimentar o contrário, que a alma mais intimamente unida a Jesus cumpre com maior exatidão todas as suas obrigações, uma vez que Jesus, a quem ela ama, age por ela. Ele é, por assim dizer, um único ser com ela. Assim você verá que será habilmente auxiliada e dirigida em tudo o que você tiver que fazer.

Quanto bem as almas interiores podem semear ao seu redor! As coisas feitas de forma diferente não têm nenhum valor. A alma que está unida a Jesus é a única que tem privilégios sobre Seu coração. Ela é tratada com regalos e Ele não lhe recusa a nada. Tenho muitas coisas para lhe dizer sobre este assunto, mas você não iria entendê-los agora. Devemos esperar o momento escolhido por Deus. Se você o desejar, esse momento não vai demorar muito a chegar. Jesus tem um desejo muito grande de unir-se inteiramente a você, mais do que você jamais poderá entender, e Ele deseja isso mais do que nunca neste momento. Esteja pois muito consciente e vigilante sobre si mesma.

É tão auspicioso amar Jesus, e poder passar diretamente e sem impedimentos da união mais íntima na terra à união plena com Ele no Céu! Pense bem sobre o que eu disse a você. Uma única ação feita por você com pureza de intenção e oferecida para meu alívio, quando feita em união íntima com Jesus, me alivia muito mais que muitas orações vocais. Quanto mais cedo você chegar à perfeição, mais rápido chegará o dia da minha libertação. É verdade que a Madre Superiora sofreu muito nesses últimos dias; mas um dia de grande sofrimento, infringido a ela, traz mais proveito para a sua alma e para toda a comunidade do que dez dias ou mais de boa saúde, nos quais ela pode exercer sem problemas todas as obrigações do seu ofício'.

29 de setembro de 1870: 'Sim, eu sabia de todo o sofrimento do Padre. É por isso que, quando você me perguntou se ele tinha superado o cansaço, eu disse, 'Não', e nada mais. Eu não queria preocupá-la. Você ficaria consternada sabendo-o em tais sofrimentos e como você estava pensando nele mais do que o habitual diante de Deus, por evidente inspiração, achei melhor que ele mesmo lhe dissesse todas as agruras que tem enfrentado. Jesus vai lembrar-se de tudo isso. As almas, pelas quais ele está sofrendo, estão mesmo no Purgatório neste momento, mas ficarão apenas por um período curto. Dentre elas, está a do sacerdote que Jesus quis recompensar e também as dos dois jovens a quem Ele quis salvar, tirando-os do mundo onde o bem maior pode ser facilmente corrompido. Diga a ele para se consolar, que Jesus o ama muito e guarda um lugar especial para ele em Seu Sagrado Coração, à frente de muitos outros. É para lá que ele deve ir em espírito, para descansar e renovar as forças da alma, de modo a continuar em frente o que ele se comprometeu a fazer por Seu Divino Mestre'.

02 de outubro de 1870: 'Diga muitas vezes ao dia: 'Meu Deus, cumpra-se em mim todos os vossos desígnios e concede-me nunca colocar quaisquer obstáculos no caminho de qualquer um dos meus atos. Meu Jesus, eu quero o que desejais, porque assim o quereis, porquanto Vós o desejastes!' 

03 de outubro de 1870 (Domingo): 'Ah se fosse dado a você compreender com quanto desprezo e indiferença Jesus é tratado na terra, não apenas pelo mundo em geral; como Ele é insultado e escarnecido mesmo por aqueles que O deveriam amar... Essa indiferença ocorre mesmo em comunidades religiosas, de homens e de mulheres, entre pessoas escolhidas, onde ele deveria ser tratado como um Amigo, um Pai, um Esposo. Muitas vezes Ele sequer recebe a consideração mostrada a um estranho. Essa indiferença permeia  também o clero, hoje mais do que em qualquer outro tempo. Ele é tratado como um igual por aqueles que deveriam tremer diante da ideia de tão grandiosa e augusta missão que lhes foi confiada. A realidade mais sagrada é, muitas vezes, tratada com tédio e frieza. Quantos são os que possuem espírito interior? Posso assegurar-lhe que são poucos. Aqui no Purgatório, os sacerdotes que expiam por sua indiferença e sua falta de amor são numerosos. Sua negligência tremenda precisa ser expiada no fogo e sob tortura de todos os tipos. Você pode julgar por isso que Deus, que é tão bom e amoroso para com todas as Suas criaturas, não encontra quem O ame e que O console.

Infelizmente, estas almas são poucas. Essa é a tristeza do Sagrado Coração de Jesus, a ingratidão dos seus. Entretanto, o Seu Sagrado Coração está transbordando de amor para ser compartilhado. Ele quer encontrar algumas almas que morreram para si mesmas, para inundá-las com o Seu Divino Amor, mais do que já fez para quem quer que fosse. Oh, quão pouco é compreendido Jesus na terra, quão pouco se compreende o Seu Amor e a Sua misericórdia! As pessoas tentam conseguir tudo, menos o que conduz à verdadeira felicidade. Que tristeza! 

Você nunca deve ficar irritada, nem exteriormente e nem interiormente. Esforce-se para evitar os aborrecimentos, causados pela descortesia ou pela malícia dos outros. Sempre mantenha a calma. Por que ficar aborrecida por causa da culpa de alguém? Isso, em vez de melhorar a situação, causa dois males em vez de um'.

14 de outubro de 1870 (Durante a ação de graças após a Comunhão): 'A mínima infidelidade de sua parte, um ligeiro esquecimento, a menor indiferença para com Jesus, é muito dolorosa para com Ele e machuca o Seu coração amoroso, muito mais do que uma lesão feita por um inimigo. Tenha muito cuidado ao autoexaminar-se, sem omitir nada. Deixe Jesus livre para chegar com alegria e descansar em seu coração, de modo que você possa consolá-lO de todas as aflições com que é oprimido no mundo. Proceda com Ele como ao melhor dos pais, ao mais devotado dos cônjuges. Console-O e faça reparação, com o seu amor e ternura, de todas as injúrias que Ele recebe diariamente. Você deve defendê-lO e glorificá-lO de todo o coração. Esqueça de si em Sua Presença e certifique-se de moldar os seus próprios interesses aos Seus interesses e Ele vai fazer por você muito mais do que se você se preocupasse com eles'.

16 de outubro de 1870: 'É tarefa vã a sua preocupação com as almas que lhe são confiadas, no sentido de corrigi-las, fazê-las um pouco mais inclinadas a uma vida interior. Você só terá resultados concretos nesta missão na medida em que você mesma for elevada espiritualmente. Somente por meio do extravasamento de sua própria piedade, você pode preencher os corações destas almas. Se você mesma não for o que deveria ser, se você não estiver intimamente unida a Jesus, suas palavras vão chegar aos ouvidos delas, mas não entrarão em seus corações e, então, os seus esforços serão infrutíferos. Você vê como é bom estar-se unida a Jesus? Essa é a única verdadeira felicidade na terra'.

Novembro de 1880: 'Quando você tiver que reprovar alguém que tenha cometido uma falta leve ou mesmo uma falta grave, faça-o com grande delicadeza. Seja firme quando a falta o exigir, diga algumas palavras, mas nunca fale sob tensão, para que a reprovação feita não comprometa nem a alma de quem a recebe nem a alma de quem a faz. Evite chamar a atenção para faltas anteriores, especialmente quando se corrige as crianças. Este é um erro comum e que muito desagrada a Deus, e aqueles que fazem isso estão errados. Como eles podem saber que isso já não foi perdoado? Então, por que se referem a estas faltas de novo? Deus não nos deu tal exemplo. Nossos pecados devem constantemente humilhar-nos e devemos chorar sobre eles, na amargura do nosso coração, diante do Senhor, mas nunca devemos nos referir aos pecados passados ​​dos outros.

A alma cristã e, acima de tudo, uma alma religiosa, para ser agradável aos olhos do Senhor, deve tratar o seu próximo como ela espera que Nosso Senhor a trataria. Lembre-se disso bem e, quando a oportunidade acontecer, pratica-o fielmente. Não deixe que os deveres, cuidados e preocupações da vida tomem muito do seu tempo, de modo a impedi-la de unir-se a cada momento com Jesus e, assim, conhecer e cumprir a Sua Santa Vontade.

Se você passar por qualquer dificuldade, aceite-a com resignação, porque foi permitida por Nosso Senhor que, do mal que permite, tira um bem muito maior. Ajoelhe-se diante do Tabernáculo e aí ofereça a Jesus as provações de sua alma que, às vezes, parecem quase insuportáveis. Seu coração vai se iluminar por completo. Se, ao contrário, você tiver alguma alegria, especialmente aquela felicidade que nos enleva quando a serviço de Deus, aceite-a em espírito de humildade e gratidão e lembre-se de que a terra não é um lugar de descanso, mas uma terra de exílio, de trabalho árduo, e de todos os tipos de sofrimentos.

Aceite todas as coisas com espírito tranquilo, não deixando nada interferir com o seu objetivo. Sua única satisfação, seu repouso completo, só devem subsistir em Jesus. Você deve agir apenas por Ele, Seu amor deve sustentar sua coragem e você nunca poderá fazer o bastante diante do amor de Deus. Quanto mais você se separar das coisas terrenas, mais Jesus vai derramar graças especiais e carícias divinas sobre você. Muitas vezes você vai se sentir completamente indiferente às coisas que antigamente lhe atraíam. Deus em Sua misericórdia permite isso, porque Ele lhe ama e gradualmente quer afastar você das coisas materiais. Essa é a maneira como Deus procede com as almas que Ele reserva inteiramente para Si mesmo. Nosso Senhor permite a tais almas exaurirem-se das coisas que não são do Seu interesse, e a experimentarem uma aversão por todas as coisas que não servem aos propósitos de Deus. Deus permite isso para esvaziar seus corações de tudo o que é humano, para que Ele possa ocupá-los e enchê-los com o Seu amor e Sua graça'.

Novembro de 1870 (outra data): 'Nos dias em que você receber a Comunhão na primeira missa, faça apenas um leve desjejum antes das oito horas, digamos, cerca de três minutos. Estou dizendo isso porque Nosso Senhor gostaria que você prolongasse a sua ação de graças. Isto lhe daria um quarto extra de hora, além de seu quarto de hora de costume, e você teria, então, mais tempo para conversar com Jesus, pois você tem muitas coisas para lhe dizer. E, assim, o segundo quarto de hora seria dedicado somente a Ele. Continue procedendo da mesma maneira durante as Pequenas Horas (orações do Ofício Divino recitadas antes da Santa Missa) e durante a maior parte da missa. Peça tal concessão à Madre Superiora. Quantas graças a mais você não receberia! 

Por uma graça especial, as Sagradas Espécies continuam com você por um longo tempo depois da Comunhão. Usufrua esses momentos felizes em gratidão a Ele a quem o próprio Céu não é capaz de conter. Assim, você pode obter tudo o que o seu coração deseja. Que amor Deus mostra assim à Sua pobre criatura, para achegar-se a ela, para comungar com ela com tal prova de amizade! Durante esses momentos, em adoração, agradeça e suplique a Ele ajudá-la a reparar todas as injúrias que Jesus recebe do nosso ingrato mundo. Ele é por demais ofendido. Não amado também. Você sabe que Ele a ama e você tem provas suficientes disso.

Enquanto você ainda está na terra, é impossível entender o que Deus exige de uma alma em expiação dos seus pecados no Purgatório. Você está sob a impressão de que muitas orações, bem proferidas, vão levar uma alma quase imediatamente à posse da felicidade eterna. Não é nada disso. Quem pode sondar os juízos de Deus? Quem pode entender quão pura deve estar uma alma antes de ser admitida e poder compartilhar a Sua felicidade eterna? Ah se as pessoas soubessem, se elas considerassem tudo isso ainda na terra, que vidas diferentes não levariam!

Considere seriamente quantos pecados veniais uma pessoa, negligente com a sua salvação eterna, comete em um dia. Quantos minutos deste dia ela oferece a Deus? Será que ela coloca o pensamento nEle em tudo? Bem, há 365 dias em um ano e, se houver muitos desses anos, essa pessoa morre acusada de uma multidão de pecados veniais que não foram apagados, porque ela nem sequer pensava neles.

Quando esta alma aparece diante de Deus para ser julgada, traz consigo apenas centelhas esparsas de amor na hora de prestar contas de sua vida diante de Deus, que a chama de volta para Ele. Por ser uma vida tão estéril, ela tem que começar tudo de novo, quando chega a este lugar de expiação. Vidas vividas sem amor para com Deus terão que ser expiadas com grandes sofrimentos aqui no Purgatório. Porque, na terra, não usufruíram da misericórdia de Deus, mas viveram apenas para o bem do corpo. Agora, para recuperar o seu primeiro esplendor, elas têm que dar satisfação disso até o último ceitil. Isso é o que acontece com as almas indiferentes; para as almas com culpa maior, é pior ainda.

Tente amar muito a Deus agora, para que você não tenha que vir aqui, aprender a amá-lO por meio de sofrimentos que não têm mérito. Os sofrimentos e provações na Terra são meritórios; portanto, não perca nenhum deles mas sobretudo, viva o amor. O amor apaga muitas faltas e evita outro tanto por não infringir danos às pessoas que amamos. É por isso que uma alma que ama verdadeiramente a Jesus coloca-se constantemente em guarda para evitar tudo o que possa fazer sofrer o Seu Coração Divino. Há muitas almas no Purgatório dependendo de você para deixar este lugar de sofrimento. Reze por elas com todo o seu coração'.

O MANUSCRITO DO PURGATÓRIO (VI)


O MANUSCRITO DO PURGATÓRIO

PARTE VII - 1880 (I)

Janeiro de 1880: Na noite de Natal, milhares de almas deixam seus lugares de expiação e vão para o Céu, mas muitos permanecem e eu estou neste número. Você me disse algumas vezes que a via de perfeição de uma alma constitui um processo longo; você está surpresa também que, depois de tantas orações, eu ainda esteja privada da visão de Deus. Infelizmente, a via de perfeição de uma alma no Purgatório não leva qualquer tempo a menos do que sobre a terra. Há um número de almas, mas estas são muito poucas, que têm apenas alguns pecados veniais para expiar. Estas não ficam muito tempo no purgatório. Umas poucas orações bem rezadas, alguns sacrifícios, bastam para livrá-las. Mas quando há almas como a minha - e isso é quase todas! - cujas vidas foram tão vazias e que dedicaram pouca ou nenhuma atenção à sua salvação, então, toda a sua vida tem que recomeçar neste lugar de expiação. A alma tem que aperfeiçoar-se toda de novo, amar e desejar a Deus, a quem não se amou o bastante na terra. Esta é a razão pela qual a libertação de algumas almas é tão postergada. Deus me deu uma grande graça em me permitir pedir orações. Eu não merecia isso, mas sem isso, eu iria permanecer, como a maioria aqui, muitos anos mais.

As religiosas e aqueles que são da mesma família podem comunicar-se?

'No Purgatório, como no Céu, as religiosas e aqueles que são da mesma família nem sempre estão juntos. As almas não têm o mesmo mérito para merecerem a mesma punição ou a mesma recompensa. No Purgatório,  nós nos reconhecemos e, se Deus permitir, também podemos nos comunicar uns com os outros'.

Você pode receber uma oração ou um pensamento de amigos que estão mortos, e fazê-los conhecer a saudade que temos deles?

'Pensamentos da terra podem ser conhecidos aqui, mas não há muito proveito isso, porque, como eu já lhe disse, as almas do Purgatório sabem as pessoas que se interessam por elas na terra. Às vezes Deus permite que as pessoas na terra recebam uma oração, um aviso ou alguma informação. Tudo o que eu lhe disse sobre São Miguel veio dele mesmo e tudo o que eu lhe disse sobre o Padre veio de Deus'. Todas as interpelações que você, tantas vezes, me tem feito em relação ao outro mundo, eu as tenho sempre dado, mas todas essas coisas são subordinadas à Vontade Divina'.

Todos no Purgatório conhecem as faltas dos outros tal como serão conhecidas no Juízo Final?

'Em geral, nós não sabemos sobre as faltas uns dos outros, exceto em alguns raros casos, quando Deus possui desígnios particulares em relação a certas almas; mas é para poucas almas que Ele age desta maneira'.

Você tem um conhecimento mais perfeito de Deus do que nós temos?

'Que pergunta! Claro que nós O conhecemos muito melhor e O amamos muito mais. Na verdade, é exatamente isso que faz maior o nosso sofrimento. Na terra, você simplesmente não sabe o que Deus é. Lá, cada um de vocês tem uma ideia do que pensa ser Deus, de acordo com um  conhecimento muito limitado mas, quando deixamos a nossa cobertura de barro e nada impede a liberdade de nossas almas, nós finalmente começamos a conhecer a Deus, Sua bondade, Sua misericórdia, Seu amor. Depois desta visão tão clara e da sede de união (com Ele), nossas almas são impelidas para Deus. Esta é a nossa própria condição; somos sempre repelidos porque não estamos suficientemente puros. Isso, em uma palavra, é o nosso pior sofrimento, o mais difícil, o mais amargo. Ah, se nos fosse dado voltar à terra, depois de saber o que Deus realmente é, que vida diferente não se levaria! Inúteis arrependimentos... mesmo porque na terra não se pensa em tais coisas e vive-se como se fosse cego. A eternidade não é levada em conta. As coisas da  terra, que é apenas uma passagem e que recebe apenas o nosso corpo que há de retornar ao pó, tornam-se o único objeto de todos os nossos desejos; não se pensa no Céu, Jesus e Seu Amor são completamente esquecidos'.

As almas do Purgatório podem consolar-se mutuamente?

'No Purgatório, o nosso único consolo, a nossa única esperança, está em Deus. Na terra, Deus às vezes nos permite ser consolado em nossos sofrimentos de alma ou de corpo por um coração amigo, mas, da mesma forma, se o amor de Jesus não preencher esse coração, as consolações serão vãs. Aqui, as almas se perdem, se afogam, por assim dizer, na Vontade Divina e só Deus pode amenizar suas dores. Cada alma é atormentada de acordo com a sua culpa, mas todas têm uma tristeza comum que supera todo o resto, a ausência de Jesus que é o nosso próprio sustento, a nossa vida, o nosso tudo. E nós estamos separados de Deus devido a nossa própria culpa.

Depois de uma ação, você não deve ficar perdendo tempo em saber se você a fez bem ou mal. Certamente você deve examinar as suas ações a cada dia para ser capaz de fazê-las melhor no futuro, mas isso não deve ser feito às custas (da tranquilidade) da alma.

Deus ama as almas simples. Você deve ir a Ele, portanto, com boa vontade, sempre pronta a sacrificar-se para agradá-lO. Você deve agir com Jesus como uma criança com a sua mãe, confiando na sua bondade e colocando todo o seu interesse espiritual e temporal com grande confiança em suas mãos divinas. Fazendo isso, tente agradá-lO em tudo, sem incomodar-se sobre qualquer outra coisa. Deus não se enleva mais com grandes atos ou feitos heroicos tanto quanto com simples ações ou pequenos sacrifícios, desde que feitos por amor a Ele.

Às vezes, mesmo um pequeno sacrifício, que era conhecido apenas por Deus e para a alma, pode ser muito mais meritório do que outro muito maior que recebeu grandes aplausos. É preciso ser muito interior, a fim de não tomarmos para nós quaisquer elogios que nos fazem. Deus procura almas vazias de si, de modo a preenchê-las com o Seu amor. Ele encontra apenas algumas. O amor-próprio não deixa lugar para Jesus. Não deixe passar qualquer oportunidade de mortificar-se, especialmente de uma mortificação interior. Jesus tem muitas graças para lhe dar durante a Quaresma. Portanto, prepare-se para redobrar o seu fervor mas, sobretudo, de amor para com Jesus. Ele é tão pouco amado pelo mundo e tão ultrajado com isso. A Santíssima Virgem ama muito você. De sua parte, ame-a de todo o seu coração e faça tudo o que puder para dar a ela a maior glória possível.

Você nunca será capaz de compreender muito bem a bondade de Deus. Se as pessoas de dessem ao trabalho de pensar sobre isso às vezes, isso seria o suficiente para torná-los santos a todos, mas elas não conhecem, no mundo, a medida da bondade misericordiosa do Coração de Jesus. Cada um a tem de acordo com sua maneira de pensar e este caminho é errado. Esta é a razão porque rezam mal. Sim, muito poucas pessoas rezam como Jesus queria vê-las rezar. Reza-se sem confiança e Jesus só reconhece nossas orações de acordo com o ardor dos nossos desejos e da força do nosso amor. É por isso que, muitas vezes, as graças que pedimos ficam sem efeito.

Para ser feliz na vida religiosa, tem que ser surdo, mudo e cego. Ou seja, temos que ouvir muitas coisas que se poderia repetir, mas que são melhores quando guardadas para nós mesmos. Você não se arrepende nunca por ter ficado em silêncio. Nós somos obrigados a ver e ouvir muitas coisas e agir como se nada tivéssemos visto nem compreendido.

Oh, se você soubesse como são reles estas ninharias das quais alguns fazem tanto caso! O diabo faz uso destes pequenos ardis para deter o progresso de uma alma e obstruir todo o bem que ela é chamada a fazer. Não se deixe enredar nestas teias. Tenha um coração generoso e passe sobre todas essas pequenas misérias, sem sequer percebê-las. Jesus deve ser um atrativo suficiente para que você evite tudo aquilo que esteja fora dEle. Veja tudo como provindo de Sua bondade; para a sua aflição ou consolo, é o Seu amor que ordena tudo para o bem dos seus amigos. Nunca se permita ficar desencorajada. Em poucas horas, ou mesmo em um piscar de olhos, Jesus poderia levá-la ao cume da perfeição que Ele deseja para você. Mas não, Ele prefere os seus próprios esforços e quer que você mesma veja por si como é duro e tortuoso o caminho para a perfeição.

Seja muito generosa. Jesus concedeu mais graças a você do que para muitas outras almas e Ele vos dará ainda mais mas, em troca, quer de você uma alma dedicada a Ele, pronta para qualquer sacrifício. Acima de tudo, Ele quer de você um grande amor e, quando você lutar contra si mesma e suas faltas e atuar com um espírito de profunda fé, então a fé cederá à realidade. Antes que isto aconteça, você deve agir como se Jesus estivesse sempre visível diante de você de forma natural, embora a Sua presença seja sobrenatural. Pregadores e diretores espirituais praticam o bem somente na proporção da sua união com Jesus. Em espírito de oração e de vigília interior, eles devem ter sempre os olhos voltados para Jesus, sacrificando tudo para a salvação das almas confiadas aos seus cuidados.

São verdadeiras as promessas feitas aos que recitam o Rosário de São Miguel?

As promessas são verdadeiras, mas você não deve pensar que as pessoas que o rezam mecanicamente ou sem o devido espírito de santidade são levados do Purgatório de imediato. Isso é falso. São Miguel faz mais do que ele promete, mas ele não tem como aliviar de pronto aqueles que estão condenados a um longo purgatório. Certamente, como recompensa por sua devoção ao Arcanjo, os sofrimentos deles serão abreviados, mas a não a ponto de libertá-los de imediato, isso não. Eu, que costumava dizer isso, posso servir como exemplo. Uma libertação imediata ocorre apenas para aqueles que trabalharam com coragem a sua via de perfeição e têm pouco para expiar no purgatório.

A França é realmente muito culpada, mas infelizmente não é o único país. Neste momento, não há um único reino cristão que não esteja tentando, aberta ou dissimuladamente, expulsar Deus do seu meio. As sociedades secretas e o mestre delas, o diabo, estão excitando e fomentando toda essa revolta.

Agora é a hora do príncipe das trevas. Enquanto ele está no poder, ele pode fazer o seu pior, mas Deus vai mostrar que Ele é o único Mestre. Ele pode ser bem severo ao manifestar o seu poder mas, mesmo em sua ira santa, Jesus ainda é sempre misericordioso.

Por permissão de Deus, as almas no Purgatório sabem o que está acontecendo na terra neste momento, para que possamos rezar por aqueles que padecem grandes necessidades, mas somente as nossas orações não bastam. Se Jesus pudesse encontrar ainda que algumas boas almas que estivessem dispostas a fazer a reparação e desarmar a Sua majestade ultrajada, isso agradaria o Seu Coração Divino ora inundado por tanta amargura. Tais almas podem obter a Sua misericórdia, pois Deus deseja perdoar aqueles que se humilham. Diga isto à Madre Superiora.

São Miguel vai intervir na luta pessoal da Igreja, que será terrivelmente perseguida, mas não aniquilada como anseiam os maus. Ele, como protetor especial da França, vai ajudá-la a tomar sua posição como  filha primogênita da Igreja, porque, apesar de toda a maldade que está disseminada na França, lá ainda existem muitas coisas boas e almas dedicadas. Eu não sei quando São Miguel vai intervir, mas você deve rezar muito por esta intenção. Invoque o Arcanjo, relembre-o dos seus títulos e peça-lhe para interceder junto a Cristo, sobre cujo coração ele tem afluência. Esteja certa de que a Santíssima Virgem não será esquecida. A França é o seu reino, privilegiada sobre todas as outras. Ela vai salvá-la. Aqueles que promovem a oração do Rosário em todos os lugares merecem elogios. Essa oração é o meio mais eficaz no momento de necessidade.

O ato heroico é muito agradável a Deus e de grande ajuda para as almas do Purgatório, e muito útil para as almas generosas que o fazem. Ao dar-se uma parte dos méritos, não se perde, na verdade se ganha. Quanto às indulgências plenárias, eu posso dizer a você que são poucas, muito poucas pessoas que as ganham por completo. Tem que haver uma disposição maravilhosa de coração e de vontade, que é rara, muito mais rara do que você pensa, para que se tenha a remissão de todos os erros cometidos. No Purgatório, recebemos apenas as indulgências aplicadas a nós por meio do sufrágio, como Deus permite de acordo com as nossas disposições.

É verdade que não temos mais inclinação para o pecado, mas também não estamos mais no reinado da Misericórdia, mas sob o da Justiça Divina, de modo que nós recebemos apenas o que Deus quer. Quando uma alma está perto do objeto de seus desejos, ou seja, do Céu, ela pode ser liberada e admitida à alegria eterna pela eficácia de uma indulgência plenária bem feita, ou apenas da metade dela aplicada em sua intenção, mas para outras almas não é assim. Elas, durante a vida, muitas vezes desprezaram ou fizeram pouco uso das indulgências, e Deus, que é sempre justo, premia-as de acordo com suas obras. Elas ganham alguma coisa por isso, por ser agradável a Deus, mas dificilmente o pleno benefício da indulgência'.

Maio de 1880: 'Trabalhe sem cessar e com toda a sua força em sua própria perfeição. Se você quiser, você pode tornar-se o que Jesus quer que você seja, para você ter força suficiente de caráter para superar todas as dificuldades que se interpõem no caminho de sua união com Ele. Sua vida será um martírio contínuo, mas um martírio em que você vai, entretanto, saborear as mais doces alegrias. Quando uma alma sofre, Aquele por quem ela sofre retribui em cada sacrifício, em cada renúncia, com uma nova graça, que a encoraja a ir constantemente em frente em sua devoção. Nada dá maior prazer a Jesus do que ver uma alma que, apesar de todos os obstáculos que obstruem o seu caminho, forçar-se cada vez mais em obter a glória de Deus e promover o Seu amor.

Você está triste em ver como Deus é insultado em Paris, mas os pobres não sabem o que estão fazendo, apesar de todas as suas blasfêmias. Jesus é muito mais ultrajado com os pecados dos consagrados a Ele do que pelos crimes mais violentos daqueles que não são seus amigos. Quantas almas Jesus chamou para uma via de perfeição, mas permaneceram sempre tíbias porque não corresponderam à Graça Divina! É preciso despojar-se e guardar-se em nível extremo para ser feliz no serviço a Deus. Como são poucas as almas contemplativas que existem no mundo e até mesmo nas comunidades religiosas! Cada uma procura a sua própria facilidade e conforto e recusa ser incomodada nas coisas mais ínfimas. E, contudo, Deus seria tão feliz (se assim é possível dizer), se elas fossem capazes de amá-Lo sem restrições e de todo o coração. Se Ele pudesse experimentar tal alegria nesta comunidade, quantas graças Ele não derramaria sobre ela...

Por seu lado, esforce-se duramente em sua auto-conquista e em amar Jesus, pois Ele tem buscado por você por um longo tempo. Jesus quer que você O ame com o amor de uma criança, isto é, com a ternura com que a criança procura agradar aos pais amados. Você ainda se comporta friamente com Jesus e não é isso o que Ele espera de você quando Ele, por sua vez, ama tanto você'.

Agosto de 1880: 'Há um número de ações inúteis, muitas ações diárias completamente fúteis, sem nenhum amor por Jesus ou pureza de intenção. Elas são todas perdidas, uma vez que não têm nenhum valor para o Céu.

Você não condiciona a sua intenção com a pureza que Deus quer. Por exemplo, em vez de oferecer vagamente as suas ações, você poderia fazê-lo com muito mais fruto se você as fizer com intenção mais definida. Quando você tomar as suas refeições, por exemplo, diga: 'Ó meu Jesus, alimenta a minha alma com a sua Graça Divina, enquanto eu alimento o meu corpo'. Quando você lavar o rosto ou as mãos, diga: 'Meu Jesus, purifica a minha alma enquanto eu estou purificando o meu corpo', e assim por diante, para cada uma de suas ações. Acostume-se sempre a falar de coração para coração com Jesus, e deixá-lo ser a mola mestra de tudo o que você faz ou diz. Você me entende?

Você nunca deve se desculpar. Que diferença faz para você se os outros pensam que você é culpada ou se você é inocente? E se você ver que falhou de alguma forma, humilhe-se e guarde silêncio. Nunca se desculpe, mesmo em seus próprios pensamentos'.

02 de setembro de 1880 (Retiro): 'Você disse ao Padre esta manhã que ficou muito incomodada ao me ouvir e que você preferiria ser como todas as outras. Durante o ano, você escreveu a mesma coisa para ele e já disse isso muitas vezes para a Madre Superiora. Por que você se preocupa assim? Não é Deus quem permite tudo? Isso não tem nada a ver com você. Tente tirar proveito dessas graças e pare de reclamar. Você ainda não ouviu tudo o que tem a ouvir e ainda não viu tudo o que tem que ver. Diga isso ao Padre e  diga-lhe também que eu não sou o diabo. Ele não pensa assim. É só você que tem esses medos. Acalme-se e aproveite este retiro. A partir deste momento, você deve mudar por completo. Não dê vazão a todas estas reflexões pensando apenas em si mesma. Isso é auto-estima e nada mais. Em vez disso, abra o seu coração para a graça, apegue-se a Jesus e não desperdice o seu precioso tempo em ficar se perguntando por que isso ou por que aquilo.

Deus planeja dar-lhe grandes graças, e também para quem Ele enviou para lhe dizer o que Ele quer de você. Adore Seus desígnios sem querer procurar entendê-los. O Padre vai dizer muitas coisas nos sermões que são para você, embora ele não vá pensar assim. Jesus permite isso, portanto, os proveitos desse santo retiro serão decisivos para você. São apenas aquelas ações feitas com muito amor e sob o olhar de Deus, desejando apenas fazer a Sua Santa Vontade, que receberão a sua recompensa imediatamente, sem a alma passar pelo Purgatório. Que grande cegueira existe no mundo sobre tudo isso!'

Setembro de 1870 (Final do retiro): 'O retiro terminou para toda a comunidade, mas para você não deve terminar. Você deve ir em frente com isso no seu coração, por todo o ano e sempre, mesmo em meio às suas ocupações mais intensas. Tenha a sua própria capelinha onde você possa lembrar-se e falar de coração para coração com Jesus e nunca perdê-lO de vista. No ano passado, você ficava muito distraída. Agora não pode ser assim. Você prometeu a Deus e também prometeu ao Padre que você está pronta para começar uma nova vida. Você deve, então, manter a sua palavra a qualquer preço. Isso vai custar muito esforço seu, mas vai custar-lhe menos mais tarde? Não, infelizmente, tudo passa tão rápido e você, como o resto das pessoas, não presta atenção a isso. Jesus vem perseguindo você por um longo tempo; e, com certeza, você não vai recusar abandonar-se inteiramente em Suas mãos depois de todas as graças que Ele derramou sobre você. Se você deixar apenas que Ele faça o Seu caminho, você tornar-se-á uma santa e Ele quer que você seja uma grande santa.

Será que o Padre não lhe disse novamente durante estes dias, em nome de Deus, que não há meio termo para você? Quantas pessoas já lhe disseram a mesma coisa e você fica indiferente, embora estes avisos sejam sagrados para você. Parece-me que, desta vez, você prestou mais atenção e ficou mais impressionada com estas palavras, mais uma vez repetidas para você. Pense muitas vezes sobre isso, por que isso é muito grave. Eu já lhe disse que Jesus está à espera de um pequeno esforço de sua parte; Ele fará o resto. Seja muito generosa. O que você não poderia obter de Deus, se você fosse realmente o que Ele queria que você fosse! Que íntima união Ele deseja ter com a sua alma! Que alegrias Ele tem reservado para você, se você quisesse saber apenas como Jesus é bom para você.

Muitas vezes, reflita sobre os dons concedidos por tantas graças recebidas. A Madre Superiora lhe disse que era especialmente para você que ela pediu a vinda do mesmo Padre para o retiro deste ano; e você não acreditou nela. No entanto, era verdade. Ela seguiu a inspiração que lhe foi dada por Deus, que quis que você conhecesse melhor o Padre e para que ele também a conhecesse melhor. Tire proveito por esta graça, que não será a última. Coloque em prática tudo o que ele lhe disse para fazer.Você é livre, por isso abra-lhe o coração para que ele possa lê-lo como um livro. Que ele a conheça assim como eu. Isto não ocorre logo, à primeira vista, mas leva tempo.

Todos esses pensamentos que você teve ontem foram diabólicos. O diabo vai fazer o possível para impedir o bem que será feito, apesar dele. Acalente com grande gratidão todas as graças obtidas no retiro e as tenha sempre em mente. Não tenha medo de sacrificar-se de manhã à noite, de modo a fazer a Vontade de Deus. Ele irá recompensá-la de forma magnífica'.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

26 DE JUNHO - SÃO JOSEMARIA ESCRIVÁ


São Josemaria Escrivá de Balaguer nasceu em 09 de janeiro de 1902 em Barbastro, Espanha. Em 02 de outubro de 1928, durante um retiro espiritual em Madrid, concebeu e fundou o OPUS DEI, atualmente prelazia pessoal da Igreja Católica. A missão específica do Opus Dei é promover, entre homens e mulheres de todo o âmbito da sociedade, um compromisso pessoal de seguir a Cristo, de amor a Deus e ao próximo e de procura da santidade na vida cotidiana. Faleceu em Roma em 26 de junho de 1975. Foi beatificado em 17 de maio de 1992 e canonizado, pelo Papa João Paulo II na Praça de São Pedro, em 06 de outubro de 2002. Sua obra mais conhecida é Caminho, escrita como orientações espirituais em diferentes parágrafos. Outras obras do autor são Forja, Sulco e É Cristo que Passa.

A CRUZ NÃO É UM CONSOLO FÁCIL

'A doutrina cristã sobre a dor não é um programa de fáceis consolações. Começa logo por ser uma doutrina de aceitação do sofrimento, inseparável de toda a vida humana. Não vos posso esconder - e com alegria pois sempre preguei e procurei viver a verdade de que, onde está a Cruz, está Cristo, o Amor - que a dor apareceu muitas vezes na minha vida; e mais de uma vez tive vontade de chorar. Noutras ocasiões, senti crescer em mim o desgosto pela injustiça e pelo mal. E soube o que era a mágoa de ver que nada podia fazer, que, apesar dos meus desejos e dos meus esforços, não conseguia melhorar aquelas situações iníquas.

Quando vos falo de dor, não vos falo apenas de teorias. Nem me limito a recolher uma experiência de outros, quando vos confirmo que, se sentis, diante da realidade do sofrimento, que a vossa alma vacila algumas vezes, o remédio que tendes é olhar para Cristo. A cena do Calvário proclama a todos que as aflições hão-de ser santificadas, se vivermos unidos à Cruz.

Porque as nossas tribulações, cristãmente vividas, se convertem em reparação, em desagravo, em participação no destino e na vida de Jesus, que voluntariamente experimentou, por amor aos homens, toda a espécie de dores, todo o gênero de tormentos. Nasceu, viveu e morreu pobre; foi atacado, insultado, difamado, caluniado e condenado injustamente; conheceu a traição e o abandono dos discípulos; experimentou a solidão e as amarguras do suplício e da morte. Ainda agora, Cristo continua a sofrer nos seus membros, na Humanidade inteira que povoa a Terra e da qual Ele é Cabeça, Primogênito e Redentor'.
                                                                                                                         (É Cristo que Passa)

terça-feira, 25 de junho de 2013

A ORAÇÃO DO PAI NOSSO

A Oração do Pai Nosso nos foi ensinada diretamente por Jesus, diante do pedido dos seus discípulos para lhes ensinar a rezar: 'Quando orardes, dizei: Pai nosso, que estais no Céu, santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade, assim na terra, como no Céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Amém.' (Mt 6, 9)

Pai nosso, que estais no Céu,
santificado seja o vosso nome,
venha a nós o vosso reino,
seja feita a vossa vontade,
assim na terra, como no Céu.

O pão nosso de cada dia nos dai hoje,
perdoai-nos as nossas dívidas,
assim como nós perdoamos os nossos devedores,
e não nos deixeis cair em tentação,
mas livrai-nos do mal. Amém.
Pater noster, qui es in caelis,
Sanctificetur nomen tuum,
Adveniat regnum tuum,
Fiat voluntas tua,
sicut in caelo, et in terra.

Panem nostrum quotidianum da nobis hodie.
Et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris.
Et ne nos inducas in tentationem.
Sed libera nos a malo. Amen.



Pai nosso, que estais no Céu, santificado seja o vosso nome...

Deus é Pai. Deus é nosso Pai por adoção, como criaturas privilegiadas de Sua criação divina. Um Pai que está no Céu, à espera do encontro definitivo com os Seus filhos amados para toda a eternidade. E santificado seja o nome do Pai, do Deus Altíssimo, fonte de todo o bem e de toda a graça, primeira petição (a de dar sempre glórias a Deus) que aniquila a soberba e o orgulho humanos...

venha a nós o vosso reino

Um Reino preparado desde toda a eternidade para os eleitos de Deus. Um Reino. Onde todos terão medidas diferentes de felicidade, mas a plenitude do amor divino como bem comum. Para as almas despojadas de egoísmo, para as almas incensadas de piedade, segunda petição que aniquila os contrafortes e porões da inveja humana...

seja feita a vossa vontade, assim na terra, como no Céu.

Que o bem maior dessa vida, e o tesouro de todas as graças, repousam em cumprir, na terra e no Céu, na primeira ação do dia, na último suspiro no mundo, em todos e em tudo, a Santa Vontade de Deus. Viver para Deus a plenitude de si mesmo e o aniquilamento interior que, nesta terceira petição, aniquila no homem as sombras da cólera, da tibieza e da injustiça. 

O pão nosso de cada dia nos dai hoje

Precisamos do alimento para nutrir o corpo padecente dos sentidos, para nutrir a nossa alma ávida por virtudes; precisamos do pão repartido que nos torna irmãos de todos os homens, ansiamos pelo Pão Vivo Descido dos Céus que nos torna irmãos em Cristo. Nessa quarta petição, a oferta do pão não se subjuga à gula ou à avareza, mas torna-se partilha entre irmãos...

perdoai-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores

Quem perdoa assume dívidas de misericórdia para com Deus. E estas dívidas de misericórdia infinita são trocadas por míseras dívidas humanas, conspurcadas pelos vícios e fragilidades da carne, transformadas em leite e mel nas sendas do perdão definitivo. Nesta quinta petição, devora-nos a dor pelo pecado, o triunfo da caridade, o aniquilamento de um coração duro e de sentimentos de vingança...

e não nos deixeis cair em tentação

Como criaturas e filhos de Deus, somos destinados à glória dos Céus, onde os limites da humanidade se incensam dos mistérios de Deus. Neste caminho de luz, são muitos os atalhos das tentações; nesta vereda de salvação, reluzem febris os mosaicos das ciladas do mal e as miragens do inferno. A sexta petição é uma súplica do viajor, de desfazer-se dos pesos da imprudência e da insensatez, buscando nos seus caminhos as pegadas das sandálias do Senhor...

mas livrai-nos do mal.


A verdadeira libertação consiste em se aniquilar na Graça de Deus. E não sermos escravos dos prazeres e da luxúria do mundo. Eis a glória maior da sabedoria humana: despojar-se de tudo que se almeja para ser moldura vazia para os encantamentos de Deus na construção da imagem final de nossa alma criada à Sua Imagem e Semelhança. Esta é a nossa petição final: sermos em Deus uma coisa só, sem qualquer pátina de nós mesmos...

Amém.


Que assim seja, para todo o sempre. Que o Pai Nosso nos conduza a todos à Casa do Pai.

DA VIDA ESPIRITUAL (53)





Jesus, quando o meu nada se extinguir de vez, que seja no abismo da Vossa Misericórdia... 

domingo, 23 de junho de 2013

'E VÓS, QUEM DIZEIS QUE EU SOU?'

Páginas do Evangelho - Décimo Segundo Domingo do Tempo Comum


Jesus encontra-se em oração em um lugar retirado. O Filho de Deus, em sua condição humana, suplicando graças à Trindade Santa, da qual constitui a Segunda Pessoa, constitui um mistério insondável. E Jesus reza sozinho, em profunda meditação, como a indicar, com soberana clareza, que a revelação extraordinária que será dada a seguir - a identidade do Cristo - perpassa pela oração profunda e pelos mistérios da graça. E, neste espírito de profundo recolhimento interior, que antecede grandes revelações, Jesus indaga aos seus discípulos: 'Quem diz o povo que eu sou?' (Lc 9, 18).

Neste 'certo dia', as mensagens e as pregações públicas de Jesus estavam consolidadas; os milagres e os poderes sobrenaturais do Senhor eram de conhecimento generalizado no mundo hebraico; multidões acorriam para ver e ouvir o Mestre, dominados pela falsa expectativa de encontrar um personagem mítico e um Messias dominador do mundo. Na oração profunda, Jesus afasta-se do júbilo fácil do mundo e das multidões errantes, que O tomam por João Batista, por Elias, por um dos antigos profetas. E se aproxima intimamente daqueles que haverão de ser os primeiros apóstolos da Igreja nascente, compartilhando-lhes na pergunta do juízo de fé:  'E vós, quem dizeis que eu sou?' (Lc 9, 20), a resposta à sua identidade salvífica, saída da boca de Pedro: 'O Cristo de Deus' (Lc 9, 20).

Sim, Jesus é o Cristo de Deus e o seu reino não é deste mundo. Ante a confissão de Pedro, Jesus revela a sua origem e a sua missão e faz o primeiro anúncio de sua Paixão, Morte e Ressurreição: 'O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto e ressuscitar no terceiro dia' (Lc 9, 22). E, um passo além, faz o testemunho da cruz, pela privação do mundo: 'Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia, e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará (Lc 9, 33-24).

Eis aí o legado definitivo de Jesus aos homens de sempre: a Cruz de Cristo é o caminho da salvação e da vida eterna. Tomar esta cruz, não apenas hoje ou em momentos específicos de grandes sofrimentos em nossas vidas, mas sim, todos os dias, a cada passo, em cada caminho, é a certeza de encontrá-lo na glória e da plenitude das bem-aventuranças. A Cruz de Cristo é a Porta do Céu.