O amor que consome a alma interior por dentro manifesta-se externamente pela riqueza, abundância e perfeição das suas obras. A alma interior é serena e pacífica, mas não inativa. Onde quer que esteja, o amor atua. Quanto mais forte, mais poderosa é a sua ação. Ela deseja ardentemente o bem de Deus e trabalha incansavelmente para alcançá-lo. Mesmo privada dos meios ordinários de ação, que são a palavra e as obras, ela continua a atuar, sempre com mais eficiência do que nunca. Ela se recolhe em oração, no sofrimento e no despojamento, e tudo isso em harmonia.
Deus transforma a madeira qualquer em uma flecha que atinge o seu objetivo. Ilumina aqueles que não o conhecem e conforta aqueles que não pensam nele. No silêncio, sem rumor e muitas vezes ignorado, Ele comunica a vida, a verdadeira vida - aquela que não tem fim. Por que se surpreender com essa ação oculta e o seu poder? O amor uniu a alma interior a Deus. Deus lhe deu prometeu tudo e tudo é doar-se a si mesmo. Ele se faz seu prisioneiro e seu cativo. Mas, dando-se e entregando-se assim, nada perde do seu poder e grandeza, e continua sendo sempre o bom Deus, constantemente ocupado em fazer o bem às suas criaturas.
E da mesma forma que Deus e a alma interior possuem os mesmos gostos e sentimentos, também manifestam igualmente o desejo e o poder de fazer o bem. É claro que Deus poderia agir diretamente por si mesmo nas almas; mas Ele prefere não ser apenas o artesão, mas também o cinzel. Pode então a alma experimentar algo mais belo e mais suave do que comungar conscientemente da ação santificadora de Deus?
Como é bom, ó meu Deus, vos servir com mãos cheias! Nada pode ser mais belo para a alma interior do que experimentar essa união íntima com Deus, numa posse mútua e completa. Pode-se dizer que entre Deus e a alma existe a mais perfeita igualdade, uma afeição de pura identidade, não na ordem do ser, mas na ordem do amor. A alma sente o poder divino e a bondade divina. Na união íntima com Deus, e como uma única vontade, ela busca comunicar aos outros tanta riqueza e felicidade. Mas tudo é regulado pela sabedoria da Divina Providência Não compete à alma a livre escolha dos amigos de Deus. O seu ofício consiste em ir ao encontro deles e, ao reconhecê-los, transferir por Vós e convosco, ó meu Deus, os imensos tesouros do vosso amor.
(Excertos da obra 'A Vida Oculta em Deus', de Robert de Langeac; Parte IV - Fecundidade Apostólica; tradução do autor do blog)