FUNDAMENTOS DA IGREJA
São Pedro e São Paulo - Jusepe de Ribera (1591 - 1652)
"Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo" (Mt 16,16).
“Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé” (II Tm 4,7).
Excertos da Homilia do Papa João Paulo II, na Solenidade de São Pedro e São Paulo, em 29/06/2000
Jesus dirige
aos discípulos esta pergunta acerca da sua identidade, enquanto se encontra com
eles na Alta Galileia. Muitas vezes acontecera que foram eles a interrogar
Jesus; agora é Ele quem os interpela. A sua pergunta é específica e espera uma
resposta. Simão Pedro toma a palavra em nome de todos: "Tu és o
Cristo, o Filho de Deus vivo" (Mt 16, 16). A resposta é
extraordinariamente lúcida. Nela se reflete de modo perfeito a fé da Igreja. Nela nos
refletimos também nós. De modo particular, reflete-se nas palavras de Pedro o Bispo de
Roma, por vontade divina, seu indigno sucessor.
2. "Tu
és o Cristo!". À confissão de Pedro, Jesus replica: "És
feliz, Simão, filho de Jonas, porque não foram
a carne nem o sangue quem to revelou, mas o Meu Pai
que está nos céus" (Mt 16, 17).
És feliz,
Pedro! Feliz, porque esta verdade, que é central na fé da Igreja, não podia
emergir na tua consciência de homem, senão por obra de Deus. "Ninguém,
disse Jesus, conhece o Filho senão o Pai, como ninguém conhece o Pai senão o
Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar" (Mt 11, 27). Reflitamos
sobre esta página evangélica particularmente densa: o Verbo encarnado
revelara o Pai aos seus discípulos; agora é o momento em que o próprio Pai lhes
revela o seu Filho unigênito. Pedro acolhe a iluminação interior e proclama com
coragem: "Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo"!
Estas
palavras nos lábios de Pedro provêm do profundo do mistério de Deus. Revelam a
verdade íntima, a própria vida de Deus. E Pedro, sob a ação do Espírito divino,
torna-se testemunha e confessor desta soberana verdade. A sua
profissão de fé constitui assim a sólida base da fé da Igreja:
"Sobre ti edificarei a minha Igreja" (Mt 16, 18). Sobre a
fé e a fidelidade de Pedro está edificada a Igreja de Cristo.
3. "O
Senhor assistiu-me e deu-me forças a fim de que a palavra fosse anunciada por
mim e os gentios a ouvissem" (2 Tm 4, 17). São palavras de Paulo
ao fiel discípulo Timóteo: escutamo-las na Segunda Leitura. Elas dão
testemunho da obra nele realizada pelo Senhor, que o tinha escolhido como
ministro do Evangelho, "alcançando-o" na via de Damasco (cf. Fl 3,
12). Envolvido numa luz fulgurante, o Senhor se lhe havia apresentado,
dizendo: "Saulo, Saulo, por que Me persegues?" (Act 9,
4), enquanto uma força misteriosa o lançava por terra (cf. ibid.,
v. 5).
"Quem
és Tu, Senhor?", perguntara Saulo. "Eu sou Jesus, a quem tu
persegues!" (ibid.). Foi esta a resposta de Cristo. Saulo
perseguia os seguidores de Jesus e Jesus fez-lhe tomar consciência de que era
Ele mesmo a ser perseguido neles. Ele, Jesus de Nazaré, o Crucificado, que os
cristãos afirmavam ter ressuscitado. De Damasco, Paulo iniciará o seu itinerário
apostólico, que o levará a defender o Evangelho em tantas partes do mundo então
conhecido. O seu impulso missionário contribuirá assim para a realização do
mandato de Cristo aos Apóstolos: "Ide, pois, ensinai todas as
nações..." (Mt 28, 19).
4.
Caríssimos Irmãos no Episcopado vindos para receber o Pálio, a vossa presença
põe em eloquente ressalto a dimensão universal da Igreja, que derivou do
mandato do Senhor: "Ide... ensinai todas as nações" (Mt 28,
19). Todas as vezes que vestirdes estes Pálios, recordai, Irmãos caríssimos que,
como Pastores, somos chamados a salvaguardar a pureza do Evangelho e a unidade
da Igreja de Cristo, fundada sobre a "rocha" da fé de Pedro. A isto
nos chama o Senhor; esta é a nossa irrenunciável missão de guias previdentes do
rebanho que o Senhor nos confiou.
5. A plena
unidade da Igreja! Sinto ressoar em mim a recomendação de Cristo. Deus nos
conceda chegarmos quanto antes à plena unidade de todos os crentes em Cristo. Obtenhamos este dom dos Apóstolos Pedro e Paulo, que a Igreja de Roma recorda neste dia,
no qual se faz memória do seu martírio e, por isso, do seu nascimento para a
vida em Deus. Por causa do Evangelho, eles aceitaram sofrer e morrer e se
tornaram partícipes da ressurreição do Senhor. A sua fé, confirmada pelo
martírio, é a mesma fé de Maria, a Mãe dos crentes, dos Apóstolos, dos Santos e Santas de todos os séculos.
Hoje a Igreja proclama de novo a sua fé. É a nossa
fé, a imutável fé da Igreja em Jesus, único Salvador do mundo; em
Cristo, o Filho de Deus vivo, morto e ressuscitado por nós e para a humanidade
inteira.