segunda-feira, 25 de outubro de 2021

O LIVRE ARBÍTRIO E A SALVAÇÃO ETERNA

Por que é aparentemente tão difícil salvar a nossa alma? Por que - como nos é dito - poucas almas são salvas em comparação com o número de almas condenadas? Visto que Deus deseja que todas as almas sejam salvas (I Tm 2, 4), por que Ele não tornou isso um pouco mais fácil, como certamente poderia ter feito?

A resposta rápida e simples é que não é tão difícil salvar a nossa alma. Parte da agonia das almas no Inferno é o conhecimento claro de como teria sido fácil evitar a condenação. Os não católicos condenados podem dizer 'Eu sabia que havia alguma verdade no catolicismo, mas decidi nunca perguntar porque eu podia ver que, no futuro, eu teria que mudar o meu estilo de vida' (Winston Churchill disse uma vez que todo homem encontra a verdade em algum momento de sua vida, mas a maioria deles decide virar para o outro lado.) 

Os católicos condenados podem dizer: 'Deus me deu a fé e eu sabia que tudo que eu precisava era fazer uma boa confissão, mas achei melhor adiar e foi assim que morri com meus pecados ...'. Cada uma das almas no Inferno sabe que eles estão lá por sua própria culpa, por sua escolha. Deus não pode ser culpado por isso. Na verdade, quando você olha para trás em sua vida aqui na terra, você vê claramente o quanto Ele fez para tentar impedir que você se jogasse no Inferno, mas você escolheu livremente seu próprio destino, e Deus respeitou a sua escolha. 

Vamos nos aprofundar um pouco mais sobre o assunto. Sendo infinitamente bom, infinitamente generoso e infinitamente feliz, Deus escolheu - e não era de forma alguma obrigado - criar seres que fossem capazes de compartilhar a sua felicidade. Por ser puro espírito (Jo 4, 24), esses seres deveriam ser espirituais e não apenas materiais, como animais, vegetais ou minerais. Daí a criação de anjos sem matéria, e de homens, com alma espiritual em corpo material. 

Mas esse mesmo espírito pelo qual os anjos e os homens são capazes de compartilhar a sua felicidade divina inclui necessariamente a razão e o livre arbítrio; na verdade é através do livre arbítrio que eles escolhem Deus livremente e tornam-se capazes e participantes de sua felicidade. Mas como essa escolha de Deus pode ser verdadeiramente livre se não há alternativa que nos faça dizer não? Que mérito tem alguém em escolher comprar um volume de Cervantes se só tem Cervantes à venda na livraria? E se a alternativa ruim existe, e se o livre arbítrio é real e não apenas ficção, como é que não haverá anjos ou homens que escolherão o que não é bom?

A pergunta que ainda pode ser feita é como Deus poderia ter permitido que a maioria das almas (Mt 7, 13-14; 20, 16) sofram o terrível castigo de rejeitar o seu amor? Resposta: quanto mais terrível é o Inferno,  com mais certeza Deus oferece a cada homem a graça, a luz e a força necessárias para evitá-lo. No entanto, como explica Santo Tomás de Aquino, a maioria dos homens prefere o agora e os prazeres conhecidos dos sentidos às futuras e desconhecidas alegrias do Paraíso. 

Então, por que Deus associou aos sentidos prazeres tão acentuados? Em parte, sem dúvida, para garantir que os pais tivessem filhos para povoar o Céu, mas também certamente para atribuir mérito muito maior ao ser humano que coloca a busca pelo prazer nesta vida abaixo das verdadeiras alegrias da vida futura, que são realmente as verdadeiras alegrias!! Só precisamos desejá-las com fervor suficiente para arrebatá-las (Mt 11,12)! Deus não é um Deus medíocre e deseja oferecer às almas que o amam um paraíso que tampouco é medíocre!

('Eleison Comments', pelo arcebispo Richard Williamson, 2011)