sábado, 9 de junho de 2018

PÁGINAS CATÓLICAS ESQUECIDAS (I)

Dizem os protestantes que são cristãos, que querem o cristianismo puro. E eu lhes digo que o protestantismo não é cristianismo puro, nem cristianismo de espécie alguma; é pseudo-cristianismo, um cristianismo falso. Nem sequer tem os protestantes direito de se chamarem cristãos.

Há, não o nego, protestantes de boa fé, os quais, equivocados, serão cristãos, e crerão em Jesus Cristo e na sua doutrina, e não refletirão sobre as origens do protestantismo. Não falo desta classe de protestantes que, como se vê, são protestantes por equívoco, por engano e por ignorância. Falo do protestantismo em si e, afirmo sem receio, que o protestantismo não é cristianismo, nem puro, como eles imaginam, nem impuro, nem de espécie alguma.

A Igreja Romana antes de 1521 – Reflita alguns instantes, meu caro amigo, e se é realmente amante da verdade, preste atenção ao que lhe vou dizer. Antes de 1521, a Igreja Romana era igreja verdadeira cristã, e desta verdade ninguém duvidava em todo o mundo. Ela apresentava sua sucessão clara e sem interrupção desde São Pedro, São Lino, Santo Anacleto, e assim toda a série dos papas e sucessores de São Pedro até Leão X. Ninguém se lembrava de protestar, a ninguém ocorria sequer a ideia de duvidar. Todos aqueles que queriam ser cristãos sabiam perfeitamente que a Igreja Romana era a verdadeira Igreja, a religião cristã.

O Grande Argumento – O grande argumento de Santo Agostinho contra os hereges donatistas era este, belíssimo: 'Contai os sacerdotes desde a mesma Sé de Pedro, examinai como se foram sucedendo sem interrupção: esta é a pedra que não vencem as soberbas portas (os soberbos poderes) do inferno, isto é, esta é a Igreja de Cristo, da qual disso o mesmo Jesus Cristo que não a venceriam os poderes do inferno'. E acrescentava: 'O fato que me prende e retém na Igreja Católica é a sucessão de sacerdotes, que nunca foi interrompida desde a mesma Sé de Pedro Apóstolo até o presente episcopado' (queria dizer, desde São Pedro até o Pontífice que, no seu tempo, regia a Igreja). E como Santo Agostinho tem pensado e pensam sempre todos os cristãos, a saber, que a Igreja verdadeira vem dos Apóstolos. Claro está que assim é; de outra maneira não será a Igreja de Cristo, mas outra qualquer. Como porém não pode haver duas Igrejas de Cristo, aquela outra será forçosamente falsa.

Onde estavam os protestantes antes do século XVI? – Onde estava Lutero? Onde Zwinglio? Onde estava Calvino? Onde estava Henrique VIII e todos os demais reformadores?.Eles mesmos, até o dia da sua rebelião, eram católicos, estavam na Igreja Católica e, por isso mesmo, eram cristãos. E de repente, a alturas tantas, que havia de dar na veneta a esses homens escandalosos? Por motivo de melindres, de enfados e de soberbas, emproa-se Lutero e diz com altivez: 'Eu não obedeço à Igreja Católica, separo-me dela! Eu, Martinho Lutero, digo que esse cristianismo não é o verdadeiro! Eu, Martinho Lutero, descobri que essa Igreja Católica, à qual pertence todo o mundo cristão, não é cristã!'

E sem mais, o frade apóstata se separa da Igreja Católica e da videira verdadeira, que trazia sua origem desde os Apóstolos até então havia existido. Atrás de Lutero, se foram precipitando Zwinglio, que era um homem perdido e fora escorraçado de sua paróquia pela sua libertinagem; um Calvino, tipo orgulhoso, marcado com o ferrete de ignomínia e por certo delito nefando; um Henrique VIII, homem de sete mulheres, adúltero e uxoricida; e Carlostadio [Andreas Karlstadt (1480-1541)], de quem, dizia Melanchton [Philipp Mellanchton (1497-1560)],  que era homem brutal, ignorante, mais amigo das tabernas que dos livros; e Ecolampadio [Johannes Ecolampadio (1482-1531)], e Osiandro [Andreas Osiander (1498-1552)], e Bucero [Martín Bucero (1491 -1551)], e Farel [Guilherme Farel (1489 -1565)] e Beza [Theódore de Bèze (1519 -1605)], todos eles conhecidos pela sua vida desregrada e péssimos costumes.

Considere sinceramente este apostolado – Porque se o amigo chega a perceber a força deste argumento, verá como basta para pulverizar o protestantismo. O protestantismo não é religião cristã. Se o fosse, proviria dos Apóstolos, e por meio deles havia de mostrar-nos que está unido a Jesus Cristo. O protestantismo porém tem a data do seu nascimento, que é o ano de 1521. O protestantismo vem de Lutero, e Lutero não é Jesus Cristo; vem de Zwinglio, e Zwinglio não é Jesus Cristo; vem de Henrique VIII, e Henrique VIII não é Jesus Cristo! Meu Deus, que diferentes de Jesus Cristo são todos estes monstros infames, e quão contrários a Ele! Os protestantes são Luteranos, Calvinistas, Anglicanos, Zwinglianos, Metodistas, Batistas, tudo o que quiserem, Cristãos porém de modo nenhum! Apostólicos? De maneira nenhuma!

(Excertos da obra 'Raios de Sol', com correções, do Pe. Armando Lochu, São Paulo, 1933)