O reconhecimento de que o universo está expandindo é uma das maiores descobertas da cosmologia e tem sido comumente descrito pela chamada Lei de Hubble [Edwin Hubble (1889 - 1953)]. Em 1929, analisando as velocidades radiais de algumas galáxias, localizadas a menos de 6 milhões de anos-luz, Hubble descobriu que a relação velocidade-distância das galáxias era aproximadamente linear. Em seguida, extrapolando os estudos a galáxias ainda mais distantes (até 100 milhões de anos-luz) descobriu, em parceria com Milton Humason (1891-1972), que a relação se mantinha relativamente linear. A lei de Hubble (que já foi chamada Lei de Hubble-Humason) é expressa nos seguintes termos: 'As galáxias se afastam umas das outras a uma velocidade proporcional à sua distância'.
A taxa de expansão dessas galáxias entre si corresponde à chamada constante de Hubble. Assim, quando mais afastada de nós estiver uma galáxia, mais rapidamente ele tende a se afastar de nós. Esse, entretanto, não é um verdadeiro movimento das galáxias, mas uma prova de que o universo se expande por inteiro, o que resulta em uma velocidade aparente entre as galáxias. Estas informações estão presentes quase como uma unanimidade em qualquer curso básico de astronomia. Mas a descoberta de que o nosso universo encontra-se em um processo de expansão permanente tem sido atribuída também a outros cientistas, como Friedman, Lemaître, de Sitter, Robertson, Tolman e Eddington. E, com cada vez mais assertividade, a um sacerdote católico, o cientista belga Georges Lemaître (1894 - 1966).
O Pe. Lemaître nasceu em Charleroi (Bélgica), em 1894 e, desde tenra idade, manifestou tanto a vocação do cientista como a sacerdotal. Enquanto estava no seminário, a física moderna vivia a sua fase de ouro, com as descobertas da Mecânica Quântica e da Teoria da Relatividade. Antes e depois da ordenação, Lemaître se especializou e se doutorou em Física, estudando e pesquisando em renomadas universidades como a Universidade de Cambridge na Inglaterra, e o MIT e o Observatório Astronômico de Harvard, nos Estados Unidos.
(Millikan, Pe. Lemaître e Einstein)
Em 1927, portanto, dois anos antes que Hubble, por meio de um desdobramento das equações de Einstein que descreviam o universo em termos de escalas cosmológicas, Lemaître concluiu que o universo estava em processo de expansão. O artigo original infelizmente foi publicado em francês no pouco conhecido 'Anais da Sociedade Científica de Bruxelas', comprovando a linearidade da relação velocidade-distância das galáxias e fornecendo o valor da taxa de expansão dessas galáxias*. A tradução do artigo para o inglês, na renomada revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, não continha algumas equações originais e nem a referência a um universo em expansão no texto. O próprio Lemaître cuidara da tradução e teria feito essas alterações porque pretendia apresentar a proposição da expansão do universo separadamente, em um outro artigo mais detalhado. Neste meio tempo, Hubble publicou primeiro em inglês e as honras do pioneirismo da descoberta foram dadas a ele.
* o valor da taxa de expansão seria da ordem de 675 km/s/Mpc, ao passo que Hubble chegaria a um valor um pouco menor, da ordem de 500 km/s/Mpc. Com os dados atuais, o valor assumido para este parâmetro é da ordem de 68 km/s/Mpc (sendo 1Mpc = 3,26 anos-luz). Isso significa que uma esfera imaginária de raio igual a 1Mpc, expande seu volume a uma velocidade igual a 68km por segundo; outra com raio 10 Mpc, expandiria a uma taxa de 680km por segundo, etc.