segunda-feira, 25 de agosto de 2025

ORAÇÃO PARA PEDIR A SALVAÇÃO


Socorrei-me, Senhor e vida minha, afim de que não venha a morrer na minha maldade. Se não me criásseis, não existiria; criastes-me, passei a existir; se não me dirigirdes, cessarei de existir.

Não foram encantos ou méritos meus que vos compeliram a dar-me o ser, senão a vossa infinita munificência.

Suplico-vos, pois, que aquele mesmo amor que vos compeliu à minha criação possa igualmente compelir-vos a reger-me; porquanto que aproveita haver-vos o vosso amor compelido a criar-me, se eu morrer na minha miséria, privado da direção de vossa destra?

Obrigai-vos, Senhor, a salvar-me com a mesma clemência que vos levou a tirar do nada o que jazia no nada; movei-vos em libertar-me com a mesma caridade que vos moveu em criar-me, pois não é hoje menor este vosso atributo do que era então.

A caridade sois vós mesmos, que sempre sois e não mudais. Não se vos encurtou a mão, que não possais salvar-me; nem se vos endureceu o ouvido, que não mais vos seja dado ouvir-me.

(Santo Agostinho)

domingo, 24 de agosto de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Proclamai o Evangelho a toda criatura!' (Sl 116)

Primeira Leitura (IS 66,18-21) - Segunda Leitura (Hb 12, 5-7.11-13) -  Evangelho (Lc 13,22-30)

  24/08/2025 - VIGÉSIMO PRIMEIRO DOMINGO DO TEMPO COMUM

A PORTA ESTREITA


No Evangelho deste domingo, Jesus é indagado, mais uma vez, por alguém da multidão: 'Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam? (Lc 13, 23). A pergunta já traduz uma questão que perpassava a mente do questionador, dos homens daquela época, da mente dos homens de todos os tempos: 'existe um conceito estabelecido de que é uma minoria dos homens que estão destinados à felicidade eterna com Deus'. Essa questão, se verdadeira ou não, dominou o interesse e o estudo aprofundado de muitos teólogos e Padres da Igreja.

Da posição rigorosa de um São Leonardo do Porto Maurício sobre ‘o pequeno número dos que se salvam’ até manifestações totalmente opostas de que certamente a maior parte dos homens está destinada à Glória Eterna, predominam outras tantas proposições, todas não definidas ou consolidadas nem pela Igreja nem pela Tradição Cristã. Na Suma Teológica, São Tomás de Aquino alinha umas tantas suposições, sem se ater a nenhuma delas: 'a respeito de qual seja o número dos homens predestinados, dizem uns que se salvarão tantos quantos foram os anjos que caíram; outros, que tantos como os anjos que perseveraram; outros, enfim, que se salvarão tantos homens quantos anjos caíram e, ademais, tantos quantos sejam os anjos criados' (Suma Teológica I, q.23).

Ouçamos a resposta de Jesus: 'Fazei todo esforço possível para entrar pela porta estreita. Porque eu vos digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão' (Lc 13, 24). A porta é estreita e muitos não conseguirão entrar. Porta estreita, mas aberta aos que perseverarem na sua fé, em meio às provações e inquietações do mundo. Se muitos não poderão entrar, não significa que muitos não o poderão fazer: 'Virão homens do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e tomarão lugar à mesa no Reino de Deus' (Lc 13, 29). Mas é preciso viver a verdadeira vida em Deus, e fazer 'todo esforço possível' (Lc 13, 24) para seguir os caminhos do bem e viver na graça do Pai.

Jesus é a Porta do Céu. E a porta é estreita porque todos os caminhos da salvação passam por Ele e, passar por Jesus, significa estar livre do pecado mortal e guardar o nosso coração do apelo às paixões desordenadas do mundo. Mas a porta é estreita e fechada aos que escolheram o mundo e aos que, se dizendo de Cristo, cumpriram meros preceitos formais, praticaram a injustiça e o pecado livremente, traíram ou refizeram as palavras e os ensinamentos de Cristo às suas próprias interesses e comodidades: 'Uma vez que o dono da casa se levantar e fechar a porta, vós, do lado de fora, começareis a bater, dizendo: ‘Senhor, abre-nos a porta!’ Ele responderá: ‘Não sei de onde sois’ (Lc 13, 25). E estes ficarão de fora do banquete do Senhor. O número dos que se salvam ou que se perdem não é função de se chegar primeiro ou depois, pois 'há últimos que serão primeiros, e primeiros que serão últimos' (Lc 13, 29), mas das escolhas que fazemos em nossas vidas no caminho para a Jerusalém Celeste.

sábado, 23 de agosto de 2025

TESOURO DE EXEMPLOS II (31/34)

 

31. MALDITA LÍNGUA!

Havia um homem — diz Santo Afonso — que aparentemente levava uma vida boa, mas sempre se confessava mal. Tendo caído gravemente enfermo, foi visitá-lo o pároco, que o exortou a receber os sacramentos, porque se achava em perigo de vida. O doente, porém, não queria saber de confissão.
➖ Mas por que o senhor não quer confessar-se?
➖ Porque estou condenado - respondeu o doente. Nunca confessei com sinceridade os meus pecados e Deus, por castigo dos meus sacrilégios, agora me retira a força de repará-los.
Dito isto, começou a morder a língua, gritando:
➖ Maldita língua, que te recusaste, quando podias, a confessar todos os pecados.
E entregando-se ao desespero, e arrancando pedaços da língua, expirou. O seu corpo preto como carvão exalava um horrível mau cheiro.

32. POR QUE QUERO SER PADRE?

Ao diretor do periódico francês 'Hóstia' foi endereçada uma cartinha comovente que este publicou no número de janeiro de 1924. A carta dizia: 'Tenho dez anos e quero ser padre; mas há dois meses que estou pregado no leito com a perna esquerda engessada. Isso, porém, não é nada; se Deus quiser, hei de ser padre. O senhor talvez me pergunte por que eu quero ser padre e não engenheiro como papai, ou militar com meu tio. Eis: quero ser padre porque quero trabalhar para a glória de Deus, para salvar almas, e principalmente para poder um dia celebrar a santa missa e ter Nosso Senhor em minhas mãos. Penso que não existe coisa mais bela do que ser padre'.
Que belos sentimentos! Oh! se muitos meninos pensassem como este! Teriam mais respeito pela santa missa... e se fariam padres e salvariam muitas almas.

33. PALAVRAS DE UMA ISRAELITA

Numa paróquia da França, onde não havia nenhum sacerdote, um padre italiano encontrou uma pobre senhora que, com verdadeira amargura, se lamentava do abandono espiritual em que vivia aquela população.
Disse ela: 'Olhe, senhor padre, eu sou israelita; contudo quisera que houvesse aqui um padre católico. Quem ensinará aos nossos filhos a obediência aos pais? Quem recordará a estes homens o dever de serem honestos e bons, se não um sacerdote?'

34. MORRAMOS POR JESUS E MARIA!

No trono austro-húngaro, sentava-se naquele tempo uma mulher. Eram dias dolorosos para a gloriosa monarquia. Falecera Carlos VI e, apesar da grande inteligência e do coração magnânimo de sua filha Maria Teresa, os príncipes vizinhos iam-lhe tomando uma por uma as suas províncias e ameaçavam tomar-lhe também o trono. A infeliz rainha estava ameaçada de deixar em herança a seu filho não o diadema imperial, mas uma coroa de espinhos.

Um dia reúne, em Presburgo, os nobres húngaros que lhe haviam permanecido fiéis. Põe-se em pé diante deles e, erguendo nos braços seu filhinho, dirige-lhes estas palavras:
➖ Abandonada de todos, não tenho outro amparo a não ser a vossa generosidade. Meus amigos, em vossas mãos deponho o filho de vossos reis que de vós espera a salvação!
Ao verem aquela infortunada mãe e aquele tenro menino que se lhes confiava, os húngaros ficam comovidos e, cheios de santo entusiasmo, desembanhiaram as suas espadas e gritaram:
➖ Morramos por nossa rainha Maria Teresa!

Ao grito dos heróis, a Hungria sacode a sua letargia; correm os homens às armas, e um exército de vitória em vitória consegue arrojar para fora do país os usurpadores. Dentro de pouco tempo a paz de Aquisgrana devolvia a herança ao filho da grande rainha.

Nestes tempos calamitosos, em que vivemos, de vida materializada, de costumes pervertidos, de fé tíbia, os usurpadores vão se apoderando das formosas conquistas de Jesus Cristo. Quer nos parecer que, nesta hora trágica da humanidade, Maria Santíssima toma o seu Filhinho nos braços, põe-se em pé e nos clama:
➖ É o vosso Jesus, defendei-o!
Com nossas espadas desembainhadas, juremos-lhe lealdade. Prontos a lutar por sua glória, gritemos como os nobres da Hungria:
➖ Morramos por nosso Rei - Jesus Cristo e por nossa Rainha - a Virgem Maria!

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos' - Volume II, do Pe. Francisco Alves, 1960; com adaptações)

sexta-feira, 22 de agosto de 2025

O ECUMENISMO SEGUNDO OS SANTOS

1. 'Em nome do Se­nhor Jesus – reunidos vós e o meu espírito, com o poder de nosso Senhor Jesus – seja esse homem entregue a Satanás, para mortificação do seu corpo, a fim de que a sua alma seja salva no dia do Senhor Jesus' (ICor 5,4-5).

2. 'O castigo os atingirá por duplo motivo: porque eles desconheceram a Deus, afeiçoando-se aos ídolos, e porque são culpados, por desprezo à santidade da religião, de ter feito juramentos enganadores' (Sb 14,30).

3. 'Pensai no que há originado todas as heresias: não encontrareis outra fonte que não a soberba' (Santo Agostinho).

4. 'Não te admires dos hereges que citam as Escrituras, pois o diabo também se serve delas, não para ensinar, mas para enganar' (Santo Ambrósio).

5. 'Lançai fora a ímpia e funesta opinião de que, em qualquer religião, é possível chegar ao caminho da salvação eterna' (Pio XI).

6. 'Aqueles que corrompem famílias não herdarão o Reino de Deus. Se, pois, aqueles que fazem isso com respeito à carne sofreram a morte, quanto mais será o caso daquele que corrompe a fé em Deus, pela qual Jesus Cristo foi crucificado, com doutrinas perversas!' (Santo Inácio de Antioquia).

7. 'Não há pecados mortais mais graves do que os dos hereges que negam Cristo depois de o terem conhecido' (São Beda).

8. 'O verdadeiro ecumenismo, a verdadeira caridade com os que estão no erro, é mostrar-lhes a verdade plena, e rezar por eles – e não com eles – para que se convertam à verdadeira fé' (São Pio X).

9. 'Tenham coragem diante de sua fé e suas convicções. São os maus que devem temer diante dos bons, e não os bons diante dos maus' (São João Bosco).

10. 'Se, para salvar uma vida terrena, é louvável usar a força para impedir um homem de cometer suicídio, não nos seria permitido usar a mesma força — a santa coerção — para salvar a Vida (com maiúscula) de muitos que estão estupidamente empenhados em matar as suas almas?' (São José Maria Escrivá).

OS PAPAS DA IGREJA (XXXI)

 



quinta-feira, 21 de agosto de 2025

FRASES DE SENDARIUM (LVIII)

 

'Ó Maria, no Sangue de Jesus e em tua intercessão, 
está toda a minha esperança!' 

(Santo Afonso de Ligório)

Louvar Nossa Senhora é cantar a obra prima de Deus: que nós  possamos amar Jesus com o amor do coração de Maria!

quarta-feira, 20 de agosto de 2025

SOMOS APENAS A CASA DO HÓSPEDE

A vida interior depende de três condições preliminares: uma correta concepção de Deus; a harmonia psicológica e as circunstâncias do meio. Uma reta concepção da divindade é a condição fundamental de uma vida interior, rica e fecunda. Pois o que faz a força da vida interior não é o isolamento. É o encontro de Deus em nós. Somos apenas a Casa do Hóspede. O isolamento, como tal, poderá ser apenas mau humor, desespero ou misantropia. E nada de mais alongado dessas formas de negação da vida do que a vida interior. 

Esta, ao contrário, é uma intensificação da vida. Para ter vida interior é preciso, antes e acima de tudo, ter vida, crer na vida e viver a vida do modo mais intenso possível. Ora, só pode preencher essas três exigências ou mesmo qualquer delas quem crê em Deus e encontra a Deus não apenas à distância ou de modo abstrato, mas dentro de si mesmo. O ateísmo pode provocar uma intensificação da vida exterior, mas jamais um aumento da vida interior. Para quem não crê em Deus, só há vida no movimento, na agitação, no mundo das ações e dos fatos. O ateu encontra em si o vazio. Pois se vê, naturalmente, como uma consequência e um motor. Mas jamais como a habitação da própria vida. 

Crer em Deus é portanto a condição essencial da vida interior. E ter de Deus uma noção que permita essa intimidade com o mistério, esse diálogo interior, que não anula a Deus em nós, nem nos aniquila em Deus, é a exigência imediata. E por isso é que duas concepções correntes da divindade, o deísmo e o panteísmo, são também tão contrárias ao mundo interior como o ateísmo. O deísmo coloca a Deus como uma categoria abstrata ou então a uma distância tal que o isola do mundo, tanto exterior como interior. Para o deísmo Deus é uma 'categoria do ideal' , como dizia Renan, ou o 'arquiteto do universo', como dizia Voltaire, ou um Alá inacessível e sem comunicação com o mundo, como quer o fatalismo muçulmano. Essa concepção abstracionista de Deus, como uma peça na geometria do universo, aparta Deus de tal maneira do homem que não há meio de o encontrarmos, quando nos fechamos em nós mesmos. O mesmo se dá com o fatalismo maometano, para quem a linha da divindade é como que paralela à linha da humanidade, sem que entre elas existam quaisquer coordenadas. Por mais puro que seja o moteísmo, desde que separa Deus do homem, não permite que a vida divina se insira na vida humana de modo a alimentar o mistério e a abundância da vida interior. 

O mesmo se dá com a concepção oposta, com o panteísmo. Se dissolvemos Deus no universo, o criador nas criaturas, se apenas vemos Deus em toda parte, encarnado na criação, é como se o tivéssemos solitário e separado no céu geométrico ou fatalista. Os dois contrários se encontram. No panteísmo, Deus se perde no universo e não podemos encontrá-lo em nós, como se Ele se tivesse desinteressado da sua própria obra, por culpa das traições do homem. Para que nossa vida interior represente a vida de Deus em nós e o encontro com Ele no fundo de nós mesmos, é preciso que se resguarde simultaneamente a distinção entre Deus e o mundo, contra o panteísmo e a união de Deus com o mundo, pelas idéias criadoras, pelos sacramentos e pela graça constantemente animando a natureza contra o deísmo. 

Só assim podemos ter a Deus em nós, sem que seja uma ilusão ou uma palavra vã. Só assim podemos encontrar, dentro de nós, o próprio criador da vida. E por isso mesmo é que não bastam as virtudes morais para que tenhamos uma vida interior intensa. É mister que as virtudes teologais, a Fé, a Esperança e o Amor, transfiguradas pelos dons do Espírito Santo, venham permitir que encontremos, no fundo de nossas almas, a presença divina. E essa presença é que faz a riqueza da vida interior. É porque há em nós mais do que nós mesmos, que o mundo interior tem um sentido tão grande. É porque Deus pode habitar em nós e pela vida interior podemos mais de perto conviver com Ele, que ir a Deus não é sair de nós, e sim, pelo contrário, entrar em nós. 

A vida religiosa só se torna exterior como uma consequência e não como uma causa. Os dois modos de manifestação exterior dessa vida, a oração e o apostolado, só se justificam, quando alicerçados na vida interior. Pela oração é que nos unimos profundamente a Deus. E a oração coletiva, a oração em união com todos os fiéis, a oração do nosso eu em união com a Igreja, Corpo Místico de Cristo, só tem valor quando precedida e acompanhada, simultaneamente, pela oração interior, pela intimidade com Deus no fundo de nossas almas. De outra forma se opera apenas uma mecanização, uma ritualização da prece, que não possui valor espiritual nenhum. O mesmo ocorre com o apostolado. Só há força de irradiação e de contaminação no apostolado, como extensão do Reino de Deus, a que cada cristão está moralmente obrigado, quando essa irradiação parte de um foco ardente que não pode deixar de expandir-se. E, portanto, de uma vida interior que extravasa naturalmente e por isso mesmo de modo mais fecundo para a extensão da vida sobrenatural em nós, que é Deus em nosso mundo interior. 

Uma falsa concepção da divindade é, por conseguinte, um elemento de enfraquecimento, corrupção e aniquilamento de nossa vida interior. Uma verdadeira concepção de Deus, ao contrário, permite que, dentro de nós, encontremos a fonte de toda a vida, a própria Vida em sua cratera ardente e luminosa. Não há pois, vida interior autêntica sem uma profunda vida religiosa. Deus em nós é a condição primeira e maior dessa reverência que devemos ter para com a nossa vida íntima, de modo a expurgá-la de todos os elementos de desagregação e mantê-la na limpidez e na limpeza com que nos preparamos sempre para receber um hóspede. E Deus é mais, muito mais do que um hóspede em nossa casa íntima. É o próprio dono da casa. E quanto mais nos tornarmos hóspedes do nosso Hóspede, tanto mais veremos crescer e florescer o nosso mundo interior.

(Excertos da obra 'Meditação Sobre o Mundo Interior', de Alceu Amoroso Lima)