terça-feira, 18 de março de 2025

OS GRANDES DOCUMENTOS DA IGREJA (XXIV)

Decreto da Sagrada Congregação dos Ritos
QUEMADMODUM DEUS [08 de dezembro de 1870]

Papa Pio IX (1846 - 1878)

proclamação de São José como Patrono da Igreja


Da mesma maneira que Deus havia constituído José, gerado do patriarca Jacó, superintendente de toda a terra do Egito para guardar o trigo para o povo, assim, chegando a plenitude dos tempos, estando para enviar à terra o seu Filho Unigênito Salvador do mundo, escolheu um outro José, do qual o primeiro era figura, o fez Senhor e Príncipe de sua casa e propriedade e o elegeu guarda dos seus tesouros mais preciosos.

De fato, ele teve como sua esposa a Imaculada Virgem Maria, da qual nasceu pelo Espírito Santo, Nosso Senhor Jesus Cristo, que perante os homens dignou-se ter sido considerado filho de José, e lhe foi submisso. E Aquele que tantos reis e profetas desejaram ver, José não só viu, mas com Ele conviveu e com paterno afeto abraçou e beijou; e além disso, nutriu cuidadosamente Aquele que o povo fiel comeria como pão descido dos céus para conseguir a vida eterna. Por esta sublime dignidade, que Deus conferiu a este fidelíssimo servo seu, a Igreja teve sempre em alta honra e glória o Beatíssimo José, depois da Virgem Mãe de Deus, sua esposa, implorando a sua intercessão em momentos difíceis.

E agora, nestes tempos tristíssimos em que a Igreja, atacada de todos os lados pelos inimigos, é de tal maneira oprimida pelos mais graves males, a tal ponto que homens ímpios pensam ter finalmente as portas do Inferno prevalecido sobre ela, é que os Veneráveis e Excelentíssimos Bispos de todo o mundo católico dirigiram ao Sumo Pontífice as suas súplicas e as dos fiéis por eles guiados, solicitando que se dignasse constituir São José como Patrono da Igreja Católica. Tendo depois no Sacro Concílio Ecumênico do Vaticano insistentemente renovado as suas solicitações e desejos, o Santíssimo Senhor Nosso Papa Pio IX, consternado pela recentíssima e funesta situação das coisas, para confiar a si mesmo e os fiéis ao potentíssimo patrocínio do Santo Patriarca José, quis satisfazer os desejos dos Excelentíssimos Bispos e solenemente declarou-o Patrono da Igreja Católica, ordenando que a sua festa, marcada em 19 de março, seja de agora em diante celebrada com rito duplo de primeira classe, porém sem oitava, por causa da Quaresma.

Além disso, ele mesmo dispôs que tal declaração, por meio do presente Decreto da Sagrada Congregação dos Ritos, fosse tornada pública neste santo dia da Imaculada Virgem Maria, Mãe de Deus e Esposa do castíssimo José. Rejeite-se qualquer coisa em contrário.

segunda-feira, 17 de março de 2025

SOBRE O FUNDAMENTO DA FÉ

A fé é o fundamento da esperança, é uma certeza a respeito do que não se vê. Foi ela que fez a glória dos nossos antepassados. Pela fé reconhecemos que o mundo foi formado pela Palavra de Deus e que as coisas visíveis se originaram do invisível.

Pela fé Abel ofereceu a Deus um sacrifício bem superior ao de Caim, e mereceu ser chamado justo, porque Deus aceitou as suas ofertas. Graças a ela é que, apesar de sua morte, ele ainda fala. Pela fé Henoc foi arrebatado, sem ter conhecido a morte: e não foi achado, porquanto Deus o arrebatou; mas a Escritura diz que, antes de ser arrebatado, ele tinha agradado a Deus. Ora, sem fé é impossível agradar a Deus, pois para se achegar a ele é necessário que se creia primeiro que ele existe e que recompensa os que o procuram. 

Pela fé na Palavra de Deus, Noé foi avisado a respeito de aconteci­mentos imprevisíveis; cheio de santo temor, construiu a arca para salvar a sua família. Pela fé ele condenou o mundo e se tornou o herdeiro da justificação mediante a fé. Foi pela fé que Abraão, obedecendo ao apelo divino, partiu para uma terra que devia receber em herança. E partiu não sabendo para onde ia. Foi pela fé que ele habitou na terra prometida, como em terra estrangeira, habitando aí em tendas com Isaac e Jacó, coer­deiros da mesma promessa. Porque tinha a esperança fixa na cidade assentada sobre os fundamentos (eternos), cujo arquiteto e construtor é Deus.

Foi pela fé que a própria Sara cobrou o vigor de conceber, apesar de sua idade avançada, porque acreditou na fidelidade daquele que lhe havia prometido. Assim, de um só homem quase morto nasceu uma posteridade tão numerosa como as estrelas do céu e inumerável como os grãos de areia da praia do mar.

Foi na fé que todos (nossos pais) morreram. Embora sem atingir o que lhes tinha sido prometido, viram-no e o saudaram de longe, confessando que eram só estrangeiros e peregrinos sobre a terra. Dizendo isto, declaravam que buscavam uma pátria. E se se referissem àquela donde saíram, ocasião teriam de tornar a ela. Mas não. Eles aspiravam a uma pátria melhor, isto é, à celestial. Por isso, Deus não se envergonha de ser chamado o seu Deus; de fato, ele lhes preparou uma cidade.

Foi pela sua fé que Abraão, submetido à prova, ofereceu Isaac, seu único filho, depois de ter recebido a promessa e ouvido as palavras: Uma posteridade com o teu nome te será dada em Isaac. Estava ciente de que Deus é poderoso até para ressuscitar alguém dentre os mortos. Assim, ele conseguiu que seu filho lhe fosse devolvido. E isso é um ensinamento para nós!

Foi inspirado pela fé que Isaac deu a Jacó e a Esaú uma bênção em vista de acontecimentos futuros. Foi pela fé que Jacó, estando para morrer, abençoou cada um dos filhos de José e venerou a extremidade do seu bastão.Foi pela fé que José, quando estava para morrer, fez menção da partida dos filhos de Israel e dispôs a respeito dos seus despojos.

Foi pela fé que os pais de Moisés, vendo nele uma criança encantadora, o esconderam durante três meses e não temeram o edito real. Foi pela fé que Moisés, uma vez crescido, renunciou a ser tido como filho da filha do faraó, preferindo participar da sorte infeliz do povo de Deus, a fruir dos prazeres culpáveis e passageiros. Com os olhos fixos na recompensa, considerava os ultrajes por amor de Cristo como um bem mais precioso que todos os tesouros dos egípcios. 

Foi pela fé que deixou o Egito, não temendo a cólera do rei, com tanta segurança como estivesse vendo o invisível. Foi pela fé que mandou celebrar a Páscoa e aspergir (os portais) com sangue, para que o anjo exterminador dos primogênitos poupasse os filhos de Israel. Foi pela fé que os fez atravessar o mar Vermelho, como por terreno seco, ao passo que os egípcios que se atreveram a persegui-los foram afogados.

Foi pela fé que desabaram as muralhas de Jericó, depois de rodea­das por sete dias. Foi pela fé que Raab, a mere­triz, não pereceu com aqueles que resistiram, por ter dado asilo aos espias. Que mais direi? Irá me faltar o tempo, se falar de Gedeão, Barac, Sansão, Jefté, Davi, Samuel e dos profetas. Graças à sua fé conquistaram reinos, praticaram a justiça, viram se realizar as promessas. Taparam bocas de leões, extinguiram a violência do fogo, escaparam a fio de espada, triun­faram de enfermidades, foram corajosos na guerra e puseram em debandada exércitos estrangeiros. Devolveram vivos às suas mães os filhos mortos. Alguns foram torturados, por recusarem ser libertados, movidos pela esperança de uma ressurreição mais gloriosa.

Outros sofreram escárnio e açoites, cadeias e prisões. Foram apedrejados, massacrados, serrados ao meio, mortos a fio de espada. Andaram errantes, vestidos de pele de ovelha e de cabra, necessitados de tudo, perseguidos e maltratados, homens de que o mundo não era digno! Refugiaram-se nas solidões das montanhas, nas cavernas e em antros subterrâneos. E, no entanto, todos estes mártires da fé não conheceram a realização das promessas! Porque Deus, que tinha para nós uma sorte melhor, não quis que eles chegassem sem nós à perfeição (da felicidade).

(Hb 11,1-40)

domingo, 16 de março de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'O Senhor é minha luz e salvação' (Sl 26)

Primeira Leitura (Gn 15,5-12.17-18) - Segunda Leitura (Fl 3,17-4,1) -  Evangelho (Lc 9,28b-36)

  16/03/2025 - SEGUNDO DOMINGO DA QUARESMA

A TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR

Jesus acabara de fazer o anúncio de sua Paixão aos discípulos e eles experimentavam, naquele momento, o peso das tribulações e das adversidades futuras que certamente teriam de enfrentar. O Filho do Homem se revelara vítima pascal e não senhor de um exército dominador: o Reino de Deus não é deste mundo e a redenção teria que perpassar necessariamente pela subida do Calvário. Aqueles homens precisavam, mais do que nunca, da fortaleza da graça sobrenatural. E, três deles, Pedro, Tiago e João, a receberiam com abundância extrema.

Neste Segundo Domingo da Quaresma, meditamos esta extraordinária experiência sobrenatural vivida pelos três apóstolos no alto do Monte Tabor. Jesus os levou consigo para subir a montanha 'para rezar' (Lc 9,28), pois é a oração que nos coloca plenamente sob o repositório das graças divinas. A fragilidade humana tomou frente a princípio pelo sono de todos e pelas palavras desarticuladas de Pedro: 'vamos fazer três tendas' (Lc 9,33). Mas esvaiu-se de vez quando os três apóstolos foram inundados pela claridade luminosa emanada dos corpos gloriosos de Jesus, Moisés e Elias.

Naquele lugar, e ainda que por um breve tempo, os três apóstolos puderam contemplar na terra a glória de Deus. E testemunhar que a história humana evolui pelos tempos confirmada pela Lei (presença de Moisés) e pelos Profetas (presença de Elias). A Transfiguração do Senhor é um evento extraordinário da manifestação divina de Jesus aos homens, um olhar da história humana no espelho da eternidade.

'Este é o meu Filho, o escolhido. Escutai o que Ele diz' (Lc 9, 35). Solícitos na oração, firmes na fé, tornamo-nos oratórios dignos das abundantes graças de Deus. Somos movidos, pela coragem, a superar as adversidades, as tentações, as dores humanas; pela fortaleza, impõe-se seguir em frente, avançar para águas mais profundas, subir a montanha das graças e da transfiguração de nossa imensa fragilidade humana. E também, descer outra vez a montanha, voltar ao caminho de Jerusalém e do Gólgota, repetir quantas vezes, e por quanto tempo for, o itinerário contínuo de enfrentar e vencer o mundo, oportuna ou inoportunamente, até o Tabor definitivo de nosso encontro com Deus na eternidade.

sábado, 15 de março de 2025

TESOURO DE EXEMPLOS II (01/03)


01. FOI AVISADO DE QUE MORRERIA

Rapazes, até quando continuareis zombando da autoridade de Deus? Até quando desprezareis o seu preceito de ir à missa aos domingos, à confissão, à comunhão? Tendes saúde, sois fortes, alegres, adulados, amados de vossos pais, estimados por  vossoss colegas, bem sucedidos nos estudos, ricos e afortunados... Mas uma coisa eu vos digo: de Deus não se zomba. Se nao fazeis caso da religião, se não cumpris vossos deveres morais e religiosos, se continuais na libertinagem, nao duvideis que o castigo virá. Como? De que maneira? Quando? A estas perguntas nao podemos responder: sao mistérios de Deus. O certo, porém, é que Ele anunciou temerosos castigos contra os profanadores dos dias santos. E esses castigos, nesta ou na outra vida, virão infalivelmente. 

Escutem o que nos diz o grande doutor da Igreja Santo Afonso de Ligório. Era - diz ele - o dia 24 de novembro de 1668. Dois amigos passeavam juntos nos jardins de Palermo. Um deles, chamado  César, era ator dramático. 
➖ César - disse-lhe o amigo - você está triste!
➖ Muito. 
➖ Por que não conversas?
➖ Não posso. 
➖ Tens alguma preocupação?
➖ Sim; e muito grande. 
➖ Podes contar o que é?
➖ Sim; como és um bom amigo, vou abrir-te o meu coração...

Já sabes que minha mãe era uma pessoa muito boa. Educou-me na piedade. Mais tarde, porém, abandonei tudo e tornei-me um libertino. Dediquei-me ao teatro; tenho tido muitos sucessos, mas, também, tenho dado muitos escândalos. Um dia, estando eu em Nápoles, passei por uma praça abarrotada de povo. Parei. Era um missionário que estava pregando. Ouvi-lhe o sermão sobre o inferno e tive medo. Converti-me, confessei-me com ele e, ao terminar, ele me disse: 'Não voltes ao vômito do pecado, porque, se voltares (digo-te da parte de Deus), só terás mais doze anos de vida'. 
➖ Isso te disse o padre?
➖ Exatamente.
➖ E por que hoje te lembras disso?
➖ Porque hoje, exatamente, vai fazer doze anos...
➖ Qual nada! Não  te vejo com cara de moribundo!
➖ Sim; hoje estou melhor do que nunca.
➖ Então; deixa-te de tolices. Eu te profetizo, sem ser missionário, que esta noite terás um dos maiores sucessos de tua vida. E viverás ainda muito, até caires de velhice.
➖ Deus te ouça, meu amigo; mas asseguro-te que tenho medo, muito medo. 

Chegou a noite. Começou a peça de teatro. César atuava no palco e todos o aplaudiam em delírio. De repente, cambaleou e caiu. Acercaram-se dele e tentaram erguê-lo... mas estava morto! Realizava-se, assim, a tremenda profecia do missionário. 

Nao sou eu, mas o próprio Deus, quem vos diz: Rapazes, frequentai a missa! Porque, se não observais a minha lei e se  profanais as minhas festas, contra vós enviarei terríveis castigos quer nesta, quer na outra vida.

02. QUEM QUER DISCUTIR RELIGIÃO?

Viajava num trem um douto e modesto frade. Ele lia o seu Breviário e nao prestava atenção ao que os vizinhos conversavam, embora tivesse percebido que andavam a gracejar sobre a religião. Uma senhora, mais petulante que os outros, intrigada com o silêncio do frade, voltou-se para ele e disse:
➖ Saiba, padre, que eu sou incrédula!
➖ Então a senhora não admite a revelação divina?
➖ Ah! não; isso de revelação divina não passa de fábula. 
➖ A senhora já estudou algumas provas da revelação?
➖ Não, senhor.
➖ Terá lido alguma obra de São Tomás ou de Balines?
➖ Também não.
➖ E não passou a vista por alguma obra de apologética fundamental, a de Hilaire, por exemplo?
➖ Não, senhor. 
➖ Pois então, minha senhora, permita-me que lhe diga a verdade: a senhora não é incrédula, a senhora é analfabeta!

É por aí mesmo. Certos 'incrédulos' posam como tal, dizendo ou escrevendo disparates contra a religião e, no entanto, não passam de pobres analfabetos em assuntos religiosos. Que lhes aproveite, pois, esta lição!

03. AH! ESSAS MODAS...

Regressava das missões da África um missionário de barba longa e veneranda. Todos no navio o tratavam com respeito. Durante o dia, enquanto os passageiros se divertiam, ele permanecia no convés, rezando e contemplando o belo céu. Comparava a sua paz com aquele torvelinho, cada dia mais se alegrava de ter escolhido a melhor parte, ou seja, o sacerdócio. 

Uma tarde desceu para a refeição e modestamente ocupou o seu lugar à mesa. Em frente dele, sentou-se uma senhora vestida muito à moda, isto é, quase como Eva no paraíso. O missionário lançou-lhe um olhar sério e guardou silêncio. Durante toda a refeição, manteve-se constrangido. Compreendia a obrigação que tinha de advertir aquela senhora, mas queria fazê-lo de forma caridosa e polida para que sua repreensão fosse mais eficaz. 

Ainda estava indeciso, quando chegou a sobremesa. A senhora tomou delicadamente uma maçã da bandeja e a ofereceu ao padre.
➖ Desculpe-me, senhora - disse ele - mas preferiria que a senhora mesmo a comesse. 
➖ Não não, faça-me o favor...
➖ De modo nenhum, pois é à senhora que compete comer essa maçã.
➖ Mas por que, padre?
➖ Para que se repita o caso descrito na Sagrada Escritura, lembra-se?: Eva tomou uma maçã, levou-a à boca e deu-lhe uma dentada e, então, abriram-se-lhe os olhos e compreendeu que estava desnuda!

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos' - Volume II, do Pe. Francisco Alves, 1960; com adaptações)

QUANDO O INFERNO É AQUI...

Recentes ataques contra cristãos e contra a etnia muçulmana alauita resultaram no massacre de centenas de civis na Síria, pelas forças de segurança da maioria sunita, alçada ao poder em dezembro de 2024, quando a perseguição religiosa tornou-se recorrente no país. Este fato corrobora o aumento crescente da perseguição aos cristãos em todo o mundo, traduzida pela realidade atual e brutal desta hierarquia anti-cristã apresentada na lista abaixo.

(clicar sobre a imagem)
portasabertas.org.br

sexta-feira, 14 de março de 2025

AS GRANDES HERESIAS: ARIANISMO

Na construção da civilização cristã, certamente um dos primeiros e mais relevantes debates foi pautado sobre a divindade de Jesus Cristo. Jesus era Deus ou não? Jesus era realmente Deus feito homem ou Jesus era um ser criado? O Arianismo é a heresia que nega a divindade de Cristo e proclama que Jesus foi criado por Deus como um primeiro ato da sua criação e que a natureza de Cristo era distinta da natureza divina. A heresia recebeu esta designação por ter sido defendida inicialmente por Ário, um sacerdote de Alexandria/ Egito no início do século IV.

O arianismo proclama, portanto, que Jesus é um ser criado finito com alguns atributos divinos, mas Ele não é eterno e não é divino em Si mesmo, ou seja, Jesus não seria nem totalmente Deus e nem totalmente humano e as limitações de Jesus como ser humano não têm impacto em sua natureza divina ou em sua eternidade. Nesta concepção, Jeus seria subordinado a Deus Pai, negando por princípio a consubstancialidade entre Deus Pai e Jesus Cristo. Assim, a mera interpretação direta e equivocada dos textos bíblicos revela aos arianistas que Jesus não podia 'sentir fome' ou 'ficar cansado' sendo Deus, como se tais expressões não fossem asserivas à natureza humana de Jesus. Nesta mesma linha de contestação, a expressão 'filho primogênito' dada a Jesus seria uma prova incontestável de que o Filho de Deus seria um ato de criação direta de Deus Pai.

O sofisma absurdo de Ário foi que ele ter imposto a noção de tempo à natureza eterna (atemporal) de Deus. É óbvio que, para a natureza humana, o pai existe antes do filho, pois os humanos vivem no tempo. Gerar para os seres humanos é um ato embutido no tempo e na matéria. Como Deus é eterno, o Pai dá a sua natureza espiritual, divina e atemporal ao seu Filho Unigênito e, portanto, 'antes' e 'depois' não têm nenhum sentido. Uma vertente da heresia, chamada semi-arianismo, buscou abrandar a posição ariana original, proclamando que o Filho era de uma substância semelhante ao Pai, ainda que não fosse 'da mesma substância'.

A 'lógica' herética de Ário rapidamente ganhou muitos seguidores e teve um impacto tremendo na Igreja Primitiva. O Arianismo não se limitou a influenciar vários teólogos dos primeiros séculos do cristianismo; seu impacto afetou o próprio aparecimento da Ortodoxia (o ordenamento padrão da Fé Católica) e constituiu a primeira grande controvérsia da Fé Cristã a ser decidida por um concílio ecumênico. Depois de ser excomungado em Alexandria, Ário fugiu para Cesareia, onde o bispo Eusébio o ajudou a espalhar os seus erros. Em 325, no Primeiro Concílio de Niceia, o arianismo foi condenado formalmente como heresia, proclamando que o Filho é consubstancial ao Pai, como posteriormente explicitado no Credo Niceno-Constantinopolitano.  Santo Atanásio foi o grande defensor da Fé Cristã contra essa heresia que permaneceu ainda como uma séria  ameaça à Igreja por mais de meio século e que ainda permanece viva atualmente, em muitos aspectos, entre os ensinamentos dos mórmons e das Testemunhas de Jeová.

quinta-feira, 13 de março de 2025

BREVIÁRIO DIGITAL - ICONOLOGIA CRISTÃ (IV)

 

CRISTO DA HUMILDADE PERFEITA

Quando exposto ao jugo do orgulho e da vanglória, responda com a nudez da imolação e da pobreza. Diante às perseguições injustas, recline a cabeça. Face às zombarias, infâmias e falsas acusações, cruze os braços sobre o coração e receba com humilde acolhimento o que é oferecido com despeito. E quando confrontado com a pergunta: 'Até onde devo tolerar tamanha vergonha e tanta injustiça?', lembre-se de que a resposta é 'até o túmulo'. O ícone nos direciona e nos incentiva buscar pela humildade a perfeita Imitação de Cristo.