sexta-feira, 14 de março de 2025

AS GRANDES HERESIAS: ARIANISMO

Na construção da civilização cristã, certamente um dos primeiros e mais relevantes debates foi pautado sobre a divindade de Jesus Cristo. Jesus era Deus ou não? Jesus era realmente Deus feito homem ou Jesus era um ser criado? O Arianismo é a heresia que nega a divindade de Cristo e proclama que Jesus foi criado por Deus como um primeiro ato da sua criação e que a natureza de Cristo era distinta da natureza divina. A heresia recebeu esta designação por ter sido defendida inicialmente por Ário, um sacerdote de Alexandria/ Egito no início do século IV.

O arianismo proclama, portanto, que Jesus é um ser criado finito com alguns atributos divinos, mas Ele não é eterno e não é divino em Si mesmo, ou seja, Jesus não seria nem totalmente Deus e nem totalmente humano e as limitações de Jesus como ser humano não têm impacto em sua natureza divina ou em sua eternidade. Nesta concepção, Jeus seria subordinado a Deus Pai, negando por princípio a consubstancialidade entre Deus Pai e Jesus Cristo. Assim, a mera interpretação direta e equivocada dos textos bíblicos revela aos arianistas que Jesus não podia 'sentir fome' ou 'ficar cansado' sendo Deus, como se tais expressões não fossem asserivas à natureza humana de Jesus. Nesta mesma linha de contestação, a expressão 'filho primogênito' dada a Jesus seria uma prova incontestável de que o Filho de Deus seria um ato de criação direta de Deus Pai.

O sofisma absurdo de Ário foi que ele ter imposto a noção de tempo à natureza eterna (atemporal) de Deus. É óbvio que, para a natureza humana, o pai existe antes do filho, pois os humanos vivem no tempo. Gerar para os seres humanos é um ato embutido no tempo e na matéria. Como Deus é eterno, o Pai dá a sua natureza espiritual, divina e atemporal ao seu Filho Unigênito e, portanto, 'antes' e 'depois' não têm nenhum sentido. Uma vertente da heresia, chamada semi-arianismo, buscou abrandar a posição ariana original, proclamando que o Filho era de uma substância semelhante ao Pai, ainda que não fosse 'da mesma substância'.

A 'lógica' herética de Ário rapidamente ganhou muitos seguidores e teve um impacto tremendo na Igreja Primitiva. O Arianismo não se limitou a influenciar vários teólogos dos primeiros séculos do cristianismo; seu impacto afetou o próprio aparecimento da Ortodoxia (o ordenamento padrão da Fé Católica) e constituiu a primeira grande controvérsia da Fé Cristã a ser decidida por um concílio ecumênico. Depois de ser excomungado em Alexandria, Ário fugiu para Cesareia, onde o bispo Eusébio o ajudou a espalhar os seus erros. Em 325, no Primeiro Concílio de Niceia, o arianismo foi condenado formalmente como heresia, proclamando que o Filho é consubstancial ao Pai, como posteriormente explicitado no Credo Niceno-Constantinopolitano.  Santo Atanásio foi o grande defensor da Fé Cristã contra essa heresia que permaneceu ainda como uma séria  ameaça à Igreja por mais de meio século e que ainda permanece viva atualmente, em muitos aspectos, entre os ensinamentos dos mórmons e das Testemunhas de Jeová.