domingo, 22 de maio de 2022

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Que as nações vos glorifiquem, ó Senhor, que todas as nações vos glorifiquem!' (Sl 66)

 22/05/2022 - Sexto Domingo da Páscoa

26. 'A MINHA PAZ VOS DOU' 


Neste Sexto Domingo da Páscoa, somos chamados a viver plenamente a presença de Jesus Ressuscitado em nossas vidas, como testemunhas da fé e da fidelidade às suas Santas Palavras: 'Se alguém me ama, guardará a minha palavra' (Jo 14, 23). Eis aí o legado de Jesus aos seus discípulos: a graça e a salvação são frutos do amor, que é manifestado em plenitude, no despojamento do eu e na estrita submissão à vontade do Pai: 'Desci do Céu não para fazer a minha vontade, mas sim a d’Aquele que me enviou' (Jo 6, 38) e 'Amai ao Senhor vosso Deus com todo vosso coração, com toda vossa alma e com todo vosso espírito. Este é o maior e o primeiro dos mandamentos' (Mt 22, 37-38).

A graça nasce, manifesta-se e se alimenta do nosso amor a Deus, pois 'quem não me ama, não guarda a minha palavra ' (Jo 14, 24). Mas este amor terá de ser libertado do mero sentimento arraigado às mazelas humanas para ser transformado em um amor espiritual sem medidas, desapegado dos valores mundanos. Este amor não provém dos sentimentos efêmeros, nem dos sentidos, nem das paixões desregradas, nem dos abismos volúveis das sensibilidades e das vontades humanas.

Este amor não se alimenta da paz do mundo, mas da paz que emana do próprio Coração de Deus: 'Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; mas não a dou como o mundo.' (Jo 14, 27). Na paz de Deus, na confiança absoluta às divinas promessas, não há porque se perturbar ou se intimidar a fragilidade do pobre coração humano. A presença permanente do Cristo Ressuscitado em nossas vidas vem por meio da manifestação do Espírito Santo, o Defensor, conforme as palavras de Jesus: 'o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito' (Jo 14, 26).

Sob a ação do Espírito Santo, o amor humano pode trilhar livremente o caminho da santificação, até o impossível, até os limites de um despojamento absoluto do próprio ser para a plena manifestação em si da glória de Deus, quando enfim, 'o meu Pai o amará, e nós (o Pai, o Filho e o Espírito Santo) viremos e faremos nele a nossa morada' (Jo 14, 23).

sábado, 21 de maio de 2022

O DOGMA DO PURGATÓRIO (XXXII)

 

Capítulo XXXII

Razões da Expiação no Purgatório - Pecados de uma Vida de Prazer e de Conforto - Venerável Francisca de Pamplona e o Homem Mundano - Santa Elisabeth da Hungria e a Alma da sua Mãe 

Em nossos dias, há cristãos que são totalmente alheios à cruz e à mortificação de Jesus Cristo. Sua vida adocicada e sensual consiste apenas em uma sequência de prazeres; temem tudo o que é dado ao sacrifício; dificilmente observam as leis restritas do jejum e da abstinência prescritas pela Igreja. Uma vez que não se submetem a nenhuma penitência neste mundo, que reflitam sobre o que lhes será infligido no próximo. É certo que nesta vida mundana não fazem nada além de acumular dívidas. Como se omitem em fazer penitência, nenhuma parte da dívida é paga, e chega-se então a um montante assustador à imaginação. 

A venerável serva de Deus, Francisca de Pamplona, que foi favorecida com diversas visões do Purgatório, certa vez viu um homem mundano que, embora fosse um cristão razoavelmente bom, passou cinquenta e nove anos no Purgatório por causa da sua busca sempre por comodidade e conforto. Outro passou ali trinta e cinco anos pelo mesmo motivo; um terceiro, que tinha uma paixão muito forte pelo jogo, ficou detido nessa prisão por sessenta e quatro anos. Infelizmente esses cristãos imprudentes permitiram que as suas dívidas permanecessem diante de Deus e muitas delas, que poderiam tão facilmente ter pago por obras de penitência, tiveram que ser pagas depois por anos de tortura. 

Se Deus é severo para com os ricos e os que buscam prazeres do mundo, não o será menos para com os príncipes, magistrados, pais e para todos aqueles que têm o encargo das almas e autoridade sobre os outros. Um julgamento particularmente severo, diz Ele mesmo, será para aqueles que governam (Sb 6,6). Laurence Surius relata [na obra Merveilles já citada previamente] como uma ilustre rainha, após sua morte, deu testemunho dessa verdade. Na Vida de Santa Elisabeth, Duquesa da Turíngia, conta-se que esta serva de Deus perdeu a mãe, Gertrudes, Rainha da Hungria, por volta do ano 1220. Com o espírito de uma santa filha cristã, deu abundantes esmolas, redobrou-se em orações e mortificações e esgotou todos os recursos da sua caridade para o alívio dessa querida alma. Mas Deus revelou a ela que isso ainda não era o bastante. 

Uma noite, a  falecida apareceu para ela com um semblante triste e definhado; colocou-se de joelhos ao lado da cama e disse-lhe, chorando: 'Minha filha, você vê a seus pés a sua mãe sobrecarregada de sofrimento. Venho implorar-vos que multipliqueis os vossos sufrágios, para que a Divina Misericórdia me livre dos terríveis tormentos que padeço. Ó quão são dignos de pena aqueles que exercem autoridade sobre os outros... Expio agora as faltas que cometi no trono. Ó minha filha, rogo-te pelas dores que suportei ao trazer-te ao mundo, pelos cuidados e ansiedades que me custou a tua educação, conjuro-te a livrar-me dos meus tormentos'. Elizabeth, profundamente emocionada, levantou-se de imediato e fez, a partir de então, severas penitências físicas, implorando a Deus, entre lágrimas, que tivesse misericórdia da alma de sua mãe, Gertrudes, e que assim rezaria até obter a sua libertação. As suas orações foram ouvidas.

Observemos aqui que, no exemplo anterior, fala-se apenas do caso de uma rainha; quão mais severamente serão julgados e tratados os reis, os magistrados e todos os superiores cuja responsabilidade e influência sobre outros homens são muito maiores!

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog)

sexta-feira, 20 de maio de 2022

A IGREJA CATÓLICA É UNA E INTOLERANTE (III)

'Sempre será mais prudente gritar antes de ser ferido. Não adianta gritar uma vez que se está ferido, especialmente se alguém está mortalmente ferido. Fala-se de impaciência, mas os bons historiadores sabem muito bem que as tiranias muitas vezes foram possíveis porque o os cidadãos agiram tarde demais. É quase sempre primordial resistir à tirania antes que ela exista. Não vale a pena dizer, com otimismo desapegado, que a coisa ainda está indefinida. Um golpe de machado só pode ser evitado enquanto ainda está no ar'.

('Eugenia e Outras Desgraças' - G.K. Chesterton)


'Incomoda-te ferir, criar divisões, demonstrar intolerância... e vais transigindo em posições e pontos (não são graves, garantes-me!) que têm consequências nefastas para muitos. Desculpa a minha sinceridade: com esse modo de atuar, tu, a quem tanto incomoda a intolerância, cais na intolerância mais néscia e prejudicial - a de impedir que a verdade seja proclamada'.

(Sulco, São Josemaria Escrivá)

BREVIÁRIO DIGITAL - LADAINHA DE NOSSA SENHORA (VI)

 

Deus Pai do Céu, tende piedade de nós.

(Ilustração da obra 'Litanies de la Très-Sainte Vierge', por M. L'Abbé Édouard Barthe, Paris, 1801)


quinta-feira, 19 de maio de 2022

SOBRE O APEGO À REPUTAÇÃO


As pessoas que são frágeis e sensíveis em relação à sua reputação assemelham-se às que, ao mais leve sinal de incômodo, tomam medicamentos, pois pensam que assim mantêm a sua saúde, enquanto, na prática, a deterioram. Aquelas que querendo manter tão delicadamente a sua reputação a perdem inteiramente, porque, com esta sensibilidade, tornam-se bizarras, obstinadas, insuportáveis e provocam a malícia dos maledicentes.

A reputação é simplesmente como uma insígnia que dá a conhecer onde está alojada a virtude. Portanto, a virtude deve ser preferida em tudo e em toda parte. Se as pessoas dizem que és um hipócrita porque te submetes à devoção; se és tido como homem de pouca fibra porque perdoaste a injúria, não faças caso de tudo isto.

Porque esses julgamentos são feitos por pessoas néscias e estúpidas na tentativa de que a pessoa perca a sua reputação, mas nem por isso deve abandonar a virtude nem afastar-se do seu caminho, tanto mais que se deve preferir o fruto às folhas, isto é, o bem interior e espiritual a todos os bens exteriores. É preciso ser zeloso, mas não idólatra de nossa reputação; e como não se deve ofender os olhos dos bons, também não se deve querer contentar o dos malignos.

(Excertos da obra 'Introdução à Vida Devota, de São Francisco de Sales)

quarta-feira, 18 de maio de 2022

A IGREJA CATÓLICA É UNA E INTOLERANTE (II)

Se eu não fosse católico e estivesse à procura da verdadeira Igreja no mundo de hoje, iria em busca da única Igreja que não se dá bem com o mundo. Por outras palavras, procuraria uma Igreja que o mundo odiasse. Faria isto porque se Cristo ainda está presente em qualquer uma das igrejas do mundo de hoje, Ele deve ainda ser odiado como o era quando estava na Terra, vivendo na carne.

Se quiser encontrar Cristo hoje procure uma Igreja que não se dá bem com o mundo. Procure uma Igreja que é odiada pelo mundo, como Cristo foi odiado pelo mundo. Procure pela Igreja que é acusada de estar desatualizada com os tempos modernos, como Nosso Senhor foi acusado de ser ignorante e nunca ter aprendido. Procure pela Igreja que os homens de hoje zombam e acusam de ser socialmente inferior, assim como zombaram de Nosso Senhor porque Ele veio de Nazaré. Procure pela Igreja que é acusada de estar com o diabo, assim como Nosso Senhor foi acusado de estar possuído por Belzebu, príncipe dos demônios.

Procure a Igreja que, em tempos de intolerância (contra a sã doutrina), os homens dizem que deve ser destruída em nome de Deus, do mesmo modo que os que crucificaram Cristo julgavam estar prestando serviço a Deus. Procure a Igreja que o mundo rejeita porque ela se proclama infalível, pois foi pela mesma razão que Pilatos rejeitou Cristo: por Ele se ter proclamado como sendo 'A Verdade'. Procure a Igreja que é rejeitada pelo mundo, assim como Nosso Senhor foi rejeitado pelos homens. Procure a Igreja que, no meio das confusões de opiniões, os seus membros a amem do mesmo modo que amam a Cristo e respeitem a sua voz como a voz do seu Fundador.

E aí começará a suspeitar que se essa Igreja é impopular com o espírito do mundo é porque ela não pertence a este mundo. E, uma vez que pertence a outro mundo, será infinitamente amada e infinitamente odiada como foi o próprio Cristo. Pois só aquilo que é de origem divina pode ser infinitamente odiado e infinitamente amado. Portanto, essa Igreja é divina .

(Arcebispo Fulton J. Sheen, Radio Replies, Vol. 1)

BREVIÁRIO DIGITAL - LADAINHA DE NOSSA SENHORA (V)


Cristo, atendei-nos.

(Ilustração da obra 'Litanies de la Très-Sainte Vierge', por M. L'Abbé Édouard Barthe, Paris, 1801)