sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

A VIDA OCULTA EM DEUS: DIGNIDADE E HARMONIA DA ALMA INTERIOR


Quando nos deparamos com uma alma interior, ficamos impressionados com a sua dignidade, desenvoltura e graça. Acreditaríamos que ela teria sangue real, o que em si é verdade, uma vez que ela é filha de um rei e, portanto, é rainha. Jesus não é o Rei dos reis? Ela não é a sua esposa? Por que, então, tal digressão? Na alma interior, tudo participa dessa nobreza divina que é revelada por suas palavras, seus gestos, seus movimentos, seus menores passos, que são polidos, discretos e firmes. Ao caminhar, não faz alarde e nem atrai a atenção e, no entanto, agrada, atinge o seu fim sem esforço. Mal notamos o que está fazendo, suas ações são ordenadas e silenciosas, têm o senso de medida. Age como se tem que agir. Fala como convém falar. Mantém-se calada no momento adequado. Mas o exterior é apenas um reflexo. O interior é o que Deus vê e o que realmente importa e o que é verdadeiramente belo. Um interior ordenado como um todo e em tudo.

Nesta alma, até os menores movimentos interiores são delicados e agradam por completo ao vosso julgamento. Todos eles são inspirados pelo vosso amor, princípio e fim de suas aspirações. E também a sua regra. Sim, todos os pensamentos desta alma são pensamentos de amor e o mesmo se dá com todos os seus desejos e com todas as suas ações.

Uma harmonia profunda reina nesta alma. O Espírito Santo, um artista com mãos hábeis, sempre a moldou. Da vontade, plástica como o barro e firme como o ouro, Ele fez um colar irrepreensível que mantém todas as outras faculdades perfeitamente unidas entre si. As faculdades sensíveis servem às faculdades internas e as obedecem. Estas, por sua vez, estão sob o comando daquela vontade na qual o amor divino penetrou tão profundamente. E todo esse mundo interior assim ordenado tem algo firme, gracioso e forte que agrada aos vossos olhos, ó meu Deus; é como uma participação nessa vossa simplicidade harmoniosa que sustenta - atrevo-me a dizê-lo - as vossas inumeráveis ​​e infinitas perfeições. Basta uma única palavra para expressar tudo quando vos consideramos sob esse ponto de vista: 'caridade' - a mesma palavra que distingue e nos revela o íntimo da alma interior.

(Excertos da obra 'A Vida Oculta em Deus', de Robert de Langeac; Parte III - A União com Deus; tradução do autor do blog)

PORQUE HOJE É A PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS (E DO ANO)

 

DEVOÇÃO DAS NOVE PRIMEIRAS SEXTAS - FEIRAS 

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

A ADORAÇÃO DOS TRÊS REIS MAGOS


No Evangelho de Mateus (Mt 2, 1ss), encontra-se a narrativa geral da adoração ao Menino-Deus pelos três reis magos do Oriente. Melquior, o mais velho, ofereceu ouro como presente a Jesus, símbolo de realeza; Gaspar, o mais moço, ofereceu incenso, símbolo da divindade de Cristo, enquanto Baltasar, o mouro, ofertou mirra, em adoração à humanidade de Jesus. A mirra, como símbolo de sofrimento, torna-se uma pré-anunciação e uma profecia das dores da Paixão do Senhor.





Mas, além da narrativa tão sobejamente conhecida, é importante ressaltar que o ato de adoração dos reis magos diante o Menino-Deus foi um ato de prostração de joelhos. Três reis, de origens incertas e longínquas, símbolos e representantes dos reis de toda a terra e da soberania sobre todas as nações (Sl 71, 11), dotados de poderes humanos e munidos de graças sobrenaturais, prostraram-se diante de Jesus Menino e O adoraram. De joelhos, de joelhos no chão.

Um antigo Pai da Igreja dizia que o diabo não tem joelhos e, em sendo assim, não pode ajoelhar-se, não pode prostrar-se, não pode adorar. A essência do mal é a não adoração, é a não prostração de joelhos. Que a Festa da Epifania do Senhor nos lembre deste grande exemplo dos reis magos: prostrar-nos de joelhos diante o Menino-Deus; dar-nos conta que temos joelhos e somos Filhos da Luz e, assim, inclinados e reclinados diante de Deus, possamos ser testemunhas e ofertas puras de sua santa redenção.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

O NEGÓCIO CHAMADO SALVAÇÃO ETERNA

O negócio da eterna salvação é, sem dúvida, o mais importante, e, contudo, é aquele de que os cristãos mais se esquecem. Não há diligência que não se efetue, nem tempo que não se aproveite para obter algum cargo, ganhar uma demanda, ou contratar tal casamento… Quantos conselhos, quantas precauções se tomam! Não se come, não se dorme! E para alcançar a salvação eterna? Que se faz? Que procedimento se segue?

Nada se costuma fazer; ao contrário, tudo o que se faz é para perdê-la, e a maior parte dos cristãos vive como se a morte, o juízo, o inferno, a glória e a eternidade não fossem verdades da fé, mas apenas fábulas inventadas pelos poetas. Quanta aflição quando se perde um processo ou uma colheita e quanto cuidado para reparar o prejuízo! Quando se extravia um cavalo ou um cão, quantas diligências para encontrá-los. Muitos perdem a graça de Deus, e entretanto dormem, riem-se e gracejam! Coisa estranha, por certo! Não há quem não core ao passar por negligente nos negócios do mundo, e a ninguém causa rubor olvidar o grande negócio da salvação, que mais do que tudo importa. Confessam que os santos são verdadeiros sábios porque só trabalharam para salvar-se, enquanto eles atendem a todas as coisas do mundo, sem se importar com sua alma. Mas vós — disse São Paulo — vós, meus irmãos, pensai unicamente no magno assunto de vossa salvação, pois constitui o negócio da mais alta importância.

Persuadamo-nos, pois, de que a felicidade eterna é para nós o negócio mais importante, o negócio único, o negócio irreparável se não o pudermos realizar. É, sem contestação, o negócio mais importante, porque é das mais graves consequências, em vista de se tratar da alma, e, perdendo-se esta, tudo está perdido. Devemos estimar a alma — disse São João Crisóstomo — como o mais precioso dos bens. Para compreender esta verdade, basta considerar que Deus sacrificou seu próprio Filho à morte para salvar as nossas almas (Jo 3,16). O Verbo Eterno não vacilou em resgatá-las com seu próprio sangue (1Cor 6,20). De maneira que — disse um Santo Padre, — parece que o homem vale tanto como Deus.

Daí esta palavra de Nosso Senhor Jesus Cristo: 'Que dará o homem em troco de sua alma'? (Mt 16,26). Se tem tamanho valor a alma, qual o bem do mundo que poderá dar em troca o homem que a vir a perder? Razão tinha São Filipe Néri em chamar de louco ao homem que não trabalhava na salvação de sua alma. Se houvesse na terra homens mortais e homens imortais e aqueles vissem estes se aplicarem afanosamente às coisas do mundo, procurando honras, riquezas e prazeres terrenos, dir-lhes-iam sem dúvida: 'Quanto sois insensatos! podeis adquirir bens eternos e só pensais nas coisas miseráveis e passageiras, condenando-vos a penas eternas na outra vida! Deixai-os, pois; nesses bens só devem pensar os desventurados que, como nós, sabem que tudo se acaba com a morte!'

Isto, porém, não é assim: todos somos imortais. Como se haverá, portanto, aquele que, por causa dos miseráveis prazeres do mundo, perder a sua alma? Como se explica — disse Salviano — que os cristãos creiam no juízo, no inferno, na eternidade, e vivam sem receio de nenhuma dessas coisas? Como?

Ah! meu Deus! De que me serviriam tantos anos de vida que me concedestes para adquirir a salvação eterna? Vós, Redentor meu, resgatastes minha alma com o vosso sangue e me entregastes para que a salvasse; entretanto eu apenas me tenho aplicado em perdê-la, ofendendo-vos, que tanto me haveis amado! De todo o coração, agradeço-vos que ainda me concedeis tempo para reparar o mal que fiz.

Perdi a alma e vossa santa graça; arrependo-me, Senhor, e detesto sinceramente os meus pecados. Perdoai-me, pois que estou firmemente resolvido a perder todos os bens, inclusive a vida, mas não quero perder a vossa amizade. Amo-vos sobre todas as coisas e tenho a firme vontade de amar-vos sempre, ó Sumo Bem, digno de infinito amor! Ajudai-me, meu Jesus, a fim de que esta minha resolução não seja semelhante a meus propósitos anteriores, que foram outras tantas infidelidades. Fazei que morra, antes que volte a ofender-vos e deixe de vos amar. Ó Maria, minha esperança, salvai-me, obtendo para mim o dom da perseverança!

(Excertos da obra 'Preparação para a Morte', de Santo Afonso Maria de Ligório)

terça-feira, 4 de janeiro de 2022

O DOGMA DO PURGATÓRIO (XXII)

Capítulo XXII

Duração do Purgatório - Posições dos Doutores da Igreja - São Berlamino - Estimativas do Padre Mumford

A fé não nos ensina a duração precisa das dores do Purgatório. Sabemos, de maneira geral, que estes tempos são medidos pela Justiça Divina e que são proporcionais ao número e à gravidade das faltas que ainda não foram expiadas. Deus pode, entretanto, sem prejuízo de sua Justiça, abreviar esses sofrimentos aumentando a sua intensidade; a Igreja Militante também pode obter a remissão das dores pelo Santo Sacrifício da Missa e por meio de outros sufrágios oferecidos pelos defuntos.

Segundo a opinião comum dos Doutores da Igreja, as dores expiatórias são de longa duração. 'Não há dúvida', diz São Belarmino (De Gemitu, lib. 2, c. 9), 'que as dores do Purgatório não se limitam a dez ou vinte anos mas que, em alguns casos, duram séculos inteiros. Mas, admitindo que a sua duração não exceda dez ou vinte anos, podemos considerar que seja nada suportar por dez ou vinte anos os mais excruciantes sofrimentos sem o mínimo alívio? Se um homem tivesse a garantia de que sofreria alguma dor violenta nos pés, na cabeça ou nos dentes pelo espaço de vinte anos, sem nunca poder dormir ou repousar o mínimo possível, não preferiria morrer mil vezes a viver um tal estado? E se a escolha fosse dada a ele entre isso e uma vida miserável e a perda de todos os seus bens temporais, hesitaria em fazer o sacrifício de sua fortuna para se livrar de tal tormento? Encontraremos então alguma dificuldade em abraçar o trabalho e a penitência para nos libertar dos sofrimentos do Purgatório? Teremos receio de praticar os exercícios mais dolorosos como vigílias, jejuns, esmolas, longas orações e, principalmente, contrição, acompanhados de suspiros e lágrimas?'

Essas palavras abrangem toda a doutrina dos santos e teólogos. O Padre Mumford, da Companhia de Jesus, em seu Tratado sobre a Caridade para com os Defuntos, baseia a longa duração do Purgatório em um cálculo de probabilidade, que daremos em substância. Ele parte do princípio de que, segundo as palavras do Espírito Santo, o justo cai sete vezes ao dia (Pv 24,16), ou seja, mesmo aqueles que se aplicam mais perfeitamente ao serviço de Deus, apesar de toda boa vontade, comete um grande número de faltas aos olhos infinitamente puros de Deus. Só temos que entrar em nossa própria consciência e então analisar, diante de Deus, os nossos pensamentos, nossas palavras e obras, para nos convencermos deste triste efeito da miséria humana. Ó como é fácil não ter respeito na oração, preferir nossa comodidade ao cumprimento do dever, pecar por vaidade, pela impaciência, pela sensualidade, por pensamentos e palavras pouco caridosos, por falta de conformidade com a vontade de Deus... O dia é longo; não é muito provável que até mesmo uma pessoa virtuosa pode cometer, não digo sete, mas vinte ou trinta deste tipo de faltas e imperfeições por dia?

Façamos então uma estimativa moderada e supor que se cometa cerca de dez faltas por dia; ao final de 365 dias, a soma será de 3.650 faltas. Vamos arredondar, para facilitar o cálculo, considerando 3.000 faltas por ano. Ao final de dez anos, serão 30.000 e, ao final de 20 anos, 60.000. Supondo que, dessas 60.000 faltas, tenham sido expiadas a metade por penitência e boas obras, ainda restarão 30.000 faltas para serem expiadas.

Continuemos a nossa hipótese: você morre após estes vinte anos de vida virtuosa e se coloca diante de Deus com uma dívida de 30.000 faltas, que você deve expiar no Purgatório. Quanto tempo você precisará para realizar essa expiação? Vamos supor que, em média, cada falta requeira uma hora de expiação. Esta medida é muito moderada, se julgarmos pelas revelações dos santos; mas, de qualquer forma, isso implica um purgatório de 30.000 horas. Agora você sabe quanto tempo essas 30.000 horas representam? Três anos, três meses e quinze dias. Assim, um bom cristão que zela por si mesmo, que se aplica à penitência e às boas obras, encontra-se sujeito por princípio a três anos, três meses e quinze dias de purgatório.

O cálculo anterior é baseado em uma estimativa tolerante ao extremo. Agora, se você estende a duração da dor e, em vez de uma hora, estima em um dia a expiação de cada falta; e se, em vez de não ter apenas pecados veniais, tem-se ainda perante Deus uma dívida resultante de pecados mortais, mais ou menos numerosos que anteriormente se cometeu; se for atribuído em média, como diz Santa Francisca Romana, sete anos para a expiação de cada pecado mortal, remido quanto à culpa, quem não vê que se chegaria a uma duração espantosa e que a expiação poderia facilmente prolongar-se por muitos anos e mesmo por séculos? Anos e séculos de tormentos! Ó se apenas pensarmos nisso, com que cuidado não iríamos evitar os menores defeitos e com que fervor não iríamos praticar penitências para dar satisfação a Deus neste mundo!

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog)

segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

UM SANTO DE DEVOÇÃO PARA 2022!

 
Acesse o link 

 http://saintsnamegenerator.com/index.php 

e escolha um santo de devoção para o ano de 2022 e reze todos os dias do Novo Ano pela intercessão dele junto a Deus em seu favor e de sua família.

Santo(a) de devoção ... rogai por mim, rogai por nós,
rogai pela minha família. Amém!

domingo, 2 de janeiro de 2022

EVANGELHO DO DOMINGO

'As nações de toda a terra hão de adorar-vos, ó Senhor!' (Sl 71)

 02/01/2022 - Solenidade da Epifania do Senhor

6.  EPIFANIA DO SENHOR 


Epifania é uma palavra grega que significa 'manifestação'. A festa da Epifania - também denominada pelos gregos de Teofania, significa 'a manifestação de Deus'. É uma das mais antigas comemorações cristãs, tal como a Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo - era celebrada no Oriente já antes do século IV e, somente a partir do século V, começou a ser celebrada também no Ocidente.

Na Anunciação do Anjo, já se manifestara a Encarnação do Verbo, revelada porém, a pouquíssimas pessoas: provavelmente apenas Maria, José, Isabel e Zacarias tiveram pleno conhecimento do nascimento de Deus humanado. O restante da humanidade não se deu conta de tão grande mistério. Assim, enquanto no Natal, Deus Se manifesta como Homem; na Festa da Epifania, esse Homem se revela como Deus. Na pessoa dos Reis Magos, o Menino-Deus é revelado a todas as nações da terra, a todos os povos futuros; a síntese da Epifania é a revelação universal da Boa Nova à humanidade de todos os tempos.

A Festa da Epifania, ou seja, a manifestação do Verbo Encarnado, está, portanto, visceralmente ligada à Adoração dos Reis Magos do Oriente: 'Ajoelharam-se diante dele e o adoraram' (Mt, 2, 11). Deus cumpre integralmente a promessa feita à Abraão: 'em ti serão abençoados todos os povos da terra ' (Gn, 12,3) e as promessas de Cristo são repartidas e compartilhadas entre os judeus e os gentios, como herança comum de toda a humanidade. A tradição oriental incluía ainda na Festa da Epifania, além da Adoração dos Reis, o milagre das Bodas de Caná e o Batismo do Senhor no Jordão, eventos, entretanto, que não são mais celebrados nesta data pelo rito atual.

A viagem e a adoração dos Reis Magos diante o Menino Deus em Belém simbolizam a humanidade em peregrinação à Casa do Pai. Viagem penosa, cansativa, cheia de armadilhas e dificuldades (quantos não serão os nossos encontros com os herodes de nossos tempos?), mas feita de fé, esperança e confiança nas graças de Deus (a luz da fé transfigurada na estrela de Belém). Ao fim da jornada, exaustos e prostrados, os reis magos foram as primeiras testemunhas do nascimento do Salvador da humanidade, acolhido nos braços de Maria: 'Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe' (Mt, 2, 11): o mistério de Deus revelado de que não se vai a Jesus sem Maria. Com Jesus e Maria, guiados também pela divina luz emanada do Espírito Santo, também nós haveremos de chegar definitivamente, um dia, à Casa do Pai, sem ter que voltar atrás 'seguindo outro caminho' (Mt, 2, 12).