sábado, 16 de junho de 2018

UM PADRE CATÓLICO E A EXPANSÃO DO UNIVERSO

O reconhecimento de que o universo está expandindo é uma das maiores descobertas da cosmologia  e tem sido comumente descrito pela chamada Lei de Hubble [Edwin Hubble (1889 - 1953)]. Em 1929, analisando as velocidades radiais de algumas galáxias, localizadas a menos de 6 milhões de anos-luz, Hubble descobriu que a relação velocidade-distância das galáxias era aproximadamente linear. Em seguida, extrapolando os estudos a galáxias ainda mais distantes (até 100 milhões de anos-luz) descobriu, em parceria com Milton Humason (1891-1972), que a relação se mantinha relativamente linear. A lei de Hubble (que já foi chamada Lei de Hubble-Humason) é expressa nos seguintes termos: 'As galáxias se afastam umas das outras a uma velocidade proporcional à sua distância'. 


A taxa de expansão dessas galáxias entre si corresponde à chamada constante de Hubble. Assim, quando mais afastada de nós estiver uma galáxia, mais rapidamente ele tende a se afastar de nós.  Esse, entretanto, não é um verdadeiro movimento das galáxias, mas uma prova de que o universo se expande por inteiro, o que resulta em uma velocidade aparente entre as galáxias. Estas informações estão presentes quase como uma unanimidade em qualquer curso básico de astronomia. Mas a descoberta de que o nosso universo encontra-se em um processo de expansão permanente tem sido atribuída também a outros cientistas, como Friedman, Lemaître, de Sitter, Robertson, Tolman e Eddington. E, com cada vez mais assertividade, a um sacerdote católico, o cientista belga Georges Lemaître (1894 - 1966).


O Pe. Lemaître nasceu em Charleroi (Bélgica), em 1894 e, desde tenra idade, manifestou tanto a vocação do cientista como a sacerdotal. Enquanto estava no seminário, a física moderna vivia a sua fase de ouro, com as descobertas da Mecânica Quântica e da Teoria da Relatividade. Antes e depois da ordenação, Lemaître se especializou e se doutorou em Física, estudando e pesquisando em renomadas universidades como a Universidade de Cambridge na Inglaterra, e o MIT e o Observatório Astronômico de Harvard, nos Estados Unidos.

(Millikan, Pe. Lemaître e Einstein) 

Em 1927, portanto, dois anos antes que Hubble, por meio de um desdobramento das equações de Einstein que descreviam o universo em termos de escalas cosmológicas, Lemaître concluiu que o universo estava em processo de expansão. O artigo original infelizmente foi publicado em francês no pouco conhecido 'Anais da Sociedade Científica de Bruxelas', comprovando a linearidade da relação velocidade-distância das galáxias e fornecendo o valor da taxa de expansão dessas galáxias*. A tradução do artigo para o inglês, na renomada revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, não continha algumas equações originais e nem a referência a um universo em expansão no texto. O próprio Lemaître cuidara da tradução e teria feito essas alterações porque pretendia apresentar a proposição da expansão do universo separadamente, em um outro artigo mais detalhado. Neste meio tempo, Hubble publicou primeiro em inglês e as honras do pioneirismo da descoberta foram dadas a ele.

* o valor da taxa de expansão seria da ordem de 675 km/s/Mpc, ao passo que Hubble chegaria a um valor um pouco menor, da ordem de 500 km/s/Mpc. Com os dados atuais, o valor assumido para este parâmetro é da ordem de 68 km/s/Mpc (sendo 1Mpc = 3,26 anos-luz). Isso significa que uma esfera imaginária de raio igual a 1Mpc, expande seu volume a uma velocidade igual a 68km por segundo; outra com raio 10 Mpc, expandiria a uma taxa de 680km por segundo, etc.

sexta-feira, 15 de junho de 2018

'ONDE ERREI, SENHOR?'

Onde errei, Senhor?
se falei o Vosso nome e, em Vosso nome, falei aos homens,
se me alegrei de falar por Vós,
se me ufanei de gritar por Vós,
se me vangloriei de usar o Vosso Santo Nome.

Onde errei, Senhor?
quando me ouviram, não foi por falar de Vós?
quando me temeram, não foi por gritar por Vós?
quando me louvaram, não foi por cantar por Vós?
quando me seguiram, não foi por Vossa causa?

Onde errei, Senhor?
quando empunhei a minha bíblia, não foi por Vós?
quando dominei os evangelhos, não fui outro evangelista?
quando decorei cada versículo da bíblia, não fui outro Jesus?
quando persegui os ímpios não estavas comigo?

Onde errei, Senhor?
não pratiquei a caridade como ensinastes?
não ataquei com rigor Vossos inimigos?
não admoestei tantos a abandonar os vícios?
não prometi o inferno a tantos que não Vos seguissem?

Onde errei, Senhor?
não prometi riqueza aos que Vos servissem?
não profetizei tantas coisas em Vosso Nome?
não pratiquei curas e milagres nas minhas pregações?
não expulsei demônios no meu templo?

Onde errei, Senhor?
se tomei a Vossa Palavra como única medida,
se naveguei toda a minha vida como pastor e guia,
se Vos tomei como única mediação e salvação,
se combati com rigor a igreja que ousava ser a Vossa,
se neguei as heresias dos que Vos chamavam Senhor, Senhor!

Onde errei, Senhor?
se não pratiquei o culto blasfemo de imagens,
se não rezei para santos e santas de altares,
se não me apeguei a sacramentos inventados,
se nunca ousei chamar Nossa Senhora de Mãe de Deus...

Por que, Senhor, Vós me condenastes?

(Um trovão terrível irrompeu e fez calar o ímpio desgraçado)

'Maldito! Nunca fizestes nada que fosse da Vontade do Meu Pai, que está nos Céus; tudo isso que fizestes serviu para a vossa vanglória humana e não para a Minha Glória. Não servistes à Minha Igreja, Santa e Católica, mas a denegristes com a vossa torpe heresia. Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticastes a iniquidade!'

quinta-feira, 14 de junho de 2018

O QUE É A FÉ?


A Fé não é um sentimento, a Fé não é da ordem natural.

A Fé é um assentimento de nosso espírito à verdade revelada por Deus; é um bem que não deriva de nossa natureza, mas lhe é dado para curá-la.

A Fé é essencialmente purificante – Fide purificans corda – Purificando pela Fé os corações (At 15,9).

A Fé esclarece o espírito e o despoja do erro; levanta o homem caído, recoloca-o no caminho de Deus: a Fé põe as bases da obra da salvação, encaminha o homem para o bem.

A Fé é essencialmente fortificante. Confortus fide, diz São Paulo (Rm 4,20); e ainda, Fide stas – se estás em pé, é pela Fé (id. 11,20).

A Fé é vivificante: 'o justo vive da Fé', diz São Paulo (Gl 3,11).

A Fé é o princípio de um mundo novo, regenerado em Jesus Cristo Nosso Senhor; a Fé é a luz que anuncia os esplendores da eternidade onde veremos Deus; a Fé é a mãe da santa Esperança e da divina Caridade.

A Fé é sobre a terra, a fonte pura de todas as verdadeiras consolações. É ainda São Paulo quem nos diz: Simul consolari per eam quae invicem est, fidem vestram atque meam –Consolemo-nos juntos na Fé que nos é comum, a vós e a mim (Rm 1,12)... e ainda: Saluta eos qui nos amant in fide – Saudai os que nos amam na Fé.

(Excertos da obra 'Cartas Sobre a Fé', do Pe. Emmanuel - André)

terça-feira, 12 de junho de 2018

ORAÇÃO PARA VIVER COM ALEGRIA

Senhor, dai-me uma boa digestão e também algo para digerir.

Dai-me a saúde do corpo e o bom humor necessário para mantê-la.

Dai-me Senhor, uma alma simples que saiba aproveitar tudo o que é bom e que nunca se assuste diante do mal, mas, pelo contrário, encontre sempre a maneira de por cada coisa no seu lugar.

Dai-me uma alma que não conheça o tédio, as murmurações, as mágoas e as lamentações; e não permitais que me preocupe excessivamente com a coisa complicada demais que se chama 'eu'.

Dai-me Senhor, o senso do bom humor.

Concedei-me a graça de apreciar tudo o que é divertido para descobrir na vida um pouco de alegria e também para partilhá-la com os outros. 

Amém.

(São Thomas More)

segunda-feira, 11 de junho de 2018

CATECISMO MAIOR DE PIO X (VII)

Os hebreus sob os juízes

56. Tendo os hebreus liderados por Josué apoderado da Palestina, não mais a abandonaram; sendo regidos segundo a lei de Moisés, ou pelos anciãos do povo, ou por juízes e, mais tarde, por reis. Os juízes eram pessoas (entre elas duas mulheres: Débora e Jael) suscitadas e escolhidas por Deus de tempos em tempos para livrar os hebreus, sempre que caíam sob a dominação de seus inimigos como punição por seus pecados.

57. Os dois juízes mais famosos foram Sansão e Samuel. Sansão, dotado de uma força extraordinária e maravilhosa, durante muitos anos molestou e causou mil estragos aos filisteus, inimigos de Deus muito poderosos. Traído depois e perdidas suas prodigiosas forças, reuniu as que lhe restavam para sacudir e derrubar um templo de seus inimigos, sob cujos escombros foi sepultado com muitos deles. Samuel, o último dos juízes, venceu os filisteus e, por ordem de Deus, reuniu o povo que se revoltou e exigiu um rei que, em sua presença, escolheu e consagrou Saul, da tribo de Benjamim, primeiro rei de todo o povo hebreu.

Os hebreus sob os reis

58. Saul reinou muitos anos mas, após os dois primeiros anos, foi rejeitado por Deus por causa de uma gravíssima desobediência, e um jovem chamado Davi, da tribo de Judá, foi ungido e consagrado rei e, mais tarde, tornou-se célebre matando em um único combate um gigante filisteu chamado Golias, que insultou o povo de Deus posto em ordem de batalha.

59. Saul, derrotado pelos filisteus, foi dado a morte. Então, subiu ao trono Davi, que reinou sobre o povo de Deus por quarenta anos. Acabou por conquistar toda a Palestina, subjugando os infiéis que ali estavam, e, especialmente, assenhorou-se da cidade de Jerusalém, que ele escolheu para cadeira de sua corte e capital de todo o reino.

60. A Davi sucedeu Salomão, que foi o homem mais sábio que já existiu. Edificou o templo de Jerusalém e gozou de longo e glorioso reinado. Mas, nos últimos anos de sua vida, em razão das artes insidiosas de mulheres estrangeiras, caiu em idolatria, e alguns temem por sua salvação eterna.

Divisão do reino

61. Sucedeu ao Rei Salomão seu filho Roboão. Por não querer este aliviar a carga duríssima dos impostos cobrados por seu pai, dez tribos se lhe rebelaram, que tomaram por rei a Jeroboão, chefe dos rebeldes e somente duas tribos permaneceram fiéis a Roboão, as de Judá e Benjamim. O povo hebreu viu-se deste modo dividido em dois reinos, o reino de Israel e o reino de Judá. Estes dois reinos não se uniram mais, mas cada um teve a sua própria história.

Reino de Israel e sua destruição

62. Os reis de Israel, em número de 19, todos perversos e impregnados de idolatria, que arrastaram a maior parte do povo das tribos, governaram durante duzentos e cinquenta e quatro anos. Finalmente, em punição por suas enormes iniquidades, parte do povo foi disperso, parte levado cativo para a Assíria por Salmaneser, rei da Síria, e o reino de Israel caiu para não mais se levantar. (a.C 722). Para repovoar o país, foram enviadas colônias de gentios, que foram associados em tempos posteriores a alguns israelitas que retornaram do exílio e a alguns maus judeus, e juntos formaram depois um povo, que se chamou samaritano, inimigo acérrimo da nação judaica. Entre os israelitas levados cativos a Nínive, capital da Assíria, havia Tobias, varão santíssimo de quem se encontra nos Livros Sagrados uma história particular, própria para fazer-nos cobrar a alta estima do santo temor de Deus e das disposições de sua providência.

Reino de Judá e cativeiro na Babilônia

63. Os reis de Judá, em número de 20, dos quais alguns foram piedosos e bons e outros ímpios, reinaram durante trezentos e oitenta e oito anos.

64. No tempo de Manassés, um dos últimos reis de Judá, aconteceu o que está escrito no livro que se intitula de Judite, a qual, matando Holofernes, capitão general do rei dos assírios daquele tempo, livrou a cidade de Betúlia e toda a Judeia. Mais tarde, outro rei dos assírios, Nabucodonosor, pôs fim
ao reino de Judá; apoderou-se de Jerusalém e a destruiu totalmente, junto com o templo de Salomão; fez prisioneiro e arrancou os olhos de seu último rei, Zedequias, levando o povo cativo para a Babilônia.

Daniel

65. Durante o cativeiro babilônico viveu o profeta Daniel. Escolhido com outros jovens hebreus para ser educado e depois destinado ao serviço pessoal do rei, com sua virtude conquistou a estima e o afeto de Nabucodonosor, principalmente depois de ter interpretado um sonho que este tivera e que depois esquecera. Ele também foi muito amado pelo rei Dario, mas seus adversários acusaram-no de adorar o seu Deus, desobedecendo ao edito real que o proibia, e lograram que fosse arrojado ao fosso dos leões, dos quais Deus o livrou milagrosamente.

(Do Catecismo Maior de Pio X)

domingo, 10 de junho de 2018

'QUEM FAZ A VONTADE DE DEUS: ESSE É MEU IRMÃO'

Páginas do Evangelho - Décimo Domingo do Tempo Comum


Jesus estava em Cafarnaum, pouco depois de ter descido das montanhas onde fizera a escolha dos seus doze apóstolos (Mc 3, 13 - 19) e diante dele, como outras tantas vezes durante a vida pública do Senhor, uma enorme multidão se aglomerava, ansiosa por ouvir os seus ensinamentos, as explicações sobre textos das Sagradas Escrituras, para serem testemunhas oculares de prodígios e milagres ou por mera curiosidade de conhecer aquele profeta extraordinário.

Nesta ocasião em especial, os próprios parentes de Jesus estavam presentes e, assoberbados pelos anelos e compromissos humanos, foram incapazes de perceber a dimensão sobrenatural da vida pública daquele homem que lhes era tão próximo e, por isso, foram capazes de imputar a Jesus como que um estado de pura confusão mental. Como sempre, os mestres da lei foram muito mais longe nos ilimitados domínios da blasfêmia: 'diziam que ele (Jesus) estava possuído por Belzebu, e que pelo príncipe dos demônios, ele expulsava os demônios' (Mc 3, 22).

Jesus evidencia o caráter absurdo e contraditório de tais alegações, desmascarando-lhes o desvario da razão e a dureza dos seus corações, totalmente impermeáveis à ação dos dons e carismas do Espírito Santo. Neste propósito de impenitência tácita e obstinada, aqueles homens rejeitaram todas as investidas divinas de acolhida e de perdão, tornando-se réus de condenação eterna, porque 'quem blasfemar contra o Espírito Santo, nunca será perdoado, mas será culpado de um pecado eterno' (Mc 3, 28).  Ainda que pecadores ao extremo, todos somos passíveis do perdão e da misericórdia de Deus, desde que estejamos comprometidos pelo firme propósito do reconhecimento humilde e da dor sincera pelos pecados cometidos. A nossa salvação não pode prescindir destes princípios da fé cristã.

Durante esta explanação, Jesus é informado então da chegada da sua mãe e dos seus parentes, que estavam à sua procura. Esta mãe de amor e de doçura também se afligia diante da tormentosa multidão que envolvia Jesus, diante das acusações dos mestres da lei e das insanidades feitas pelos seus próprios parentes. Mas Jesus vai lhes responder: 'Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?' (Mc 3, 33). E Ele mesmo vai lhes revelar a supremacia absoluta das relações familiares de ordem espiritual sobre estas mesmas relações de caráter natural: 'Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe' (Mc 3, 35). Nossa Senhora é a mãe de Jesus e a mãe de Deus, não apenas porque O gerou e foi para Ele mãe cuidosa e extremada mas, principalmente, porque cumpriu à perfeição, nessa missão materna, a santa vontade de Deus.