domingo, 17 de setembro de 2017

OS LIMITES DO PERDÃO

Páginas do Evangelho - Vigésimo Quarto Domingo do Tempo Comum


Naquele tempo em que os homens ainda hesitavam nos domínios da graça, Pedro vai se aproximar de Jesus para inquirir ao Mestre sobre os limites do perdão: 'Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?' (Mt 18, 21). Ao propor a questão, Pedro também estabelece uma referência humana a este limite - 'sete vezes' - em termos de uma concepção firmada exclusivamente nos princípios frágeis da justiça e da tolerância dos homens. 'Sete vezes', na abordagem de Pedro, seria o limite imaginável e possível da capacidade humana de perdoar a manifestação continuada do erro.

A resposta de Jesus é desconcertante para uma medida humana do perdão: 'Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete' (Mt 18,22). 'Setenta vezes sete' não implica meramente o valor humano do perdão multiplicado por setenta vezes; nem apenas um número particularmente elevado de se aplicar o perdão em medida abastada. É mais do que isso; Jesus pressupõe o perdão nos limites insondáveis da misericórdia infinita de Deus; o perdão verdadeiro deve ser reflexo da misericórdia que não impõe contenção de medidas e nem marcos limites.

Para ilustrar com clareza meridiana este princípio da misericórdia infinita de Deus, Jesus apresenta, então, a parábola do servo devedor de imensa fortuna que, instado a reconhecer a sua dívida, suplica ao Senhor a concessão de alternativas para quitá-la nas condições mais favoráveis possíveis. Movido pela compaixão e confiante no firme propósito de correção do seu servo, o Senhor lhe concede o perdão integral de todas as suas dívidas. Mas, saindo dali, o réu confesso de uma fortuna diante de Deus torna-se o juiz implacável diante da dívida inexpressiva do próximo: não apenas não perdoa a dívida em aberto, como leva à prisão o devedor de ninharias. Ciente de procedimento tão perverso, o Senhor se indigna e condena o servo infame com todo o rigor de sua justiça.

E Jesus conclui a parábola reforçando em que consiste a verdadeira medida do perdão ao próximo: 'perdoar de coração ao seu irmão' (Mt 18, 35). Perdoar significa 'perdoar de todo coração', sem quaisquer remanescentes de mágoa, rancor, ressentimentos. Perdoar significa aniquilar o mal feito na mesma medida do esquecimento integral da ofensa recebida. Neste contexto de graça, o nosso perdão torna-se perfeito e, tangido por sentimentos sinceros de caridade e de compaixão, atrai sobre nós, em medida insondável, a misericórdia infinita de Deus.

sábado, 16 de setembro de 2017

NOSSA SENHORA DE FÁTIMA NO FUNDO DO MAR

Uma imagem de mais de 2,0 m de Nossa Senhora de Fátima repousa a 24,0 m de profundidade numa praia das Filipinas, famosa pelas práticas de mergulho, como local de oração e de peregrinação para os mergulhadores locais.

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

LUZ NAS TREVAS DA HERESIA PROTESTANTE (XX)

A 20ª e última objeção* protestante do boletim citado seria de uma ingenuidade infantil se não fosse de um ridículo capcioso. O amigo protestante pede: um texto das Escrituras que prove que um homem deve ser perseguido e amaldiçoado por haver abandonado a religião em que nasceu e aceitado a religião de Jesus Cristo. 

Aqui haveria muita coisa a distinguir; assinalarei apenas os seguintes pontos:

(i) Um homem perverso deve ser perseguido e pode ser amaldiçoado: maledicti qui declinant a mandatis tuis (Sl 118, 21).

(ii) Pode-se abandonar a religião em que se nasce, tendo a certeza de ser errada e a certeza de a outra que se quer abraçar ser a verdadeira – Revertimini a viis vestris pessimis (4 Rs 17, 13).

(iii) A religião de Jesus Cristo é uma só: Dominus Deus tuus, Deus unus est (Mc 12, 24). Vamos por partes.

I. O homem perseguido

É uma mania protestante o gritar de ser perseguido, quando não pode espalhar os seus erros ou encontrar qualquer oposição. É mania conhecida; a Bíblia diz muito bem: querem pegar a sombra e perseguem o vento (Ecli 34, 2). Os protestantes andam atacando, caluniando e blasfemando contra o catolicismo, a Santíssima Virgem, o papa, os padres, os sacramentos e os sinos da Igreja.

Os católicos cruzando os braços, sorrindo e aceitando bíblias falsificadas, tudo corre bem, mas quando um deles repele os insultos, refuta os erros, diz-lhes meia dúzia de verdades, encolhem-se e gritam que são caluniados, perseguidos e maltratados. É o ladrão, que, penetrando em casa alheia, é pego em flagrante no roubo, gritando que o dono da casa, que lhe administra umas pauladas nas costas, é um perseguidor, um algoz. 

Não, senhor, ele é um defensor em legítima defesa de seus bens. Os católicos estão no mesmo caso. A religião é de paz e de concórdia; mas também é de dignidade, de brio e de firmeza. Reagir contra o ladrão não é perseguir; é defender-se. Repelir o caluniador não é perseguir; é restabelecer a verdade perturbada. Refutar o erro não é perseguir: é manter a verdade, é fazê-la triunfar.

Defender a sua religião contra os ímpios e hereges é um ato de dignidade, de brio e de convicção, como é de brio o fato de defender a sua pátria contra o inimigo invasor. 'Os que não ouvirem a Igreja', diz o Salvador, 'devem ser considerados como gentios ou publicanos' (Mt 18, 17). 'Haverá menos rigor para Sodoma do que para aqueles que não aproveitam a minha palavra', diz ainda o Mestre (Lc 10, 13). Podemos, pois, tratar os protestantes como tratamos os gentios, não com ódio, mas com compaixão, e dizer que terríveis castigos esperam a sua revolta contra a Igreja. Isso não é perseguir: é dizer a verdade. É permitido e é dever mesmo para os católicos opor-se à invasão do protestantismo, repeli-lo como se repele o ladrão, o assassino, o lobo, que se introduz numa casa ou num rebanho.

II. Mudança de religião

Aqui, meu caro protestante, temos um ponto complexo que deve ser bem compreendido. Mudar de religião é um negócio sério! Três casos se apresentam: (i) o homem sabe que está no erro: neste caso deve mudar; (ii) o homem duvida da sua religião; neste caso deve consultar; (iii) o homem tem a certeza de estar com a verdade: neste caso deve ficar firme e inabalável. Só o segundo caso é aplicável ao ponto em discussão.

O homem duvida da sua religião. Tal dúvida pode ser uma tentação do demônio, como pode ser uma inspiração divina; pode ser também uma falta de instrução. Mas vejamos de perto. Por que duvida ele? Duvida ele porque encontra em sua religião certos pontos incompreensíveis, misteriosos? Não há razão, porque a religião, sendo divina, nunca pode ser completamente compreendida pela inteligência humana.

Duvida ele porque há abusos e fraquezas na religião? Não há razão ainda, porque, se a religião é divina, os homens que a praticam não são divinos, e apesar de sua boa vontade, podem conservar ainda abusos e cometer faltas. Duvida ele porque a sua religião não possui os caracteres da religião verdadeira? Aqui o caso é diferente. A dúvida tem sua razão de ser. É preciso orar, estudar, indagar e refletir. A solução é bastante simples para um homem culto. Basta ele procurar conhecer os sinais distintivos da religião verdadeira.

III. Os sinais da religião verdadeira

É fora de discussão a existência da religião, e que esta religião é uma só: unus Dominus, una fides, unum baptisma (Ef 4,3). Um senhor, uma fé, um batismo, diz o Apóstolo. Jesus Cristo fundou uma só Igreja: é certo, conforme a sua própria palavra: 'tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja' (Mt 16, 18). Ele chama-a minha Igreja, para indicar que só ela está fundada sobre ele e é dele.

Esta igreja, para ser conhecida entre as diversas igrejas, tem quatro caracteres próprios, que a distinguem de todas as outras. Esta igreja deve ser una, santa, católica e apostólica. Isto quer dizer que a Igreja verdadeira deve ser uma nos pontos essenciais, na fé, no culto e na constituição hierárquica. Deve ser una em sua doutrina, em seu culto e em muitos de seus membros. Deve ser católica ou universal, porquanto deve existir em todas as épocas e estar difundida pelo mundo inteiro. Deve ser apostólica, porque deve ter a sua origem dos apóstolos. Eis a pedra de toque para descobrir a Igreja verdadeira e distingui-la das seitas humanas. Queira fazer isto, caro crente, ou querendo, façamo-lo juntos.

IV. Uma comparação

O protestantismo não é um: é dividido em centenas de seitas, que professam doutrinas diferentes, nem se sujeita a um governo central ou supremo. O catolicismo é um: na fé, que nunca mudou; no culto, tendo sempre o mesmo sacrifício e os mesmos sacramentos; no governo, que é e foi sempre o sumo pontífice ou papa de Roma.

O protestantismo não é santo: em sua doutrina, que é de rancor, de ódio e de calúnia; em seu culto, rejeitando muitas coisas instituídas por Jesus Cristo; em seus membros, desde a sua separação até a presente data. O catolicismo é santo: em sua doutrina, que nada encerra de absurdo ou de indigno de Deus; no culto, possuindo todos os meios de santificação instituídos por Jesus Cristo (sacramentos, missa, festas, etc.); em seus filhos, contando milhares e milhares de virgens, de mártires e de homens santos, mostrando a sua santidade pelos milagres que operam depois da morte.

O protestantismo não é universal, porque não tem existido sempre (nasceu em 1518, fundado por Lutero, padre apóstata) e porque não está espalhado pelo mundo inteiro. São igrejas locais ou nacionais e não universais. O catolicismo, ao contrário, é verdadeiramente universal: (i) porque existiu sempre; (ii) porque está difundido por todo o mundo. Ele sozinho tem mais filhos e membros que todas as seitas protestantes globalmente.

O protestantismo não é apostólico, porque nascera quinze séculos depois da morte dos apóstolos e, por outro lado, não tem conseguido provar, com milagres, a existência de uma missão extraordinária para pregar. Quanto ao catolicismo, é genuinamente apostólico: (i) porque tira a sua origem dos apóstolos, aos quais remonta a história; (ii) Porque seus bispos são legítimos sucessores dos apóstolos; e em particular o Bispo de Roma, o Papa, é o sucessor de São Pedro – primeiro Bispo de Roma.

V. Aplicação

Os caracteres aqui citados podem e devem ser conhecidos por todos. Deus não pode permitir a dúvida em matéria tão grave como é a religião; e tal dúvida não pode existir numa alma sincera, num coração reto. A religião é divina e por isso não pode ser completamente compreendida por uma inteligência humana; mas nunca pode estar em contradição com esta inteligência humana, pela razão de ser Deus o autor de ambas. A contradição recairia sobre o próprio Deus.

O homem pode e deve perscrutar a religião, estudá-la, conhecê-la o melhor possível. Por meio dos quatro caracteres, qualquer um pode provar a verdade ou o erro da sua religião: está ao alcance de todos. O católico deve fazê-lo, não pela dúvida, mas para dar firmeza à sua fé. O protestante deve fazê-lo, para verificar e compreender o que está errado. Depois deste exame, o homem pode conscienciosamente abandonar a sua religião, desde que esta não satisfaça aos requisitos. Sem este exame, sem esta verificação o homem não pode abandonar a religião em que nasceu, ou que professa.

O amigo protestante deve ver, pois, que está errado. Sendo protestante, pode aceitar a religião de Jesus Cristo: a religião católica. O católico não pode de modo nenhum deixar a sua religião para fazer-se protestante. E não vale a pena mudar o nome do protestantismo, chamando-o de 'religião de Jesus Cristo'. Nunca foi, nunca há de sê-lo! A religião de Jesus Cristo é uma só: – a católica; o protestantismo pode ser chamado de 'religião de Lutero', nunca 'de Jesus Cristo', com quem não tem outra relação, senão a Bíblia que é comum a ambas, mas cuja interpretação pessoal ou eclesiástica cava um abismo entre ambas.

O protestantismo interpreta a Bíblia a seu talante, contrariamente à Bíblia. São Pedro diz que toda a profecia da Escritura não pode ser feita por interpretação própria (2 Pd 1, 20). O catolicismo escuta a Igreja para esta interpretação, conforme o ensino da Bíblia: 'o Espírito Santo colocou os bispos para governar a Igreja de Deus' (At 20, 28). 'Aquele que não escuta nem a sua consciência, nem a Igreja de Deus, deve ser tratado como um pagão', diz o divino Mestre (Mt 18, 17).

A Igreja Católica não persegue ninguém: ela é de caridade; mas refuta os erros, orando pelos que erram, conforme o conselho de Santo Agostinho: interficite errores, diligite errantes. Convém notar, entretanto, que o amor não é covardia nem traição. O protestantismo é uma heresia composta de seitas humanas, que profanam os mistérios de Deus, o que fazia dizer a Melanchthon, contemplando as águas do Elba: 'todas estas águas são insuficientes para lavar os grandes males da reforma protestante' (Cartas). Ora, deixando de condenar a heresia, a Igreja Católica não seria tolerante; seria simplesmente traidora de Deus e da sua missão, traidora da verdade. E isto é absolutamente impossível, sendo a Igreja, no dizer de São Paulo, a coluna e o firmamento da verdade (1 Tm 3, 15).

VI. Conclusão

Está vendo, caro amigo, que a sua conclusão é falsa e falsíssima: um homem não deve ser perseguido por abandonar a religião em que nasceu; mas, antes de abandonar uma religião, um homem deve examinar a religião que quer deixar e aquela que pretende abraçar, para ver qual delas satisfaz aos quatro caracteres indicados: unidade, santidade, catolicidade e apostolicidade.

Achando que a religião em que nasceu possui estes quatro caracteres, não pode mudar, pois está na verdade. Achando que não satisfaz a estes quatro requisitos, pode e deve abandoná-la, para abraçar aquela que os possui, e que só é a religião de Jesus Cristo. Possa meu amigo crente compreender estas verdades claras e divinas, e adotá-las como regra de vida; é o único desejo daquele que procura refutar os seus erros, mas que ama a sua alma e anela em salvá-la.

* Estas 'objeções' foram propostas por 'um crente' como um desafio público ao Pe. Júlio Maria e que foi tornado público durante as festas marianas de 1928 em Manhumirim, o que levou às refutações imediatas do sacerdote, e mais tarde, mediante a inclusão de respostas mais abrangentes e detalhadas, na publicação da obra 'Luz nas Trevas - Respostas Irrefutáveis às Objeções Protestantes', ora republicada em partes neste blog.

(Excertos da obra 'Luz nas Trevas - Respostas Irrefutáveis às Objeções Protestantes', do Pe. Júlio Maria de Lombaerde)

quinta-feira, 14 de setembro de 2017

14 DE SETEMBRO - EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ


'Quando eu for levantado da terra, atrairei todos a mim' (Jo 12, 32)

A festa da Exaltação da Santa Cruz tem origem na descoberta do Sagrado Lenho por Santa Helena, mãe do imperador Constantino, e na dedicação de duas basílicas construídas por ele, uma no Calvário e outra no Santo Sepulcro, dedicação esta realizada no dia 14 de setembro do ano de 335. No ano de 629, a celebração tomou grande vulto com a restituição da Santa Cruz pelo imperador Heráclio, retomada dos persas que a haviam furtado. Levada às costas pelo próprio imperador, de Tiberíades até Jerusalém, a Santa Cruz foi entregue, então, ao Patriarca Zacarias de Jerusalém.


O imperador Constantino e sua mãe, Santa Helena, veneram a Santa Cruz 

Conta-se, então, que o imperador Heráclio, coberto de ornamentos de ouro e pedrarias, não conseguia passar com a cruz pela porta que conduzia até o Calvário; quanto mais se esforçava nesse sentido, mais parecia ficar retido no mesmo lugar. Zacarias, diante desse fato, ponderou ao imperador que a sua ornamentação luxuosa não refletia a humildade de Cristo. Despojado, então, da vestimenta, e com pés descalços, o imperador completou sem dificuldades o trajeto final, encimando no lugar próprio a Cruz no Calvário, de onde tinha sido retirada pelos persas.

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo converteu a Cruz de um objeto de infâmia e repulsa na glória maior da fé cristã. A Festa da Exaltação da Cruz celebra, portanto, o triunfo de Jesus Cristo sobre o mundo e a imprimação do Evangelho no coração de toda a humanidade.

SALVE CRUX SANCTA

Salve, crux sancta, salve mundi gloria,
vera spes nostra, vera ferens gaudia,
signum salutis, salus in periculis,
vitale lignum vitam portans omnium.

Te adorandam, te crucem vivificam,
in te redempti, dulce decus sæculi,
semper laudamus, semper tibi canimus,
per lignum servi, per te, lignum, liberi.

Originale crimen necans in cruce
nos a privatis Christe, munda maculis, 
humanitatem miseratus fragilem 
per crucem sanctam lapsis dona veniam.

Protege salva benedic sanctifica 
populum cunctum crucis per signaculum, 
morbos averte corporis et animae 
hoc contra signum nullum stet periculum.

Sit Deo Patri laus in cruce filii 
sit coequalis laus sancto spiritui, 
civibus summis gaudium et angelis 
honor sit mundo crucis exaltatio. Amen.

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

100 ANOS DE FÁTIMA - QUINTA APARIÇÃO

Fátima é o acontecimento sobrenatural mais extraordinário de Nossa Senhora e a mais profética das aparições modernas (que incluíram a visão do inferno, 'terceiro segredo', consagração aos Primeiros Cinco Sábados, orações ensinadas por Nossa Senhora às crianças, consagração da Rússiamilagre do sol e as aparições do Anjo de Portugal), constituindo a proclamação definitiva das mensagens prévias dadas pela Mãe de Deus em Lourdes e La Salette. Por Fátima, o mundo poderá chegar à plena restauração da fé e da vida em Deus, conformando o paraíso na terra. Por Fátima, a humanidade será redimida e salva, pelo triunfo do Coração Imaculado de Maria. Se os homens esquecerem as glórias de Maria em Fátima e os tesouros da graça, serão também esquecidos por Deus.

'por fim, o meu Imaculado Coração triunfará'


FÁTIMA EM FATOS E FOTOS (XII)

56. Como se deu a quinta aparição de Nossa Senhora?

Na manhã do dia 13 de setembro de 1917, uma enorme multidão se comprimia por todos os caminhos e estradas que interligavam Aljustrel à Fátima e à Cova da Iria, incluindo peregrinos de aldeias próximas e lugares distantes, pessoas doentes, padres e seminaristas, gente do povo e de mais fortuna. As três crianças tiveram grandes dificuldades para fazer o percurso desde Aljustrel até a azinheira das aparições, tantas foram as interrupções durante a caminhada, diante de tanta gente querendo vê-las, falar com elas, fazer-lhes chegar à Nossa Senhora pedidos incessantes de curas e conversões... 

Chegando finalmente ao local das aparições, as três crianças começaram a rezar o terço junto com toda a multidão (estimada em mais de 20.000 pessoas). Perto do meio dia de um dia ensolarado e sem nuvens no céu, o silêncio da Cova da Iria somente era quebrado pelo suave murmúrio da prece comum de uma grande multidão. E, então, as crianças perceberam o mesmo relâmpago e a mesma luz brilhante* das outras vezes e, em seguida, viram Nossa Senhora pousada sobre a pequena azinheira.


* muitas pessoas presentes perceberam claramente o movimento suave de um globo luminoso deslocando-se no espaço, vindo do nascente até o local das aparições (um testemunho formal deste fato foi dado pelo Monsenhor João Quaresma, então vigário geral da diocese de Leiria); muitas outras pessoas, entretanto, não perceberam este evento no local (um deles foi o Cônego Manuel Nunes Formigão, da Catedral de Lisboa e professor do Seminário de Santarém).

57. Como foi o diálogo de Lúcia com Nossa Senhora nesta quinta aparição?

A quinta aparição foi a mais breve de todas; assim que as crianças lhe viram, Nossa Senhora disse à Lúcia:

– Continuem a rezar o terço, para alcançarem o fim da guerra. Em outubro virá também Nosso Senhor, Nossa Senhora das Dores e do Carmo, São José com o Menino Jesus, para abençoarem o mundo. Deus está contente com os vossos sacrifícios, mas não quer que durmais com a corda. Trazei-a só durante o dia.
– Têm-me pedido para lhe pedir muitas coisas; a cura de alguns doentes, de um surdo mudo...
– Sim, alguns curarei, outros não. Em outubro, farei o milagre para que todos acreditem.

E, como das outras aparições, começou a se elevar suavemente até desvanecer-se por completo na distância.

58. Em que consistiram os interrogatórios do Cônego Manuel Nunes Formigão com as crianças?

O Cônego Manuel Nunes Formigão Júnior* estivera presente na Cova da Iria por ocasião da quinta aparição, como enviado do Patriarcado de Lisboa para averiguar a natureza dos acontecimentos que estavam ocorrendo em Fátima e que, então, já haviam se tornado públicos por todo o país. Diante da assertiva da visão do 'globo luminoso' testemunhado por outros sacerdotes presentes à aparição de setembro e da manifesta expectativa de um milagre na aparição seguinte, resolveu investigar mais a fundo os acontecimentos interrogando diretamente os próprios videntes. Neste propósito, em duas ocasiões distintas, 27 de setembro e 11 de outubro de 1917, deslocou-se de Lisboa até Aljustrel, à casa das famílias dos videntes, para interrogá-los diretamente sobre os acontecimentos locais das aparições de Nossa Senhora.


* Nasceu em Tomar a 1 de janeiro de 1883. Foi professor do Seminário e do Liceu de Santarém. Em 1922, foi nomeado bispo de Leiria e membro da Comissão Canônica para o estudo dos acontecimentos de Fátima, sendo o autor do Relatório Final destas investigações. Em 1926, fundou a Congregação das Religiosas Reparadoras de Nossa Senhora Dores de Fátima. Faleceu, em Fátima, a 30 de janeiro de 1958.

59. Como se deu o primeiro interrogatório* do Cônego Manuel Nunes Formigão com as crianças?

O primeiro interrogatório foi feito aos videntes Lúcia, Francisco e Jacinta e também a Maria Rosa, mãe de Lúcia, em 27 de setembro de 1917: 'Eram três horas da tarde quando me apeei do trem que de Torres Novas me conduzira por Vila Nova de Ourém à humilde povoação... À distância de dois quilômetros da igreja paroquial e do presbitério, num insignificante lugarejo chamado Aljustrel, pertencente à freguesia, ficam situadas perto uma da outra, as modestas habitações das famílias dos videntes' [Doc. 10 - Documentação Crítica de Fátima].


O cônego dirigiu-se primeiro à casa das duas crianças mais novas, mas estas estavam ausentes. Dirigiu-se, então, à casa da Lúcia, que também estava fora, a vindimar numa pequena propriedade de sua família. Alguém se prestou logo a ir chamá-la de ordem da mãe. Neste período, chegaram à casa de Lúcia as duas crianças mais novas, informadas pelos vizinhos da presença do sacerdote. O cônego interrogou primeiro a Francisco e depois a Jacinta e assim descreve as crianças:

'A menina chama-se Jacinta de Jesus, tem sete anos de idade e é filha de Manuel Pedro Marto e de Olímpia de Jesus. Bastante alta para a sua idade, um pouco delgada sem se poder dizer magra, de rosto bem proporcionado, tez morena, modestamente vestida, descendo-lhe a saia até à altura dos artelhos, o seu aspecto é o de uma criança saudável, acusando perfeita normalidade no seu todo físico e moral. Surpreendida com a presença de pessoas estranhas, que me tinham acompanhado e que não esperava encontrar, a princípio mostra um grande embaraço, respondendo, por monossílabos, e num tom de voz quase imperceptível, às perguntas que eu lhe dirijo. O irmão, rapaz de nove anos de idade, entrou com um certo desembaraço no quarto, onde estávamos, conservando o barrete na cabeça, decerto por não se lembrar de que o devia tirar... Convidei-o a sentar-se numa cadeira ao meu lado, obedecendo imediatamente sem nenhuma relutância'. 

Lúcia chegou meia hora depois de terminado o interrogatório de Jacinta de Jesus, e foi interrogada na sequência, sendo descrita pelo sacerdote nos seguintes termos: 'Mais alta e mais nutrida que as outras duas crianças, de tez mais clara, robusta e saudável, apresenta-se diante de mim com um desembaraço que contrasta singularmente com o acanhamento e a timidez excessiva da Jacinta. Singelamente vestida como esta, a sua atitude não denota e o seu rosto não traduz nenhum sentimento de vaidade nem de confusão. Sentando-se, a um aceno meu, numa cadeira, ao meu lado, presta-se da melhor vontade a ser interrogada sobre os acontecimentos de que ela é a principal protagonista, sem embargo de se sentir visivelmente fatigada e abatida, mercê das visitas incessantes que recebe e dos inquéritos repetidos e prolongados a que é submetida'

* a versão completa dos diálogos deste primeiro interrogatório será publicada em postagem independente neste blog.


60. Como se deu o segundo interrogatório* do Cônego Manuel Nunes Formigão com as crianças?

O segundo interrogatório foi aplicado à Lúcia e à sua mãe no dia 11 de outubro de 1917. Outras pessoas foram entrevistadas pelo cônego no sentido de fornecer informações gerais sobre a religiosidade e os costumes das famílias dos videntes: 'Uma charrete me transportou a Vila Nova de Ourém, de onde depois de haver trocado impressões com o Rev. Pároco daquela Vila sobre os acontecimentos que motivavam a minha viagem, segui noutra charrete para a Fátima, onde me apeei às 11 horas da noite, dirigindo-me imediatamente para o lugar de Montelo, a dois quilômetros de distância.•.. No dia seguinte de manhã propus-me ir interrogar novamente os videntes a Aljustrel ... chegado àquele lugar, dirigi-me imediatamente a casa da Lúcia' [Doc. 11 - Documentação Crítica de Fátima].

Nesta altura, o Cônego Formigão já assumia claramente uma posição de firme crença nas aparições de Fátima, a qual já designava como  'a Lourdes ou a La Salette Portuguesa': 'Embora receasse que as crianças fossem vítimas de uma alucinação, hipótese que aliás tudo me fazia repelir, ou que os acontecimentos extraordinários que ali se realizavam fossem provocados pelo espírito das trevas para fins desconhecidos, no meu espírito ia-se radicando cada vez mais a convicção de que a Fátima era o local destinado pela Rainha do Céu, Padroeira de Portugal, para teatro de novos prodígios da sua bondade e misericórdia' [Doc. 11 - Documentação Crítica de Fátima].

 * a versão completa dos diálogos deste segundo interrogatório será publicada em postagem independente neste blog.

terça-feira, 12 de setembro de 2017

CATECISMO ILUSTRADO DE PIO X

O chamado Catecismo Ilustrado de Pio X é assim conhecido porque foi publicado poucos anos após a encíclica Acerbo Nimis, em que o Papa São Pio X atribuía à ignorância das verdades da fé cristã como sendo a principal fonte dos males que afligiam o seu tempo (e, em escala miseravelmente maior, o nosso tempo!). Neste contexto, o papa recomendava explicitamente: 'Pertence, pois, ao catequista escolher e tratar as verdades relativas à fé ou aos costumes cristãos e pô-las em evidência em todos os seus aspectos. Como, por outro lado, o fim do ensino deve ser a emenda da vida, o catequista estabelecerá uma comparação entre os preceitos; depois, com a ajuda de exemplos apropriados e sabiamente escolhidos nas Sagradas Escrituras, na História Eclesiástica ou na vida dos santos, mostrará aos seus auditores e far-lhe-á como que tocar com o dedo, a regra segundo a qual devem ordenar a sua conduta; terminará exortando-os a detestar e fugir do vício, e a praticar a virtude'. 


O método exigia um conhecimento integrado dos fundamentos da vida cristã, dos sacramentos, dos mandamentos da Lei de Deus e da Igreja, dos Novíssimos do homem, tudo isso temperado pelos ensinamentos das Sagradas Escrituras, da História da Igreja e de exemplos da vida dos santos. O Catecismo Ilustrado foi proposto exatamente para fornecer este conhecimento integrado, mediante textos divididos em tópicos específicos, numa sequência estruturada e, principalmente, associados a belíssimas imagens que ilustravam os principais aspectos de cada tema abordado. Além de uma Introdução, o Catecismo Ilustrado é dividido em 4 partes: O Símbolo dos Apóstolos, Os Sacramentos, Os Mandamentos de Deus e da Igreja e Diversos (compreendendo 4 divisões de tópicos: Oração - Os Últimos Fins do Homem - Os Pecados - As Virtudes e as Obras de Misericórdia), comportando um total de 68 textos e imagens.


Neste blog, todos os 68 textos e imagens foram apresentados ao longo de 32 postagens, desde setembro/2014 até fevereiro/2016 (no marcador Breviário Digital), rearranjados numa formatação especial que buscou reproduzir a impressão original do Catecismo. Agora todo o Catecismo Ilustrado, em formatação especial, foi estruturado numa único documento, que passa a ficar disponível para consulta livre e contínua dos leitores na Biblioteca Digital deste blog.