quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

DA VIDA ESPIRITUAL (89)



Lembra-te sempre: há muitas formas de se louvar o Pai. A oração, a penitência, o jejum, a reflexão espiritual, a palavra, o olhar, e também a música e a literatura que tanto amas e quaisquer outras formas de arte. Transforma cada momento de tua vida, cada atividade, cada fazer, tudo mesmo, em oração. Ao se cumprir a Santa Vontade de Deus em tudo o que fazes para com todos, o caminho da tua santificação passa a não ter horizontes nem limites.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

A LITURGIA DA SANTA MISSA (IV)

4. RITOS INICIAIS: SINAL DA CRUZ, SAUDAÇÃO, ATO PENITENCIAL E KYRIE

Sinal da Cruz

O Sinal da Cruz é litúrgico e canônico; o SACERDOTE diz: 'Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo', ao que O POVO responde: 'Amém'. O Sinal da Cruz não deve, portanto, ser rezado integralmente pelo sacerdote e por todos os fiéis. Por esta razão, é totalmente contraindicada a versão cantada do sinal da cruz, uma vez que, além de incluir outros termos absolutamente dispensáveis, a oração passa a ser compartilhada integralmente pelo sacerdote e pelos fieis, sem quaisquer distinções das respectivas partes.

Uma outra grande objeção à versão cantada: 

Em nome do Pai, em nome do Filho [...]
Para louvar e agradecer, bendizer e adorar,
te aclamar… (palmas)

Aclamar com palmas Jesus diante de sua agonia de morte no Calvário? O que estamos fazendo quando, no início da Santa Missa, ao nos prostramos diante dEle no Calvário, O saudamos com... palmas?!  

Saudação 

'A graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco'. Com esta oração, o celebrante conclama a presença da Santíssima Trindade junto à assembleia reunida, para que sejam celebrados dignamente os sagrados mistérios. Após a saudação, a assembleia respondendo, confirma esta proposição do celebrante: 'Bendito seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo'. É chamada de saudação apostólica, pois tem sido uma prática corrente desde os tempos da Igreja primitiva. 

Ato Penitencial 

O Ato Penitencial, iniciado sempre com o convite do sacerdote, constitui uma oração de confissão geral envolvendo toda a assembleia, incluindo o próprio celebrante. Deve ser precedida por um momento de silêncio, para que cada fiel, em contrita reflexão interior, possa implorar a Deus o perdão de suas culpas e dos seus pecados veniais, inexoravelmente ligados à nossa frágil condição humana, de forma a torná-los dignos de participação na Santa Missa e na Mesa Eucarística. Na Forma Ordinária do Rito Romano, o Ato Penitencial pode contemplar três versões:

(i) recitação do 'Confiteor' ('Confesso')


Confesso a Deus Todo-poderoso, à bem-aventurada sempre Virgem Maria, ao bem-aventurado Miguel Arcanjo, ao bem-aventurado João Batista, aos santos Apóstolos Pedro e Paulo, e a todos os santos, que pequei muitas vezes por pensamentos, palavras e ações, por minha culpa, minha culpa, minha máxima culpa. Por isso, peço à bem-aventurada sempre Virgem Maria, ao bem-aventurado Miguel Arcanjo, ao bem-aventurado João Batista, aos santos Apóstolos Pedro e Paulo, e a todos os santos, que oreis por mim a Deus, Nosso Senhor. Amém.

(ii) oração envolvendo o celebrante (C) e a assembleia (A):

C – Tende compaixão de nós, Senhor.
A – Porque somos pecadores.

C – Manifestai, Senhor, a vossa misericórdia.
A – E dai-nos a vossa salvação.

Nestas duas acepções, o ato é continuado com uma fórmula de absolvição em que o celebrante se inclui, para deixar claro que não se trata de um rito similar ao do sacramento da penitência: 'Deus todo-poderoso tenha compaixão de nós, perdoe os nossos pecados e nos conduza à vida eterna'. O ato é, então, concluído com o Kyrie

(iii) ato penitencial associado à oração do Kyrie (exposto a seguir), com a inserção de pequenas frases chamadas tropos. 

Em missas especiais, o ato penitencial pode ser substituído pela bênção e aspersão da água em recordação ao batismo (particularmente durante o tempo pascal) ou, por exemplo, pela imposição de cinzas (na quarta-feira de cinzas).

Kyrie 

Conjunto de três invocações à misericórdia divina que tem origem nas ladainhas de aclamações a Deus que eram feitas durante as procissões, nos primeiros tempos da Igreja, e que eram recitadas originalmente na língua grega, quando esta era a língua litúrgica oficial de Roma (antes do século IV da nossa era). No rito atual, as invocações são repetidas duas vezes (três vezes nas missas tridentinas):

C – Senhor, tende piedade de nós (Kyrie eleison em grego)
A – Senhor, tende piedade de nós (Kyrie eleison em grego)

C – Cristo, tende piedade de nós (Christe eleison em grego)
A – Cristo, tende piedade de nós (Christe eleison em grego)

C – Senhor, tende piedade de nós (Kyrie eleison em grego)
A – Senhor, tende piedade de nós (Kyrie eleison em grego)

A terceira forma do Ato Penitencial está diretamente associada à oração do Kyrie por meio da utilização dos tropos. Estas inserções podem ser bastante variáveis e adaptáveis às diferentes festas litúrgicas da Igreja, sendo várias delas propostas no Missal. Assim, por exemplo, para a época do Advento, possíveis variantes do Kyrie seriam:

Senhor, [que viestes ao mundo para nos salvar], tende piedade de nós.
Senhor, tende piedade de nós.

Cristo, [que continuamente nos visitais com a graça do vosso Espírito], tende piedade de nós.
Cristo, tende piedade de nós.

Senhor, [que vireis um dia para julgar as nossas obras], tende piedade de nós.
Senhor, tende piedade de nós.

As frases breves, indicadas entre colchetes, são os tropos, cuja finalidade é realçar ou complementar as invocações a Nosso Senhor Jesus Cristo por meio de um atributo específico adicional, particularmente referente ao perdão e à misericórdia divina. A excessiva liberdade dada à utilização dos tropos pode, evidentemente, conduzir a proposições algo inadequadas ou mesmo equivocadas.

Finalmente, é preciso enfatizar, mais uma vez, a natureza geral do tropo na possibilidade desta variante (terceira variante) do Ato Penitencial:

Senhor, [tropo], tende piedade de nós.
Senhor, tende piedade de nós.

As distorções a esta variante são óbvias e, infelizmente, padrões na grande maioria das missas, que incluem 'atos penitenciais' totalmente diversos e estruturados sobre modelos completamente avessos à sistemática dos tropos. Um exemplo bem conhecido, como tantos outros, é o seguinte: 

Pelos pecados, erros passados; por divisões na tua Igreja, ó Jesus!
Senhor, piedade! Senhor, piedade! Senhor, piedade, piedade de nós! 
Quem não te aceita, quem te rejeita, pode não crer por ver cristãos que vivem mal!
Senhor, piedade! Senhor, piedade! Senhor, piedade, piedade de nós! 
Hoje, se a vida é tão ferida, deve-se à culpa, indiferença dos cristãos!
Senhor, piedade! Senhor, piedade! Senhor, piedade, piedade de nós! 

Além da livre adulteração da estrutura e, principalmente, da natureza litúrgica do Kyrie, as frases incluídas na oração não são tropos; trata-se apenas de mais um triste exemplo de como, embora de forma velada, a prática abusiva da liberdade de atuação religiosa pode descaracterizar o rigor litúrgico da magna oração da cristandade. 

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

ORAÇÃO: CONFITEOR

Oração penitencial de súplica dirigida ao perdão e à misericórdia de Deus, recitada desde os princípios do Cristianismo como sinal de humildade e contrição. A forma tradicional da oração, somente concluída provavelmente no século VIII, é apresentada abaixo em latim, com a sua correspondente versão para o português. Sua inclusão como Ato Penitencial na Santa Missa data do século XI.


Confiteor Deo omnipotenti, beatae Mariae semper Virgini, beato Michaeli Archangelo, beato Ioanni Baptistae, sanctis Apostolis Petro et Paulo, et omnibus Sanctis, quia peccavi nimis cogitatione, verbo et opere: mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa. Ideo precor beatam Mariam semper Virginem, beatum Michaelem Archangelum, beatum Ioannem Baptistam, sanctos Apostolos Petrum et Paulum, et omnes Sanctos, orare pro me ad Dominum Deum nostrum. Amen.

Confesso a Deus Todo-poderoso, à bem-aventurada sempre Virgem Maria, ao bem-aventurado Miguel Arcanjo, ao bem-aventurado João Batista, aos santos Apóstolos Pedro e Paulo, e a todos os santos, que pequei muitas vezes por pensamentos, palavras e ações, por minha culpa, minha culpa, minha máxima culpa. Por isso, peço à bem-aventurada sempre Virgem Maria, ao bem-aventurado Miguel Arcanjo, ao bem-aventurado João Batista, aos santos Apóstolos Pedro e Paulo, e a todos os santos, que oreis por mim a Deus, Nosso Senhor. Amém.

domingo, 14 de fevereiro de 2016

O JUGO DAS TENTAÇÕES

Páginas do Evangelho - Primeiro Domingo da Quaresma


Se há algo que liga de forma admirável todo o universo da criação é o zelo imposto à fidelidade e à obediência aos desígnios de Deus. O que significa dizer que criatura alguma não perpassou por tais provas de fidelidade sem o jugo das tentações. A primeira prova foi imposta aos anjos e uma miríade deles se condenou. Depois, Adão e Eva sucumbiram à tentação e o pecado deles marcou indelevelmente a história humana. Sob o jugo cotidiano de tentações diversas, todos nós percorremos nosso vale de lágrimas.

Mas Jesus, embora não possuindo a mais remota imperfeição, também foi tentado. E não, uma, duas ou três vezes como nos revelam as Sagradas Escrituras, mas muitas outras vezes naqueles 'quarenta dias no deserto' (Lc 4, 2). Aquele que disse de si 'Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida' (Jo 14,6) foi sempre exemplo. Sabendo de nossas imperfeições e da ação diabólica sobre a natureza humana, Jesus quis mostrar as provas e os riscos de nossa caminhada terrena: seremos tentados, mas temos todos os meios disponíveis para superar a malícia do tentador. Assim, Jesus submeteu-se às tentações do demônio no deserto para 'compadecer-Se de nossas fraquezas' e, em tudo, menos no pecado, assumir incondicionalmente a dimensão do homem.

E este Primeiro Domingo da Quaresma nos lembra as três tentações sofridas por Jesus e descritas nos Evangelhos. Depois de quarenta dias, em jejum e oração, Jesus teve fome. Jesus teve fome, como qualquer ser humano privado de alimento por longo tempo. A manifestação maligna ousou, então, tentar Jesus: diante a suspeição de ser Jesus o Filho de Deus pairava a incontestável condição humana de um homem debilitado pela fome. E, por isso, a primeira tentação tem essa via, em que o vômito maligno titubeia por ânsias de dubiedade: 'Se és Filho de Deus, diz a esta pedra que se converta em pão' (Lc 4,3). Ao que Jesus, citando as Escrituras, responde: 'Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra de Deus' (Lc 4,4), porque Jesus poderia alcançar o seu sustento por vias naturais mas, principalmente, para mostrar a ascensão da vida espiritual sobre a dimensão puramente física. 

A segunda tentação foi a tentativa de idolatria, diante da soberba do poder diabólico, exposta pelo brilho feérico e a falsa concessão de 'todos os reinos do mundo'. Quantos homens não se perdem nessa vereda diante de migalhas de luxo e esplendor mesquinhos? Jesus vai responder ao espírito maligno: 'Adorarás o Senhor teu Deus, e só a Ele servirás' (Lc 4,8). Satanás sentiria reverberar em seus ouvidos a sentença de Miguel: 'Quem, como Deus?'. E chegaria a ousadia satânica a uma terceira tentação, misto de vanglória e desmedido orgulho, ainda mais abominável porque supostamente amparada nos próprios textos das Escrituras: 'Se és Filho de Deus, atira-te daqui abaixo! Porque a Escritura diz... Eles te levarão nas mãos para que não tropeces em alguma pedra' (Lc 4, 9.11). Jesus, uma vez mais, se submete ao desvario diabólico, para desmascarar suas ciladas e malícias e reduzi-lo como macaqueador de Deus: 'Não tentarás o senhor teu Deus' (Lc 4,12). A lição do Mestre sobre os benefícios das tentações e das provas humanas torna-se cristalina: não devemos temer o demônio, mas sim, o pecado, pois é o pecado que nos deixa à mercê da ação maligna de todos os demônios.

sábado, 13 de fevereiro de 2016

ORAÇÕES DE SANTO EFRÉM, O SÍRIO


ORAÇÃO PARA A QUARESMA

Senhor e Mestre da minha vida, 
afasta de mim o espírito da preguiça, 
o espírito da dissipação, do domínio e da vã loquacidade.

(Prostração)

Concede a teu servo o espírito da temperança, 
da humildade, da paciência e da caridade.

(Prostração)

Sim, Senhor e Rei, 
concede-me que eu veja as minhas faltas 
e que não julgue o meu irmão, 
pois Tu és bendito pelos séculos dos séculos. Amém.

(Prostração)


ORAÇÃO A NOSSA SENHORA

Ó pura e imaculada Virgem Maria, Mãe de Deus, vós que sois nossa imaculada e santíssima Mãe, a esperança dos desesperados e dos pecadores, nós vos louvamos e suplicamos vosso auxílio. Guardai-nos, ó santa e imaculada Virgem Maria, de todo mal que nos cerca e de todas as tentações do demônio.

Sede nossa intercessora e advogada na hora da morte e do julgamento final; protegei-nos do fogo que não se apaga e das trevas exteriores e nos tornai dignos da glória do vosso Filho. Ó doce e clementíssima Virgem Maria, sois o nosso porto seguro e nosso refúgio sagrado no coração de Deus, ao qual seja dada a honra, a glória e o louvor pelos séculos dos séculos. Amém.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

GLÓRIAS DE MARIA - NOSSA SENHORA DE LOURDES

Em Lourdes, Nossa Senhora apareceu à Bernadette Soubirous, para confirmar o dogma de sua imaculada conceição e para ratificar os valores incomensuráveis da oração, da penitência e da verdadeira vida de devoção a Deus. Nas palavras da própria vidente, eis o relato da primeira de um total de 18 aparições:

'A primeira vez que fui à gruta, era quinta-feira, 11 de fevereiro [quinta-feira anterior à quarta-feira de cinzas]. Após o jantar, saí para recolher galhos secos [a lenha para aquecer a casa simples de sua família havia acabado, durante um período de tempo particularmente frio] com a minha irmã Toinette e uma vizinha chamada Jeanne Abadie. Após procurarmos lenha em outros lugares sem sucesso, nos deparamos com o canal do moinho. Perguntei, então a elas se queriam ver onde a água do canal se encontrava com o Gave [rio Gave]. Elas me responderam que sim. Seguimos o canal do moinho até que nos encontramos diante de uma gruta [gruta de Massabielle], não podendo mais prosseguir.

Jeanne e minha irmã tiraram rapidamente os seus tamancos e atravessaram o fluxo que não era intenso. Após atravessarem o canal, começaram a esfregar os pés, dizendo que a água estava gelada. Isso aumentou a minha preocupação [Bernadette sofria de asma e não podia se expor à friagem]. Chegou a pedir a Jeanne [maior e mais forte que ela] para levá-la nos ombros, no que não foi atendida: 'Se você não consegue vir, fique aí então!' Apanhando galhos secos ali perto, as duas se afastaram e eu as perdi de vista. Tentei ainda buscar uma passagem mais embaixo sem ter que tirar os sapatos, colocar pedras no canal, mas não consegui passar. 

(gruta à época das aparições; em primeiro plano, o canal que Bernadette não conseguiu atravessar)

Então, regressei diante da gruta e comecei a tirar os sapatos, para fazer a travessia como elas fizeram. Tinha acabado de tirar a primeira meia, quando ouvi um barulho como de uma ventania. Então girei a cabeça para um lado e para o outro e não vi nada, nem nenhum movimento das folhas das árvores. Continuei a tirar os sapatos e nisso ouvi, mais uma vez, o mesmo barulho. Olhando em direção à gruta, vi um arbusto - um único arbusto encravado nas aberturas da rocha - balançando fortemente. Quase no mesmo tempo, saiu do interior da gruta uma nuvem de cor dourada e, logo depois, uma senhora, jovem e muito bonita, como eu nunca tinha visto antes, veio e se colocou na entrada da abertura, suspensa sobre uma roseira [mais tarde, instada a descrever a aparição, Bernadette a descreveu assim: 'Ela tinha a aparência de uma jovem de dezesseis ou dezessete anos e estava vestida com uma túnica branca, um véu também branco, uma cinta azul e os pés desnudos e ornados com uma rosa dourada em cada pé, ambos encobertos pelas últimas dobras do seu manto. Ela segurava na mão direita  um rosário de contas brancas com uma corrente de ouro brilhando como as duas rosas em seus pés]. 


Sorrindo para mim, fez um sinal para que eu me aproximasse. Eu pensei estar sendo vítima de uma ilusão. Esfreguei os olhos; porém, ao olhar outra vez, ela continuava ali e, sorrindo, me deu a entender que eu não estava enganada. Tirei o meu terço do bolso e, caindo de joelhos, tentei rezá-lo. Queria fazer o sinal da cruz, mas não conseguia sequer levar a mão à testa. A senhora fez com a cabeça um sinal de aprovação e, tomando o seu próprio terço, começou a oração e, somente então, pude fazer o mesmo. Assim que fiz o sinal da cruz, desapareceu o grande medo que sentia e fiquei tranquila. Deixou-me rezar o terço sozinha, somente acompanhando as contas com os dedos, em silêncio; somente rezando oralmente o Gloria  comigo, ao final de cada dezena. Ao final da recitação do terço, a senhora voltou ao interior da gruta e a nuvem dourada desapareceu com ela.

Assim que a senhora desapareceu, Jeanne e a minha irmã regressaram, encontrando-me de joelhos no mesmo lugar onde tinham me deixado, fazendo troça da minha covardia. Mergulhei os pés no canal e a água estava bem aquecida e elas aparentemente não se importaram com isso. Perguntei às duas se não haviam visto algo na gruta: 'Não'. Me disseram, então: 'Por que nos pergunta isso?' 'Ó, por nada, por nada', respondi tentando mostrar indiferença. Pensava sem parar em tudo o que tinha acabado de ver. No retorno à casa, diante da grande insistência delas, contei-lhes tudo o que acontecera, pedindo que não dissessem nada a ninguém.


À noite, em casa, durante a oração familiar, fiquei tão perturbada que comecei a chorar. Minha mãe me perguntou qual era o problema. Minha irmã começou a responder por mim e eu fui obrigada a contar os acontecimentos daquele dia. 'São ilusões' - respondeu minha mãe - 'tire essas coisas da cabeça e não volte mais à Massabielle'. Fui dormir, mas eu não conseguia tirar da memória o rosto e o sorriso doce da senhora. Era impossível acreditar que eu podia estar enganada'.