segunda-feira, 11 de maio de 2015

98 ANOS DAS MENSAGENS DE FÁTIMA (III)

DOS ARQUIVOS DE SENDARIUM
(artigo publicado originalmente no blog em 11/05/2013)

A MISSÃO DO ANJO DE PORTUGAL E A MENSAGEM ESQUECIDA DE FÁTIMA

Um anjo é um mensageiro de Deus destinado a realizar, em Seu nome, uma missão particular, sendo inúmeras as intervenções das entidades angélicas nos acontecimentos da história humana. Sabemos, do livro de Daniel, que eles são muitos ('mil milhares O serviam e miríades e miríades O assistiam') e que as Sagradas Escrituras incluem nas hostes celestiais, além dos anjos, também os arcanjos, os principados, as potestades, as virtudes, as dominações, os tronos, os querubins e os serafins. Entretanto, destas miríades de anjos, só nos foram dados a conhecer os nomes de três anjos: Gabriel, Miguel e Rafael. Que os anjos intercedem pelos homens, é matéria de fé e que cada um de nós tem um anjo da guarda pessoal, embora não seja matéria de fé, é crença comumente aceita por todos os católicos. As aparições de Fátima confirmam que não somente pessoas, mas grupos específicos de pessoas (no caso, países) têm a proteção específica de uma entidade angélica. 

A missão específica do Anjo de Portugal, nas suas três aparições entre 1915 e 1916, foi a de preparar as crianças para as futuras aparições e revelações de Nossa Senhora: '... Orai! Orai muito! Os corações de Jesus e de Maria têm sobre vós desígnios de misericórdia...' No papel do precursor das extraordinárias revelações e mensagens proféticas que Nossa Senhora daria à humanidade do século XX através dos três pastorinhos de Fátima, as aparições iniciais do anjo propiciaram às crianças a experiência prévia de contato com o sobrenatural, a vivência de uma atmosfera sobrenatural, o êxtase da presença intensa e íntima com Deus, o conhecimento do valor meritório das orações, sacrifícios e penitências, a sensação de uma profunda paz interior e uma crescente mobilização interior no sentido de uma reorientação completa da vida espiritual. 

Assim também, nestes tempos dolorosos, os anjos estão destinados a cumprir missões muito especiais. Em várias manifestações recentes, Nossa Senhora faz menção a um gigantesco combate entre as forças do bem e do mal que se trava no domínio espiritual, envolvendo os anjos e os demônios e a humanidade inteira (esta batalha espiritual é exposta como evento apocalíptico em Apoc 12); é uma luta tremenda e incessante entre os espíritos fiéis ao Criador e os sequazes de satanás, desencadeada pelo orgulho e soberba de Lúcifer em ser maior do que Deus. Expulsos do paraíso e precipitados no inferno, os demônios atuam sobre a humanidade, buscando prostrá-la sob o jugo do ódio, da violência, das guerras, do egoísmo, do prazer, da soberba e da apostasia. 

Estas mensagens confirmam a revelação do século de provações contida na visão do Papa Leão XIII (1878-1903), ou seja, de que satanás teria sido liberado do inferno para submeter a Igreja à prova, com o intuito de destruí-la completamente e perverter toda a humanidade. Em se aproximando o fim deste período sem conseguir seu intento, satanás estremece de fúria contra Deus e os homens e intensifica ao extremo todas as suas iniquidades. A completa libertação de todo mal e pecado implica o triunfo do Imaculado Coração de Maria e a sua vitória final sobre satanás e seus sequazes, através dos eventos inseridos no âmbito do primeiro combate escatológico (Apoc 19, 19-21). Aos anjos do Senhor está destinada a missão de anunciar a todos os justos os tempos da libertação e do fim de todas as iniquidades impostas à humanidade ao longo de um século de provações.

Além da afirmação do triunfo do Coração Imaculado de Maria e do impacto relativo ao Segredo de Fátima, muitos outros aspectos da mensagem assumiram importância capital no contexto das revelações. A consagração aos Primeiros Cinco Sábados, as orações ensinadas por Nossa Senhora às crianças, o milagre do sol e as aparições do Anjo de Portugal constituem exemplos marcantes destes fatos, tendo sido descritos e abordados em detalhe nos livros e documentos sobre as aparições de Fátima.

Um aspecto, porém, exatamente por não se enquadrar no espírito das revelações, não tem sido analisado com igual rigor, mas, embora secundário, deveria merecer muita atenção e reflexão por parte de todos os homens. É o que poderíamos chamar de “mensagem esquecida de Fátima”. Este fato ocorreu já na primeira aparição e a sua revelação deveu-se a uma resposta de Nossa Senhora a uma pergunta de Lúcia. Recapitulemos o diálogo entre a Mãe de Deus e a pastorinha de Fátima:

'A Maria das Neves já está no céu?
Sim, está.
E a Amélia?
Estará no Purgatório até o fim do mundo'.

Maria das Neves e Amélia eram duas amigas de Lúcia que frequentavam a sua casa “para aprender a tecer com sua irmã mais velha” e teriam falecido pouco antes das aparições (Maria das Neves faleceu em 26/02/1917 e Amélia faleceu a 28/03/1917, ambas com 20 anos de idade). A resposta de Nossa Senhora quanto ao destino eterno de Amélia é categórico: 'Estará no Purgatório até o fim do mundo'.

São palavras duras e preocupantes quando revelam a justiça de Deus aplicada a uma jovem portuguesa que vivera apenas 20 anos, no início do século XX, em um lugar isolado e deserto, perdido nos contrafortes da Serra do Aire, então distante cerca de 150 km do norte de Lisboa, onde predominam colinas pedregosas e azinheiras, descendente de um povo bom e ordeiro, católicos praticantes e devotos do terço diário. Fátima, em 1917, representava provavelmente um ambiente de extrema religiosidade e de prática corrente da moral cristã. Que pecados terríveis teriam sido cometidos por esta moça de modo a ter que pagar as penas e danos devido a eles no Purgatório até o fim do mundo?

A primeira questão que surge desta revelação deveria ser a de uma reflexão profunda sobre o pecado e a justiça divina. É evidente que morar em Fátima em 1917 não constituiu garantia de salvação a ninguém e que é possível que alguma alma tenha, inclusive, sido condenada eternamente. Mas isto é uma absoluta elucubração; o destino de Amélia, ao contrário, é fato, é uma revelação direta de Nossa Senhora aos homens. Qual seria a nossa reflexão sobre a justiça divina transferindo a realidade do destino eterno de Amélia à realidade dos homens e mulheres, jovens e crianças das nossas grandes e pequenas cidades, às Amélias (almas) do nosso tempo? Não deveríamos nós reavaliarmos profundamente os conceitos de misericórdia e justiça de Deus e começarmos a praticar, na vida diária de cada um, o preceito lógico de São Domingos Sávio: 'antes morrer do que pecar?'.

Uma segunda questão que se apresenta refere-se ao próprio destino final de Amélia. A alma no Purgatório nada pode fazer para diminuir ou abreviar os seus sofrimentos, mas as orações daqueles que ainda vivemos na terra podem intervir profundamente nesta condição, por graça e obra da misericórdia divina. Esta interação de bens espirituais dos filhos de Deus constitui a comunhão dos santos e o tesouro da Igreja, obtido através dos méritos infinitamente satisfatórios da redenção de Cristo. Assim, pois, deve-se entender que Amélia estará no Purgatório até o fim do mundo se não houver quem reze por ela ou mande celebrar missas em sua intenção. E novamente, a mensagem de Fátima mostra a sua unidade perfeita ao relacionar o exemplo de Amélia com o apelo fervoroso de Nossa Senhora: 'Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios pelos pecadores, que vão muitas almas para o Inferno por não haver quem se sacrifique e peça por elas'. 

Reconheçamos definitivamente o valor imponderável das orações, penitências e sofrimentos no plano salvífico de Deus. Todas as grandes obras de Deus, e em particular àquelas relacionadas à conversão e salvação das almas, são feitas com a dor e o sacrifício de algumas almas privilegiadas. Em Fátima, estas foram as missões específicas desempenhadas por Jacinta e Francisco Marto – as duas crianças morreram em circunstâncias extremamente sofridas e dolorosas - almas escolhidas por Deus como vítimas da expiação e reparação dos pecados de Amélia e de todos nós.

(Da publicação '8 Questões sobre as Aparições de Nossa Senhora em Fátima', do autor do blog).

domingo, 10 de maio de 2015

'PERMANECEI NO MEU AMOR'

Páginas do Evangelho - Sexto Domingo da Páscoa


Neste Sexto Domingo da Páscoa, somos chamados a vivenciar em plenitude o amor de Deus. Jesus encontra-se no Cenáculo, pouco antes de sua ida até o Horto das Oliveiras e da sua prisão e morte na cruz. E acaba de revelar aos seus discípulos amados, mais uma vez, a identidade do amor divino entre o Pai e o Filho: 'Como meu Pai me amou, assim também eu vos amei. Permanecei no meu amor' (Jo 15, 9). 'Permanecei no meu amor'; sim, porque o Amor precisa ser amado e é na reciprocidade deste amor que procede do Pai e do Filho, por intermédio do Espírito Santo, que se vive em plenitude a graça de sermos Filhos de Deus. E a posse dessa graça suprema se dá no despojamento do eu e na estrita observância aos mandamentos do Senhor: 'Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como eu guardei os mandamentos do meu Pai e permaneço no seu amor' (Jo 15, 10).

O maior tributo da graça divina é o mandamento do amor. 'Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei' (Jo 15, 12). Sim, como Cristo nos amou. Na nossa impossibilidade humana de amar como Cristo nos ama, isso significa amar sem rodeios, amar sem vanglória, amar sem zelos de gratidão, amar de forma despojada e sincera aos que nos amam e aos que não nos amam, a quem não conhecemos, a quem apenas tangenciamos por um momento na vida, a todos os homem criados pelos desígnios imensuráveis do intelecto divino, à sombra e imersos na dimensão do infinito amor de Cristo por nós.

Ainda que na nossa proposição distorcida e acanhada do amor divino, o amor humano se projeta a alturas inimagináveis de santificação, quando expressa a sua identificação de forma incisiva no projeto de redenção de Cristo: 'Ninguém tem amor maior do que aquele que dá sua vida pelos amigos.' (Jo 15, 13). Eis aí a essência do novo mandamento: amar, com igual despojamento, toda a dimensão da humanidade pecadora, a exemplo de um Deus que se entregou à morte de cruz para nos redimir da morte e mostrar que o verdadeiro amor não tem limites nem medida alguma.

O mandamento do amor é fundamentado num conceito inteiramente novo, cujo significado vai muito além dos sentimentos efêmeros deste mundo e que exclui quaisquer padrões de interesses desordenados e subterfúgios: a amizade sincera com Jesus. Neste amor, já não somos servos, mas amigos do Senhor e co-participantes de sua glória, escolhidos desde toda a eternidade: 'Eu vos chamo amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai. Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi e vos designei para irdes e para que produzais fruto e o vosso fruto permaneça' (Jo 15, 15 - 16). Eis o princípio fundamental do mandamento do amor: amar ao próximo como se ama a Cristo, e sermos frutos de salvação para muitos e arrastar conosco almas, muitas almas, às moradas eternas do Pai, como instrumentos silentes e perfeitos do puro amor de Deus.

sábado, 9 de maio de 2015

VÍDEO: O MILAGRE DA VIDA

(a concepção e o desenvolvimento do feto no ventre materno)


Em cada ejaculação, o homem libera cerca de 300 a 400 milhões de espermatozoides. Cada espermatozoide está programado para procurar o óvulo e fertilizá-lo. Mas a vagina é um meio hostil à sobrevivência dos espermatozoides devido às substâncias ácidas que segrega e que a protegem diariamente das bactérias. Esta acidez destrói milhões de espermatozoides mal entram na cavidade vaginal. Só os mais fortes seguem o seu caminho, nadando vigorosamente através do colo do útero até às Trompas de Falópio (canal que liga cada um dos ovários à cavidade uterina). 

Durante este percurso, alguns espermatozoides ficam presos na pregas do útero ou entram na Trompa de Falópio errada, onde não existe nenhum óvulo para fecundar. Os restantes espermatozoides continuam a sua viagem e iniciam a subida pela Trompa de Falópio na esperança de alcançar o óvulo solitário que os aguarda. Só os mais resistentes ultrapassam todos os obstáculos que encontram ao longo do caminho. Das poucas centenas de espermatozoides que conseguem alcançar as Trompas de Falópio e forçam a entrada no óvulo, normalmente, apenas um (o mais forte e apto) o consegue perfurar e fertilizar.

No momento em que um espermatozoide penetra a zona pelúcida (membrana que protege o óvulo), esta se fecha para impedir que outros espermatozoides entrem no óvulo. O óvulo fertilizado tem agora toda a informação genética necessária para gerar uma vida nova. No momento da concepção, o sexo, as caraterísticas físicas e eventuais problemas se saúde hereditários do bebé já foram determinados. 

Cerca de um dia após a fertilização, os núcleos do óvulo e do espermatozoide fundem-se. Cada progenitor contribui com 23 pares de cromossomas cujo núcleo guarda o código DNA de cada um dos pais. Os cromossomas juntam-se e dão origem a uma célula única (zigoto). Inicia-se agora a divisão celular, gênese de uma nova vida. Logo após a concepção, o corpo da mulher inicia uma série de alterações que o preparam para acolher e nutrir o feto em formação. Basicamente, o seu corpo torna-se no suporte de vida de um novo ser humano, relação que vai perdurar e fortalecer-se durante os próximos nove meses (texto publicado originalmente no site Mãe-me-quer)

QUANDO DEUS NOS INFUNDE A ALMA?

Em algum momento singular da concepção de uma nova vida humana, pela infusão da alma, Deus a toma como uma criação divina. Que momento seria esse? Nos primórdios da concepção humana ou após o processo inicial da vida intrauterina, quando efetivamente o embrião começa a apresentar uma 'forma' humana? Ou, algum tempo depois, quando aparentar respostas sensíveis a estímulos externos? Ou somente quando estiver plenamente manifestada no feto a capacidade, após algumas semanas, de ser interpretado como um novo ser humano, por critérios científicos, médicos ou filosóficos? Para muitos, esta resposta tem conformado e anestesiado a consciência em favor do terrível crime do aborto.

A resposta a estas questões tem sido dada, em caráter definitivo, pela própria ciência humana. Não há quaisquer dúvidas ou questionamentos científicos de que o óvulo fecundado (zigoto) já possui, por si e no todo, o código integral de uma nova vida, o DNA primordial de um ser humano completo e distinto dos seus pais. Ainda que não seja visível ou explicitado, no óvulo fecundado já estão programados todos os caracteres e princípios de um  novo ser humano, como sexo, cor, compleição, tipo e cor dos cabelos, dos olhos, formato da face, etc. Diante desta realidade singular, o corpo da mulher se molda e se apronta, de forma especial, para acolher o desenvolvimento do novo ser, de uma nova e singular pessoa humana. Destruir o óvulo fecundado é, portanto, a consumação da morte de um corpo e de uma alma, um crime hediondo contra Deus.

Não deveria isso ser nem um pouco surpreendente para os católicos. Desde os meados do século XIX, muito antes destas fantásticas descobertas científicas, a Santa Igreja, pela luz da fé, já se havia antecipado às luzes da ciência. Pelo dogma da Imaculada Conceição, proclamado pelo Papa Pio IX, em 8 de dezembro de 1854, a Santa Igreja manifestara que a Virgem Maria tinha sido adornada com uma alma espiritual, desde o primeiro instante de sua existência, desde o momento singular de sua concepção:

'Declaramos, pronunciamos e definimos que a doutrina de que a Bem-aventurada Virgem Maria, no primeiro instante de sua conceição, por singular graça e privilégio de Deus Onipotente, em atenção aos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, foi preservada imune de toda mancha de culpa original; essa doutrina foi revelada por Deus, e deve ser, portanto, firme e constantemente crida por todos os fiéis'.

(Beato Papa Pio IX, na proclamação do dogma da Imaculada Conceição, em 08 de dezembro de 1854)

Desta forma, a Virgem Maria, para ser preservada de qualquer pecado desde a sua concepção e receber, naquele instante, o Espírito Santo de Deus, já deveria ser detentora de uma alma espiritual, capaz de receber a graça santificante ('imaculada conceição'). A Santa Virgem, por privilégios extraordinários, foi preservada do pecado original e, assim, Deus não permitiu que ela estivesse separada dele em nenhum segundo de sua existência. Desde a concepção, portanto, cada embrião é um ser humano completo, dotado de uma alma espiritual, conhecido por Deus por toda a eternidade.

Isto é exposto com uma claridade perturbadora nas palavras de Deus ao profeta Jeremias: 'Antes que no seio fosses formado, eu já te conhecia; antes de teu nascimento, eu já te havia consagrado, e te havia designado profeta das nações' (Jr 1, 5); e também ao profeta Isaías: 'O Senhor chamou-me desde meu nascimento; ainda no seio de minha mãe, ele pronunciou o meu nome' (Is 49, 1). Deus nos conhece desde toda a eternidade e nos reconhece como pessoa humana pelo nome e nos consagra com o atributo de uma alma de eternidade, desde o momento de nossa concepção, num óvulo fecundado, mesmo que ainda invisível às tecnologias mais avançadas de observação e de monitoramento da vida intrauterina. 

Estas extraordinárias revelações já estão presentes no Salmo 138, escrito cerca de 500 anos antes de Cristo: 'Fostes vós que plasmastes as entranhas de meu corpo, vós me tecestes no seio de minha mãe. Sede bendito por me haverdes feito de modo tão maravilhoso. Pelas vossas obras tão extraordinárias, conheceis até o fundo a minha alma. Nada de minha substância vos é oculto, quando fui formado ocultamente, quando fui tecido nas entranhas subterrâneas. Cada uma de minhas ações vossos olhos viram, e todas elas foram escritas em vosso livro; cada dia de minha vida foi prefixado, desde antes que um só deles existisse' (Sl 138, 13 - 16).

O embrião não é um mero grumo de células e cromossomos, em um processo contínuo de divisão celular. É essencialmente uma pessoa humana, dotada de uma alma espiritual, nascida do amor humano e programada, desde a sua concepção, para constituir um novo ser, com todas as características genéticas pré-definidas. Esta 'programação' é fruto da infusão de uma alma espiritual ainda no óvulo fecundado, no instante primevo da sua concepção, que dará origem a um novo ser humano, consagrado desde a eternidade e 'tecido nas entranhas subterrâneas do ventre materno', como um ato do amor infinito e da criação personalíssima de Deus.

(Texto baseado no artigo 'Ti ho conosciuto fin dal grembo materno - Così la Bibbia rende sacra la vita dal concepimento', de Enrico Cattaneo, publicado originalmente em La Nuova Bussola Quotidiana)

sexta-feira, 8 de maio de 2015

TU ÉS PEDRO! (PIO XII)

(Pio XII: Eugenio Maria Giuseppe Giovanni Pacelli - 260º papa: 1939 - 1958)

 




 



98 ANOS DAS MENSAGENS DE FÁTIMA (II)

DOS ARQUIVOS DE SENDARIUM
(artigo publicado originalmente no blog em 09/05/2013)

A CONSAGRAÇÃO DA RÚSSIA E A MISSÃO DE LÚCIA

Por que, nas mensagens, Nossa Senhora pediu expressamente a consagração da Rússia ao seu Imaculado Coração? Porque a conversão da Rússia seria reconhecida mundialmente como fruto direto de uma intervenção divina e um triunfo absoluto do Coração Imaculado de Maria. A partir deste fato, tomaria expressão mundial a devoção ao Imaculado Coração de Maria conjuntamente à devoção ao Imaculado Coração de Jesus (Aliança dos Dois Corações). 'Se atenderem aos meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz. Se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja ...' A situação da Rússia, à época das aparições, era totalmente imprevisível em termos de sua enorme influência geopolítica no cenário mundial no decorrer do século XX, o que caracterizaria a mensagem como praticamente ininteligível, mesmo porque a Rússia ainda não se tornara comunista, uma vez que a revolução marxista-leninista somente iria se irromper brutalmente em novembro daquele ano. Em 13/06/1929, a Irmã Lúcia teve uma visão da Santíssima Trindade e recebeu a seguinte mensagem de Nossa Senhora: 'É chegado o momento em que Deus pede para o Santo Padre (Pio XI, 1922 – 1939) fazer, em união com todos os bispos do mundo, a consagração da Rússia ao meu Imaculado Coração, prometendo salvá-la por este meio...' Mais tarde, por meio duma comunicação íntima, Nosso Senhor disse à Lúcia: queixando-se: 'Não quiseram atender o meu pedido ... Arrepender-se-ão e fá-la-ão, mas será tarde'. Em outro depoimento, carta escrita em 1935, Lúcia afirmava que 'Nosso Senhor estava bastante descontente por não se realizar o seu pedido ...' 

A partir dos pontificados seguintes, várias tentativas foram feitas para se estabelecer a consagração da Rússia e do mundo ao Imaculado Coração de Maria (iniciadas com a consagração feita pelo Papa Pio XII, muito tempo depois, em 07/07/52), mas nenhuma delas pareceu atender plenamente as condições impostas por Nossa Senhora para a sua efetiva realização. Entretanto, a consagração realizada pelo Papa João Paulo II em 25 de março de 1984 foi reconhecida como sendo válida pela vidente, desde meados de 1989, embora como expressão de uma sua opinião particular e não como fruto de uma revelação sobrenatural. A União Soviética deixou de existir formalmente em dezembro de 1991, substituída pela CEI (Comunidade dos Estados Independentes), incluída a Rússia como uma de suas repúblicas associadas. 

Os videntes Jacinta e Francisco Marto morreram ainda na infância, logo após as aparições. Quanto a Lúcia, Nossa Senhora assim se expressou: '... Mas tu ficas cá mais algum tempo. Jesus quer servir-se de ti para Me fazer conhecer e amar.Ele quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração...' A missão dada à Lúcia era cristalina: divulgar uma devoção especial à Mãe de Deus e, particularmente, a consagração ao seu Imaculado Coração. Através de Lúcia, esta devoção deveria assumir amplitude mundial e ser instrumento privilegiado de conversão e salvação de muitas almas: 'Se fizerem o que Eu vos disser, salvar-se-ão muitas almas e terão paz'. É fato concreto que a mensagem de Fátima não foi correspondida e os pedidos e súplicas de Nossa Senhora não foram atendidos: os homens continuaram e continuam a pecar em magnitude crescente, numa corrida desenfreada aos paroxismos do inimaginável. A desordem moral vigente (degradação da família, do casamento, da sexualidade e implantação de um regime de vida que prega e justifica todo e qualquer pecado) é uma agressão cotidiana à mensagem de Fátima e combustível que incendeia, a cada dia, a taça da cólera divina. A impiedade e a corrupção moral campeiam em nossa sociedade, formulada essencialmente em princípios naturais e que se especializa cada vez mais em banir totalmente nos homens a ideia de Deus. A crise da Igreja é gravíssima: a permissividade moral, a apostasia, a direção espiritual manietada num sem número de atividades frívolas e materiais, conduz inexoravelmente os sacerdotes (o chamado 'Estado Maior de Cristo', nas palavras de Monsenhor Escrivá de Balaguer, fundador do Opus Dei) a um estado de aviltamento, perplexidade, tibieza e conformismo, em tudo contrário à missão salvífica (Mateus, 16, 15-16): 'Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda criatura. Aquele que crer e for batizado será salvo; o que não crer será condenado'

Nesta devastadora crise moral que assola o mundo contemporâneo, a conclusão é óbvia e terrível: a mensagem de Fátima foi desprezada pelos homens e o pressuposto da emenda de vida e conversão foram olvidados ao extremo. As recentes aparições e manifestações de Nossa Senhora, no Brasil e no mundo, apenas ratificam e amplificam, ao extremo da aflição, os mesmos apelos e chamamentos feitos em Fátima. Por que Nossa Senhora chora? No silêncio e na sua angústia, a Mãe chora contra as agressões de tantos filhos, a Mãe chora para extravasar a sua dor premente e a sua tristeza profunda, a Mãe chora na esperança de que suas lágrimas, ao menos suas lágrimas, comovam corações entorpecidos pela dureza do pecado e por uma vida sem Deus. E chora porque mais e mais almas se perdem porque '... vão muitas almas para o Inferno por não haver quem se sacrifique e peça por elas...'. 

(Da publicação '8 Questões sobre as Aparições de Nossa Senhora em Fátima, do autor do blog).

quinta-feira, 7 de maio de 2015

O PENSAMENTO VIVO DE CHARLES DE FOUCAULD (I)

Deus não associou a salvação à ciência, à inteligência, à riqueza, a uma longa experiência, a dons raros que nem todos receberam. Ligou-a àquilo que está ao alcance de todos, de absolutamente todos, dos jovens e dos velhos, dos seres humanos de todas as idades e classes, com todo o tipo de inteligência e fortuna. Associou-a àquilo que todos, absolutamente todos, lhe podem dar, àquilo que todo o ser humano, seja quem for, lhe pode dar, bastando que tenha um pouco de boa vontade: um pouco de boa vontade é tudo o que é preciso para ganhar esse céu que Jesus liga à humildade, ao fato de nos fazermos pequenos, de tomarmos o último lugar, de obedecermos; que liga ainda à pobreza de espírito, à pureza de coração, ao amor da justiça, ao espírito da paz (Mt 5,3-). Tenhamos esperança uma vez que, através da misericórdia de Deus, a salvação está tão próxima de nós, que nos basta apenas um pouco de boa vontade para a obter.


O amor não consiste em sentirmos que amamos, mas em querermos amar. Quando queremos amar, amamos; quando queremos amar acima de tudo, amamos acima de tudo. Se acontecer sucumbirmos a uma tentação, é porque o amor é demasiado fraco, não é porque ele não exista. É preciso chorar, como São Pedro, arrependermo-nos como São Pedro ... mas, também como ele, dizer três vezes: 'Amo-Vos, amo-Vos, amo-Vos, Vós sabeis que, apesar das minhas fragilidades e pecados, eu Vos amo' (Jo 21,15-). Quanto ao amor que Jesus tem por nós, Ele provou-o à abundância para que nele acreditemos sem o sentirmos. Sentir que O amamos e que Ele nos ama seria o céu; mas o céu, salvo em raros momentos e exceções, não é aqui em baixo.

Lembremos sempre uns aos outros esta história dupla: a das graças que Deus nos deu pessoalmente desde o nascimento e a das nossas infidelidades ; e aí acharemos … motivos infinitos para nos perdermos, com ilimitada confiança, no seu amor. Ele ama-nos porque é bom, não porque somos bons; não amam as mães os filhos desencaminhados? E muitas razões havemos de encontrar para nos enterrarmos na humildade e na falta de confiança em nós próprios. Procuremos resgatar um pouco os nossos pecados pelo amor ao próximo, pelo bem feito ao próximo. A caridade para com o próximo, os esforços para fazer bem aos outros são um excelente remédio a opor às tentações: é passar da simples defesa ao contra-ataque.


A virtude que Nosso Senhor recompensa, a virtude que Ele louva, é quase sempre a fé. Por vezes louva o amor [como com Madalena (Lc 7,47)]; por vezes a humildade, mas esses exemplos são raros; é quase sempre a fé que recebe Dele recompensa e louvores. Por quê? Sem dúvida porque a fé é, se não a mais alta virtude (pois a caridade a ultrapassa), pelo menos a mais importante, pois é o fundamento de todas as outras, incluindo a caridade, e também porque é a mais rara.

Ter verdadeiramente fé, a fé que inspira todas as ações, essa fé sobrenatural que despoja o mundo da sua máscara e mostra Deus em todas as coisas; que faz desaparecer todos os impossíveis; que retira sentido às palavras de inquietação, de perigo, de medo; que faz com que se caminhe na vida com uma calma, uma paz e uma alegria profundas, como um menino levado pela mão da mãe; que conduz a alma a um desapego tão absoluto de todas as coisas sensíveis, cujo vazio e puerilidade detecta claramente; que proporciona uma tal confiança na oração, a confiança da criança que pede uma coisa boa a seu pai; essa fé que nos mostra que tudo o que não for agradar a Deus é mentira.

Essa fé que nos faz ver em tudo a outra luz — os homens como imagens de Deus, que é preciso amar e venerar, como retratos do nosso Bem-Amado, a quem devemos fazer todo o bem possível; as outras criaturas, como coisas que devem, sem exceção, ajudar-nos a ganhar o céu, louvando a Deus, quer através delas quer privando-nos delas — essa fé que, deixando entrever a grandeza de Deus, nos faz ver a nossa pequenez; que nos leva a fazer sem hesitar, sem corar, sem temer, sem jamais recuar, tudo o que é agradável a Deus: ó como é rara essa fé! Meu Deus, concede-a a mim! Meu Deus eu creio, mas aumenta a minha fé! Meu Deus, faz com que eu creia mais e Vos ame.