Capítulo LIII
Auxílio às Santas Almas - A Santa Missa - A Libertação do Monge de Clairvaux - Beato Henrique Suso e o Purgatório
Nada, de tudo o que podemos fazer em favor das almas do Purgatório, nada há de mais precioso do que a imolação do nosso Divino Salvador sobre o altar. Além de ser a doutrina expressa da Igreja, manifestada em seus Concílios, muitos fatos milagrosos, devidamente autenticados, não deixam margem para dúvidas quanto a este ponto.
Já falamos do monge de Clairvaux que foi libertado do purgatório pelas orações de São Bernardo e sua comunidade. Este monge, cuja vida religiosa não tinha sido tão meritória, apareceu depois da sua morte para pedir a ajuda de São Bernardo. O santo abade, com todos os seus fervorosos discípulos, apressou-se em oferecer orações, jejuns e missas pelo pobre irmão falecido. Este, tendo alcançado a libertação, mostrou-se, cheio de gratidão, a um religioso mais idoso da comunidade, que rezara com especial devoção em sua intenção. Questionado sobre o sufrágio que mais lhe tinha sido proveitoso, em vez de responder diretamente, tomou o ancião pela mão e, conduzindo-o à igreja onde se celebrava a missa, disse, apontando para o altar: 'Eis o grande poder redentor que quebrou minhas correntes; eis o preço do meu resgate: é a hóstia salvadora, que tira os pecados do mundo' (L'Abbe Postel, Le Purgatoire, cap. 5; cf. Rossign., Merv., 47).
Eis aqui outro fato, relatado pelo historiador Fernando de Castela, e citado pelo padre Rossignoli. Havia em Colônia, entre os alunos das classes superiores da universidade, dois religiosos dominicanos de grande talento, um dos quais era o beato Henrique Suso. Os mesmos estudos, o mesmo tipo de vida e, sobretudo, o mesmo gosto pela santidade, fizeram-nos contrair uma íntima amizade e a repartirem mutuamente as mercês que recebiam do Céu.
Terminados os estudos, vendo que iam separar-se, para regressarem cada um ao seu convento, concordaram e prometeram-se mutuamente que o primeiro dos dois que morresse seria assistido pelo outro, durante um ano inteiro, pela celebração de duas missas por semana – uma na segunda-feira como missa de Requiem como era de costume e outra, na sexta-feira (dia da Paixão do Senhor), na medida em que as liturgias permitissem. Assim comprometidos, despediram-se com um beijo da paz e deixaram Colônia. Por vários anos, ambos continuaram a servir a Deus com fervor muito edificante. O irmão, cujo nome não é mencionado, foi o primeiro a falecer e, então, Suso recebeu a notícia com os mais perfeitos sentimentos de resignação à vontade divina. Quanto ao compromisso feito entre ambos, o tempo o fez esquecer. Rezava muito em intenção do amigo, impondo-se contínuas penitências e muitas outras boas obras, mas não pensava em oferecer as missas que havia prometido.
Certa manhã, enquanto meditava em recolhimento na capela, de repente viu aparecer diante dele a alma do amigo defunto, que, olhando para ele com ternura, o repreendeu por ter sido infiel à sua palavra, dada e aceita, à qual tinha direito legítimo de ter recebido dele com toda confiança. O bem aventurado Suso, envergonhado, desculpou-se por seu esquecimento, enumerando as orações e mortificações que havia oferecido e que ainda continuava a oferecer pelo amigo, cuja salvação lhe era tão cara quanto a sua. 'É possível, meu querido irmão' - acrescentou - 'que tantas orações e boas obras que ofereci a Deus não foram suficientes para você?' 'Ó não, querido irmão' - respondeu a alma sofredora - 'isso não é suficiente. É preciso o sangue de Jesus Cristo para extinguir as chamas que me consomem; somente o augusto Sacrifício pode me redimir destes terríveis tormentos. Rogo-te, pois, que cumpras a tua palavra, e não me recuses o que me deves por justiça'.
O Beato Suso apressou-se em responder ao apelo da alma sofredora e, para reparar a sua falta, celebrou e fez celebrar mais missas do que havia prometido. No dia seguinte, vários sacerdotes, a pedido de Suso, uniram-se a ele para oferecer o Santo Sacrifício pelo falecido e repetiram estes atos de caridade por vários dias. Depois de certo tempo, o amigo de Suso apareceu novamente para ele, mas agora em uma condição muito diferente; seu semblante estava radiante e envolvido por uma luz brilhante: 'Obrigado, meu fiel amigo' - disse ele - 'eis que pelo Sangue do meu Salvador fui liberto dos meus sofrimentos. Agora vou para o Céu contemplar Aquele que tantas vezes adoramos juntos sob o véu eucarístico'. Suso prostrou-se para agradecer ao Deus de toda misericórdia e compreendeu, mais do que nunca, o valor imponderável do Santíssimo Sacrifício do Altar (Rossignoli, Merv., 34; Fernando de Castela).
Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog.